titletitleTeatro em Portugal - Pessoas <subtitle type="text"></subtitle> <link rel="alternate" type="text/html" href="http://cvc.instituto-camoes.pt"/> <id>http://cvc.instituto-camoes.pt/</id> <updated>2025-04-08T20:59:07+00:00</updated> <author> <name>Centro Virtual Camões</name> <email>naoresponder.plataforma.cvc@fbapps.pt</email> </author> <generator uri="http://joomla.org" version="1.6">Joomla! - Open Source Content Management</generator> <link rel="self" type="application/atom+xml" href="http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx-dp3.html?format=feed&type=atom"/> <entry> <title>Abel Salazar <link rel="alternate" type="text/html" href="http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/abel-salazar-dp21.html"/> <published>2011-03-01T12:28:11+00:00</published> <updated>2011-03-01T12:28:11+00:00</updated> <id>http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/abel-salazar-dp21.html</id> <author> <name>Luís Morgado</name> <email>luis.morgado@instituto-camoes.pt</email> </author> <summary type="html"><p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Abel Salazar, </strong>por Maria Luísa Garcia Fernandes</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" border="0" align="right"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Abel Salazar" src="figuras/abelsalazar/abelsalazar01.jpg" alt="Abel Salazar" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left; padding-left: 30px;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;">Abel Salazar</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Abel de Lima Salazar nasceu em Guimarães a 19 de julho de 1889 e faleceu em Lisboa a 29 de dezembro de 1946.<br /><br />Filho mais velho de Adolfo Barroso Pereira Salazar e Adelaide da Luz Silva Lima Salazar. Seu pai foi, em Guimarães, secretário e bibliotecário da Sociedade Martins Sarmento, professor de francês na Escola Industrial Francisco da Holanda e escrevia para a “Revista de Guimarães". A eliminação da disciplina de francês dos currículos escolares em Guimarães parece ter sido a causa principal da sua vinda para o Porto.<br /><br />Abel Salazar completa naquela cidade, a escola primária e parte do liceu até 1903, altura em que ingressa no Liceu Central do Porto, em S. Bento da Vitória onde conclui a 7ª classe de ciências. Aqui, com um pequeno grupo de companheiros publica um jornal escolar republicano (o Arquivo) refletindo já quer o interesse pelos novos ideais políticos quer as suas precoces aptidões para a arte, através de caricaturas de estudantes e professores.<br /><br />Em 1909 ingressa na Escola Médico-Cirúrgica do Porto e em 1915 concluiu o seu curso de Medicina e apresenta a tese inaugural “Ensaio de Psicologia Filosófica” classificada com 20 valores.<br /></span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><em>Logo no começo da carreira se preocupou com a indagação do significado psicológico e filosófico do seu trabalho. Se o trabalho de 1915, se enquadrava nas preocupações da época, já o de “A Orientação Filosófica da Histologia Moderna ” de 1917, contrastava com o seco morfologismo e o monismo positivista tradicional dos seus colegas da especialidade (Barahona Fernandes).</em></span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br />Em 1918, com apenas 30 anos de idade, Abel Salazar é nomeado Professor Catedrático de Histologia e Embriologia. Nesse ano funda e dirige o Instituto de Histologia e Embriologia da Faculdade de Medicina do Porto, um modesto centro de estudos, onde apesar da falta de recursos financeiros, Abel Salazar consegue realizar uma série de notáveis trabalhos de investigação.<br /></span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify; height: 250px; width: 238px;" border="0" align="center"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"> <p style="text-align: center;"><span style="color: #333333;"><img style="margin: 5px;" title="Parte de um friso de azulejos existente no Laboratório Médico Prof. Alberto de Aguiar" src="figuras/abelsalazar/abelsalazar02.jpg" alt="Parte de um friso de azulejos existente no Laboratório Médico Prof. Alberto de Aguiar" /></span></p> </td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: center;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: x10pt;">Parte de um friso de azulejos existente no Laboratório Médico Prof. Alberto de Aguiar, representando retratos de Mestres e Colegas do Prof. Alberto de Aguiar, todos Professores da Faculdade de Medicina do Porto, entre 1886 e 1919</span></span><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br />A par de uma orientação pedagógica inovadora no contexto da época, entendendo a atividade docente como uma investigação coletiva e a si próprio como um companheiro de trabalho, privilegiando o confronto de ideias, dando liberdade aos alunos de aparecerem nas horas que mais lhes conviessem, lançando a ideia de os alunos designarem representantes para fazerem parte do júri de exames. Como investigador, empreende uma série de pesquisas tendentes a definir, a esclarecer a estrutura e evolução do ovário, criando o célebre método de coloração tano-férrico, de análise microscópica, que lhe abre caminhos no meio científico (Método Tano-férrico de Salazar).<br /><br />Entre 1919 e 1925 o seu trabalho torna-se internacionalmente conhecido e publicado em várias revistas científicas internacionais. Participa em numerosos congressos no estrangeiro. Fundou com Athias e Celestino da Costa, os Arquivos Portugueses de Ciências Biológicas, dos quais é um dos diretores.<br /><br />Em 1921, casa-se com Zélia de Barros de quem não teve filhos.<br /><br />Ao fim de 10 anos de trabalho profícuo em condições adversas como vem proclamando sistematicamente, Abel Salazar sofre um esgotamento e interrompe a sua atividade durante quatro anos para se tratar. De regresso à Faculdade em 1931, cheio de projetos, encontra o seu gabinete desmantelado.<br /><br />Em 1935, é afastado da sua cátedra e do seu laboratório, sem mesmo poder frequentar a biblioteca, nem ausentar-se do País (Portaria de 5 de junho) em que foram expulsos também outros professores universitários, como Aurélio Quintanilha, Manuel Rodrigues Lapa, Sílvio Lima e Norton de Matos, etc.<br /><br />No seu curriculum escreve: <em>Além dos trabalhos científicos fiz na Universidade cursos sobre a Filosofia da Arte, conferências sobre a Filosofia, onde desenvolvi um sistema de Filosofia que acabo de constatar com satisfação ser bastante próximo da Escola de Viena. Foi o desenvolvimento deste sistema filosófico que, tendo desagradado à Ditadura e ao Catolicismo, foram a causa principal da minha revogação. Mas, como a ditadura não se podia basear nesta questão, ela torneou a questão, fazendo através da sua imprensa uma campanha de difamação, etc., após a qual me demitiu sem processo nem julgamento (…). Esclareço que nunca fui político, toda a minha vida me ocupei unicamente da actividade intelectual.</em><br /><br />Para Barahona Fernandes, psiquiatra e Reitor da Universidade Clássica de Lisboa, Abel Salazar “teve de passar a exercer o seu ensino, em especial cultural, fora da Faculdade, junto de pequenos grupos de discípulos e por meio de obras variadas, muitas delas dispersas em jornais mas com larga audiência do público.</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br />Além do génio artístico, como modo mais espontâneo da expressão da sua personalidade, como foi privado da disciplina da investigação sistemática no campo da histologia, sua especialidade médica, restou-lhe o estudo ávido de muitos saberes, cuja “descoberta” pessoal o empolgava e o impelia irresistível e torrencialmente à sua discussão e difusão”. ibidem … “Abel Salazar, foi um excelente professor e notável investigador da Histologia de uma Faculdade de Medicina, com as qualidades e atitude de espírito que o teriam feito um excepcional e efectivo”universitário”, se as condições sociopolíticas e culturais da época o não tivessem impedido. Quando digo “universitário”, significo o docente que não se acantona à sua especialidade, dirige a sua curiosidade para outras áreas do saber, de modo “interdisciplinar”, sabe reflectir filosoficamente sobre as ciências e a cultura e pôr todas estas actividades ao serviço dos outros, da sociedade, do progresso do País”.<br /><br />Entraram ainda no domínio das suas preocupações humanas e intelectuais, problemas de ordem social e filosófica, política, estética e literária.<br /><br />Assim escreveu:<br /><br /><strong>1915 </strong>- Ensaio de Psicologia Filosófica, Porto, 1915, Edições da Faculdade de Medicina do Porto (Reeditado em 2001, Porto, Co-edição Casa-Museu Abel Salazar e Campo das Letras Editores SA)<br /><br /><strong>1917 </strong>- A orientação filosófica da histologia moderna, e seus vícios Portugal Médico, 3ª Série, vol. III, pp. 1 – 49<br /><br /><strong>1931 </strong>– Notas de Filosofia da Arte, curso ministrado na Faculdade de Medicina do Porto (Editado em 2000, Porto, Co-edição Casa-Museu Abel Salazar e Campo das Letras Editores SA)<br /><br /><strong>1933 </strong>- A socialização da Ciência, separata do semanário académico “Liberdade, Lisboa, Editorial Liberdade<br /><br /><strong>1934 </strong>- A posição actual da Ciência, da Filosofia e da Religião, separata de “A Medicina Contemporânea”, nº 8 e 9 de 25 de Fevereiro e 4 de Março e “separata” nº 43 e 44 de 28 de Outubro e 4 de Novembro, Lisboa, Imprensa Médica<br /><br /><strong>1934 </strong>- Uma Primavera em Itália, Lisboa, Nunes de Carvalho Editor (Reeditado em 2003, Porto, Co-edição Casa-Museu Abel Salazar e Campo das Letras Editores SA)<br /><br /><strong>1934/35 </strong>- A Ciência e o mundo actual, vol.1, Porto, Imprensa Portuguesa<br /><br /><strong>1935</strong> - Indivíduo e colectividade<br /><br /><strong>1935</strong> - Digressões em Portugal, vol. 1, Porto, Imprensa Portuguesa<br /><br /><strong>1938</strong> - Paris em 1934, Porto, Tipografia Civilização<br /><br /><strong>1939</strong> - Recordações do Minho Arcaico, Porto, Tipografia Civilização (Reeditado em 2001, Porto, Co-edição Casa-Museu Abel Salazar e Campo das Letras Editores SA)<br /><br /><strong>1940</strong> - O que é Arte? Coimbra, Arménio Amado Editor (Reeditado em 2003, Porto, Co-edição Casa-Museu Abel Salazar e Campo das Letras Editores SA)<br /><br /><strong>1942</strong> - A crise da Europa, Lisboa, Edições Cosmos<br /><br /><strong>1944</strong> - Um Estio na Alemanha, Coimbra, Editora Nobel<br /><br /><strong>1947</strong> - Henrique Pousão, Porto, Livraria Tavares Martins</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br />Colabora nos seguintes Jornais e Revistas: Afinidades, Democracia do Sul, Esfera, Foz do Guadiana, Gérmen, Ideia Livre, Liberdade, Medicina (Revista de Ciências Médicas e Humanismo), Notícias de Coimbra, O Diabo, O Distrito de Beja, O Primeiro de Janeiro, O Trabalho, Pensamento, Povo do Norte, Seara Nova, Síntese, Sol, Sol Nascente, Vida Contemporânea, Voz da Justiça.<br /><br />Publicou 113 trabalhos científicos nas áreas dos aparelhos de Golgi e Para Golgi, método tano-férrico, ovário, tecido conjuntivo, anatomia do cérebro, tecido celular, sangue, técnica de desenho microscópico e temas gerais.<br /><br />O afastamento da vida académica permite-lhe desenvolver em sua casa uma produção artística variada na temática e na expressão plástica: gravura, pintura mural, pintura a óleo de paisagens, retratos, ilustração da vida da mulher trabalhadora e da mulher parisiense, aguarelas, desenhos, caricaturas, escultura e cobres martelados. </span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" border="0" align="left"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Abel Salazar com Tomaz da Fonseca" src="figuras/abelsalazar/abelsalazar03.jpg" alt="Abel Salazar com Tomaz da Fonseca" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: center;"><span style="color: #333333; font-size: x-small; font-family: arial;">Abel Salazar com Tomaz da Fonseca</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Para Amândio Silva, Diretor artístico da Casa-Museu durante quase 50 anos, Abel Salazar <em>como pintor foi sempre um intérprete de uma realidade social do seu tempo. As variadas técnicas que sofregamente o vemos experimentar são umas das facetas mais notáveis do seu temperamento de artista e da sua capacidade polivalente. Reconhecido como pintor e desenhador, ele ainda tem uma pujante e qualificada obra como caricaturista, gravador, escultor e martelador de cobres, aqui também caso único entre os artistas contemporâneos.</em><br /><br />Em 1938 e 1940, efetua em Lisboa e no Porto grandes exposições individuais que provocaram admiração generalizada.