1923
Nasceu em Póvoa da Atalaia (Fundão). Funcionário público. No Porto existe uma Fundação com o seu nome. Tradutor, organizador de antologias, ficcionista e poeta. Nada melhor que as suas palavras para definir a sua obra: «(...) desde pequeno, de abundante só conheci o sol e a água... aprendi que poucas coisas há absolutamente necessárias. São essas coisas que os meus versos amam e exaltam. A terra e a água, a luz e o vento (...)».
Sobre Flancos e Barcos

Havia ainda outro jardim o da minha vida
exíguo é certo mas o do meu olhar
são talvez dois pássaros que se amam
um sobre o outro ou dois cães de pé
é sempre a mesma inquietação

este delírio branco ou o rumor
da chuva sobre flancos e barcos
o inverno vai chegar
sobre a palha ainda quente a mão
uma doçura de abelha muito jovem

era o sopro distante das manhãs sobre o mar
e eu disse sentindo os seus passos nos pátios do
coração
é o silêncio é por fim o silêncio
vai desabar

Véspera de Água
© Instituto Camões, 2001