Aprender a brincar http://cvc.instituto-camoes.pt/regresso-a-cupula-da-pena-dp6.html Tue, 19 Nov 2024 01:16:41 +0000 Joomla! - Open Source Content Management pt-pt naoresponder.plataforma.cvc@fbapps.pt (Centro Virtual Camões) Sabia que? http://cvc.instituto-camoes.pt/regresso-a-cupula-da-pena/sabia-que-17502-dp8.html http://cvc.instituto-camoes.pt/regresso-a-cupula-da-pena/sabia-que-17502-dp8.html SABIA QUE...

Sintra é Património Mundial da UNESCO desde 6 de dezembro de 1995?
Destacando-se pelo património cultural que oferece, Sintra exibe luxuosos palácios e magníficas quintas, numerosos monumentos religiosos, galerias de arte e vastos espólios reunidos nos diversos museus do concelho.

Famosa pelo seu ambiente romântico e apelativo da sensibilidade, foi fonte de inspiração para escritores e artistas, portugueses e estrangeiros. Lord Byron  sentia-se sensorialmente influenciado pelo ambiente místico e mítico que envolvia Sintra. Eça de Queirós reconhecia a magnificência  do local, conferindo-lhe uma visão pessoal e emotiva, que recordamos sob a expressão «Sintra Queirosiana». Pode fazer uma excursão virtual a Sintra no sítio do Centro Virtual Camões.

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luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) Regresso à Cúpula da Pena Mon, 28 Mar 2011 10:39:31 +0000
Quem escreveu http://cvc.instituto-camoes.pt/regresso-a-cupula-da-pena/quem-escreveu-5136-dp8.html http://cvc.instituto-camoes.pt/regresso-a-cupula-da-pena/quem-escreveu-5136-dp8.html JOSÉ  RODRIGUES  MIGUÉIS


Nasceu em Lisboa em 1901.
Formado em Direito na Universidade de Lisboa, veio, posteriormente, a formar-se em Ciências Pedagógicas na Universidade de Bruxelas.
Colaborador em jornais e revistas, foi advogado, professor do ensino secundário, tornando-se, igualmente, reconhecido orador e ideólogo político.
Sentindo o peso da censura salazarista, expatriou-se para os Estados Unidos da América, onde acabou por falecer, em 1980, depois de ter ainda vivido algum tempo em Portugal e no Brasil.

Da sua obra destaca-se Léah e Outras Histórias (1958), contos e novelas que projetaram o autor, impondo-o como um dos grandes nomes entre os prosadores do seu tempo. Objeto de inúmeras traduções, a sua obra tem inspirado também numerosos artigos e  estudos universitários.

Veja ainda:

Uma apresentação de José Rodrigues Miguéis.
A caricatura de José Rodrigues Miguéis  por Vasco.

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luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) Regresso à Cúpula da Pena Mon, 28 Mar 2011 10:28:16 +0000
Ler o texto http://cvc.instituto-camoes.pt/regresso-a-cupula-da-pena/ler-o-texto-46988-dp14.html http://cvc.instituto-camoes.pt/regresso-a-cupula-da-pena/ler-o-texto-46988-dp14.html REGRESSO À CÚPULA DA PENA [excerto]


