Poeta

Quando a primeira lágrima aflorou

Nos meus olhos, divina claridade

A minha pátria aldeia alumiou

Duma luz triste, que era já saudade.

Humildes, pobres cousas, como eu sou

Dor acesa na vossa escuridade...

Sou, em futuro, o tempo que passou-

Em num, o antigo tempo é nova idade.

Sou fraga da montanha, névoa astral,

Quimérica figura matinal,

Imagem de alma em terra modelada.

Sou o homem de si mesmo fugitivo;

Fantasma a delirar, mistério vivo,

A loucura de Deus, o sonho e o nada.


Teixeira de Pascoaes
Sempre (1898)
In Poesia de Teixeira de Pascoaes
Org. de Silvina Rodrigues Lopes
Lisboa, Editorial Comunicação, 1987


TEIXEIRA DE PASCOAES

 

Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, de seu nome verdadeiro, nasceu em Gatão, Amarante, no norte de Portugal, em 1877.
Em 1883, começa a colaborar no jornal A For do Tâmega, com poesias líricas e satíricas. Publica também o seu primeiro livro, Embriões, rejeitado mais tarde pelo poeta.

Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, exerce depois advocacia, por um curto período de tempo.

Em 1911, com Jaime Cortesão, Leonardo Coimbra e outros intelectuais, funda o grupo Renascença Portuguesa e dirige, entre 1912 e 1916, a parte literária da revista A Águia, tornada então no órgão daquele movimento.

Em 1913, abandonou a carreira judicial e fixou-se em Gatão, no solar de Pascoaes, a casa da infância que inspirou a escolha do nome do poeta. O seu isolamento não o impediu, contudo, de continuar a actividade literária e de intervenção cultural, dando expressão particular a uma tendência que ficou conhecida na literatura portuguesa como «saudosismo».

Faleceu em 1952.


Algumas obras do autor:

 

Poesia

Sempre (1898)

Vida Etérea (1906)

Senhora da Noite (1909)

Marânus (1911)

O Doido e a Morte (1913)

Últimos Versos (1953)

Novela

O Empecido (1950)

Biografia

São Paulo (1934)

S. Jerónimo e a Trovoada (1936)

O Penitente (1942)

Ensaio
O Espírito Lusitano e o Saudosismo (1912)

A Arte de Ser Português (1915)

Os Poetas Lusíadas (1919)

O Homem Universal (1937)

A figura de Teixeira de Pascoaes.
O que é o saudosismo?


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