A formosura desta fresca serra,
E a sombra dos verdes castanheiros,
O manso caminhar destes ribeiros,
Donde toda a tristeza se desterra;

O rouco som do mar, a estranha terra,
O esconder do sol pelos outeiros,
O recolher dos gados derradeiros
Das nuvens pelo ar a branda guerra.

Enfim, tudo o que a rara natureza
Com tanta variedade nos ofrece (1),
Me está, se não te vejo, magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
Sem ti, perpetuamente estou passando
Nas mores (2) alegrias mor (2) tristeza.

Luís de Camões
(in Sonetos de Luís de Camões / escolhidos por Eugénio de Andrade, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000)

(1) ofrece – forma arcaica de oferece
(2)
mor /mores – forma arcaica de maior / maiores


LUÍS DE CAMÕES


«Camões» - Óleo de Júlio Pomar.

Figura cimeira da cultura portuguesa, Camões viveu no século XVI (morreu em 1580) e muito da sua vida permanece envolto em mistério. Terá nascido em Lisboa e provavelmente estudou em Coimbra. Sabe-se que frequentou a Corte, mas a sua condição de fidalgo pobre terá sido uma razão forte para escolher a carreira das armas, em detrimento das letras. Em Ceuta, onde permaneceu dois anos, sofreu um ferimento no olho direito que o marcaria para o resto da vida. Partiu para a Índia em 1553, de onde regressou apenas em 1569. A fase final da sua vida é atestadamente vivida em grande pobreza.

Obra


Poesia:
Os Lusíadas
(1572)
Rimas
(1595)


Teatro:
Anfitriões
(1587)
Auto d’El Rei Seleuco
(1587)

 

Camões é considerado um dos poetas maiores da nossa língua. A sua obra – não só Os Lusíadas, mas também toda a poesia lírica e mesmo o teatro (embora este seja menos conhecido do grande público) – continua a ser fonte inesgotável de novas leituras e a inspirar a criação, tanto na literatura como em outros domínios artísticos.
O Instituto Camões tem em linha a edição do poema épico Os Lusíadas. Já conhece esta edição?

Veja ainda no sítio do CVC alguns poemas de autores contemporâneos que se inspiraram na poesia camoniana.

© Instituto Camões, 2001