P O V O A M E N T O

No teu amor por mim há uma rua que começa
Nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera  

Ruy Belo, Aquele Grande Rio Eufrates
Lisboa, Editorial Presença, 1996 (5ª ed.)


Ruy Belo

 

A poesia de Ruy Belo ainda nas palavras de Joaquim Manuel Magalhães:

«Num certo sentido, o sentimento do mundo afirmado no primeiro livro e a vocação da escrita aí enunciada como que se confirmam, por aprofundamento, numa longa deambulação de poemas até ao último livro: a realidade confrontada é mais vasta, a cultura contemplada muito mais larga, a variação do humano mais longamente experimentada, mas as categorias iniciais mantêm-se, as primeiras apostas persistem, a conflituosa consciência da subjectividade confirma-se. [...]».

Joaquim Manuel Magalhães

Posfácio a Obra Poética de Ruy Belo, vol. 2, 
Lisboa, Editorial Presença, 1990 (2ª ed.)


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