DOS FELINOS


Nenhum vocábulo detém o gato

e o sublinha, lacónico,

no choro, no cio.

Completo gemido, curvatura, elo.

Despojado, num túnel,

da pele, do pêlo.

Só lhe ganha o homem

ganhando erecção, êxtase,

circulação do sangue

orientada.

Luiza Neto Jorge
Poesia. 1960-1989
Lisboa, Assírio & Alvim, 1993





Sobre a poesia de LUIZA NETO JORGE:

«Um dos meus prazeres ao ler um poeta consiste em encontrar-lhe as ligações com propostas anteriores, descortinar os modos como se relaciona com o passado da escrita que lhe é mais próximo, e assim perspectivar os processos como ele joga contra esse passado, ultrapassando-o, eliminando-o ou ampliando-o. Luiza Neto Jorge surge num momento em que esse jogo de cruzamento e recusa é bastante insistente, o mesmo é dizer que surge numa das décadas que representa um dos nódulos de alteração significativa da nossa poesia.»

Joaquim Manuel Magalhães

Os Dois Crepúsculos. Sobre Poesia Portuguesa Actual e Outras Crónicas

Lisboa, A Regra do Jogo, 1981

Difícil Poema de Amor - poema de Luiza Neto Jorge.

© Instituto Camões, 2001