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«(...) pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental,
vestida da
música que lhe é própria.»
Fernando Pessoa
Prefiro rosas, meu amor, à pátria
Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.
Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.
Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,
Se cada ano com a primavera
As folhas aparecem
E com o outono cessam?
E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?
Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.
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Continuação da Carta a Adolfo Casais
Monteiro
Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia
escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso irregular
(não no estilo de Álvaro
Campos, mas num estilo de meia regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me,
contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a
fazer aquilo. (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo
Reis).
Excerto de uma carta a Adolfo Casais Monteiro, 13 de Janeiro
1935
Sobre o poema:
Este poema mostra o papel da Natureza: o ritmo da natureza "ensina"
o sujeito a "olhar" a vida como espectador. Assim, podemos apontar
algumas linhas de análise que ajudam a pensar sobre a filosofia de vida de
Ricardo Reis.
Linhas de abordagem:
A procura da serenidade |
A
inutilidade de agir |
A fugacidade da
vida |
A indiferença |
Sítio dos poemas dos heterónimos de Fernando Pessoa:
http://viriato.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/pessoa.html
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