<br /><br />Em 1941, por sugestão do Prof. Mário de Figueiredo, então Ministro da Educação Nacional, o Instituto para a Alta Cultura cria um Centro de Estudos Microscópicos, na Faculdade de Farmácia, cuja direção é confiada a Abel Salazar. O Centro funciona sem condições materiais e financeiras, mas mesmo assim Abel Salazar continua a fazer investigação com a colaboração de Adelaide Estrada. Trabalha também, desde 1942, com o Instituto Português de Oncologia, a convite de Francisco Gentil, onde publicou vários trabalhos científicos no Arquivo de Patologia. Publica “Hematologia” em 1944.<br /><br />Segundo o Prof. Celestino da Costa, Abel Salazar <em>foi um morfologista de raça e convencido da grandeza da morfologia nas ciências biológicas, ao seu serviço pôs todos os seus dotes, incluindo os artísticos. Criou uma técnica própria de desenho histológico, utilizando ousadamente o lápis, com o qual conseguiu as maravilhosas figuras dos seus trabalhos (Procédé rapide de dessin microscopique)</em><br /><br />“Homem Exemplar” segundo palavras do Prof. Alberto Saavedra, seu amigo íntimo e que entre outros lançou a iniciativa em 1946, pouco depois da morte de Abel Salazar, da criação da Fundação Abel Salazar e que permaneceu na sua direção até 1979.<br /><br />O Prof. Nuno Grande salienta o divulgador do saber em que <em>“A visão ampla das diversas disciplinas que cultivou justifica a actualidade dos conceitos que formulou. De facto, profundamente analítico quando produzia qualquer das suas criações, rapidamente procurava encontrar sínteses integradoras dos aspectos parcelares da realidade que analisava. Várias manifestações desta atitude se encontram nos estudos filosóficos da arte e da ciência que nos legou e cuja leitura revela uma universalidade de pensamento que os torna actuais e de grande pertinência”</em><br /><br />A História da Casa-Museu Abel Salazar, situada em S. Mamede de Infesta, poderá dividir-se em três períodos, atendendo às três instituições que a dirigiram, desde a sua formação.<br /><br />O primeiro, de 1947 a 1965, foi o período em que uma plêiade de amigos e admiradores, após a morte de Abel Salazar, continuou a enaltecer e a divulgar a sua Obra, através, nomeadamente, da tentativa de constituição de uma "Fundação Abel Salazar", que depois de muitas vicissitudes se concretizou, em 1963, como "Sociedade Divulgadora Abel Salazar", ao fim de 17 anos de persistentes esforços.<br /><br />O segundo, de 1965 a 1976, altura em que a Casa-Museu foi adquirida pela Fundação Calouste Gulbenkian, embora tenha continuado na sua direção a Sociedade Divulgadora.<br /><br />O terceiro, de 1977 até à presente data, em que a Casa-Museu foi doada à Universidade do Porto, da qual era reitor o Prof. Ruy Luís Gomes, uma das primeiras figuras na luta pela constituição da Fundação.<br /><br />Em maio de 1979 é eleito o Prof. Ruy Luís Gomes para a Presidência da Sociedade, por falecimento do Prof. Alberto Saavedra. Sucede-lhe a Prof.ª Maria de Sousa e um ano depois o Prof. Nuno Grande.<br /><br />Presentemente é uma instituição de utilidade pública, sem fins lucrativos, dirigida pela Associação Divulgadora da Casa-Museu Abel Salazar (ADMAS), a que preside o Eng. Pedro Saavedra, filho do Prof. Alberto Saavedra, com estatutos publicados no Diário da República nº 17 – III, de 20/01/90.<br /><br />A missão desta consiste em promover a investigação, o estudo e a divulgação da obra científica literária, filosófica e artística de Abel Salazar.<br /><br />A Casa – Museu recria o ambiente onde o mestre viveu grande parte da sua vida constando do seu espólio, para além do mobiliário e objetos do seu quotidiano, diversos trabalhos de Abel Salazar, tais como desenhos (esboços, autorretratos, caricaturas, retratos, etc., em grafite, carvão, tinta da china, pena, aguada, sépia, crayon e técnica mista); aguarelas; óleos sobre madeira, cartão e tela; esculturas (bustos, estatuetas e medalhões em gesso, barro e bronze); cobres martelados, gravuras; trabalhos de investigação científica, manuscritos, epistolário, livros, jornais, revistas e testemunhos da sua colaboração na Imprensa.<br /><br /><br /><strong>Bibliografia<br /><br /></strong>Abel Salazar - Retrato em Movimento, organização de Luísa Garcia Fernandes e direcção gráfica de Armando Alves, Campo das Letras, Porto, 1998<br /><br />“Curriculum vitae” do Prof. Abel Salazar<br /><br />Estrada, Adelaide – Recordações do Dr. Abel Salazar, Casa-Museu Abel Salazar<br /><br />Salazar, Dulce – Apontamentos biográficos de Abel Salazar<br /><br />Gusmão, Adriano – A personalidade artística de Abel Salazar, Porto, Fundação Abel Salazar, 1948<br /><br />Nogueira, Jofre Amaral – O Pensamento de Abel Salazar (Antologia), Porto, Editorial Inova, 1972<br /><br />Cruz, Malpique – Perfil Humanístico de Abel Salazar, Porto, Civilização, 1977<br /><br />Silva, Amândio – Abel Salazar – Artista, edição da Universidade do Porto, Câmara Municipal de Matosinhos, Casa-Museu Abel Salazar, 1989<br /><br />Pomar, Júlio – Na Abertura da Exposição Póstuma de Abel Salazar, Edição da Casa-Museu Abel Salazar, 1989<br /><br />Cunha, Norberto Ferreira da – Génese e Evolução do Ideário de Abel Salazar, Temas portugueses, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1997, Grande Prémio da Literatura Biográfica, da Associação Portuguesa de Escritores/Câmara Municipal do Porto, 1996/1997</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Apontadores<br /><br /></strong>Museu Virtual Abel Salazar (<a href="http://cmas.up.pt">http://cmas.up.pt</a>)<br /><br />Museu Virtual UP (<a href="http://www.up.pt">http://www.up.pt</a>)<br /><br />Casa-Museu Abel Salazar (<a href="htpp://www.geira.pt/cmabelsalazar">htpp://www.geira.pt/cmabelsalazar</a>)<br /><br />Abel Salazar em <em>Vidas Lusófonas</em> (<a href="http://www.vidaslusofonas.pt/abel_salazar.htm">http://www.vidaslusofonas.pt/abel_salazar.htm</a>)</span></p></summary> <content type="html"><p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Abel Salazar, </strong>por Maria Luísa Garcia Fernandes</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" border="0" align="right"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Abel Salazar" src="figuras/abelsalazar/abelsalazar01.jpg" alt="Abel Salazar" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left; padding-left: 30px;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;">Abel Salazar</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Abel de Lima Salazar nasceu em Guimarães a 19 de julho de 1889 e faleceu em Lisboa a 29 de dezembro de 1946.<br /><br />Filho mais velho de Adolfo Barroso Pereira Salazar e Adelaide da Luz Silva Lima Salazar. Seu pai foi, em Guimarães, secretário e bibliotecário da Sociedade Martins Sarmento, professor de francês na Escola Industrial Francisco da Holanda e escrevia para a “Revista de Guimarães". A eliminação da disciplina de francês dos currículos escolares em Guimarães parece ter sido a causa principal da sua vinda para o Porto.<br /><br />Abel Salazar completa naquela cidade, a escola primária e parte do liceu até 1903, altura em que ingressa no Liceu Central do Porto, em S. Bento da Vitória onde conclui a 7ª classe de ciências. Aqui, com um pequeno grupo de companheiros publica um jornal escolar republicano (o Arquivo) refletindo já quer o interesse pelos novos ideais políticos quer as suas precoces aptidões para a arte, através de caricaturas de estudantes e professores.<br /><br />Em 1909 ingressa na Escola Médico-Cirúrgica do Porto e em 1915 concluiu o seu curso de Medicina e apresenta a tese inaugural “Ensaio de Psicologia Filosófica” classificada com 20 valores.<br /></span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><em>Logo no começo da carreira se preocupou com a indagação do significado psicológico e filosófico do seu trabalho. Se o trabalho de 1915, se enquadrava nas preocupações da época, já o de “A Orientação Filosófica da Histologia Moderna ” de 1917, contrastava com o seco morfologismo e o monismo positivista tradicional dos seus colegas da especialidade (Barahona Fernandes).</em></span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br />Em 1918, com apenas 30 anos de idade, Abel Salazar é nomeado Professor Catedrático de Histologia e Embriologia. Nesse ano funda e dirige o Instituto de Histologia e Embriologia da Faculdade de Medicina do Porto, um modesto centro de estudos, onde apesar da falta de recursos financeiros, Abel Salazar consegue realizar uma série de notáveis trabalhos de investigação.<br /></span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify; height: 250px; width: 238px;" border="0" align="center"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"> <p style="text-align: center;"><span style="color: #333333;"><img style="margin: 5px;" title="Parte de um friso de azulejos existente no Laboratório Médico Prof. Alberto de Aguiar" src="figuras/abelsalazar/abelsalazar02.jpg" alt="Parte de um friso de azulejos existente no Laboratório Médico Prof. Alberto de Aguiar" /></span></p> </td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: center;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: x10pt;">Parte de um friso de azulejos existente no Laboratório Médico Prof. Alberto de Aguiar, representando retratos de Mestres e Colegas do Prof. Alberto de Aguiar, todos Professores da Faculdade de Medicina do Porto, entre 1886 e 1919</span></span><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br />A par de uma orientação pedagógica inovadora no contexto da época, entendendo a atividade docente como uma investigação coletiva e a si próprio como um companheiro de trabalho, privilegiando o confronto de ideias, dando liberdade aos alunos de aparecerem nas horas que mais lhes conviessem, lançando a ideia de os alunos designarem representantes para fazerem parte do júri de exames. Como investigador, empreende uma série de pesquisas tendentes a definir, a esclarecer a estrutura e evolução do ovário, criando o célebre método de coloração tano-férrico, de análise microscópica, que lhe abre caminhos no meio científico (Método Tano-férrico de Salazar).<br /><br />Entre 1919 e 1925 o seu trabalho torna-se internacionalmente conhecido e publicado em várias revistas científicas internacionais. Participa em numerosos congressos no estrangeiro. Fundou com Athias e Celestino da Costa, os Arquivos Portugueses de Ciências Biológicas, dos quais é um dos diretores.<br /><br />Em 1921, casa-se com Zélia de Barros de quem não teve filhos.<br /><br />Ao fim de 10 anos de trabalho profícuo em condições adversas como vem proclamando sistematicamente, Abel Salazar sofre um esgotamento e interrompe a sua atividade durante quatro anos para se tratar. De regresso à Faculdade em 1931, cheio de projetos, encontra o seu gabinete desmantelado.<br /><br />Em 1935, é afastado da sua cátedra e do seu laboratório, sem mesmo poder frequentar a biblioteca, nem ausentar-se do País (Portaria de 5 de junho) em que foram expulsos também outros professores universitários, como Aurélio Quintanilha, Manuel Rodrigues Lapa, Sílvio Lima e Norton de Matos, etc.<br /><br />No seu curriculum escreve: <em>Além dos trabalhos científicos fiz na Universidade cursos sobre a Filosofia da Arte, conferências sobre a Filosofia, onde desenvolvi um sistema de Filosofia que acabo de constatar com satisfação ser bastante próximo da Escola de Viena. Foi o desenvolvimento deste sistema filosófico que, tendo desagradado à Ditadura e ao Catolicismo, foram a causa principal da minha revogação. Mas, como a ditadura não se podia basear nesta questão, ela torneou a questão, fazendo através da sua imprensa uma campanha de difamação, etc., após a qual me demitiu sem processo nem julgamento (…). Esclareço que nunca fui político, toda a minha vida me ocupei unicamente da actividade intelectual.</em><br /><br />Para Barahona Fernandes, psiquiatra e Reitor da Universidade Clássica de Lisboa, Abel Salazar “teve de passar a exercer o seu ensino, em especial cultural, fora da Faculdade, junto de pequenos grupos de discípulos e por meio de obras variadas, muitas delas dispersas em jornais mas com larga audiência do público.</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br />Além do génio artístico, como modo mais espontâneo da expressão da sua personalidade, como foi privado da disciplina da investigação sistemática no campo da histologia, sua especialidade médica, restou-lhe o estudo ávido de muitos saberes, cuja “descoberta” pessoal o empolgava e o impelia irresistível e torrencialmente à sua discussão e difusão”. ibidem … “Abel Salazar, foi um excelente professor e notável investigador da Histologia de uma Faculdade de Medicina, com as qualidades e atitude de espírito que o teriam feito um excepcional e efectivo”universitário”, se as condições sociopolíticas e culturais da época o não tivessem impedido. Quando digo “universitário”, significo o docente que não se acantona à sua especialidade, dirige a sua curiosidade para outras áreas do saber, de modo “interdisciplinar”, sabe reflectir filosoficamente sobre as ciências e a cultura e pôr todas estas actividades ao serviço dos outros, da sociedade, do progresso do País”.