GATO
Que
fazes por aqui, ó gato?
Que
ambiguidade vens explorar?
Senhor
de ti, avanças, cauto,
meio
agastado e sempre a disfarçar
o
que afinal não tens e eu te empresto,
ó
gato, pesadelo lento e lesto,
fofo
no pelo, frio no olhar!
De
que obscura força és a morada?
Qual
o crime de que foste testemunha?
Que
deus te deu a repentina unha
que
rubrica esta mão, aquela cara?
Gato,
cúmplice de um medo
ainda
sem palavras, sem enredos,
quem
somos nós, teus donos ou teus servos?
Alexandre
O'Neill
Poesias Completas. 1951-1986
Lisboa, INCM, 1990 (3ª ed.)
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