Objecto-Casa


O objecto deste poema é aquela casa em frente

           6 meses

           3 meses

           um telhado para colocar.

O objecto são umas quatro paredes

           lentas

           penosas

           6 meses ou mais – quem sabe?

           Pelas quartas-feiras

           Uma carga de tijolo,

uma caixa grande de vidros de cor,

três centos de pregos,

para um homem lentamente habitar.

O objecto deste poema

           é a lentidão sagrada do construir

           da casa sita em frente da minha janela.

O objecto é o mistério da renovação do tempo.

O objecto é a quase realização

           um telhado para colocar

           6 meses

           3 homens

           uma habitação para cá do infinito.

E. M. de Melo e Castro

Antologia para Iniciantes

Porto, Editora Ausência, 2003


E. M. DE MELO E CASTRO

Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro nasceu em 1932 na Covilhã.

Poeta e crítico literário, licenciado em Engenharia Têxtil em Inglaterra, dedicou-se também ao ensino artístico. É considerado um dos introdutores da poesia experimental em Portugal. Publicou, em 1962, Ideogramas, considerado o primeiro livro português de poesia concreta.


Algumas obras

Poesia

Entre o Som e o Sul (1960)

Ideogramas (1962)

Ciclo de Queda Livre (1973)

Círculos Afins (1977)

Re-Camões (1980)

Antologia: Poemas Escolhidos 1951- 1982 (1983)

Entre o Rigor e o Excesso: Um Osso (1994)

Trans(a)parências – Poesia I, 1950/1990 (1990)


Ensaio

O Próprio Poético (1973)

Dialéctica das Vanguardas (1976)

In-novar (1977)

Voos de Fénix Crítica (1995)

As Vanguardas na Poesia Portuguesa do Século XX (1980)

Antologia de Textos Teóricos – Essa Crítica Louca (1982)

Para saber mais sobre o autor.


© Instituto Camões, 2003