in Poesia de António Maria Lisboa – texto estabelecido por Mário Cesariny de Vasconcelos.

 

 

 

António Maria Lisboa (1928-1953)

Nasce em Lisboa, a 1 de Agosto de 1928. Frequenta o Ensino Técnico. A partir de 1947 forma com Pedro Oom e Henrique Risques Pereira um pequeno grupo à parte das actividades dos surrealistas. Em Março de 1949, parte para Paris, onde permanece por dois meses. Datam provavelmente daí os seus primeiros contactos com o Hinduísmo, a Egiptologia, com o Ocultismo em geral. De volta a Lisboa, colabora com poemas e desenhos de títulos estranhos ( Pequena Históra a Mais Fantástica dos Amorosos, Marfim Peixe, etc.) na qual se chamou «1 Exposição dos Surrealistas», do grupo dissidente. A partir dessa altura, a amizade com Mário Cesariny acompanhá-lo-ia até aos últimos dias. Em 1950 colabora na redacção de vários  manifestos e, em carta a Cesariny, faz as primeiras declarações com referência aos objectivos do movimento surrealista. Apesar da aproximação, Lisboa prefere intitular-se «metacientista», e não surrealista, porque, argumenta, numa carta a Mário Cesariny,  a «Surrealidade não é só do Surrealismo, o Surreal é do Poeta de todos os tempos, de todos os grandes poetas». Morreu de tuberculose com 25 anos.

Obras: Ossóptico, 1952; Isso Outrem Único, 1953; Afixação Proibida (em colaboração com Mário Cesariny), 1953; Poesia de António Maria Lisboa (edição de Mário Cesariny), 1977.

Adaptado  de «Poesia de António Maria Lisboa» – texto estabelecido por Mário Cesariny de Vasconcelos, Lisboa, assírio & alvim, p. 345.


POEMA DO COMEÇO

Eu num camelo a atravessar o deserto
com um ombro franjado de túmulos numa mão muito
aberta

Eu num barco a remos a atravessar a janela
da pirâmide com um copo esguio e azul coberto de escamas

Eu na praia e um vento de agulhas
com um Cavalo-Triângulo enterrado na areia

Eu na noite com um objecto estranho na algibeira
-trago-te Brilhante-Estrela-Sem-Destino coberta de
musgo

in Poesia de António Maria Lisboa – texto estabelecido por Mário Cesariny de Vasconcelos.


Carta de António Maria Lisboa a Mário Cesariny:

Cesariny:
Para que ainda siga hoje não vai mais nada. Dizem que é no Outono ao cair da folha – eu espero o Outono: que mundo de revelações!!! Tenho normalmente 112 pulsações p.m. consegui já no entanto o record verificado de 130 p.m. Agonias, suores frios e o raio!
Se tudo correr bem até à próxima.
Um grande abraço do

Sempre
António Maria Lisboa

in Poesia de António Maria Lisboa – texto estabelecido por Mário Cesariny de Vasconcelos.


Ler a poesia de António Maria Lisboa:
http://www.secrel.com.br/jpoesia/aml01.html

© Instituto Camões, 2001