<br /><br />Entraram ainda no domínio das suas preocupações humanas e intelectuais, problemas de ordem social e filosófica, política, estética e literária.<br /><br />Assim escreveu:<br /><br /><strong>1915 </strong>- Ensaio de Psicologia Filosófica, Porto, 1915, Edições da Faculdade de Medicina do Porto (Reeditado em 2001, Porto, Co-edição Casa-Museu Abel Salazar e Campo das Letras Editores SA)<br /><br /><strong>1917 </strong>- A orientação filosófica da histologia moderna, e seus vícios Portugal Médico, 3ª Série, vol. III, pp. 1 – 49<br /><br /><strong>1931 </strong>– Notas de Filosofia da Arte, curso ministrado na Faculdade de Medicina do Porto (Editado em 2000, Porto, Co-edição Casa-Museu Abel Salazar e Campo das Letras Editores SA)<br /><br /><strong>1933 </strong>- A socialização da Ciência, separata do semanário académico “Liberdade, Lisboa, Editorial Liberdade<br /><br /><strong>1934 </strong>- A posição actual da Ciência, da Filosofia e da Religião, separata de “A Medicina Contemporânea”, nº 8 e 9 de 25 de Fevereiro e 4 de Março e “separata” nº 43 e 44 de 28 de Outubro e 4 de Novembro, Lisboa, Imprensa Médica<br /><br /><strong>1934 </strong>- Uma Primavera em Itália, Lisboa, Nunes de Carvalho Editor (Reeditado em 2003, Porto, Co-edição Casa-Museu Abel Salazar e Campo das Letras Editores SA)<br /><br /><strong>1934/35 </strong>- A Ciência e o mundo actual, vol.1, Porto, Imprensa Portuguesa<br /><br /><strong>1935</strong> - Indivíduo e colectividade<br /><br /><strong>1935</strong> - Digressões em Portugal, vol. 1, Porto, Imprensa Portuguesa<br /><br /><strong>1938</strong> - Paris em 1934, Porto, Tipografia Civilização<br /><br /><strong>1939</strong> - Recordações do Minho Arcaico, Porto, Tipografia Civilização (Reeditado em 2001, Porto, Co-edição Casa-Museu Abel Salazar e Campo das Letras Editores SA)<br /><br /><strong>1940</strong> - O que é Arte? Coimbra, Arménio Amado Editor (Reeditado em 2003, Porto, Co-edição Casa-Museu Abel Salazar e Campo das Letras Editores SA)<br /><br /><strong>1942</strong> - A crise da Europa, Lisboa, Edições Cosmos<br /><br /><strong>1944</strong> - Um Estio na Alemanha, Coimbra, Editora Nobel<br /><br /><strong>1947</strong> - Henrique Pousão, Porto, Livraria Tavares Martins</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br />Colabora nos seguintes Jornais e Revistas: Afinidades, Democracia do Sul, Esfera, Foz do Guadiana, Gérmen, Ideia Livre, Liberdade, Medicina (Revista de Ciências Médicas e Humanismo), Notícias de Coimbra, O Diabo, O Distrito de Beja, O Primeiro de Janeiro, O Trabalho, Pensamento, Povo do Norte, Seara Nova, Síntese, Sol, Sol Nascente, Vida Contemporânea, Voz da Justiça.<br /><br />Publicou 113 trabalhos científicos nas áreas dos aparelhos de Golgi e Para Golgi, método tano-férrico, ovário, tecido conjuntivo, anatomia do cérebro, tecido celular, sangue, técnica de desenho microscópico e temas gerais.<br /><br />O afastamento da vida académica permite-lhe desenvolver em sua casa uma produção artística variada na temática e na expressão plástica: gravura, pintura mural, pintura a óleo de paisagens, retratos, ilustração da vida da mulher trabalhadora e da mulher parisiense, aguarelas, desenhos, caricaturas, escultura e cobres martelados. </span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" border="0" align="left"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Abel Salazar com Tomaz da Fonseca" src="figuras/abelsalazar/abelsalazar03.jpg" alt="Abel Salazar com Tomaz da Fonseca" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: center;"><span style="color: #333333; font-size: x-small; font-family: arial;">Abel Salazar com Tomaz da Fonseca</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Para Amândio Silva, Diretor artístico da Casa-Museu durante quase 50 anos, Abel Salazar <em>como pintor foi sempre um intérprete de uma realidade social do seu tempo. As variadas técnicas que sofregamente o vemos experimentar são umas das facetas mais notáveis do seu temperamento de artista e da sua capacidade polivalente. Reconhecido como pintor e desenhador, ele ainda tem uma pujante e qualificada obra como caricaturista, gravador, escultor e martelador de cobres, aqui também caso único entre os artistas contemporâneos.</em><br /><br />Em 1938 e 1940, efetua em Lisboa e no Porto grandes exposições individuais que provocaram admiração generalizada.<br /><br />Em 1941, por sugestão do Prof. Mário de Figueiredo, então Ministro da Educação Nacional, o Instituto para a Alta Cultura cria um Centro de Estudos Microscópicos, na Faculdade de Farmácia, cuja direção é confiada a Abel Salazar. O Centro funciona sem condições materiais e financeiras, mas mesmo assim Abel Salazar continua a fazer investigação com a colaboração de Adelaide Estrada. Trabalha também, desde 1942, com o Instituto Português de Oncologia, a convite de Francisco Gentil, onde publicou vários trabalhos científicos no Arquivo de Patologia. Publica “Hematologia” em 1944.<br /><br />Segundo o Prof. Celestino da Costa, Abel Salazar <em>foi um morfologista de raça e convencido da grandeza da morfologia nas ciências biológicas, ao seu serviço pôs todos os seus dotes, incluindo os artísticos. Criou uma técnica própria de desenho histológico, utilizando ousadamente o lápis, com o qual conseguiu as maravilhosas figuras dos seus trabalhos (Procédé rapide de dessin microscopique)</em><br /><br />“Homem Exemplar” segundo palavras do Prof. Alberto Saavedra, seu amigo íntimo e que entre outros lançou a iniciativa em 1946, pouco depois da morte de Abel Salazar, da criação da Fundação Abel Salazar e que permaneceu na sua direção até 1979.<br /><br />O Prof. Nuno Grande salienta o divulgador do saber em que <em>“A visão ampla das diversas disciplinas que cultivou justifica a actualidade dos conceitos que formulou. De facto, profundamente analítico quando produzia qualquer das suas criações, rapidamente procurava encontrar sínteses integradoras dos aspectos parcelares da realidade que analisava. Várias manifestações desta atitude se encontram nos estudos filosóficos da arte e da ciência que nos legou e cuja leitura revela uma universalidade de pensamento que os torna actuais e de grande pertinência”</em><br /><br />A História da Casa-Museu Abel Salazar, situada em S. Mamede de Infesta, poderá dividir-se em três períodos, atendendo às três instituições que a dirigiram, desde a sua formação.<br /><br />O primeiro, de 1947 a 1965, foi o período em que uma plêiade de amigos e admiradores, após a morte de Abel Salazar, continuou a enaltecer e a divulgar a sua Obra, através, nomeadamente, da tentativa de constituição de uma "Fundação Abel Salazar", que depois de muitas vicissitudes se concretizou, em 1963, como "Sociedade Divulgadora Abel Salazar", ao fim de 17 anos de persistentes esforços.<br /><br />O segundo, de 1965 a 1976, altura em que a Casa-Museu foi adquirida pela Fundação Calouste Gulbenkian, embora tenha continuado na sua direção a Sociedade Divulgadora.<br /><br />O terceiro, de 1977 até à presente data, em que a Casa-Museu foi doada à Universidade do Porto, da qual era reitor o Prof. Ruy Luís Gomes, uma das primeiras figuras na luta pela constituição da Fundação.<br /><br />Em maio de 1979 é eleito o Prof. Ruy Luís Gomes para a Presidência da Sociedade, por falecimento do Prof. Alberto Saavedra. Sucede-lhe a Prof.ª Maria de Sousa e um ano depois o Prof. Nuno Grande.<br /><br />Presentemente é uma instituição de utilidade pública, sem fins lucrativos, dirigida pela Associação Divulgadora da Casa-Museu Abel Salazar (ADMAS), a que preside o Eng. Pedro Saavedra, filho do Prof. Alberto Saavedra, com estatutos publicados no Diário da República nº 17 – III, de 20/01/90.<br /><br />A missão desta consiste em promover a investigação, o estudo e a divulgação da obra científica literária, filosófica e artística de Abel Salazar.<br /><br />A Casa – Museu recria o ambiente onde o mestre viveu grande parte da sua vida constando do seu espólio, para além do mobiliário e objetos do seu quotidiano, diversos trabalhos de Abel Salazar, tais como desenhos (esboços, autorretratos, caricaturas, retratos, etc., em grafite, carvão, tinta da china, pena, aguada, sépia, crayon e técnica mista); aguarelas; óleos sobre madeira, cartão e tela; esculturas (bustos, estatuetas e medalhões em gesso, barro e bronze); cobres martelados, gravuras; trabalhos de investigação científica, manuscritos, epistolário, livros, jornais, revistas e testemunhos da sua colaboração na Imprensa.<br /><br /><br /><strong>Bibliografia<br /><br /></strong>Abel Salazar - Retrato em Movimento, organização de Luísa Garcia Fernandes e direcção gráfica de Armando Alves, Campo das Letras, Porto, 1998<br /><br />“Curriculum vitae” do Prof. Abel Salazar<br /><br />Estrada, Adelaide – Recordações do Dr. Abel Salazar, Casa-Museu Abel Salazar<br /><br />Salazar, Dulce – Apontamentos biográficos de Abel Salazar<br /><br />Gusmão, Adriano – A personalidade artística de Abel Salazar, Porto, Fundação Abel Salazar, 1948<br /><br />Nogueira, Jofre Amaral – O Pensamento de Abel Salazar (Antologia), Porto, Editorial Inova, 1972<br /><br />Cruz, Malpique – Perfil Humanístico de Abel Salazar, Porto, Civilização, 1977<br /><br />Silva, Amândio – Abel Salazar – Artista, edição da Universidade do Porto, Câmara Municipal de Matosinhos, Casa-Museu Abel Salazar, 1989<br /><br />Pomar, Júlio – Na Abertura da Exposição Póstuma de Abel Salazar, Edição da Casa-Museu Abel Salazar, 1989<br /><br />Cunha, Norberto Ferreira da – Génese e Evolução do Ideário de Abel Salazar, Temas portugueses, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1997, Grande Prémio da Literatura Biográfica, da Associação Portuguesa de Escritores/Câmara Municipal do Porto, 1996/1997</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Apontadores<br /><br /></strong>Museu Virtual Abel Salazar (<a href="http://cmas.up.pt">http://cmas.up.pt</a>)<br /><br />Museu Virtual UP (<a href="http://www.up.pt">http://www.up.pt</a>)<br /><br />Casa-Museu Abel Salazar (<a href="htpp://www.geira.pt/cmabelsalazar">htpp://www.geira.pt/cmabelsalazar</a>)<br /><br />Abel Salazar em <em>Vidas Lusófonas</em> (<a href="http://www.vidaslusofonas.pt/abel_salazar.htm">http://www.vidaslusofonas.pt/abel_salazar.htm</a>)</span></p></content> <category term="Século XX" /> </entry> <entry> <title>Adérito Sedas Nunes 2011-03-01T12:55:09+00:00 2011-03-01T12:55:09+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/aderito-sedas-nunes-dp10.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <div style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Adérito Sedas Nunes</strong>, por Carlos Leone</span><br /><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Adérito Sedas Nunes (Lisboa, 1928 – Lisboa, 1991)</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Sedas Nunes pertence à geração que implantou definitivamente as ciências sociais na Universidade portuguesa, depois das tentativas mais ou menos amadoras e voluntaristas do passado. Nessa geração foi talvez a figura de maior relevo, pela capacidade que demonstrou para produzir investigação científica própria de qualidade, coordenar institucionalmente o trabalho de uma das raras Escolas da Universidade portuguesa e atuar ainda na luta política ao mais alto nível. Tudo isto tanto antes como depois de 1974.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Formou-se em Economia, no ISCEF, onde iniciou igualmente a carreira como assistente em 1955, embora tivesse iniciado atividade profissional em 1952, no Gabinete de Estudos Corporativos. Sem estranheza, foi convidado para dirigir em 1956 o Centro de Estudos do Ministério das Corporações, do qual se demite dois anos depois em rutura com as politicas sociais do regime. De facto, a sua primeira obra, <em>Situação e Problemas do Corporativismo</em> (1954) apresenta logo de inicio uma clara critica das instituições do regime, que bem conhecia pois, ainda estudante, organizara na companhia de Maria de Lurdes Pintassilgo o I Congresso da Juventude Universitária Católica (em 1953).</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Empenhou-se na conversão do GEC em Gabinete de Investigações Sociais e na criação da revista <em>Analise Social</em>, a mais consolidada publicação do género em Portugal. Em publicação contínua até hoje.