As casas


Oh as casas as casas as casas suspirou Ruy Belo

Quando olhamos para as casas alguma coisa estremece

alguma coisa chama alguma coisa espera

Olho-te com os olhos das casas respiro-te ao abrir cada janela

e atravesso as portas como se penetrasse o teu corpo

angustiado e nu

conquistando o interior da casa o ventre do teu ventre

soltando meu grito quando o coração em vértice

desce para as mesas

e um fino pó se ouve cair das lâmpadas

Dentro da casa agitam-se as bandeiras do ar

quando os teus passos se moldam ao silêncio

e tudo é escuro espesso e escuro

e nada se passa no meu peito nada em festa corre para as tuas mãos

Se nos olhamos nos olhos para as casas

porque as casas têm um sol bancos de jardim e lâmpadas

que se acendem apenas com beijos



Joaquim Pessoa

125 Poemas – Antologia Poética

Lisboa, Litexa, 1982


JOAQUIM PESSOA

Nasceu em 1948.

Poeta, pintor e publicitário, colaborou assiduamente na revista Vértice e no Suplemento Cultural do Diário de Lisboa. A sua obra começa por estar ligada à sua militância comunista e à revolução de Abril de 1974. Os temas preferidos são o amor e a denúncia social. Foi Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores com O Livro da Noite (1982).


Algumas obras

O Pássaro no Espelho (1975)

Amor Combate (1977)

Canção de Ex-Cravo de Malviver (1978)

Os Olhos de Isa (1980)

Os Dias da Serpente (1981)

O Livro da Noite (1982)

O Amor Infinito (1983)

Fly (1983)

Sonetos Perversos (1984)

Peixe Náufrago (1985)


Para saber mais sobre o autor.


© Instituto Camões, 2003