Todas as tardes, vou Léman acima

(E leve o tempo passa nessas tardes)

A pensar em Coimbra. Que saudades!

Diogo Bernardes deste meigo Lima.

Na solidão, pensar em ti, anima,

Oh Coimbra sem par, flor das Cidades!

Os rapazes tão bons nessas idades

(Antes que a vida ponha a mão em cima)

Alegres cantam nos teus arrabaldes.

Por mais que tire vêm cheios os baldes,

Mar de recordações, poço sem fundo!

Freirinhas de Tentúgal, passos lentos!

E o chá com bolos, dentro dos conventos!

Meu Deus! meu Deus! E eu sempre a errar no Mundo!


António Nobre

Sonetos

In Poesia Completa 1867-1900

Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2000


ANTÓNIO NOBRE

Nasceu no Porto em 1867.

Filho de uma família de comerciantes do Porto, iniciou estudos de Direito em Coimbra, em 1888. Aí conheceu Alberto de Oliveira com quem participou em Boémia Nova, revista fundadora do que viria a ser o Simbolismo português.

Em 1890 vai para Paris concluir o curso que não tinha conseguido em Coimbra. Candidata-se a cônsul em 1893 mas a doença impede-o de ocupar o lugar. Viajou incessantemente entre Lisboa, Porto, Suíça e Madeira, procurando a saúde que a tuberculose minara.

É autor do livro Só, «o livro mais triste que há em Portugal», segundo o último verso do poema «Memória».

Morreu na Foz do Douro em 1900.

Algumas obras:

(1892)

Despedidas (1902)

Primeiros Versos (1921)

Para saber mais sobre António Nobre.


© Instituto Camões, 2003