CARTA DA INFÂNCIA Amigo Luar: Estou fechado no quarto escuro e tenho chorado muito. Quando choro lá fora ainda posso ver as lágrimas caírem na palma das minhas mãos e brincar com elas ao orvalho nas flores pela manhã. Mas aqui é tudo por demais escuro e eu nem sequer tenho duas estrelas nos meus olhos. Lembro-me das noites em que me fazem deitar tão cedo e te oiço bater, chamar e bater, na fresta da minha janela. Pelo muito que te tenho perdido enquanto durmo vem agora, no bico dos pés para que eles te não sintam lá dentro, brincar comigo aos presos no segredo quando se abre a porta de ferro e a luz diz: bons dias, amigo. |
|||||||||
|
|||||||||
|
|||||||||
CARLOS DE OLIVEIRA Nasceu em 1921, em Belém do Pará, no Brasil. Filho de pais portugueses, acompanhou-os no regresso a Portugal, com dois anos de idade. A família fixou-se, então, na Gândara, no concelho de Cantanhede (centro do país), na pequena aldeia de Febres, onde o pai do escritor se instalou como médico. Esta região marcaria profundamente a infância e a adolescência de Carlos de Oliveira. Em Coimbra, Carlos de Oliveira fez os estudos liceais e universitários. Formou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, em 1947. O ambiente intelectual coimbrão é então marcado pela afirmação do Neo-realismo, movimento a que Carlos de Oliveira esteve ligado (colaborou nas revistas «Altitude», «Seara Nova» e «Vértice») e no qual se filiam os seus primeiros livros de poesia e de ficção. Alguns destaques na obra de Carlos de Oliveira: Poesia: Turismo (1942) Mãe Pobre (1945) Terra de Harmonia (1950) Sobre o Lado Esquerdo (1968) Entre Duas Memórias (1971) Trabalho Poético (2 vol., 1977-1978) Romance: Casa na Duna (1943) Uma Abelha na Chuva (1953) Finisterra (1978) Crónica: O Aprendiz de Feiticeiro (1971) Carlos de Oliveira na literatura portuguesa. Sobre a poesia de Carlos de Oliveira. |
|||||||||
|
|||||||||
|
|||||||||