Desaparecido Sempre que leio nos jornais: «De casa de seus pais desapar’ceu...» Embora sejam outros os sinais, Suponho sempre que sou eu. Eu, verdadeiramente jovem, Que por caminhos meus e naturais, Do meu veleiro, que ora os outros movem, Pudesse ser o próprio arrais. Eu, que tentasse errado norte; Vencido, embora, por contrário vento, Mas desprezasse, consciente e forte, O porto do arrependimento. Eu, que pudesse, enfim, ser eu! - Livre o instinto, em vez de coagido. «De casa de seus pais desapar’ceu...» Eu, o feliz desaparecido!
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Carlos Queirós
Nasceu em 1907, em Paris. Poeta, ensaísta, crítico literário e de arte, estudou Direito na Universidade de Coimbra, tornando-se funcionário da Emissora Nacional, onde organizou programas culturais. Assíduo colaborador da Presença e de outras publicações literárias, foi considerado um elo de ligação entre a geração presencista e a de Orpheu. Considerado um discípulo directo de Fernando Pessoa, a sua poesia caracteriza-se pela perfeição formal, pelo equilíbrio e sobriedade e pela sugestão musical. Denuncia alguma herança romântica e certa aproximação ao simbolismo. Morreu em 1949, em Paris.
Algumas obras: Poesia Desaparecido (1935) Breve Tratado da Não-Versificação (1948) Desaparecido e outros Poemas (1957)
Prosa
Leia uma carta de Carlos Queirós a Pessoa. |
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