Revista Digital sobre Tradução - Número 6 - Abril 2005



DICIONÁRIO DE TRADUTORES E INTÉRPRETES DE LÍNGUA PORTUGUESA


Francisco de Lemos

São vários os testemunhos que referem o nome deste português que conhece e fala a língua árabe. O mais antigo situa-o no Norte de África, onde terá servido como Alferes em Azamor. Numa carta a D. João III – publicada por João de Sousa em Documentos Arábicos – Mahomed Cabaily (secretário de Moley Ahmed Buhaçûn, primo do Xerife de Fez) solicita pela segunda vez que o Rei ordene “para que venha o dito Francisco de Lemos e que me assista”. Em nota do compilador (cf. op. cit., p. 183), é dito que Francisco de Lemos “sabia muito bem a língua mourisco” e que por ordem do Rei terá acompanhado Moley Ahmed Buhaçûn a Lisboa.

(D. João III)

A segunda referência encontramo-la em Francisco Álvares, Verdadeira Informação, quando este descreve a chegada da embaixada (de 1527) do Preste João ao Papa e a D. João III. O monarca terá mandado providenciar para que nada faltasse à comitiva, “e mais lhe deu um Francisco de Lemos, cavaleiro da Guarda de Sua Alteza, língua arábia, para falar por ele, e lhe arrecadar seu ordenado, e o que lhe necessário fosse.” Esta informação permite-nos deduzir que, nesta data, Francisco de Lemos tinha abandonado definitivamente o Norte de África.

Finalmente, uma carta régia de D. João III, datada de 17 de Janeiro de 1539, nomeia Francisco de Lemos “escrivão da câmara, das cartas, alvarás e escritura de arávigo”. Ao referir a carta do Rei o serviço que até então Francisco de Lemos lhe prestara “em ler e escrever as cartas arávias e índias”, podemos concluir que Francisco de Lemos foi um tradutor e intérprete estimado da corte de D. João III.


Fonte: ANTT, Chancelaria de D. João III, Doações, liv. 26, fl. 44, in Frei João de Sousa, Documentos Arábicos para a História Portuguesa Copiados dos Originais da Torre do Tombo, Lisboa, Academia Real das Ciências, 1790, p. 183;

Francisco Álvares, Verdadeira Informação das Terras do Preste João das Índias, Lisboa, Europa-América, 1989, Parte II, cap. V.

© Instituto Camões, 2005