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Será neste período e nestes moldes que desenvolverá a sua pesquisa sobre temas sociológicos, como a composição social da população de Portugal e o subsistema universitário, à época em enorme convulsões. Sem ser possível, em rigor, reduzir a sua pesquisa a apenas uma área, merece no entanto destaque a reflexão que desenvolveu em torno da noção de sociedade dual, ou dualista, como explicação para as singularidades portuguesas de então. Esta linha de trabalho prolonga uma pista já lançada por António Sérgio nos anos ’20, mas nunca prosseguida. Sem ser ‘sergiano’, Sedas Nunes participara contudo (na JUC) na campanha de Delgado, porventura o último momento de real influência de Sérgio e no qual perdera as ilusões quanto a eventuais reformas do regime pelo seu próprio esforço. Ao dedicar-se a desenvolver as ciências sociais, banidas pelo Estado Novo sob a acusação genérica de ‘marxistas’, Sedas Nunes optou por uma especialização científica à qual o empenhamento cívico dos da geração de Sérgio nunca permitiu grandes progressos e, com isso, conseguiu fazer avançar as intuições do ensaísta com método mais sólido. A caracterização de Portugal como uma sociedade dualista, no fundo uma sociedade cindida em duas sem verdadeira comunhão, e a extração das efetivas consequências desse fenómenos na década de 1960 (o êxodo rural revelava-se um êxodo nacional, alimentado pela fuga à pobreza e à guerra colonial ao mesmo tempo), o economista feito sociólogo destacou-se da maioria dos seus pares e, mesmo apra os exilados nesse período, o seu trabalho era importante, como o comprova a referência, em trabalho de 1970, de Hermínio Martins ao seu nome a pretexto deste tema, como sendo o mais importante disponível (Martins, formado já em Inglaterra também em Economia e encaminhando-se igualmente para a Sociologia, embora mais próximo de Sérgio apresenta também a sua própria visão destes processos; o texto de 1970, e outros, foram posteriormente publicado em Português em 1998, sob o título <em>Classe, Status e Poder</em>).</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Esteve em 1972, já catedrático, na génese do ISCTE onde, a seguir ao 25 de Abril de 1974, a licenciatura que criara com a designação eufemística de ciências do trabalho se torna a primeira de Sociologia a surgir em Portugal. Muito ativo, esteve também ligado ao surgir da Universidade Católica e da Universidade Nova de Lisboa, onde encerra a sua atividade docente. A partir de 1982 dedica-se exclusivamente à investigação no Instituto de Ciências Sociais (Universidade de Lisboa), que institucionalizara durante o seu breve período no governo de Pintassilgo (como ministro da Cultura e Ciência), embora o consumar do processo ainda tardasse um pouco. Manteve-se na direção do instituto até pouco antes de morrer.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Além desta carreira e atividade científica, e como que a demonstrar a estreiteza dos subsetores sociais da sociedade dual portuguesa, Sedas Nunes exerceu uma quantidade imensa de outros cargos, dos quais listamos apenas alguns: subinspetor da Assistência Social e membro da Comissão de Saúde Rural, adjunto da direção do Instituto Nacional de Investigação Industrial (década de 1950); consultor do instituto Francês em Portugal e da Fundação Calouste Gulbenkian, para processos de apoio a estudantes portugueses no estrangeiro (década de 1960); de 1969 a 1974 foi procurador à Câmara Corporativa, na Secção de Economia e Finanças; Presidente da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (1976/7). Membro de numerosos corpos académicos e professor visitante de várias universidades no Brasil, em Espanha, na Alemanha e nos EUA, entre outros países, recebeu em vida e postumamente prémios e distinções públicas reveladoras da sua influência e prestígio. Entre as suas obras mais relevantes, contam-se <em>Princípios de Doutrina Social</em> (1958, prefaciado pelo Bispo do Porto), <em>Sociologia e Ideologia do Desenvolvimento</em> (1968), <em>Questões Preliminares Sobre as Ciências Sociais</em> (1972) e <em>História dos Factos e Doutrinas Sociais</em><em>Análise Social</em> na década de 1960 surgiu na Imprensa do ICS, organizada por uma sua discípula, Maria Filomena Mónica (cf. Referências).</span><br /><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Referências bibliográficas</strong></span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Leone, Carlos, <em>Portugal Extemporâneo</em>, vol. 2, INCM, Lisboa, 2005.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Filomena Mónica, Maria, org., <em>Antologia Sociológica de Adérito Sedas Nunes</em>, ICS, Lisboa, 2000.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Estêvão Ferreira, Nuno, <em>A Sociologia em Portugal: da Igreja à Universidade</em>, ICS, Lisboa, 2005.</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt;"> (1992), Mais recentemente, uma coletânea de alguns dos seus mais importantes artigos sobre a Universidade publicados na </span></div> <div style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Adérito Sedas Nunes</strong>, por Carlos Leone</span><br /><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Adérito Sedas Nunes (Lisboa, 1928 – Lisboa, 1991)</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Sedas Nunes pertence à geração que implantou definitivamente as ciências sociais na Universidade portuguesa, depois das tentativas mais ou menos amadoras e voluntaristas do passado. Nessa geração foi talvez a figura de maior relevo, pela capacidade que demonstrou para produzir investigação científica própria de qualidade, coordenar institucionalmente o trabalho de uma das raras Escolas da Universidade portuguesa e atuar ainda na luta política ao mais alto nível. Tudo isto tanto antes como depois de 1974.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Formou-se em Economia, no ISCEF, onde iniciou igualmente a carreira como assistente em 1955, embora tivesse iniciado atividade profissional em 1952, no Gabinete de Estudos Corporativos. Sem estranheza, foi convidado para dirigir em 1956 o Centro de Estudos do Ministério das Corporações, do qual se demite dois anos depois em rutura com as politicas sociais do regime. De facto, a sua primeira obra, <em>Situação e Problemas do Corporativismo</em> (1954) apresenta logo de inicio uma clara critica das instituições do regime, que bem conhecia pois, ainda estudante, organizara na companhia de Maria de Lurdes Pintassilgo o I Congresso da Juventude Universitária Católica (em 1953).</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Empenhou-se na conversão do GEC em Gabinete de Investigações Sociais e na criação da revista <em>Analise Social</em>, a mais consolidada publicação do género em Portugal. Em publicação contínua até hoje.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Será neste período e nestes moldes que desenvolverá a sua pesquisa sobre temas sociológicos, como a composição social da população de Portugal e o subsistema universitário, à época em enorme convulsões. Sem ser possível, em rigor, reduzir a sua pesquisa a apenas uma área, merece no entanto destaque a reflexão que desenvolveu em torno da noção de sociedade dual, ou dualista, como explicação para as singularidades portuguesas de então. Esta linha de trabalho prolonga uma pista já lançada por António Sérgio nos anos ’20, mas nunca prosseguida. Sem ser ‘sergiano’, Sedas Nunes participara contudo (na JUC) na campanha de Delgado, porventura o último momento de real influência de Sérgio e no qual perdera as ilusões quanto a eventuais reformas do regime pelo seu próprio esforço. Ao dedicar-se a desenvolver as ciências sociais, banidas pelo Estado Novo sob a acusação genérica de ‘marxistas’, Sedas Nunes optou por uma especialização científica à qual o empenhamento cívico dos da geração de Sérgio nunca permitiu grandes progressos e, com isso, conseguiu fazer avançar as intuições do ensaísta com método mais sólido. A caracterização de Portugal como uma sociedade dualista, no fundo uma sociedade cindida em duas sem verdadeira comunhão, e a extração das efetivas consequências desse fenómenos na década de 1960 (o êxodo rural revelava-se um êxodo nacional, alimentado pela fuga à pobreza e à guerra colonial ao mesmo tempo), o economista feito sociólogo destacou-se da maioria dos seus pares e, mesmo apra os exilados nesse período, o seu trabalho era importante, como o comprova a referência, em trabalho de 1970, de Hermínio Martins ao seu nome a pretexto deste tema, como sendo o mais importante disponível (Martins, formado já em Inglaterra também em Economia e encaminhando-se igualmente para a Sociologia, embora mais próximo de Sérgio apresenta também a sua própria visão destes processos; o texto de 1970, e outros, foram posteriormente publicado em Português em 1998, sob o título <em>Classe, Status e Poder</em>).</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Esteve em 1972, já catedrático, na génese do ISCTE onde, a seguir ao 25 de Abril de 1974, a licenciatura que criara com a designação eufemística de ciências do trabalho se torna a primeira de Sociologia a surgir em Portugal. Muito ativo, esteve também ligado ao surgir da Universidade Católica e da Universidade Nova de Lisboa, onde encerra a sua atividade docente. A partir de 1982 dedica-se exclusivamente à investigação no Instituto de Ciências Sociais (Universidade de Lisboa), que institucionalizara durante o seu breve período no governo de Pintassilgo (como ministro da Cultura e Ciência), embora o consumar do processo ainda tardasse um pouco. Manteve-se na direção do instituto até pouco antes de morrer.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Além desta carreira e atividade científica, e como que a demonstrar a estreiteza dos subsetores sociais da sociedade dual portuguesa, Sedas Nunes exerceu uma quantidade imensa de outros cargos, dos quais listamos apenas alguns: subinspetor da Assistência Social e membro da Comissão de Saúde Rural, adjunto da direção do Instituto Nacional de Investigação Industrial (década de 1950); consultor do instituto Francês em Portugal e da Fundação Calouste Gulbenkian, para processos de apoio a estudantes portugueses no estrangeiro (década de 1960); de 1969 a 1974 foi procurador à Câmara Corporativa, na Secção de Economia e Finanças; Presidente da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (1976/7). Membro de numerosos corpos académicos e professor visitante de várias universidades no Brasil, em Espanha, na Alemanha e nos EUA, entre outros países, recebeu em vida e postumamente prémios e distinções públicas reveladoras da sua influência e prestígio. Entre as suas obras mais relevantes, contam-se <em>Princípios de Doutrina Social</em> (1958, prefaciado pelo Bispo do Porto), <em>Sociologia e Ideologia do Desenvolvimento</em> (1968), <em>Questões Preliminares Sobre as Ciências Sociais</em> (1972) e <em>História dos Factos e Doutrinas Sociais</em><em>Análise Social</em> na década de 1960 surgiu na Imprensa do ICS, organizada por uma sua discípula, Maria Filomena Mónica (cf. Referências).</span><br /><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Referências bibliográficas</strong></span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Leone, Carlos, <em>Portugal Extemporâneo</em>, vol. 2, INCM, Lisboa, 2005.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Filomena Mónica, Maria, org., <em>Antologia Sociológica de Adérito Sedas Nunes</em>, ICS, Lisboa, 2000.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Estêvão Ferreira, Nuno, <em>A Sociologia em Portugal: da Igreja à Universidade</em>, ICS, Lisboa, 2005.</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt;"> (1992), Mais recentemente, uma coletânea de alguns dos seus mais importantes artigos sobre a Universidade publicados na </span></div> Adolfo Casais Monteiro 2011-03-02T14:51:00+00:00 2011-03-02T14:51:00+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/adolfo-casais-monteiro-dp14.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Adolfo Casais Monteiro</strong>, por Carlos Leone</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Adolfo Casais Monteiro" alt="Adolfo Casais Monteiro" src="figuras/adolfocasaismonteiro/adolfocasaismonteiro01.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Adolfo Victor Casais Monteiro nasceu no Porto em 1908 e morreu em São Paulo em 1972. Exilara-se em 1954 no Brasil (onde ensinou em várias universidades, com uma breve passagem pelos EUA perto do fim da vida) por motivos políticos, mas não apenas por esses (proibição de ensinar); na verdade, a opção pelo Brasil, deveu-se sobretudo a um desejo de liberdade, não só dos poderes de facto em Portugal mas também face aos meios da oposição portuguesa, que percebeu serem pouco apropriados a heterodoxos como ele (as afinidades entre as reflexões de Casais Monteiro e Eduardo Lourenço a este respeito merecem ser notadas).