Aleluia


Se cantas, nasce o dia;

A luz segreda à flor: Ave, Maria!

Tudo é silêncio, espanto,

Quando vaga no Azul o teu encanto...

Passas e deixas no ar

O perfume das rosas de toucar!

Creio em ti, como em Deus;

Viver à tua luz é estar nos Céus!

Verdes enleios de hera

Cingem de amor teu vulto, ó Primavera!

Nos perdidos caminhos,

Voam gorjeios, músicas dos ninhos...

A Terra em névoas de ouro

Ascende a Deus em teu olhar de choro!

Senhora da Harmonia,

Em ti a minha vida principia!

Se voas pela Altura,

Gravas no Azul a tua formosura!

Teu voo é um longo adeus:

O caminho das almas para os Céus...

Longe, saudosa, adejas,

E pairas sobre mim... bendita sejas!


Mário Beirão

Poesias Completas

Lisboa, INCM, 1996


MÁRIO BEIRÃO

Nasceu em Beja em 1890.

Licenciado em Direito, foi conservador do Registo Civil em Mafra.

O seu lirismo insere-se na tendência literária e filosófica do saudosismo da revista A Águia. Através da sua poesia é abordada a metafísica da alma, o louvor dos aspectos simples da natureza e da condição humana. É também o poeta cantor dos campos e das gentes do Alentejo.

Morreu em 1965, em Lisboa.


Algumas obras:

Poesia

O Último Lusíada (1913)

A Noite Humana (1928)

Mar de Cristo (1957)

O Pão da Ceia (1964)

Poesias Completas (1996)

Literatura de Viagem

Oiro e Cinza (1946) – verso e prosa


Para saber mais sobre Mário Beirão.


Dois poemas de Mário Beirão.


© Instituto Camões, 2003