DICIONÁRIO DE TRADUTORES E INTÉRPRETES DE LÍNGUA PORTUGUESA
Alexandre de Ataíde
O nome de Alexandre de Ataíde encontra-se, nas fontes, associado à história de Afonso de Albuquerque no Oriente. As nossas fontes descrevem-no como judeu castelhano, expulso de Castela após o decreto de expulsão dos judeus pelos Reis Católicos, com os nomes de Çufo, Hucefe, José, Jocef, Yucefe, Yosef, Yoce, seguidos dos epítetos de “judeu” ou de “língua”. O nome cristão de Alexandre de Ataíde surge com mais frequência a partir de 1515, ano da construção da fortaleza de Ormuz, na qual terá participado.
Alexandre de Ataíde chegou a Cananor em 1510 na companhia de outro língua, Francisco de Albuquerque. A sua chegada junto de Afonso de Albuquerque deve-se ao facto da captura da nau em que viajavam que, nesta data, vinha de Meca (ou Adém, segundo outras fontes) e se dirigia para Calecute.
Pelas palavras do autor dos Comentários do Grande Afonso de Albuquerque compreende-se o apreço de Afonso de Albuquerque para com os “dois Judeus Castelhanos”:
- E estes dois Judeus se tornaram cristãos: um deles se chamou Francisco de Albuquerque, e o outro Alexandre de Ataíde. E Afonso de Albuquerque, enquanto viveu, se serviu deles de línguas, principalmente de Alexandre de Ataíde, que sabia muitas, e era grande homem de negócio. E morto Afonso de Albuquerque, vieram-se para Portugal, em tempo del-Rei D. Manuel, e daqui tornaram à Índia, e da Índia se foram ao Cairo, e lá se tornaram Judeus.
(Comentários do Grande Afonso de Albuquerque, vol. I, Parte II, cap. XLIX, p. 270)
Pela carta que Francisco de Albuquerque dirigiu a D. Manuel, a 20 de Outubro de 1513, pode constatar-se que Afonso de Albuquerque desejava para o seu serviço de intérpretes alguém da craveira de Gaspar da Gama (ou Gaspar da Índia), a quem concederia ainda maiores privilégios do que aqueles concedidos por D. Francisco de Almeida a Gaspar: “nos prometeu (Afonso de Albuquerque) muita mercê e nos fez muito gasalhado, e nos deu por exemplo Gaspar das Índias, e que se o servíamos bem, que Vossa Alteza nos faria muita mercê - mais que a Gaspar”.
São vários os momentos e as ocasiões em que Alexandre de Ataíde aparece na historiografia como o intérprete oficial de Afonso de Albuquerque. Pela importância dos acontecimentos, retemos apenas duas dessas ocasiões. Para o autor dos Comentários do Grande Afonso de Albuquerque, Alexandre de Ataíde é o língua que recebe, em finais de 1512, na cidade de Goa e perante Afonso de Albuquerque, o embaixador Mateus, enviado do Preste João: “mandou Afonso de Albuquerque vir perante si o Embaixador (Mateus); e sendo presente Pero de Alpoim secretário, e Alexandre de Ataíde língua, lhe perguntou o caminho que fizera, e como o mandara o Prestes João ali”. Porém, é na expedição a Ormuz (1515), comandada pelo próprio Afonso de Albuquerque, que Alexandre de Ataíde mostra sobretudo os seus dotes e capacidades de intérprete e negociador, segundo o autor dos Comentários, que, no que a este intérprete e a esta expedição diz respeito, está de acordo com João de Barros.
Gaspar Correia relata a sua viagem a Portugal e o episódio da tentativa de furto de que foi alvo em Lisboa. Diz Gaspar Correia:
- (...) recolheu-o (Alexandre de Ataíde) o Governador para seu serviço, que o achou homem de muita verdade, e que sabia muitas línguas, e mui sabido em todas as coisas, e mui verdadeiro, com que era muito do conselho do Governador, que se chamava Çufo, que depois em se fazendo a fortaleza de Ormuz se fez cristão, e se chamou Alexandre de Ataíde; de que o Governador se muito servia em todos seus segredos, em tanta maneira que quando morreu Afonso de Albuquerque, que foi no ano de 1515, foi induzido El-Rei que mandasse ir este judeu ao Reino, e lhe descobriria muitos segredos de Afonso de Albuquerque.
(Gaspar Correia, Lendas da Índia, vol. II, p. 134)
Confirmando outras fontes, também Gaspar Correia diz que Alexandre de Ataíde voltou para a Índia e daí regressou ao Cairo “onde se tornou para a sua judiaria”.
C. C. P.
Fontes:
Cartas de Afonso de Albuquerque, vol. III, p. 357 (edição de 1884-1935, da Academia das Ciências, Lisboa)
Comentários do Grande Afonso de Albuquerque, vol. I, Parte II, cap. XLIX, vol. II, Parte III, cap. LIV e vol. II, Parte IV, cap. XXXI (edição de 1973, da INCM, Lisboa)
João de Barros, Segunda Década, Livro VII, cap. VI e Livro X, cap.V (edição de 1945-1946, da Agência Geral das Colónias)
Gaspar Correia, Lendas da Índia, vol. II, p. 134 (edição de 1975, de Lello & Irmãos, Porto).
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