No silêncio dos olhos

Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?

José Saramago
Os Poemas Possíveis
Lisboa, Caminho, 1999


JOSÉ SARAMAGO

Nasceu em 1922 na aldeia de Azinhaga, concelho da Golegã (Ribatejo).
Oriundo de uma família de camponeses, fez estudos liceais (secundário e técnico) e desempenhou várias profissões até atingir o profissionalismo enquanto escritor: serralheiro mecânico, funcionário administrativo, director literário de uma editora, jornalista, tradutor, crítico literário, comentador político, co-director do jornal Diário de Notícias.

Em determinada fase da sua vida profissional e literária esteve activamente envolvido na vida pública portuguesa, evidenciando uma militância política de ideologia marxista.
A problematização da História é um aspecto fulcral da ficção de Saramago. A sua escrita repensa os acontecimentos, reinventa as figuras históricas e os lugares, criando uma nova realidade histórica.

Da vasta obra que possui, destaca-se:
Os Poemas Possíveis (1966) - poesia
Manual de Caligrafia (1977) - romance
Memorial do Convento (1982) - romance
O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991) - romance
In Nomine Dei (1993) - teatro
Todos os Nomes (1997) - romance
A Caverna

(2000) - romance
Cadernos de Lanzarote V (1998) - diário

O romance Memorial do Convento e a peça de teatro In Nomine Dei deram origem a duas óperas, Blimunda e Divara, adaptações do compositor italiano Azio Corghi.
A obra de Saramago tem sido traduzida em várias línguas. O escritor recebeu vários prémios portugueses e estrangeiros. Em 1998 ganhou o Prémio Nobel da Literatura.
Vive, desde 1992, na ilha de Lanzarote.

Para saber mais sobre Saramago.
Para ouvir alguns poemas.
Prémio Nobel - Discurso de José Saramago.

Foto: Marcelo Buainain (DN)

© Instituto Camões, 2002