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Não ficará decepcionado o visitante que procure o Mosteiro de Celas no intuito de aí encontrar alguma representação (pintura e escultura) do Patrono dos tradutores. Acompanhado, visitará a igreja, o coro e o claustro. Irá encontrar o Patrono num baixo-relevo da capela-dependência do lado direito, num conjunto evocativo do martírio de São João Evangelista. S. Jerónimo está representado do lado esquerdo, já bastante danificado, como se pode constatar pela fotografia seguinte. Dizem os historiadores de arte que a autoria do baixo-relevo pertence a João de Ruão - escultor de origem francesa, provavelmente chegado a Portugal em 1517, que desenvolveu a sua arte sobretudo no Norte e no Centro do país, onde veio a falecer, decorria o ano de 1580.
Não devemos deixar de relacionar esta representação de S. Jerónimo com aquela que encontraremos na igreja do Mosteiro de São Marcos, nos arredores de Coimbra, na qual João de Ruão também deixou obra (túmulos da Capela dos Reis Magos). Matéria de uma das nossas próximas visitas, importa assinalar o retábulo renascentista da capela-mor, obra dos anos vinte do séc. XVI, da autoria de Nicolau Chanterene. Este hino em louvor de S. Jerónimo poderá ter sido o modelo inspirador da representação que João de Ruão nos apresenta. Prosseguindo a nossa visita, passamos agora ao coro, onde se encontra um acervo considerável de retábulos de talha dourada, testemunho das épocas de maior ou menor grandeza do mosteiro, fundado no séc. XIII por D. Sancha, filha de D. Sancho I. Os séculos XVI, XVII e XVIII conferiram-lhe a fisionomia com que ainda hoje se apresenta. Assim, constatará facilmente o visitante que os retábulos estão ali deslocados. Há-de reparar no de maiores dimensões, colocado à direita, onde temos uma vez mais o Patrono num conjunto grandioso e belíssimo de pintura maneirista. S. Jerónimo situa-se á direita de quem olha, ocupando o arcanjo S. Miguel a figura central do retábulo. Desconhecemos o seu autor, como desconhecemos qualquer estudo que o situe na história da arte portuguesa. Predominando o espaço em altura, mesmo assim, o pintor conseguiu lugar, reduzido, é certo, para os elementos identificadores do Patrono, de que falávamos há pouco, a propósito da peça de João de Ruão.
C.C.P. |
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