Janeiro de Sessenta e Dois
Janeiro português que entrou mansinho
desistiu quase pela chuva
mas entrou
limpando docemente os pés.
Mas quase um janeiro de almanaque:
com burros em Lisboa cochichando
com damas coroadas de cinzento
e os pobres aos pulinhos nos cafés.
Sacodem-no apressadas as varinas
ideias adoecem-no sem asas
e os burgueses roçam com a língua
plo ventre melancólico das casas.
Seus dias vão depressa para os ardinas
poleiro persistente onde um cavalo
relincha no colo das semanas
miando desastrado como os sinos
metido com vamps americanas.
Janeiro português por onde poisas
doméstica abelha sem corola
arrastas sem saber o gosto às coisas
e a tia chega ao fim da camisola...
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