Palácios Confusos

Na minha doce Coimbra, a sul virado,

Dominando o Mondego e os seus salgueiros,

Há um bairro de humildes pardieiros,

Que Palácios Confusos é chamado.

Tão belo nome no passado

Rica chusma de paços altaneiros

Com torres, grimpas, varandins ligeiros

E flâmulas a arder no céu lavado.

O tempo voador, que tudo come,

De tais riquezas só poupou o nome;

Tudo ali hoje é pobre, velho e estreito,

Sem um vislumbre do esplendor extinto!

Ó Palácios Confusos, também sinto

Uns Palácios Confusos no meu peito!


Eugénio de Castro

In Cancioneirinho de Coimbra

org. de Eugénio de Andrade

Porto, Edições Asa, 2001


EUGÉNIO DE CASTRO

Nasceu em Coimbra em 1869.

Formado em Lisboa no Curso Superior de Letras, viveu em Paris onde contactou com novas ideias literárias. Poeta e professor universitário, fundou a revista Os Insubmissos, criando a escola poética decadentista-simbolista.

A sua poesia privilegia o aspecto estético, a música das palavras, a beleza das imagens. Inaugurou o Simbolismo em Portugal com o livro Oaristos.

Em 1895, juntamente com Manuel Silva Gaio, fundou a revista Arte, contribuindo decisivamente para a afirmação e evolução do simbolismo em Portugal.

Morreu em 1944, em Coimbra.

Algumas obras:

Oaristos (1890)

Horas (1891)

Belkiss (1894)

Salomé e Outros Poemas (1896)

Saudades do Céu (1899)

O Filho Pródigo (1910)

Descendo a Encosta (1924)

Últimos Versos (1938)

Para saber mais sobre o poeta.


© Instituto Camões, 2003