EM SINTRA

 

As águas maravilham-se entre os lábios

e a fala, rápidos

em Sintra espelhos surgem como pássaros,

a luz de que se erguem acontece às águas,

à flor da fala

divide os lábios e a ternura. Da linguagem

rebentam folhas duma cor incómoda, as de que

maravilhado de água surges entre

livros, algum crime, um

menino a dissolver-se ou dele os lábios e ergues

equívoca a luz depois. Rápidos

espelhos então cercam-te explodindo os pássaros.

 

Luís Miguel Nava

Películas (1979)

In Poesia Completa 1979-1994

Lisboa, Dom Quixote, 2002



LUÍS MIGUEL NAVA

Nasceu em 1957, em Viseu. Nesta cidade, fez a instrução primária e o ensino secundário. Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, onde foi assistente entre 1981 e 1983. Partiu depois para Oxford, como leitor de Português, aí permanecendo três anos. Fixou-se em Bruxelas desde 1986, desempenhando o cargo de tradutor do Conselho das Comunidades Europeias. Nesta cidade, no seu apartamento, foi brutalmente assassinado em 1995.

A Fundação Luís Miguel Nava, instituída por testamento do poeta, publica desde 1997 a revista Relâmpago e atribui um prémio de poesia anual.

 

Obra de Luís Miguel Nava:

  Poesia:

Películas (1979) - Prémio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores

A Inércia da Deserção (1981)

Como Alguém Disse (1982)

Rebentação (1984)

O Céu Sob as Entranhas (1989)

Vulcão (1994)

Ensaio e antologia:

O Pão a Culpa a Escrita (1982)

A Poesia de Francisco Rodrigues Lobo (1985)

O Essencial Sobre Eugénio de Andrade (1987)

Antologia de Poesia Portuguesa - 1960/1990 (1991)

Ler outro poema de Luís Miguel Nava.


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