OCEANO NOX

Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?

Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...

Antero de Quental
Poesia Completa, 1842-1891
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001

Nasceu em 1842 em Ponta Delgada, ilha de S. Miguel, Açores. Fez os seus estudos primários e liceais em Ponta Delgada, Lisboa e Coimbra. Na Universidade de Coimbra, frequentou o curso de Direito, que concluiu em 1864.

Nessa altura, já Antero de Quental se tinha tornado numa figura conhecida no meio intelectual. Desde 1859, colaborava em várias publicações quer com poemas quer com artigos e ensaios. Em 1861, publicava os primeiros vinte e um Sonetos e, em 1865, as Odes Modernas.

Entretanto, Antero de Quental impunha-se também como polemista e mentor de uma geração, empreendendo uma complexa acção de reflexão doutrinária e de intervenção social e política que não pararia ao longo da década de 70.

Sofrendo sérias crises de depressão, que se tornaram mais agudas, Antero de Quental procurou o isolamento entre 1881 e 1890, fixando-se em Vila do Conde, de onde manteve um imenso contacto epistolográfico. O agravamento da neurose levou-o ao suicídio, no regresso a Ponta Delgada, em Setembro de 1891.

Obras principais:

Poesia:
Sonetos (1861)
Odes Modernas (1865)
Primaveras Românticas (1872)
Sonetos Completos (1886; 1890: segunda edição, preparada pelo autor)

Ensaio:
Causas da Decadência dos Povos Peninsulares (1871)
As Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX (1890)

Para conhecer melhor a biografia de Antero de Quental.
Antero de Quental na Base temática de Literatura Portuguesa do CVC.


© Instituto Camões, 2002