Revista Digital sobre Tradução - Número 1- Maio 2002

Dicionário dos tradutores e intérpretes de Língua Portuguesa

João Rodrigues de Sá

João Rodrigues de Sá é um dos poetas incluídos por Garcia de Resende no Cancioneiro Geral (1516). João Rodrigues de Sá surge no Cancioneiro enquanto poeta e enquanto tradutor.

No poema “A Dom Pedro d’Almeida, mandando-lhe mostrar a epístola de Dido a Eneas”, João Rodrigues de Sá refere expressamente uma das suas traduções. Trata-se de um dos primeiros textos sobre a tradução produzido por autor português. Neste texto, a tradução é comparada à “mulher amansada” (última estrofe); a ‘modéstia’ do tradutor também está presente, quando afirma: quam mal ensinei Dido / a falar portugues”.

João Rodrigues de Sá terá vivido entre o final do século XV e o início do século XVI. O seu interesse pelos clássicos deverá permitir-nos colocar este tradutor no conjunto dos nossos primeiros Humanistas.

Fonte: Garcia de Resende, Cancioneiro Geral, ed. de Aida Fernanda Dias, Lisboa: INCM, 1990-1993, volume II, pp. 453-454

 

 

A Dom Pedro d’Almeida, mandando-lhe mostrar

A epístola de Dido a Eneas

 

Eu fico, senhor, corrido,

porque sei que vos rirês

de quam mal ensinei Dido

a falar portugues.

Trabalhei mui bem meu giro,

trabalhei porem em vãao,

porque ela era de Tiro

e bem sabeis dond’eu sãao.

 

Ouvidio nos servia

de turgimão por latim,

o qu’eu menos entendia

do qu’ela entendia a mim.

Disso pouco que souber

vos podereis contentar

e por vós podeis julgar

que nunca vos vi molher

que podesseis amansar.

 

João Rodrigues de Sá

In Garcia de Resende, Cancioneiro Geral, ed. de Ainda Fernanda Dias, Lisboa: INCM, 1990-1993, volume II, pp. 453-454

 

 

Carlos Castilho Pais

 

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