Biografias

Velho, Álvaro

O papel de Álvaro Velho na História dos Descobrimentos e das Navegações ainda é demasiado nebuloso para se afirmar: "Álvaro Velho foi..." ou "Álvaro Velho fez...", na medida em que a sua figura pouco rasto deixou na documentação vinda até nós.

Tradicionalmente, desde o séc. XIX, que se atribui a Álvaro Velho a redacção de uma relação da viagem de Vasco da Gama à Índia (1497-1499), relação essa utilizada por Fernão Lopes de Castanheda na sua História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses, e que se manteve no esquecimento até 1834, quando Alexandre Herculano a redescobriu na Biblioteca do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e a levou para a Biblioteca Pública e Municipal do Porto, onde se conserva actualmente.

Aquando da primeira publicação do manuscrito (cópia do original), o seu editor, Diogo Kopke, empreende um primeiro estudo para apurar a autoria, visto que o dito texto permanecera anónimo. Kopke chegou à conclusão, através da sucessiva eliminação de diferentes hipóteses, que o seu autor teria sido Álvaro Velho. Mas afinal quem era Álvaro Velho e qual era a sua função no seio da armada de Vasco da Gama?

Desconhece-se ao certo qual era o seu cargo, mas sabe-se que não desempenharia  funções de chefia (capitão, piloto, etc.), através de estudos levados a cabo por Franz Hummerich tendo por base as 13 personagens que faziam parte da embaixada de Vasco da Gama ao Samorim, entre as quais se contava. Outros autores levantam a hipótese de ser marinheiro, soldado e ainda degredado. Álvaro Velho embarca em Lisboa a bordo da nau “S. Rafael”, capitaneada por Paulo da Gama, transitando posteriormente para a “S. Gabriel” aquando da destruição propositada da sua embarcação.

Não possuindo mais informações acerca do Álvaro Velho tripulante da armada de Vasco da Gama, importa procurar a relação entre este Álvaro Velho e o Álvaro Velho do Barreiro, referenciado no Manuscrito Valentim Fernandes, que se conserva na Biblioteca de Munique.

Valentim Fernandes, impressor alemão vivendo em Portugal, vai redigir entre 1506 e 1507 um conjunto esparso de textos, onde num deles, "Cepta cidade em o estreito Hercúleo em fronte de Gybraltar", faz menção a um Álvaro Velho do Barreiro que estivera oito anos na Guiné e que o informara acerca das práticas religiosas locais. Serão estas duas personagens uma só pessoa? Será este Álvaro Velho o autor da Relação?

Um primeiro aspecto a considerar é o de que, no dia 25 de Abril de 1499, quando a armada de Vasco da Gama atinge os Baixios do Rio Grande (Guiné), o texto da relação acaba abruptamente, sem sabermos como é que correu a viagem desde Cabo Verde até Lisboa.  Por outro lado, de acordo com o Manuscrito Valentim Fernandes, Álvaro Velho do Barreiro estivera oito anos na Guiné, precisamente os anos coincidentes com o término da Relação e a data da redacção do tal manuscrito (1507). E se o autor do texto fosse o Álvaro Velho oriundo do Barreiro já se explicaria melhor a comparação aí feita entre Alcochete (localidade relativamente próxima do Barreiro) e Melinde.

Como se facilmente se depreende isto não significa que a discussão em torno da figura de Álvaro Velho esteja encerrada; na realidade, ainda não é possível concluir com segurança pela autoria da famosa Relação da viagem de Vasco da Gama.

José Alexandre Sousa


Bibliografia 
GARCIA, José Manuel, "Velho, Álvaro", in Luís de Albuquerque (dir.), Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol. II, Lisboa, Caminho, 1994, pp. 1064-1065.
RADULET, Carmen M., "Acerca da autoria do «Diário da navegação de Vasco da Gama» (1497-1499)", Actas do II Simpósio de História Marítima, Os Descobrimentos Portugueses no Século XV, Lisboa, Academia de Marinha, 1999, pp. 89-98.
VELHO, Álvaro, Relação da Viagem de Vasco da Gama, intro. e notas de Luís de Albuquerque, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1989.
VELHO, Álvaro, Roteiro da Primeira Viagem de Vasco da Gama (1497-1499), prefácio e notas de Abel Fontoura da Costa, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1960.

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