O homem que quer comprar uma aldeia

Chama-se Anta. Lamego não fica longe. Os carros e os prédios também não. Anta fica sozinha no meio da natureza, mas não está perdida, porque os pastores não deixam que se perca; não tem moradores, mas tem vida; e, agora, está a ser comprada a pouco e pouco por um empresário madeirense, Michael Paulo Zino, que diz querer dar-lhe mais vida. Outro tipo de vida.(...)

O «senhor Michael» fala português, com sotaque inglês. Vive na Madeira, estudou em Inglaterra e é empresário no ramo da hotelaria. Descobriu a Anta por intermédio de um amigo que vive em Lamego. «Um dia ele disse-me: Michael, vou mostrar-te uma coisa... já que gostas de casinhas velhas...», conta. Michael viu, comprou uma pequena casa em Mazes e recuperou-a.

A ideia era ter um lugar para ficar quando lhe apetecesse. Mas depois Michael começou a pensar mais longe. Imaginou a Anta recuperada. «É um crime que toda aquela riqueza se estrague ainda mais», diz.
Michael Zino contratou um arquitecto, Alberto Mallaguerra, que está a fazer o projecto de recuperação da aldeia. Da Anta, mas não só. «A ideia é recuperar toda aquela região. Sabugueiro e Castelo, duas aldeias muito pequenas e completamente destruídas, que se encontram nas proximidades», conta.

Mallaguerra diz que não se trata de um projecto de turismo rural: «Não queremos comprar todas as casas, nem nada parecido! Aliás, só ainda comprámos uma dezena delas!» O objectivo é recuperar algumas casas e transformá­las em oficinas artesanais: uma queijaria tradicional, uma padaria com os fornos antigos, fazer o circuito do linho, desde a plantação até ao produto final. Outra hipótese é fazer com que os terrenos sejam de novo cultivados. Zino está a tentar adquirir alguns campos, para depois contratar agricultores de Mazes para os cultivarem. «Queremos criar animação turística, é diferente. Dar vida à Anta. Só depois, eventualmente, é que se podem arranjar umas casinhas para turistas. Mas não agora», assegura. O projecto vai mais longe e pretende criar infra-estruturas para os habitantes de Mazes, onde Michael Zino adquiriu já uma casa antiga e apresentou um projecto para ser ali feito um Centro de Enfermagem.

Desde há um ano que o empresário e o arquitecto têm dedicado os tempos livres a conhecer Anta e o que a rodeia. Talvez daqui a um ano, ano e meio, comecem a funcionar as primeiras oficinas. Mas o projecto, o verdadeiro projecto de revitalização da aldeia, esse, garante o arquitecto, nunca vai estar finalizado. «Se quiséssemos arranjar actores em vez de verdadeiros agricultores, ou pastores, então seria muito fácil. Mas não. Queremos criar todas as condições para que os jovens não precisem de sair daquele paraíso. E isso é muito difícil». Está também nos objectivos do empresário madeirense mandar fazer um estudo arqueológico para que seja feita a identificação dos povoados e para que, se fique a conhecer a verdadeira história da Anta.(...)

Eduarda Freitas
in Expresso / Única, 12 de Julho de 2003

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