Saudades Serei eu alguma hora tão ditoso, Que os cabelos, que amor laços fazia, Por prémio de o esperar, veja algum dia Soltos ao brando vento buliçoso? Verei os olhos, donde o sol formoso As portas da manhã mais cedo abria, Mas, em chegando a vê-los, se partia Ou cego, ou lisonjeiro, ou temeroso? Verei a limpa testa, a quem a Aurora Graça sempre pediu? E os brancos dentes, por quem trocara as pérolas que chora? Mas que espero de ver dias contentes, Se para se pagar de gosto uma hora, Não bastam mil idades diferentes? D. Francisco Manuel de Melo In Poemas de Amor Antologia de poesia portuguesa Org. de Inês Pedrosa Lisboa, Dom Quixote, 2001 |
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D. FRANCISCO MANUEL DE MELO Nasceu em Lisboa em 1608. Escritor de vasta obra, dedicada a diferentes géneros, estudou no colégio Jesuíta, onde adquiriu vasta cultura. Frequentou a corte de Madrid. Participou, ao serviço da coroa espanhola, em combates contra os holandeses. Em 1640 esteve preso por apoiar a independência de Portugal. Em 1641 apoiou militar e diplomaticamente o rei português D. João IV. Esteve preso entre 1644 e 1655, envolvido num homicídio, e foi degredado para a Baía. Regressou a Portugal em 1658 e morreu a 24 de Agosto de 1666. Algumas obras: Auto do Fidalgo Aprendiz (1646) Política Militar (1638) Obras Morales (1664) Carta de Guia de Casados (1664) Obras Métricas (1665) Apólogos Dialogais (edição póstuma, 1721) Para saber mais sobre D. Francisco Manuel de Melo. |
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