para o continente. E, por trás delas, como um pastor exigente, o vento que as empurra. Depois, as nuvens passam e volta o sol, com o azul imutável das manhãs de outono, monótono e distante como quem o olha, ao sair de casa, sem tempo para pensar no tempo. As nuvens, no entanto, continuam o seu caminho: umas, desfazem-se em água sobre campos vazios, ou descem para as grandes cidades para as abraçar com um tédio enevoado. As que me interessam, porém, são as que sobem para norte, e ficam mais frias à medida que as pressões continentais abrandam o seu curso, Então, param em dias cinzentos; e, por fim, escurecem a tua alma, quando as olhas, e te apercebes de que se aproxima um inverno de solidão. A não ser que leias, nesse obscuro céu, esta carta que te mando. |
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NUNO JÚDICE Nasceu em 1949, na aldeia de Mexilhoeira Grande, no Algarve. Além de outras funções que tem exercido, é professor de literatura comparada na Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou. Começou a escrever poesia muito jovem e colaborou no suplemento juvenil do jornal Diário de Lisboa. Entre 1969 e 1972, fez parte da redacção da revista O Tempo e o Modo. Em 1972, publicou o seu primeiro livro, intitulado A Noção de Poema. Ao longo da sua carreira, foi distinguido com vários prémios. Pelo livro Meditação Sobre Ruínas (1994), recebeu o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores. O Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários atribuiu-lhe o Prémio da Crítica 2000. Nuno Júdice tem-se dedicado ainda à crítica literária, à ficção e, sobretudo, à tradução de outros poetas. A sua obra encontra-se também traduzida e publicada em vários países do mundo. Alguns destaques na obra poética de Nuno Júdice: A Noção de Poema (1972) As Inumeráveis Águas (1974) Lira de Líquen (1985) Enumeração das Sombras (1989) Meditação sobre Ruínas (1994) O Movimento do Mundo (1996) Teoria Geral do Sentimento (1999) Poesia Reunida, 1967-2000 (2000) Conhecer melhor Nuno Júdice: uma entrevista. Escutar alguns poemas do autor. |
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