Revista Digital sobre Tradução - Número 7 - Junho 2005

EDITORIAL


Decorrem as comemorações do bicentenário do desaparecimento de José Maria Barbosa du Bocage (1765-1805). Nome sonante da história literária portuguesa, Bocage foi também tradutor, num momento em que a tradução escrita se abre’ às novidades do Século das Luzes. Não é apenas enquanto tradutor de obras francesas e latinas que Bocage deve ser lembrado; Bocage deixou-nos, nos prefácios às obras traduzidas e na ‘polémica’ com o seu contemporâneo José Agostinho de Macedo (1761-1831), uma reflexão sobre o traduzir na qual é clara a opção pela língua de chegada da tradução.

Iremos, evidentemente, prestar atenção às comemorações e não deixaremos aqui também de comemorar o Tradutor Bocage, dando a conhecer o seu labor, quer prático, quer teórico, no campo da tradução.

Em modo de homenagem, lembramos aqui os versos que Macedo, enfim reconciliado com Elmano Sadino (nome de árcade de Bocage), lhe dedicou (Epicédio na morte de Manoel Maria Barbosa du Bocage, Impressão Régia, 1806, pp. 13-14):

Raza Campa te encobre entr’outros mortos,
Mas tem hum Mausoléo, hum Templo, hum Busto
Na minha admiração, nos teus escritos.
O que bebe no Rhódano espumante,
Os Sabios d’Albion, e o docto Ibéro
Te hão de aprender de cór, em quanto o Mundo
Se lembrar de Camões, de Tasso, de Milton,
Lhe ha de lembrar também d’Elmano o Nome.

Um tradutor pode, às vezes, ter a felicidade de ser o veículo da palavra esperada, da mensagem que é vital para uma sociedade num dado momento. Mariana Ploae-Hanganu, tradutora de parte da obra de Miguel Torga para a língua romena, conhec‘eu esta ventura: a publicação da obra Povestiri montane – Poeme lusitani coincidiu com a queda do regime de Nicolae Ceausescu. É esta a história que O Língua 7 nos traz no seu artigo de fundo.

Desejamos, como sempre, boa leitura! 



    Carlos Castilho Pais
    Margarita Correia


© Instituto Camões, 2005