<br /><br />A sua juventude foi típica de um filho da burguesia portuense ilustrada e liberal, cedo revelando propensão artística. É ainda durante a sua licenciatura, na Faculdade de Letras do Porto, em Ciências Históricas e Filosóficas, num meio influenciado por Leonardo Coimbra, que se estreia nas Letras com os poemas de <em>Confusão </em>(1929). Embora nunca ostente a sua formação em Filosofia, ela será indelével em dois aspetos: o interesse pela conceptualização e pela Linguagem, e o norte orientador da liberdade (temática forte em Leonardo Coimbra). Nessa altura já participava na direção da segunda série de <em>A Águia</em>, com Sant'Ana Dionísio e Leonardo. Também nesses anos inicia a sua colaboração com a revista coimbrã <em>Presença</em>, em cuja direção se integra em 1931, formando o que se torna a direção «definitiva» da <em>folha de arte e crítica até ao seu fim</em> (já em Segunda Série, em 1940). A sua criação literária é já nestes anos dominada por dois géneros: a poesia e o ensaio. Poeticamente, fará a ponte, como muitos já notaram, entre o Modernismo da geração de 1915 (da qual recebe forte influência de Álvaro de Campos) e a poesia da segunda metade do século, que terá na sua Obra um raro interlocutor com a geração dos anos de 1930/40; criticamente, o seu trabalho surge pela primeira vez em livro em 1933 (<em>Considerações Pessoais</em>) e desenvolve-se em quantidade e, sobretudo, em qualidade, desde a sua partida para o Brasil, tornando-se num dos raros intelectuais com relevo na primeira metade do século XX português a efetuar com sucesso a transição de um meio não especializado (a Imprensa e o mundo editorial) para o sistema universitário, pouco especializado no Brasil de então mas no qual a sua atividade foi marcante.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">~</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Deste primeiro lustro da década de 1930 data também o início relevante da sua atividade política, no movimento <em>Renovação Democrática</em>. Apesar de pouco estudada, esta atividade merece ser notada: ela radica-se na influência de Leonardo Coimbra junto de uma juventude com formação filosófica (sensível também em Delfim Santos, por exemplo) e, genericamente, pretende ««reavivar o campo liberal com um programa social-democrático», como escreve o historiador Rui Ramos no seu artigo sobre Leonardo no Suplemento ao <em>Dicionário de História de Portugal</em> (vol. 7, «A/E», p. 347; ed. Figueirinhas, Porto, 1999). Apesar de pouco aprofundada, esta referência é necessária por completar o conjunto de marcas de Leonardo sobre Casais, patentes também na reflexão sobre a liberdade e a precisão conceptual nos diversos usos da linguagem. Esta atividade antiditatorial aproximá-lo-á também, pelo menos em comparação com a imagem pública dos restantes diretores da <em>Presença</em>, dos meios politicamente influentes entre os jovens oposicionistas dessa altura, denominados neorrealistas para melhor escapar à perseguição oficial aos comunistas. Nunca o presencismo de Régio (e mesmo de Simões) foi o que dele disseram na Imprensa neorrealista mas, de facto, Casais era, até etariamente, o mais próximo desses meios. Contudo, como na altura todos perceberam e, mais tarde, já no Brasil, continuou a ser nítido, nunca foi comunista nem, sequer, marxista.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="left" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Faculdade de Filosofia Ciências e Letras" alt="Faculdade de Filosofia Ciências e Letras" src="figuras/adolfocasaismonteiro/adolfocasaismonteiro02m.jpg" height="168" width="229" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Depois de ter obtido qualificação pedagógica em Coimbra, começa a ensinar no Porto em 1934 (Liceu Rodrigues de Freitas). Casa-se com Alice Pereira Gomes, irmã de Soeiro Pereira Gomes, de quem só se separa um ano após partir para o Brasil, duas décadas mais tarde. No final da década de 1930 e na década seguinte foi demitido do ensino (1937) e preso sete vezes, vivendo uma vida profissional atribulada por motivos políticos, mantendo a sua atividade de poeta e crítico através de trabalhos de tradução e edição. Os anos da década de 1940 são particularmente férteis em termos poéticos: <em>Sempre e sem Fim </em>data de 1937, e na década seguinte, seguem-se-lhe <em>Canto da nossa Agonia</em> (1942), <em>Noite Aberta aos Quatro Ventos</em> (1943), <em>Versos</em> (1944, reunião dos três livros de poesia anteriores) e, com particular destaque, <em>Europa</em> (1946), longo poema lido por António Pedro aos microfones da BBC de Londres ainda durante a guerra (1945). Por fim, em 1949, outra coletânea poética, <em>Simples Canções da Terra</em>. Em 1945 publicara já <em>Adolescentes</em>, o seu único romance. E, sob anonimato, coordena o <em>Mundo Literário</em>, semanário literário. Não menos relevante é a sua ligação com Fernando Pessoa, que data dos dias em que dirigira Presença. Logo em 1942 organizara e prefaciara uma antologia poética de Pessoa, que conhecerá sucessivas reedições e influenciará sucessivas gerações de leitores. Essa atividade iniciada na crítica (e correspondência com o próprio Pessoa) na década de 1930 e prosseguida editorialmente na década seguinte, terá no início da década de 1950 expressão em Francês, traduzindo «Tabacaria» (com Pierre Hourcade). Grande parte do trabalho destas duas décadas encontra-se na reunião de ensaios <em>O Romance e os Seus Problemas</em> (1950; edição modificada no Brasil, mais tarde, como <em>O Romance: Teoria e Crítica</em>). É também sua a fixação do texto primitivo e versão em Português moderno da <em>Peregrinação</em> de Fernão Mendes Pinto (2 vols., Lisboa e Rio de Janeiro, 1952/3).<br /><br />Em 1954, ano em que parte para o Brasil para participar num congresso mas já com a intenção de aí ficar e enviar uma «carta de chamada» para a mulher e o filho (João Paulo Monteiro, que se lhe juntará em 1963), publica <em>Voo sem Pássaro Dentro</em> (poesia) e vê um antologia de poema seus surgir em castelhano (<em>Adolfo Casais Monteiro</em>). No Brasil mantém atividade poética (surgirá em 1969, como original nas <em>Poesias Completas</em>, <em>O Estrangeiro Definitivo</em>), além de continuar a organizar antologias, com destaque para <em>A Poesia da Presença</em> (1959, no Brasil, 1972, Portugal), recentemente reeditada em Portugal (2003). Contudo, é sobretudo à crítica e à teoria literária que se dedica. Colaborador habitual de órgãos de comunicação social influentes (<em>O Globo, O Estado de São Paulo</em>), publica regularmente crítica literária que incide equitativamente sobre autores brasileiros, portugueses e escritores de outras línguas. Tendo ensinado em várias universidades brasileiras, fixa-se em 1962 na Universidade de São Paulo (Araraquara), lecionando Teoria da Literatura, o que lhe permite elaborar aspetos conceptuais da crítica a que dava atenção desde a sua estreia ensaística em 1933.<br /><br />Manteve sempre em vista a atividade artística e literária em Portugal (onde nunca voltou), como as dedicatórias dos poemas dos últimos livros deixam perceber. Depois de décadas sem que a Censura permitisse, sequer, a publicação do seu nome, em 1969 a Portugália Editora lança o volume <em>Poesias Completas</em>, marcando a receção da sua Obra pela geração que fará o 25 de Abril. Antes disso, morreu, em 24 de julho de 1972.<br /><br />Será entre essa receção imediata (à falta de melhor termo) que outras obras surgiram, por iniciativa de seu filho e nora (Maria Beatriz Nizza da Silva), no imediato pós-revolução, como <em>O país do absurdo</em> (textos políticos, edição República, 1974) e <em>A Poesia Portuguesa Contemporânea</em> (Sá da Costa Editora, 1977). Progressivamente, as <em>Obras Completas de Adolfo Casais Monteiro </em>começam a ser (re)publicadas na Imprensa Nacional.<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><b>Bibliografia Activa:<br /></b><br />Adolfo Casais Monteiro, <em>Obras Completas</em>, edição em curso, INCM, Lisboa.<br /><br /><br /><b>Bibliografia Passiva:<br /></b><br />Gotlib, N. B., <em>O Estrangeiro Definitivo</em>, INCM, Lisboa, 1985.<br /><br />Lemos, F. e Moreira Leite, R., orgs., <em>A Missão Portuguesa: Rotas Entrecruzadas</em>, UNESP, São paulo, 2002.<br /><br />Martines, E., ed., <em>Cartas entre Fernando Pessoa e os directores da presença</em>, INCM, Lisboa, 1998.<br /><br />Sena, J. de, <em>Régio, Casais, a Presença e outros afins</em>, Brasília Ed., Porto, 1977.<br /><br />VV.AA., <em>Revistas, Ideias e Doutrinas</em>, Livros Horizonte, Lisboa, 2003.</span><br /></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Adolfo Casais Monteiro</strong>, por Carlos Leone</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Adolfo Casais Monteiro" alt="Adolfo Casais Monteiro" src="figuras/adolfocasaismonteiro/adolfocasaismonteiro01.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Adolfo Victor Casais Monteiro nasceu no Porto em 1908 e morreu em São Paulo em 1972. Exilara-se em 1954 no Brasil (onde ensinou em várias universidades, com uma breve passagem pelos EUA perto do fim da vida) por motivos políticos, mas não apenas por esses (proibição de ensinar); na verdade, a opção pelo Brasil, deveu-se sobretudo a um desejo de liberdade, não só dos poderes de facto em Portugal mas também face aos meios da oposição portuguesa, que percebeu serem pouco apropriados a heterodoxos como ele (as afinidades entre as reflexões de Casais Monteiro e Eduardo Lourenço a este respeito merecem ser notadas).<br /><br />A sua juventude foi típica de um filho da burguesia portuense ilustrada e liberal, cedo revelando propensão artística. É ainda durante a sua licenciatura, na Faculdade de Letras do Porto, em Ciências Históricas e Filosóficas, num meio influenciado por Leonardo Coimbra, que se estreia nas Letras com os poemas de <em>Confusão </em>(1929). Embora nunca ostente a sua formação em Filosofia, ela será indelével em dois aspetos: o interesse pela conceptualização e pela Linguagem, e o norte orientador da liberdade (temática forte em Leonardo Coimbra). Nessa altura já participava na direção da segunda série de <em>A Águia</em>, com Sant'Ana Dionísio e Leonardo. Também nesses anos inicia a sua colaboração com a revista coimbrã <em>Presença</em>, em cuja direção se integra em 1931, formando o que se torna a direção «definitiva» da <em>folha de arte e crítica até ao seu fim</em> (já em Segunda Série, em 1940). A sua criação literária é já nestes anos dominada por dois géneros: a poesia e o ensaio. Poeticamente, fará a ponte, como muitos já notaram, entre o Modernismo da geração de 1915 (da qual recebe forte influência de Álvaro de Campos) e a poesia da segunda metade do século, que terá na sua Obra um raro interlocutor com a geração dos anos de 1930/40; criticamente, o seu trabalho surge pela primeira vez em livro em 1933 (<em>Considerações Pessoais</em>) e desenvolve-se em quantidade e, sobretudo, em qualidade, desde a sua partida para o Brasil, tornando-se num dos raros intelectuais com relevo na primeira metade do século XX português a efetuar com sucesso a transição de um meio não especializado (a Imprensa e o mundo editorial) para o sistema universitário, pouco especializado no Brasil de então mas no qual a sua atividade foi marcante.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">~</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Deste primeiro lustro da década de 1930 data também o início relevante da sua atividade política, no movimento <em>Renovação Democrática</em>. Apesar de pouco estudada, esta atividade merece ser notada: ela radica-se na influência de Leonardo Coimbra junto de uma juventude com formação filosófica (sensível também em Delfim Santos, por exemplo) e, genericamente, pretende ««reavivar o campo liberal com um programa social-democrático», como escreve o historiador Rui Ramos no seu artigo sobre Leonardo no Suplemento ao <em>Dicionário de História de Portugal</em> (vol. 7, «A/E», p. 347; ed. Figueirinhas, Porto, 1999). Apesar de pouco aprofundada, esta referência é necessária por completar o conjunto de marcas de Leonardo sobre Casais, patentes também na reflexão sobre a liberdade e a precisão conceptual nos diversos usos da linguagem. Esta atividade antiditatorial aproximá-lo-á também, pelo menos em comparação com a imagem pública dos restantes diretores da <em>Presença</em>, dos meios politicamente influentes entre os jovens oposicionistas dessa altura, denominados neorrealistas para melhor escapar à perseguição oficial aos comunistas. Nunca o presencismo de Régio (e mesmo de Simões) foi o que dele disseram na Imprensa neorrealista mas, de facto, Casais era, até etariamente, o mais próximo desses meios. Contudo, como na altura todos perceberam e, mais tarde, já no Brasil, continuou a ser nítido, nunca foi comunista nem, sequer, marxista.