Redacção
Uma senhora pediu-me
um poema de amor.
Não de amor por ela,
mas «de amor, de amor».
À parte aquelas
trivialidades «minha rosa, lua do meu céu interior»
que podia eu dizer
para ela, a não destinatária,
que não fosse por ela?
Sem objecto, o poema
é uma redacção
dos 100 Modelos
de Cartas de Amor.
Amigo
Mal
nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo»
é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
«Amigo»
(recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,
Não
o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.
«Amigo»
é a solidão derrotada!
«Amigo»
é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre
O’Neill, in No
Reino da Dinamarca
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Alexandre O'Neill
(1924-1986)
Alexandre
ONeill e o Movimento Surrealista:
«1945-1950 foram conhecidos
como os anos da «aventura surrealista». O poeta iniciou uma relação de amizade e
cumplicidade intelectual com Mário Cesariny: ambos desenvolviam actividades do MUD
Juvenil e demonstravam uma atitude muito renitente face ao Neo-Realismo, tanto no campo
estético como no ideológico.
Contudo, esta fase, dura até 1951. Em Novembro desse ano, Alexandre O`Neill edita «Tempo
de Fantasmas», o seu primeiro livro de poemas, em «Cadernos de Poesia» (fascículo
nº11). Num «Pequeno aviso do autor ao leitor», que abre o volume à laia de prefácio,
o poeta demarca-se do Surrealismo: «Da aventura surrealista hoje reduzida, como
merece, às alegres actividades de dois ou três incorrigíveis pequenos aventureiros
ficaram (no autor) os restos que lhe pareceram mais significativos (...) Dela
também herdou certa tentação pela ambiguidade (fuga do real) e um formalismo que o
leva, num ou noutro poema, a soluções de evidente mau gosto...».
Adaptação de uma Biografia
Cronológica elaborada por Ana Maria Pereirinha. in «Alexandre ONeill
Poesias Completas 1951-1986», Lisboa, 3.ª edição, Imprensa Nacional-Casa da Moeda,
1995.
Obras Principais:
Tempo de Fantasmas, 1951; No Reino da Dinamarca, 1958; Abandono Vigiado, 1960; Poemas com
endereço, 1962; Feira Cabisbaixa, 1965; De Ombro na Ombreira, 1969; Uma Coisa em Forma de
Assim, 1980; Poesias Completas; 1951/1981, 1995.
O gosto pelo jogo de palavras e
pelo «brincar a sério» com a língua portuguesa é uma das marcas constantes da poesia
de Alexandre O`Neill.
Aconselhamos a leitura do seguinte poema que «explica», à sua
maneira, o uso do adjectivo:
http://www.ciberduvidas.com/antologia/oneill.html
Para ler mais poemas de
Alexandre O`Neill poderá consultar:
http://fimdamente.org/a-f/alexandreoneill.htm
Para saber mais sobre o
poeta:
http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/oneill/index.html
O auto-retrato:
http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/oneill/index.html |