A Máscara


Esta luz animada e desprendida

Duma longínqua estrela misteriosa

Que, vindo reflectir-se em nosso rosto,

Acende nele estranha claridade;

Esta lâmpada oculta, em nossa máscara

Tornada transparente e radiante

De alegria, de dor ou desespero

E de outros sentimentos emanados

Do coração dum anjo ou dum demónio;

Este retrato ideal e verdadeiro,

Composto de alma e corpo e de que somos

A trágica moldura, errando à sorte,

E ela, é ela, a nossa aparição,

Feita de estrelas, sombras, ventanias

E séculos sem fim, surgindo, enfim,

Cá fora, sobre a Terra, à luz do Sol.


Teixeira de Pascoaes

Cânticos (1925)

In Poesia de Teixeira de Pascoaes

Org. de Silvina Rodrigues Lopes

Lisboa, Editorial Comunicação, 1987


Eduardo Lourenço escreveu sobre TEIXEIRA DE PASCOAES:

«O mundo de Pascoaes é um mundo poético e visionariamente saturado, o único que goza, como o de Dante ou de milton, desta propriedade em língua portuguesa. O que ele tem que dizer é indizível mas ele di-lo sublimemente, e redi-lo, sem que a sua sublimidade redundante o diminua, como se a sua inspiração e pressa manasse, sem metáfora, de uma fonte inesgotável.»

(prefácio a Marânus, Lisboa, Assírio & Alvim, 1990)


Teixeira de Pascoaes - alguns artigos na imprensa.


Ler alguns poemas de Teixeira de Pascoaes.


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