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="left" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Faculdade de Filosofia Ciências e Letras" alt="Faculdade de Filosofia Ciências e Letras" src="figuras/adolfocasaismonteiro/adolfocasaismonteiro02m.jpg" height="168" width="229" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Depois de ter obtido qualificação pedagógica em Coimbra, começa a ensinar no Porto em 1934 (Liceu Rodrigues de Freitas). Casa-se com Alice Pereira Gomes, irmã de Soeiro Pereira Gomes, de quem só se separa um ano após partir para o Brasil, duas décadas mais tarde. No final da década de 1930 e na década seguinte foi demitido do ensino (1937) e preso sete vezes, vivendo uma vida profissional atribulada por motivos políticos, mantendo a sua atividade de poeta e crítico através de trabalhos de tradução e edição. Os anos da década de 1940 são particularmente férteis em termos poéticos: <em>Sempre e sem Fim </em>data de 1937, e na década seguinte, seguem-se-lhe <em>Canto da nossa Agonia</em> (1942), <em>Noite Aberta aos Quatro Ventos</em> (1943), <em>Versos</em> (1944, reunião dos três livros de poesia anteriores) e, com particular destaque, <em>Europa</em> (1946), longo poema lido por António Pedro aos microfones da BBC de Londres ainda durante a guerra (1945). Por fim, em 1949, outra coletânea poética, <em>Simples Canções da Terra</em>. Em 1945 publicara já <em>Adolescentes</em>, o seu único romance. E, sob anonimato, coordena o <em>Mundo Literário</em>, semanário literário. Não menos relevante é a sua ligação com Fernando Pessoa, que data dos dias em que dirigira Presença. Logo em 1942 organizara e prefaciara uma antologia poética de Pessoa, que conhecerá sucessivas reedições e influenciará sucessivas gerações de leitores. Essa atividade iniciada na crítica (e correspondência com o próprio Pessoa) na década de 1930 e prosseguida editorialmente na década seguinte, terá no início da década de 1950 expressão em Francês, traduzindo «Tabacaria» (com Pierre Hourcade). Grande parte do trabalho destas duas décadas encontra-se na reunião de ensaios <em>O Romance e os Seus Problemas</em> (1950; edição modificada no Brasil, mais tarde, como <em>O Romance: Teoria e Crítica</em>). É também sua a fixação do texto primitivo e versão em Português moderno da <em>Peregrinação</em> de Fernão Mendes Pinto (2 vols., Lisboa e Rio de Janeiro, 1952/3).<br /><br />Em 1954, ano em que parte para o Brasil para participar num congresso mas já com a intenção de aí ficar e enviar uma «carta de chamada» para a mulher e o filho (João Paulo Monteiro, que se lhe juntará em 1963), publica <em>Voo sem Pássaro Dentro</em> (poesia) e vê um antologia de poema seus surgir em castelhano (<em>Adolfo Casais Monteiro</em>). No Brasil mantém atividade poética (surgirá em 1969, como original nas <em>Poesias Completas</em>, <em>O Estrangeiro Definitivo</em>), além de continuar a organizar antologias, com destaque para <em>A Poesia da Presença</em> (1959, no Brasil, 1972, Portugal), recentemente reeditada em Portugal (2003). Contudo, é sobretudo à crítica e à teoria literária que se dedica. Colaborador habitual de órgãos de comunicação social influentes (<em>O Globo, O Estado de São Paulo</em>), publica regularmente crítica literária que incide equitativamente sobre autores brasileiros, portugueses e escritores de outras línguas. Tendo ensinado em várias universidades brasileiras, fixa-se em 1962 na Universidade de São Paulo (Araraquara), lecionando Teoria da Literatura, o que lhe permite elaborar aspetos conceptuais da crítica a que dava atenção desde a sua estreia ensaística em 1933.<br /><br />Manteve sempre em vista a atividade artística e literária em Portugal (onde nunca voltou), como as dedicatórias dos poemas dos últimos livros deixam perceber. Depois de décadas sem que a Censura permitisse, sequer, a publicação do seu nome, em 1969 a Portugália Editora lança o volume <em>Poesias Completas</em>, marcando a receção da sua Obra pela geração que fará o 25 de Abril. Antes disso, morreu, em 24 de julho de 1972.<br /><br />Será entre essa receção imediata (à falta de melhor termo) que outras obras surgiram, por iniciativa de seu filho e nora (Maria Beatriz Nizza da Silva), no imediato pós-revolução, como <em>O país do absurdo</em> (textos políticos, edição República, 1974) e <em>A Poesia Portuguesa Contemporânea</em> (Sá da Costa Editora, 1977). Progressivamente, as <em>Obras Completas de Adolfo Casais Monteiro </em>começam a ser (re)publicadas na Imprensa Nacional.<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><b>Bibliografia Activa:<br /></b><br />Adolfo Casais Monteiro, <em>Obras Completas</em>, edição em curso, INCM, Lisboa.<br /><br /><br /><b>Bibliografia Passiva:<br /></b><br />Gotlib, N. B., <em>O Estrangeiro Definitivo</em>, INCM, Lisboa, 1985.<br /><br />Lemos, F. e Moreira Leite, R., orgs., <em>A Missão Portuguesa: Rotas Entrecruzadas</em>, UNESP, São paulo, 2002.<br /><br />Martines, E., ed., <em>Cartas entre Fernando Pessoa e os directores da presença</em>, INCM, Lisboa, 1998.<br /><br />Sena, J. de, <em>Régio, Casais, a Presença e outros afins</em>, Brasília Ed., Porto, 1977.<br /><br />VV.AA., <em>Revistas, Ideias e Doutrinas</em>, Livros Horizonte, Lisboa, 2003.</span><br /></span></p> Agostinho da Silva 2011-03-02T15:15:11+00:00 2011-03-02T15:15:11+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/agostinho-da-silva-dp18.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Agostinho da Silva</strong>, por Carlos Leone<br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Agostinho da Silva" alt="Agostinho da Silva" src="figuras/agostinhodasilva/agostinhodasilva.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Filólogo de formação mas mais conhecido como filósofo, Agostinho da Silva nasceu no Porto em 1906 e faleceu em Lisboa em 1994. A sua vida e Obra são um dos casos mais interessantes da cultura portuguesa contemporânea, ao sintetizarem simultaneamente aspetos contraditórios da cultura portuguesa e interagirem de forma original com os contextos históricos variados que conheceu. Estes podem ser agrupados em três, para melhor apresentar de forma breve o pensamento do autor: o contexto de formação, o contexto de maturidade e o contexto de celebridade mediática.<br /><br />1. Por contexto de formação referimo-nos ao período anterior à sua partida para o Brasil (em 1944). Não corresponde portanto a um simples período de juventude, antes à sua maturação intelectual e gradual afastamento da ordem política do Estado Novo que começara a vigorar já na idade adulta de Agostinho da Silva. Apesar de professor em vários liceus, a sua desafecção ao regime era manifesta e, não tendo sido suficiente para o forçar ao exílio, foi no entanto ela que tornou o abandono de Portugal apetecível. Como muitos outros da sua geração, partiu para o Brasil, mas não em busca de liberdades modernas, antes concretizou aí um conjunto de ideais relativos à sua visão de Portugal e da sua História que começara já a elaborar em Portugal (apesar de os seus livros escritos ainda em Portugal não o revelarem, cf. <em>Considerações</em>, de 1944, <em>Diário de Alcestes</em> e <em>Sete Cartas a um Jovem Filósofo</em>, de 1945). A sua formação científica e cultural, conhecedor dos meios literários nacionais (chegou a conhecer Fernando Pessoa em Lisboa), bem como a sua integração em círculos em que a doutrina saudosista de Teixeira de Pascoais era bem-acolhida, fizeram-no estar em contacto cultural e político com muitos aspetos da vida portuguesa da I República muitas vezes opostos, pelo que não surpreende que o clima de controlo e regulação social mais estrita das primeiras décadas do salazarismo lhe fossem particularmente desagradáveis. Em termos intelectuais, o conflito institucional com o regime, enquanto professor, força-o a iniciar uma carreira de publicista que anuncia de forma apenas muito vaga algumas das suas preocupações futuras (o início da sua colaboração com a <em>Seara Nova</em> data de 1928).<br /><br />Por tudo isto, o seu período de formação não revela já as ideias que irão marcar a sua maturidade como autor e, posteriormente, a sua celebridade mediática, mas é um elemento essencial a ter em conta para perceber o porquê das posições teóricas e pessoais que irá assumir até morrer, boa parte delas bem distintas da maioria dos intelectuais que o salazarismo afastou de Portugal.<br /><br />2. Uma vez no Brasil, que percorre desde as maiores cidades às mais remotas povoações na selva, empenhado permanentemente em projetos pedagógicos (a par de Eudoro de Sousa, fui fundador de várias universidades que, em início de atividade, precisavam de catedráticos para os seus quadros, recorrendo aos seus serviços, pois estava sempre pronto a começar de novo), Agostinho da Silva desenvolve cada vez mais uma componente filosófica do seu pensamento, que parte da mitologia clássica que conhece pela sua formação académica e se prolonga pelo pensamento mítico em geral. Assim, na década de 1950 integra o chamado Grupo de São Paulo (cf., na Bibliografia, Marcondes César), fundado por Miguel Reale (filósofo brasileiro, não confundir com o português Miguel Real, autor de um título muito útil para o leitor, cf., na Bibliografia, Real) e ao qual pertenciam também o já referido Eudoro de Sousa e o casal Dora e Vicente Ferreira da Silva. E, sintomaticamente, logo em 1957 e 1959, surgem as grandes formulações da sua doutrina providencialista de Portugal (da sua História e do seu povo), em dois livros aparentemente dedicados a matérias literárias: <em>Reflexão à Margem da Literatura Portuguesa</em> e <em>Um Fernando Pessoa</em>. Como o estudo sobre ‘um’ (note-se, não pretendia reduzir o complexo Pessoa àquele que ali era apresentado) Pessoa pretende encontrar na especulação desenvolvida por este sobre o V Império a confirmação do pensamento do próprio Agostinho da Silva sobre o “Império do Espírito Santo”, temos aqui um caso claro de como a variedade de experiências de formação de Agostinho se plasmou na sua obra de maturidade. Em rigor, há que ter em conta uma outra influência, a da visão da história de Portugal do genro de Agostinho, Jaime Cortesão, fortemente marcada por uma idealização da monarquia medieval e da expansão marítima do início da idade moderna que não resistiu aos avanços da historiografia e das ciências sociais portuguesas da segunda metade do século XX (por Orlando Ribeiro, Vitorino Magalhães Godinho, e vários outros, sobre isto cf. na Bibliografia Leone, espec. Parte II).<br /><br />Ao encontrar na vida rural brasileira uma materialização dessa imagem idealizada das relações sociais de um Portugal medieval irremediavelmente perdido, Agostinho da Silva concebe a tese de uma missão universal portuguesa, a de realizar e dar a conhecer uma nova forma de vida para toda a humanidade, de que a expansão marítima fora apenas o começo, interrompido por uma adesão (aliás mal sucedida) às tendências politicamente centralizantes e cientificamente racionalizantes da Europa moderna. O termo “missão” carrega um determinismo com que o próprio autor não se sentia confortável, mas que de certo modo era inescapável, pois toda a linguagem com que Agostinho da Silva descreve esse Portugal tardo-medieval, no início da expansão marítima, é marcadamente moral, ela veicula um sentido para a ação histórica, sentido esse que, naturalmente, carece de uma conclusão ainda por se consumar. Quer em <em>Reflexão</em>, quer depois em textos recolhidos sob o título <em>Dispersos</em> ou ainda no belo, até tocante, título <em>Ir à Índia sem sair de Portugal</em>, essa imagem da História de Portugal compõe-se de momentos de crise, o primeiro negativo (cisão de Portugal face à Galiza, por ação de D. Afonso Henriques), os seguintes positivos: expansão para sul, concretizando o ideal Templário cristão e integrando o Portugal ‘verdadeiro’ na senda de São Bernardo de Claraval, seguido da introdução em Portugal do culto do Espírito Santo pelos franciscanos (traço de clara ligação a Cortesão e que terá consequências na sua visão do futuro de Portugal, como veremos) e, por fim, a organização de um reino típico da I Dinastia, descentralizado, retomando os traços essenciais do que Cortesão havia exposto desde a década de 1930. Ora, estas sucessivas crises (momentos de viragem) soçobram perante o emergir da modernidade (fim da primeira Dinastia), com a centralização política, a mercantilização da exploração marítima, enfim, com a sistematização própria da modernidade que retira a faceta amorosa (é o termo) que a expansão inicial de Portugal comportava e a encerra numa forma que não é sua, ao ponto de, em 1580, perder a sua independência. Mas como Agostinho da Silva diz algures, Alcácer-Quibir foi a sorte do Brasil, e, como não se cansou de repetir, o Brasil é o melhor de Portugal (menos conhecido do que o célebre “o brasileiro é o português à solta”). Nesse Brasil intocado pela modernidade que foi encontrar em pleno século XX na selva amazónica, Agostinho da Silva entendeu reencontrar o Portugal primevo e valioso, aquele que, depois de ensinar ao mundo que todo o mundo é apenas um arquipélago, poderia agora, enfim, ensinar uma unidade espiritual bem diferente da segmentação da vida e da separação das esferas da cultura próprias da modernidade.