Perplexidade

Sabia que?

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SABIA QUE...Existem  jornais portugueses que estão disponíveis na Internet e que colaboram com o Instituto Camões .  Apresentamos alguns endereços  de jornais que podem ser facilmente consultados e lidos diariamente ou semanalmente:EXPRESSO - http://www.expresso.pt/ (Jornal publicado aos Sábados).PÚBLICO – http://www.publico.pt (Jornal diário).DIÁRIO NOTÍCIAS: http://www.dn.pt (Jornal diário).JORNAL NOTÍCIAS: http://jn.pt/ (Jornal diário)Para obter mais informações sobre outros jornais que colaboram com o Instituto Camões consulte o seguinte endereço:http://www.instituto-camoes.pt/noticiario/jornais.htm [procurar este link - ainda existe?]Pode ainda visitar o endereço seguinte, onde pode obter informações relacionadas com o jornalismo em Portugal:http://ciberjornalismo.com/ (sítio sobre novos média, ciberjornalismo, jornalismo digital, jornalismo em linha, etc.)

Quem escreveu

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MARIA JUDITE CARVALHO (1921-1998)Nasceu em Lisboa. Frequentou o curso de Filologia Germânica. Em 1949, ano em que se casou com o professor universitário e escritor Urbano Tavares Rodrigues, foi viver para França, em Montpellier e a seguir em Paris. Foi após o regresso de França,. em1959, publicou Tanta Gente Mariana, uma obra considerada pela imprensa da época como uma revelação. Dois anos depois, As Palavras Poupadas mereceu o Prémio Camilo Castelo Branco. Contudo, MJC publicara  em 1949 o seu primeiro conto na revista Eva e em 1953 enviara as «Crónicas de Paris» para a mesma revista. A partir de 1968 foi redatora dos jornais Diário de Lisboa (1968-75), da revista Eva (até 1975) e de O Jornal (1976 a 1983). Colaborou, regularmente, com o «Suplemento Mulheres» do Diário de Lisboa, onde adotou o pseudónimo Emília Bravo, e escreveu esporadicamente para os jornais República e O Século. Ainda se registam textos escritos para as revistas O Escritório (1971 a 1974), Mulheres (1978), Silex nº3 (1980), Come e Cala (1981 a 1982).As histórias escritas nos jornais e nas revistas constituem, hoje, documentos fundamentais para o estudo do conjunto da obra, que integra volumes de crónicas, contos, novelas, romance, poesia e teatro.Obras da autora (Últimas edições)Tanta Gente, Mariana (contos), Lisboa: Europa América, 1988.As Palavras Poupadas (contos), Lisboa: Europa América,1988. (Prémio Camilo Castelo Branco).Paisagem sem Barcos (contos), Lisboa: Europa América, 1990.Os Armários Vazios (romance), Lisboa: Livraria Bertrand, 1978.O Seu Amor por Etel (novela), Lisboa: Movimento, 1967.Flores ao Telefone (contos), Lisboa: Portugália Editora, 1968.Os Idólatras (contos), Lisboa: Prelo Editora, 1969.Tempo de Mercês (contos), Lisboa: Seara Nova, 1973.A Janela Fingida (crónicas), Lisboa: Seara Nova, 1975.O Homem no Arame (crónicas), Amadora: Editorial Bertrand, 1979.Além do Quadro (contos), Lisboa: O Jornal, 1983.Este Tempo (crónicas) Lisboa: Editorial Caminho, 1991.(Prémio da Crónica da Associação Portuguesa de Escritores).Seta Despedida (contos), Lisboa: Europa América, 1995.(Prémio Máxima, Prémio da Associação Internacional dos Críticos Literário, Grande Prémio do Conto da Associação Portuguesa de escritores, Prémio Vergílio Ferreira das Universidades Portuguesas).A Flor Que Havia na Água Parada (poemas), Lisboa: Europa América,1998 (póstumo).Havemos de Rir! (teatro), Lisboa: Europa América,1998 (póstumo).

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Perplexidade A criança estava perplexa. Tinha os olhos maiores e mais brilhantes do que nos outros dias, e um risquinho novo, vertical, entre as sobrancelhas breves. «Não percebo», disse.Em frente da televisão, os pais. Olhar para o pequeno écran era a maneira de olharem um para o outro. Mas nessa noite, nem isso. Ela fazia tricô, ele tinha o jornal aberto. Mas tricô e jornal eram alibis. Nessa noite recusavam mesmo o écran onde os seus olhares se confundiam. A menina, porém, ainda não tinha idade para fingimentos tão adultos e subtis, e, sentada no chão, olhava de frente, com toda a sua alma. E então o olhar grande a rugazinha e aquilo de não perceber. «Não percebo», repetiu.«O que é que não percebes?» disse a mãe por dizer, no fim da carreira, aproveitando a deixa para rasgar o silêncio ruidoso em que alguém espancava alguém com requintes de malvadez.«Isto, por exemplo.»«Isto o qu껫Sei lá. A vida», disse a criança com seriedade.O pai dobrou o jornal, quis saber qual era o problema que preocupava tanto a filha de oito anos, tão subitamente.Como de costume preparava-se para lhe explicar todos os problemas, os de aritmética e os outros.«Tudo o que nos dizem para não fazermos é mentira.»«Não percebo.»«Ora, tanta coisa. Tudo. Tenho pensado muito e...Dizem-nos para não matar, para não bater. Até não beber álcool, porque faz mal. E depois a televisão...Nos filmes, nos anúncios...Como é a vida, afinal?»A mão largou o tricô e engoliu em seco. O pai respirou fundo como quem se prepara para uma corrida difícil.«Ora vejamos,» disse ele olhando para o tecto em busca de inspiração. «A vida...»Mas não era tão fácil como isso falar do desrespeito, do desamor, do absurdo que ele aceitara como normal e que a filha, aos oito anos, recusava.«A vida...», repetiu.As agulhas do tricô tinham recomeçado a esvoaçar como pássaros de asas cortadas. Maria Judite de Carvalho in «O Jornal», 2-10-81