[4/20]
« Gonçalo M. Tavares
» Jacinto Lucas Pires
Novas Textualidades
Filipe Faria
— Como sabem, ninguém viu o Flagelo morrer na Guerra da Hecatombe, só é sabido que as criaturas da Sombra estão em aparente torpor e que desde então nunca mais tomaram uma acção em larga escala. No início da guerra, após a retirada dos sirulianos, Tanarch foi a primeira nação a sentir o seu poder e o povo foi subjugado. Os soldados de Sirulia e uns fragmentos do exército tanarchiano conseguiram refugiar-se em Wolhynia e lá se fortificaram enquanto os exércitos d’O Flagelo passavam pela Cicatriz. A guerra vocês já sabem como decorreu, mas o que muitos ignoram é que a ferida que deixou em Tanarch nunca sarou completamente, pior, infectou ao longo dos anos. — Aewyre revirou os olhos. Allumno era capaz de dramatizar uma história de berço. — O povo conquistado sobreviveu, mas muitos se passaram para a Sombra durante a ocupação, tanto por ressentimento para com os sirulianos como por simples medo do poder d’O Flagelo, e esses sentimentos perduraram mesmo após a sua morte. Muitos os ignoram ou fingem desconhecer a sua existência, talvez por medo, talvez por vergonha, talvez por os acharem inofensivos, mas ainda existem aqueles que proferem o nome do Anátema à noite, na esperança de que Ele volte, os Saudosistas da Sombra, os Filhos do Flagelo...

in Crónicas de Allaryia-II Os Filhos do Flagelo
n. 1982 Portugal
© Instituto Camões, 2007