<br /><br />É esta ideia de resistência à modernidade, ao vê-la como corruptora da pureza original do cristianismo (o lamentar o fim da Idade Média em pleno século XX) que afasta o pedagogo Agostinho da Silva da corrente iluminista dominante sobre pedagogia, ao ponto de ver na escola um problema e não uma solução, pois a escola atual ensina a trabalhar, quando a vida verdadeira será ocupação, sim, mas não trabalho como até aqui, cabendo esse cada vez mais a máquinas (fez um bom resumo da tese em 1970, <em>A Educação de Portugal</em>, publicado apenas em 1989). Nesta ingenuidade sobre a transição dos modos de produção encontramos de novo o determinismo, aqui não histórico mas sociológico e económico; mas sempre messiânico. Isto porque o ensinamento a extrair do Brasil por Portugal, para o mundo, a saber, o advento da Idade do Espírito Santo, surge como uma superação das formas de organização social moderna (capitalismo, liberalismo, socialismo, comunismo) e na identificação com uma ética católica não-clerical (o franciscanismo de Jaime Cortesão), espécie de regresso ao passado para alcançar o futuro (saudades do futuro, à boa maneira saudosista). Nesta nova era, feita à imagem do culto popular do Espírito Santo, as características atribuídas ao espírito da criança são dominantes, daí o papel predestinado de Portugal, visto como consagrado àquele culto; essas características são bem opostas à visão científica da criança, são de tipo religioso-místico: a criança como ser puro, em contacto com o inconsciente, livre e dada ao simbolismo espontâneo, isto é, uma criança ao inverso da modernidade europeia sem por isso ser reacionária. Apetece dizer, uma criança como o menino Jesus que fugiu do Céu no <em>Guardador de Rebanhos</em> de Alberto Caeiro.<br /><br />3. Estes pormenores não importaram muito para a celebridade mediática de Agostinho da Silva, na passagem da década de 1980 para a de 1990, promovida pela comunicação social e sobretudo pela TV (o programa de entrevistas <em>Conversas Vadias</em> está já reeditado em DVD). À época, essa celebridade foi apenas uma expressão da consciência dúplice de Portugal, bem contrária à imagem idealizada que Agostinho da Silva mantinha, a de um povo que, gozando da integração europeia, recuperava naquele discurso benévolo e imaginativo, um sentido de singularidade que sentia não poder ter. Como de costume, a unanimidade foi quase instantânea e desapareceu por completo pouco depois (nota dissonante foi Manuel Maria Carrilho, sempre crítico). Foi um equívoco, mas não sem fecundidade, como a atual celebração do centenário do nascimento do autor (iniciada em 2004, com a sua evocação no décimo aniversário da sua morte) revela, ao originar uma reedição sistemática da sua Obra e numerosos estudos de valor, ainda não disponíveis para incluir na bibliografia que referimos mas que o leitor pode procurar em breve, graças ao trabalho da Associação Agostinho da Silva (neste momento, merece nota o volume da série O Essencial sobre, da Imprensa Nacional, cf. na Bibliografia, Valente Pinho). E público parece não faltar, como que para manter vivas as esperanças proféticas.<br /><br /><br /><strong>Bibliografia (secundária)</strong></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Leone, Carlos, <em>Portugal Extemporâneo</em>, INCM, Lisboa, 2005 (vol. 2).</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Marcondes César, Constança, <em>O Grupo de São Paulo</em>, INCM, Lisboa, 2000.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Real. Miguel, <em>Portugal – Ser e Representação</em>, Difel, Algés, 1998.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Valente Pinho, Romana, <em>O Essencial sobre Agostinho da Silva</em>, INCM, Lisboa, 2006.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Agostinho da Silva</strong>, por Carlos Leone<br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Agostinho da Silva" alt="Agostinho da Silva" src="figuras/agostinhodasilva/agostinhodasilva.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Filólogo de formação mas mais conhecido como filósofo, Agostinho da Silva nasceu no Porto em 1906 e faleceu em Lisboa em 1994. A sua vida e Obra são um dos casos mais interessantes da cultura portuguesa contemporânea, ao sintetizarem simultaneamente aspetos contraditórios da cultura portuguesa e interagirem de forma original com os contextos históricos variados que conheceu. Estes podem ser agrupados em três, para melhor apresentar de forma breve o pensamento do autor: o contexto de formação, o contexto de maturidade e o contexto de celebridade mediática.<br /><br />1. Por contexto de formação referimo-nos ao período anterior à sua partida para o Brasil (em 1944). Não corresponde portanto a um simples período de juventude, antes à sua maturação intelectual e gradual afastamento da ordem política do Estado Novo que começara a vigorar já na idade adulta de Agostinho da Silva. Apesar de professor em vários liceus, a sua desafecção ao regime era manifesta e, não tendo sido suficiente para o forçar ao exílio, foi no entanto ela que tornou o abandono de Portugal apetecível. Como muitos outros da sua geração, partiu para o Brasil, mas não em busca de liberdades modernas, antes concretizou aí um conjunto de ideais relativos à sua visão de Portugal e da sua História que começara já a elaborar em Portugal (apesar de os seus livros escritos ainda em Portugal não o revelarem, cf. <em>Considerações</em>, de 1944, <em>Diário de Alcestes</em> e <em>Sete Cartas a um Jovem Filósofo</em>, de 1945). A sua formação científica e cultural, conhecedor dos meios literários nacionais (chegou a conhecer Fernando Pessoa em Lisboa), bem como a sua integração em círculos em que a doutrina saudosista de Teixeira de Pascoais era bem-acolhida, fizeram-no estar em contacto cultural e político com muitos aspetos da vida portuguesa da I República muitas vezes opostos, pelo que não surpreende que o clima de controlo e regulação social mais estrita das primeiras décadas do salazarismo lhe fossem particularmente desagradáveis. Em termos intelectuais, o conflito institucional com o regime, enquanto professor, força-o a iniciar uma carreira de publicista que anuncia de forma apenas muito vaga algumas das suas preocupações futuras (o início da sua colaboração com a <em>Seara Nova</em> data de 1928).<br /><br />Por tudo isto, o seu período de formação não revela já as ideias que irão marcar a sua maturidade como autor e, posteriormente, a sua celebridade mediática, mas é um elemento essencial a ter em conta para perceber o porquê das posições teóricas e pessoais que irá assumir até morrer, boa parte delas bem distintas da maioria dos intelectuais que o salazarismo afastou de Portugal.<br /><br />2. Uma vez no Brasil, que percorre desde as maiores cidades às mais remotas povoações na selva, empenhado permanentemente em projetos pedagógicos (a par de Eudoro de Sousa, fui fundador de várias universidades que, em início de atividade, precisavam de catedráticos para os seus quadros, recorrendo aos seus serviços, pois estava sempre pronto a começar de novo), Agostinho da Silva desenvolve cada vez mais uma componente filosófica do seu pensamento, que parte da mitologia clássica que conhece pela sua formação académica e se prolonga pelo pensamento mítico em geral. Assim, na década de 1950 integra o chamado Grupo de São Paulo (cf., na Bibliografia, Marcondes César), fundado por Miguel Reale (filósofo brasileiro, não confundir com o português Miguel Real, autor de um título muito útil para o leitor, cf., na Bibliografia, Real) e ao qual pertenciam também o já referido Eudoro de Sousa e o casal Dora e Vicente Ferreira da Silva. E, sintomaticamente, logo em 1957 e 1959, surgem as grandes formulações da sua doutrina providencialista de Portugal (da sua História e do seu povo), em dois livros aparentemente dedicados a matérias literárias: <em>Reflexão à Margem da Literatura Portuguesa</em> e <em>Um Fernando Pessoa</em>. Como o estudo sobre ‘um’ (note-se, não pretendia reduzir o complexo Pessoa àquele que ali era apresentado) Pessoa pretende encontrar na especulação desenvolvida por este sobre o V Império a confirmação do pensamento do próprio Agostinho da Silva sobre o “Império do Espírito Santo”, temos aqui um caso claro de como a variedade de experiências de formação de Agostinho se plasmou na sua obra de maturidade. Em rigor, há que ter em conta uma outra influência, a da visão da história de Portugal do genro de Agostinho, Jaime Cortesão, fortemente marcada por uma idealização da monarquia medieval e da expansão marítima do início da idade moderna que não resistiu aos avanços da historiografia e das ciências sociais portuguesas da segunda metade do século XX (por Orlando Ribeiro, Vitorino Magalhães Godinho, e vários outros, sobre isto cf. na Bibliografia Leone, espec. Parte II).<br /><br />Ao encontrar na vida rural brasileira uma materialização dessa imagem idealizada das relações sociais de um Portugal medieval irremediavelmente perdido, Agostinho da Silva concebe a tese de uma missão universal portuguesa, a de realizar e dar a conhecer uma nova forma de vida para toda a humanidade, de que a expansão marítima fora apenas o começo, interrompido por uma adesão (aliás mal sucedida) às tendências politicamente centralizantes e cientificamente racionalizantes da Europa moderna. O termo “missão” carrega um determinismo com que o próprio autor não se sentia confortável, mas que de certo modo era inescapável, pois toda a linguagem com que Agostinho da Silva descreve esse Portugal tardo-medieval, no início da expansão marítima, é marcadamente moral, ela veicula um sentido para a ação histórica, sentido esse que, naturalmente, carece de uma conclusão ainda por se consumar. Quer em <em>Reflexão</em>, quer depois em textos recolhidos sob o título <em>Dispersos</em> ou ainda no belo, até tocante, título <em>Ir à Índia sem sair de Portugal</em>, essa imagem da História de Portugal compõe-se de momentos de crise, o primeiro negativo (cisão de Portugal face à Galiza, por ação de D. Afonso Henriques), os seguintes positivos: expansão para sul, concretizando o ideal Templário cristão e integrando o Portugal ‘verdadeiro’ na senda de São Bernardo de Claraval, seguido da introdução em Portugal do culto do Espírito Santo pelos franciscanos (traço de clara ligação a Cortesão e que terá consequências na sua visão do futuro de Portugal, como veremos) e, por fim, a organização de um reino típico da I Dinastia, descentralizado, retomando os traços essenciais do que Cortesão havia exposto desde a década de 1930. Ora, estas sucessivas crises (momentos de viragem) soçobram perante o emergir da modernidade (fim da primeira Dinastia), com a centralização política, a mercantilização da exploração marítima, enfim, com a sistematização própria da modernidade que retira a faceta amorosa (é o termo) que a expansão inicial de Portugal comportava e a encerra numa forma que não é sua, ao ponto de, em 1580, perder a sua independência. Mas como Agostinho da Silva diz algures, Alcácer-Quibir foi a sorte do Brasil, e, como não se cansou de repetir, o Brasil é o melhor de Portugal (menos conhecido do que o célebre “o brasileiro é o português à solta”). Nesse Brasil intocado pela modernidade que foi encontrar em pleno século XX na selva amazónica, Agostinho da Silva entendeu reencontrar o Portugal primevo e valioso, aquele que, depois de ensinar ao mundo que todo o mundo é apenas um arquipélago, poderia agora, enfim, ensinar uma unidade espiritual bem diferente da segmentação da vida e da separação das esferas da cultura próprias da modernidade.<br /><br />É esta ideia de resistência à modernidade, ao vê-la como corruptora da pureza original do cristianismo (o lamentar o fim da Idade Média em pleno século XX) que afasta o pedagogo Agostinho da Silva da corrente iluminista dominante sobre pedagogia, ao ponto de ver na escola um problema e não uma solução, pois a escola atual ensina a trabalhar, quando a vida verdadeira será ocupação, sim, mas não trabalho como até aqui, cabendo esse cada vez mais a máquinas (fez um bom resumo da tese em 1970, <em>A Educação de Portugal</em>, publicado apenas em 1989). Nesta ingenuidade sobre a transição dos modos de produção encontramos de novo o determinismo, aqui não histórico mas sociológico e económico; mas sempre messiânico. Isto porque o ensinamento a extrair do Brasil por Portugal, para o mundo, a saber, o advento da Idade do Espírito Santo, surge como uma superação das formas de organização social moderna (capitalismo, liberalismo, socialismo, comunismo) e na identificação com uma ética católica não-clerical (o franciscanismo de Jaime Cortesão), espécie de regresso ao passado para alcançar o futuro (saudades do futuro, à boa maneira saudosista). Nesta nova era, feita à imagem do culto popular do Espírito Santo, as características atribuídas ao espírito da criança são dominantes, daí o papel predestinado de Portugal, visto como consagrado àquele culto; essas características são bem opostas à visão científica da criança, são de tipo religioso-místico: a criança como ser puro, em contacto com o inconsciente, livre e dada ao simbolismo espontâneo, isto é, uma criança ao inverso da modernidade europeia sem por isso ser reacionária. Apetece dizer, uma criança como o menino Jesus que fugiu do Céu no <em>Guardador de Rebanhos</em> de Alberto Caeiro.