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Poema do afinal No mesmo instante em que eu, aqui e agora, Limpo o suor e fujo ao Sol ardente, Outros, outros como eu, além e agora, Estremecem de frio e em roupas se agasalham. Enquanto o Sol assoma, aqui, no horizonte, E as aves cantam e as flores em cores se exaltam, Além, no mesmo instante, o mesmo Sol se esconde, As aves emudecem e as flores cerram as pétalas. Enquanto eu me levanto e aqui começo o dia, Outros, no mesmo instante, exactamente o acabam. Eu trabalho, eles dormem; eu durmo, eles trabalham. Sempre no mesmo instante. Aqui é Primavera. Além é Verão. Mais além é Outono. Além, Inverno. E nos relógios igualmente certos, Aqui e agora, O meu marca meio-dia e o de além meia-noite. Olho o céu e contemplo as estrelas que fulgem. Busco as constelações, balbucio os seus nomes. Nasci a olhá-las, conheço-as uma a uma. São sempre as mesmas, aqui, agora e sempre. Mas além, mais além, o céu é outro, Outras são as estrelas, reunidas Noutras constelações. Eu nunca vi as deles; Eles, Nunca viram as minhas. A Natureza separa-nos. E as naturezas. A cor da pele, a altura, a envergadura, As mãos, os pés, as bocas, os narizes, A maneira de olhar, o modo de sorrir, Os tiques, as manias, as línguas, as certezas. Tudo. Afinal Que haverá de comum entre nós? Um ponto, no infinito. António Gedeão Poemas Escolhidos Lisboa, Sá da Costa, 2001 |
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ANTÓNIO GEDEÃO Nasceu em Lisboa, em 1906. António Gedeão é o pseudónimo poético do cientista e historiador Rómulo de Carvalho, licenciado em Ciências Físico-Químicas. Enquanto professor e com o seu nome verdadeiro, foi responsável pela publicação de vários livros de história da ciência, manuais escolares e trabalhos de divulgação científica. Alguns destes livros destinam-se a um público infantil e juvenil. Fez tardiamente a sua estreia poética, em 1956, mas cedo revelou a preocupação com o destino do homem. Alguns dos seus poemas foram transformados em canções, e versos como “eles não sabem nem sonham que o sonho comanda a vida” passaram a ser ouvidos com frequência. Morreu em 1997, em Lisboa. Algumas obras do escritor António Gedeão: Poesia Movimento Perpétuo (1956) Teatro do Mundo (1958) Máquina de Fogo (1961) Linhas de Força (1967) Poesias Completas (1968) Poemas Póstumos (1983) Novos Poemas Póstumos (1990) Teatro RTX 78/24 (1963) Ficção A Poltrona e Outras Novelas (1973) Algumas obras do cientista e historiador Rómulo de Carvalho: História da Fundação do Colégio Real dos Nobres (1959) História do Gabinete da Física da Universidade de Coimbra (1978) A História do Ensino em Portugal (1986) A História dos Balões (1991) Para saber mais sobre António Gedeão. |
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