Paisagens


Num pálido desmaio a luz do dia afrouxa

E põe, na face triste, um véu de seda roxa...

Nuvens, a escorrer sangue, esvoaçam, no poente.

E num ermo, que o outono adora eternamente,

Vê-se velhinha casa, em ruínas de tristeza,

Onde o espectro do vento, às horas mortas, reza

E o luar se condensa em vultos de segredo...

Almas da solidão, sombras que fazem medo,

Vidas que o sol antigo, um outro sol, doirou,

Fumo ainda a subir dum lar que se apagou.



Teixeira de Pascoaes
Vida Etérea (1906)
In Poesia de Teixeira de Pascoaes
Org. de Silvina Rodrigues Lopes
Lisboa, Editorial Comunicação, 1987


Sobre a poesia de TEIXEIRA DE PASCOAES

«A poesia de Pascoaes é o labor suado da pedra, a paciente e laboriosa construção catedralesca, mas também o despojado vazio de uma pura geometrização, muito ciosa de uma transcendentalidade branca, indefinível e eternamente desconhecida, ateísta mesmo, o artefacto lúdico e irónico, refractário de todo à mercantilização da cultura (que bem pode passar por ser hoje, na arte e na literatura, a contra-utopia orwelliana do pós-modernismo finissecular).»

António Cândido Franco

(introdução à edição de Belo. À Minha Alma. Sempre. Terra Proibida, Lisboa, Assírio & Alvim, 1996)


O pensamento filosófico de Teixeira de Pascoaes.

Ouvir alguns poemas.


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