Nisto, uma tropa de viajantes apressados, ajoujados de malas e sacos, atravessou o largo de corrida, a caminho da estação. Olhei o relógio lá em cima, e conferi as horas no pulso: «À 1.50 sai o rápido de Sintra», comentei. E dei um pulo. O cavalheiro que, na mesa ao lado, se esforçava por ler nas entrelinhas do jornal, sobressaltou de medo, receando talvez uma agressão. Paguei a despesa, e, atrás do grupo, que já subia os degraus da entrada, deitei a correr através do largo cheio de sol e de estrépito.
Fui direito à bilheteira:
― Sintra, ida e volta. Ainda apanho o rápido?
O empregado olhou o relógio e respondeu com placidez:
― Tem cinco minutos.
Era então certo! Surpreendido e feliz, impaciente como há vinte anos com a lentidão dos ascensores, subi a dois e dois a escadaria. Era como se tivesse acertado com o número da sorte grande, um júbilo estranho, esta certeza tão minha de que alguma coisa continuava, um segredo só entre mim e o mundo do meu regresso... Daí a momentos, encaixado por milagre na carruagem de segunda, com este grato sabor de fumarada na língua, tornei a ouvir o apito nostálgico da locomotiva, o mesmo de há... «Mas que seca!», pensei. «Deixe o que lá vai! Hoje é hoje!»
Aqueles passeios a Sintra tinham sido sempre o meu regalo. Amava as hortas, as praias, os toiros, o futebol: mas sempre que me apetecia fugir deste simulacro de Inferno aberto em Céu ― Sintra comigo. Por lá andava todo o santo dia, de chapéu na mão, assobio na boca, a boa sombra, Seteais, as fontes, almoço no Lawrence (ou no Pombinha, conforme o orçamento), depois os Capuchos, as ruínas, a Pena... Cheguei mesmo a dormir uma noite, sozinho, nas ameias do Castelo dos Mouros. Foi no Verão, não há memória dum Agosto assim tão quente. A coisa mais extraordinária, nunca o hei-de esquecer, foi que o Sol se pôs no mesmo instante em que a Lua rompeu, e vinha cheia! Um espectáculo como nunca vi outro, nem sol da meia-noite, nem auroras boreais. Eram dois sóis, qual deles o maior, qual o mais vermelho, suspensos no horizonte, em lados opostos do mundo. Parecia uma alucinação ou um caso de espelhismo natural. Durante instantes tive a ilusão dum «fenómeno» ou cataclismo: o universo parava, e ficava retido entre aqueles dois bugalhos enormes de luz vermelha e baça... Depois o Sol afundou-se, e a Lua subiu, empalideceu, esfriou, fez-se uma lua de balada à Soares de Passos. Enfim, lá fiquei essa noite, e por sinal que me fartei de bater os queixos com frio, sem sobretudo, no Agosto mais quente de que rezam lendas encantadas.
E aqui vou eu agora a caminho de Sintra, sem mais nem menos, só porque uma tropa fandanga se lembrou de atravessar o largo, à hora a que dantes havia um rápido, e eu ali sentado a remoer problemas na esplanada do Suisso! Olhando a paisagem dura do Cacém, ocorreu-me esta pergunta estúpida: «Se ainda haverá cisnes pretos no lago?»
Chegado a Sintra, desentorpeci as pernas andando até à vila. O que sempre me atraía ali eram sobretudo as verduras, as sombras, as fontes, a paisagem, a altitude. Postado agora na arcaria ogival do Palácio Real, olhei o alto da Pena, e quis ter asas para galgar os penhascos, roçar os cimos do arvoredo, ir poisar naquelas torres e ameias dignas do Walt Disney. Mas, com franqueza, nem asas, nem pernas. Vista cá de baixo, da vila, a Pena pareceu-me um caso de respeito, ninho de águias, rochedo mitológico, amontoado de ciclopes exasperados, de garras crispadas, a agatanhar o céu. Como é que eu pude outrora trepar aquilo a pé, depois da caminhada desde Lisboa, como cheguei a fazer? E o que é que me atraía agora lá acima, que memória, que enamorado pensamento, que secreto desejo, anseio de galgar o hiato do tempo, desgarradora saudade ou largueza de vistas? Porque era ali que a vontade me estava chamando.
Corri a tomar uma tipóia que envelhecia no largo, agarrada às pilecas, e mandei bater para a Pena. Não, nem Seteais, nem Capuchinhos, nem sequer a Cruz Alta: a Pena! Daí a pouco, perna cruzada, chapéu no regaço, assobio na boca, a alma à larga, a brisa fresca no suor da calva ― por entre o gemer das molas e o bufar das bestas gastas, eu trepava a serra das serras. Mandei parar nas fontes e bebi, repetindo os gestos consabidos de quem refaz um velho conhecimento ou pratica um ritual.


José Rodrigues Miguéis, Léah e Outras Histórias, Lisboa, Editorial Estampa, 1997 (11ª ed.)
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luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) Regresso à Cúpula da Pena Mon, 28 Mar 2011 10:26:21 +0000