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Bem-vindo/a à área Aprender do Centro Virtual Camões! Nesta área encontra recursos que apoiarão a aprendizagem de português nas suas várias vertentes: falar, ouvir, ler e, brevemente, escrever. Explore também a secção brincar, onde disponibilizamos jogos para aprender português de forma lúdica. Os recursos estão organizados em três níveis de dificuldade.

«Revolução»

Sabia que?

Sabia que?
Existem muitas fotografias dos primeiros momentos da revolução, quando os militares ocuparam o Terreiro do Paço, na baixa lisboeta.As Fotografias do dia 25 de Abrilhttp://www.uc.pt/cd25a/aedp_po/opm_po/opm.htmPouco tempo depois, os militantes dos partidos políticos começaram a pintar murais nas paredes das cidades. Alguns destes murais tornaram-se conhecidos e foram fotografados.O Mural Parede do Cine clube universitário de Lisboa: http://www.uc.pt/cd25a/aedp_po/murais/Surgiram caricaturas dos dirigentes políticos que ficaram célebres nos «cartoons»:«Cartoons»:http://www.uc.pt/cd25a/aedp_po/cartoon/index.htmlOs artistas plásticos desenvolveram trabalhos a lembrar este momento histórico:Trabalhos de Artistas Plásticos:http://www.uc.pt/cd25a/aedp_po/artplas.html [Linkar a: http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=HomePage]

Quem escreveu

Quem escreveu
José Gomes Ferreira (1900-1985)Nasceu  em 1900. Estudou no Porto mas em 1919 ingressa na Faculdade de Direito de Lisboa, licenciando-se cinco anos depois. Foi cônsul de Portugal em Kristiansund (Noruega) de 1926 a1930. A partir de 1931 inicia a sua longa carreira de «poeta militante». Colaborou com as revistas «Presença» e «Seara Nova». Mais tarde associou-se à geração do «Novo Cancioneiro». Organizou, em conjunto com Carlos de Oliveira, uma coletânea sobre Literatura Oral e Tradicional (que foi ilustrada por Maria Keil). Da sua obra constam seis volumes de poesia. Publicou, igualmente, várias obras de ficção, a destacar: O Mundo dos Outros (1950), Aventuras Maravilhosas de João sem Medo (1963), Tempo Escandinavo (1969) e O Irreal Quotidiano (1971).Alguns dos seus poemas foram musicados pelo compositor Fernando Lopes Graça.http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/lopesgraca-acordai.htmlSobre o movimento dos poetas do Novo Cancioneiro consultehttp://www.citi.pt/cultura/temas/novo_cancioneiro.htmlOutros poetashttp://www.terravista.pt/meiapraia/2425/

Ler o texto

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Manhãzinha cedo, senti acordar-me o sopro da voz ciciada de minha mulher:- 0 Fafe telefonou de Cascais, ... Lisboa está cercada por tropas…Refilo, rabugento:- Hã? (...)Levanto-me preparado para o pesadelo de ouvir tombar pedras sobre cadáveres. Espreito através da janela. Pouca gente na rua. Apressada. Tento sintonizar a estação da Emissora Nacional. Nem um som. Em compensação o telefone vinga-se desesperadamente. Um polvo de pânico desdobra-se pelos fios. A campainha toca cada vez mais forte.Agora é o Carlos de Oliveira.- Está lá? Está lá? É você, Carlos? Que se passa?Responde-me com uma pergunta qualquer do avesso.Às oito da manhã o Rádio Clube emite um comunicado ainda pouco claro:- Aqui, Posto de Comando das Forças Armadas. Não queremos derramar a mínima gota de sangue.De novo o silêncio. Opressivo. De bocejo. Inútil. A olhar para o aparelho.Custa-me a compreender que se trate de revolução. Falta-lhe o ruído, (onde acontecerá o espectáculo?), o drama, o grito. Que chatice!A Rosália chama-me, nervosa:- Outro comunicado na Rádio. Vem, depressa. Corro e ouço:- Aqui o Movimento das Forças Armadas que resolveu libertar a Nação das forças que há muito a dominavam. Viva Portugal!Também pede à policia que não resista. Mas Senhor dos Abismos!, trata-se de um golpe contra o fascismo (isto é: salazismo-caetanismo). São dez e meia e não acredito que os «ultras» não se mexam, não contra-ataquem! (...) A poetisa Maria Amélia Neto telefona-me: «Não resisti e vim para o escritório».Os revoltosos estão a conferenciar com o ministro do Exército. Na Rádio a canção do Zeca Afonso: Grândola, vila morena ... Terra da fraternidade... 0 povo é quem mais ordena...Sinto os olhos a desfazerem-se em lágrimas.De súbito, aliás, a Rádio abre-se em notícias. 0 Marcelo está preso no Quartel do Carmo. A polícia e a Guarda Republicana renderam-se. 0 Tomás está cercado noutro quartel qualquer. E, pela primeira vez, aparece o nome do General Spínola. Novo comunicado das Forças Armadas. 0 Marcelo ter-se-á rendido ao ex-governador da Guiné. (Lembro-me do Salazar: «o poder não pode cair na rua»).Abro a janela e apetece-me berrar: acabou-se! acabou-se finalmente este tenebroso e ridículo regime de sinistros Conselheiros Acácios de fumo que nos sufocou durante anos e anos de mordaças. Acabou-se. Vai recomeçar tudo.A Maria Keil telefonou. 0 Chico está doente e sozinho em casa. Chora. (Nesta revolução as lágrimas são as nossas balas. Mas eu vi, eu vi, eu vi! (...)Antes de morrer, a televisão mostrou-me um dos mais belos momentos humanos da História deste povo, onde os militares fazem revoluções para lhes restituir a liberdade: a saída dos prisioneiros políticos de Caxias.Espectáculo de viril doçura cívica em que os presos... alguns torturados durante dias e noites sem fim.... não pronunciaram uma palavra de ódio ou de paixões de vingança.E o telefone toca, toca, toca... Juntámos as vozes na mesma alegria. (...)Saio de casa. E uma rapariga que não conheço, que nunca vi na vida, agarra-se a mim aos beijos.Revolução. José Gomes Ferreira Poeta Militante III - Viagem do Século Vinte em mim, Lisboa, Moraes Editores, 1983