|
|
|
|
O nome de Martim Fernandes surge logo nos primeiros relatos relativos ao início das Descobertas. Os navios portugueses, por iniciativa do Infante D. Henrique, chegam, ainda durante o reinado de D. Duarte (1433-1438) ao Rio do Ouro. Todavia, é já durante a regência do Infante D. Pedro (1441-1448) que o Rio do Ouro surge nos relatos como o lugar mais frequentado pelas embarcações. Gomes Eanes de Azurara refere ‘viagens’ ao Rio de Ouro nos anos de 1442, 1444 e 1446. As duas primeiras têm a particularidade de serem ambas comandadas pelo mesmo navegador: Antão Gonçalves.
Retemos a primeira dessas viagens e o nome do navagador. No relato da viagem de Antão Gonçalves ao Rio do Ouro em 1442, Azurara, na sua Crónica, capítulo XVI, refere Martim Fernandes como sendo “alfaqueque do Infante”. Esta referência seria suficiente para, mesmo hoje, podermos atribuir a Martim Fernandes a proficiência no falar em árabe, uma vez que essa era competência exigida durante a Idade Média aos alfaqueques. Mas o Cronista evita qualquer dúvida, ao afirmar, logo a seguir, que Martim Fernandes “havia grande sabedoria da linguagem mourisca”.
Pouco mais saberemos para além daquilo que Azurara nos ensina sobre Martim Fernandes. Alfaqueque ao serviço do Infante D. Henrique, Martim Fernandes participa, nessa qualidade, na grande epopeia da tradução oral da época dos Descobrimentos, construída por vezes, muitas vezes, com o pouco que nos é relatado: “Antão Gonçalves recebeu, por preço de seus dous cativos, dez negros entre Mouros e Mouras, de terras desvairadas, sendo tratador entre eles um Martim Fernandes, que era alfaqueque do Infante” (Azurara, op. cit., p. 88).
C. C. P.
Fonte: Gomes Eanes de Azurara, Crónica de Guiné, Porto, Livraria Civilização, 1973.