O perfume

O que sou eu? – O Perfume,

Dizem os homens. – Serei.

Mas o que sou nem eu sei...

Sou uma sombra de lume!

Rasgo a aragem como um gume

De espada: Subi. Voei.

Onde passava, deixei

A essência que me resume.

Liberdade, eu me cativo:

Numa renda, um nada, eu vivo

Vida de Sonho e Verdade!

Passam os dias, e em vão!

– Eu sou a Recordação;

Sou mais, ainda: a Saudade.


António Correia de Oliveira

In Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade

Org. de José Fanha e José Jorge Letria

Lisboa, Terramar, 2002


ANTÓNIO CORREIA DE OLIVEIRA

Nasceu em 1879, em S. Pedro do Sul.

Frequentou o Seminário de Viseu, interrompendo os estudos para viver em Lisboa onde foi jornalista e funcionário público. Em 1912, foi viver para o Quinta do Belinho, nos arredores de Esposende. Com influências de Antero e de Guerra Junqueiro, a sua poesia exibe um saudosismo nacionalista, de raiz popular e distante da metafísica de Pascoaes, cultivando temas patrióticos impregnados de doutrina católica (foi, por isso, poeta “oficial” do regime salazarista).

Na sua obra, destacam-se ainda a coloquialidade e um certo panteísmo.

Morreu na Quinta do Belinho, em 1960.


Algumas obras:

Ladainha (1897)

Cantigas (1902)

Raiz (1903)

Tentações de S. Frei Gil (1907)

Dizeres do Povo (1911)

A Minha Terra , 10 vol. (1915-1917)

História Pequenina de Portugal Gigante (1940)

Aljubarrota ao Luar (1944)

Azinheira em Flor (1954)

Alguns poemas


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