Naquela Praça


Hei-de encontrar-te ali

naquela praça que talvez já não exista.

Praça da palavra.

Praça da canção.

Praça de bandeiras a beijar

os primeiros odores da primavera.

Hei-de encontrar-te um dia

ao alto da cidade

partilhando pão

azeitonas

e poema.

Ali

naquela praça que talvez já não exista

hei-de encontrar-te um dia

e seguiremos

abraçando

as laranjeiras

desfraldando

uma vez mais

a nossa voz ao vento.

José Fanha

Tempo Azul

Porto, Campo das Letras, 2002


JOSÉ FANHA


Nasceu em Lisboa, em 1951.

Licenciado em Arquitectura, dedica-se a outras actividades: formação de professores do ensino secundário, concepção de guiões para teatro, televisão e cinema, adaptação de textos teatrais, escrita de letras para canção. É, acima de tudo, poeta e declamador. Integrou, também, o grupo dos cantores de intervenção na luta pela liberdade.

Em 1977, tornou-se popular no programa televisivo «A Visita da Cornélia». Dessa época é também o poema «Eu sou português aqui», posteriormente musicado e cantado por Manuel Freire.

Num trabalho conjunto com José Jorge Letria, tem dado um excelente contributo para a divulgação da poesia portuguesa.


Algumas obras:

Eu sou português aqui (1995)

Breve tratado das coisas da arte e do amor (1995)

A porta (1990)

Elogio dos peixes, das pedras e dos simples (1999)

Tempo Azul (2002)


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