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Segundo João de Barros, aquando da investidura de Vasco da Gama em Janeiro de 1497 no cargo de capitão-mór da armada que então se preparava para o «descobrimento da Índia», D. Manuel mandou-o chamar e «aos outros capitães que haviam de ir em sua companha: os quais eram Paulo da Gama seu irmão e Nicolau Coelho, ambos pessoas de quem el-rei confiava este cargo». Nicolau Coelho já teria então provado as suas qualidades de experiente navegador para receber tão importante nomeação do monarca: a de capitão de um dos navios da armada de Gama, a Bérrio. De facto, no decorrer da viagem foram-lhe confiadas as arriscadas missões de sondagem de fundeadouros para a armada, bem como a exploração do litoral africano, tendo o navegador dado provas da sua experiência e saber. Alguns dos exemplos dessas missões são o reconhecimento da costa junto à angra de Santa Helena, que serviu de fundeadouro para a armada de Gama na viagem de ida e a sondagem do canal da ilha de Moçambique, onde Nicolau Coelho demonstrou de forma evidente os seus atributos de marinheiro experiente pois, tendo-se partido o leme da Bérrio logo no início da aproximação à ilha, rapidamente o reparou, recuperando o governo do seu navio. Mas neste episódio da viagem o navegador demonstrou também a capacidade de diálogo e entendimento com as populações locais, tendo recebido cordialmente a bordo do seu navio o «xeque» local. Chegados ao seu objectivo, a Índia, Coelho foi novamente incumbido da exploração e sondagem do litoral, da qual dependia em larga medida a segurança da armada e, logo, o sucesso da missão. Para além disso, era também o responsável pela ligação a terra, sendo sua missão o comando e a salvaguarda dos batéis que transportaram Vasco da Gama ao encontro do samorim de Calecute e no seu regresso aos navios.
Na viagem de regresso ao reino, a 25 de Abril de 1499 e por alturas dos baixos do rio Grande (na actual Guiné Bissau), Nicolau Coelho é afastado de Gama devido a uma repentina tempestade. Decidindo continuar viagem, a Bérrioé o primeiro navio a entrar no Tejo a 10 de Julho (ou a 8 do mesmo mês, como é defendido por alguns autores) de 1499, dando as primeiras notícias do sucesso da missão. O importante papel desempenhado durante a viagem, bem como o seu mérito pessoal, foram recompensados por D. Manuel, que lhe concedeu, em 24 de Janeiro de 1500, uma tença de 50 000 réis por ano, sendo 30 000 de juro e herdade para ele e os seus descendentes, e os restantes 20 000 enquanto fosse mercê do monarca. Passados apenas cerca de seis meses após o seu regresso da Índia, Nicolau Coelho parte de novo com destino ao oriente na armada de Pedro Álvares Cabral. Chegada a armada ao Brasil, de novo foi confiado a Coelho o reconhecimento do litoral desse novo território, bem como o comando de um pequeno batel enviado a terra para estabelecer contacto com os indígenas que se encontravam na praia. Mais uma vez demonstrou Nicolau Coelho a sua experiência marinheira, bem como a facilidade de relacionamento com os novos povos contactados, qualidades que concorreram para que, ao lado de Sancho de Tovar e de Bartolomeu Dias, fosse um dos mais importantes capitães de Cabral.
Em 1503, pouco mais de um ano após o seu regresso a Portugal, parte novamente com destino à Índia, ao comando da nau Faial, da armada de Afonso e Francisco de Albuquerque. No entanto, na viagem de regresso a Faial viria a naufragar, acabando o seu capitão por morrer nas mesmas águas que o notabilizaram.
Bruno Gonçalves Neves
Bibliografia
CORTESÃO, Jaime, A Expedição de Pedro Álvares Cabral e o Descobrimento do Brasil, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1994 [1922].
COUTO, Jorge, A Construção do Brasil, Lisboa, Edições Cosmos, 1995.
GARCIA, José Manuel, A Viagem de Vasco da Gama à Índia. 1497-1499, Lisboa, Academia de Marinha, 1999.
Pereira, Moacir Soares, Capitães, Naus e Caravelas da Armada de Cabral, Coimbra, Junta de Investigação Científica do Ultramar, 1979.
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