O vinho e o centeio abrem a mesa
àquele peso de fulgor sagrado
que nos reúne. Quase sacramenta
como a luz do concerto no trabalho

que aqui trazemos. E depomos tensa
para que nutra, com tua graça, o hábito
de nos sentarmos a receber da terra
o que demos à terra. E partilhamos.

Que deste pão o nosso olhar se acenda.
E o vinho atine a só nos alegrarmos
para o esforço difícil da tarefa

dar fruto de justiça a todos quantos,
tão apartados e famintos dela,
faltam ao peso e ao fulgor dos anos.

Fernando Echevarría
Geórgicas
Porto, Edições Afrontamento, 1998





FERNANDO  ECHEVARRÍA

Fernando Echevarría nasceu em 1929. Estudou Humanidades em Portugal e Filosofia e Teologia em Espanha, país onde nasceu e ao qual se encontra ligado pelo lado materno. Poeta de grande discrição, estreou-se na poesia em 1956, com o livro Dois Anjos. Exilado em Paris desde 1961, partiu para Argel em 1963. Regressou a Paris em 1968, onde actualmente continua a residir. Entre outras distinções literárias, foi-lhe atribuído o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores em 1991, pelo livro Sobre os Mortos.

Outras obras de Fernando Echevarría:

Tréguas para o Amor (1958)
A Base e o Timbre (1973)
Figuras (1987)
Uso de Penumbra (1995)

Mais alguns poemas do autor.

© Instituto Camões, 2001