<br /><br />3. Estes pormenores não importaram muito para a celebridade mediática de Agostinho da Silva, na passagem da década de 1980 para a de 1990, promovida pela comunicação social e sobretudo pela TV (o programa de entrevistas <em>Conversas Vadias</em> está já reeditado em DVD). À época, essa celebridade foi apenas uma expressão da consciência dúplice de Portugal, bem contrária à imagem idealizada que Agostinho da Silva mantinha, a de um povo que, gozando da integração europeia, recuperava naquele discurso benévolo e imaginativo, um sentido de singularidade que sentia não poder ter. Como de costume, a unanimidade foi quase instantânea e desapareceu por completo pouco depois (nota dissonante foi Manuel Maria Carrilho, sempre crítico). Foi um equívoco, mas não sem fecundidade, como a atual celebração do centenário do nascimento do autor (iniciada em 2004, com a sua evocação no décimo aniversário da sua morte) revela, ao originar uma reedição sistemática da sua Obra e numerosos estudos de valor, ainda não disponíveis para incluir na bibliografia que referimos mas que o leitor pode procurar em breve, graças ao trabalho da Associação Agostinho da Silva (neste momento, merece nota o volume da série O Essencial sobre, da Imprensa Nacional, cf. na Bibliografia, Valente Pinho). E público parece não faltar, como que para manter vivas as esperanças proféticas.<br /><br /><br /><strong>Bibliografia (secundária)</strong></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Leone, Carlos, <em>Portugal Extemporâneo</em>, INCM, Lisboa, 2005 (vol. 2).</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Marcondes César, Constança, <em>O Grupo de São Paulo</em>, INCM, Lisboa, 2000.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Real. Miguel, <em>Portugal – Ser e Representação</em>, Difel, Algés, 1998.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Valente Pinho, Romana, <em>O Essencial sobre Agostinho da Silva</em>, INCM, Lisboa, 2006.</span></p> Alexandre O'Neill 2011-03-02T15:28:08+00:00 2011-03-02T15:28:08+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/alexandre-oneill-dp32.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Alexandre O'Neill</strong>, </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">por Maria Antónia Oliveira</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Alexandre O'Neill" alt="Alexandre O'Neill" src="figuras/alexandreoneill/alexandreoneill.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">“Que quis eu da poesia? Que quis ela de mim? Não sei bem. Mas há uma palavra francesa com a qual posso perfeitamente exprimir o rompante mais presente em tudo o que escrevo: <em>dégonfler</em>. Em português, traduzi-la-ia por <em>desimportantizar</em>, ou em certos momentos, por aliviar, aliviar os outros, e a mim primeiro, da importância que julgamos ter. Só aliviados podemos tirar o ombro da ombreira e partir fraternalmente, ombro a ombro, para melhores dias, que o mesmo é dizer, para dias mais verdadeiros. É pouco como projecto? Em todo o caso, é o meu. O que vou deixando escrito, ora me desgosta, enjoa até, ora me encanta. Acontece certamente o mesmo aos outros poetas, tenham estatuto ou não. Mas comigo, talvez essa oscilação se dê com mais frequência. É que a invenção atroz a que se chama o dia-a-dia, este nosso dia-a-dia, espreita de perto tudo o que faço. É o preço que tenho pago para o esconjurar, pelo menos nas suas formas mais gordas e flácidas.”<br /><br />Estas palavras ditas pelo autor na abertura do disco gravado em 1972, que acompanhava a edição do livro de poemas <em>Entre a Cortina e a Vidraça</em>, definem bem a atitude literária de Alexandre O’Neill – um poeta a quem repugnavam palavras como <em>carreira</em>, ou poses de “empolamento” características do meio literário, “certa importanticidade sumamente ridícula” de muitos escritores. A postura de desdém irónico perante a instituição literária não é senão a outra face da moeda de uma escrita poética fundamentada na recusa de qualquer misticismo, transcendência ou hermetismo tradicional, todo ocupado no <em>tricot</em> das palavras ou no fazer “bonito”. As palavras são “animais doentes”: a consciência trágica do desgaste da linguagem, do peso que o tempo veio acumulando sobre as palavras, transforma-a O’Neill ironicamente em jogo – tudo é reconstruído, parodiado e reaproveitado: calão, idiotismos, entoações. A representação exemplar do peso histórico da linguagem é, sem dúvida, o lugar-comum – a sua fonte predileta de desconstrução. Neste sentido, é uma poesia do quotidiano, o que não equivale a dizer que é uma poesia realista <em>strictu sensu</em>. Talvez se lhe possa pôr o rótulo de realismo subversivo, um realismo transtornado por um olhar alucinado simultaneamente por Cesário Verde e pela breve mas fortíssima experiência surrealista.<br /><br />“Sou parecidíssimo com a minha poesia. Mesmo no dia-a-dia, no próprio trabalho. Entre a minha expressão coloquial e a minha expressão poética não há distância. A diferença será de intensidade, ou ao que se pode chamar intensidade.” O que O’Neill não revela, nesta entrevista ao jornal <em>A Capital</em> (2/5/1968), é qual das duas considera mais intensa: se a poesia, se a vida.<br /><br />A sua vida, escreveu ele em 1983 (<em>A Capital</em>), “lisa, aplastada, chata como tem transcorrido, só pode ser inventada. E, seguramente, foi assim que eu passei a vida: a inventá-la.” Como era seu costume e gosto, desconversava. A vida de Alexandre O’Neill, se não profusa em bizarrias ou reviravoltas extravagantes, não foi lisa e chata quando a olhamos de fora. Utilizando uma figura de estilo que parece corresponder à sua forma mental, o oximoro – atentem-se em vários títulos da sua obra poética –, foi uma espécie de <em>vidinha</em> muitíssimo intensa, de tal forma que acabou cedo: aos sessenta e um anos, Alexandre O’Neill morreu na sequência de um acidente vascular cerebral. “Fiz do corpo alavanca sem pensar no futuro”, admitiu cerca de um ano antes de morrer.<br /><br />Assinava O’Neill, o apelido que já seu pai usara, herdado de um antepassado irlandês fugido para Lisboa na década de 40 do século XVIII. O nome completo era Alexandre Manuel Vahia de Castro O’Neill de Bulhões. Nasceu em Lisboa, a 19 de dezembro de 1924.<br /><br />Da infância, conservou Alexandre breves recordações: um menino triste e fechado, a espreitar a Rua da Alegria dum quarto andar; as visitas breves e marcantes da avó Maria O’Neill, escritora, sufragista, feminista, vegetariana e dedicada à causa espírita. Nas férias, a família mudava-se para Amarante, terra natal da mãe, Maria da Glória, onde o jovem Alexandre conheceu Teixeira de Pascoaes.<br /><br />Na adolescência começou a ler: além da avó escritora, a família era tradicionalmente bibliófila. O pai tinha uma vasta biblioteca – antes de enveredar pela profissão de bancário, José António O’Neill frequentara o curso de Belas Artes. Ainda estudante do Liceu, Alexandre iniciou-se na escrita. Em 1942, com dezassete anos, publicou os primeiros versos num jornal de Amarante, o <em>Flor do Tâmega</em>. Esta atividade não foi grandemente incentivada pela família. Apesar de ter recebido prémios literários no Colégio Valsassina, no final da adolescência Alexandre falhava nos estudos. Acabou por abandonar o Curso Geral dos Liceus: queria dedicar-se à vida marítima. Fez exames para a Escola Náutica, mas não prosseguiu estudos que, de resto, lhe eram impossibilitados pela miopia.<br /><br />Em 1946, tornou-se escriturário, na Caixa de Previdência dos Profissionais do Comércio. Permaneceu neste emprego até 1952. Na verdade, apesar de nunca ter sido um escritor profissional, viveu sempre da sua escrita ou de trabalhos relacionados com livros – viria a ser <em>copy </em>de publicidade, cronista de jornal, encarregado de uma Biblioteca Itinerante da Gulbenkian, tradutor e assessor literário.<br /><br />Data de 1947 o seu ardente envolvimento com o Surrealismo. Depois de um verão de ativas experiências e leituras, o Grupo Surrealista de Lisboa nasce de um encontro na pastelaria Mexicana, em outubro. Será constituído por Alexandre O’Neill, António Domingues, Fernando Azevedo, Vespeira, José-Augusto França, Mário Cesariny, Moniz Pereira e António Pedro.<br /><br />Entre a casa deste último e o atelier na Avenida da Liberdade de que o Grupo dispunha decorrerão as atividades e reuniões durante o ano de 1948. As posições anti-neorrealistas eram frontais e provocatórias, tal como as atitudes contra o regime: em abril, o Grupo Surrealista de Lisboa retira a sua colaboração da III Exposição Geral de Artes Plásticas, por recusar a censura prévia que a comissão organizadora decidira aceitar.<br /><br />Em janeiro de 1949 realiza-se a Exposição do Grupo Surrealista de Lisboa, do qual, entretanto já se tinham afastado Mário Cesariny e António Domingues. O'Neill expôs <em>O Sr. e a Srª Mills em 1894, Instrução Primária, De Terça a Domingo, Looping-the-loop e A Linguagem.</em> Na mesma altura, sai nos Cadernos Surrealistas o primeiro livro de Alexandre O'Neill, <em>A Ampola Miraculosa</em>, com o subtítulo “romance”.<br /><br />Acompanhando o seu progressivo afastamento do Grupo Surrealista de Lisboa, o poeta publica em 1951 <em>Tempo de Fantasmas</em>, em cujo prefácio se demarca claramente do Surrealismo. Neste primeiro livro de poesia inclui o poema que o tornou célebre, “Um Adeus Português”, originado num episódio biográfico que o próprio viria a contar, muitos anos mais tarde. No início de 1950, estivera em Lisboa Nora Mitrani, enviada do Surrealismo francês para fazer uma conferência. Conheceu O’Neill e apaixonaram-se. Meses mais tarde, querendo juntar-se-lhe em Paris, O’Neill foi chamado à PIDE e interrogado. Por pressão de uma pessoa da família, foi-lhe negado o passaporte. Coagido a ficar em Portugal, não voltaria a ver Nora Mitrani.<br /><br />Não foi, de resto, a única vez que Alexandre O’Neill foi confrontado com a polícia política. Em 1953, esteve preso vinte e um dias no Estabelecimento Prisional de Caxias, por ter ido esperar Maria Lamas, regressada do Congresso Mundial da Paz em Viena. A partir desta data, passou a ser vigiado pela PIDE. No entanto, sendo um oposicionista, não militou em nenhum partido político, nem durante o Estado Novo, nem a seguir ao 25 de Abril – conhece-se-lhe uma breve ligação ao MUD juvenil, na altura em que abandona o Grupo Surrealista de Lisboa. A partir desta época, O’Neill foi-se distanciando de grupos ou tertúlias, demasiado irónico e cioso do seu individualismo para se envolver seriamente em qualquer militância partidária. O seu empenho era sobretudo cultural: apreciou o trabalho nas Bibliotecas Itinerantes porque ia “distribuir livros ao povo”; gostava de traduzir poetas nas suas crónicas jornalísticas, para os mostrar ao <em>público em geral</em>.<br /><br />De facto, a partir de 1957, começou a escrever para os jornais, primeiro esporadicamente, depois, nas décadas seguintes, assinando colunas regulares no <em>Diário de Lisboa</em>, n’ <em>A Capital</em> e, nos anos 80, no <em>JL</em>, escrevendo indiferentemente prosa e poesia, que reeditava mais tarde em livro, à maneira dos folhetinistas do século XIX. Fez ainda parte da redação da revista <em>Almanaque</em> (1959-61), publicação arrojada com grafismo de Sebastião Rodrigues onde colaboravam, entre outros, José Cardoso Pires, Luís de Sttau Monteiro, Augusto Abelaira e João Abel Manta.<br /><br />Mas foi em 1958, com a edição de <em>No Reino da Dinamarca</em>, que Alexandre O’Neill se viu reconhecido como poeta. Tinha entretanto abandonado definitivamente a casa dos pais, casando com Noémia Delgado, de quem teve um filho em 1959, Alexandre. Nesta época, instalou-se no Príncipe Real, bairro lisboeta onde haveria de decorrer grande parte da sua vida, e que levaria para a sua escrita. Neste bairro, encontraria Pamela Ineichen, com quem manteve uma relação amorosa durante a década de 60. Mais tarde, em 1971, casará com Teresa Gouveia, mãe do seu segundo filho, Afonso, nascido em 1976.<br /><br />Na década de 60, provavelmente a mais produtiva literariamente, foi publicando livros de poesia, antologias de outros poetas e traduções. Iniciou-se como <em>copy</em> de publicidade, atividade que se tornaria definitivamente o seu ganha-pão. Ficaram famosos no meio alguns <em>slogans</em> publicitários da sua autoria, e um houve que se converteu em provérbio: “Há mar e mar, há ir e voltar”.<br /><br />Da sua atração por outros meios de comunicação, que não a palavra escrita, é testemunho a letra do fado <em>Gaivota</em> destinada à voz de Amália, com música de Alain Oulman, tal como a colaboração, nos anos 70, em programas televisivos (fora, aliás, crítico de televisão sob o pseudónimo de A. Jazente), ou em guiões de filmes e em peças de teatro.<br /><br />Mas a doença começava a atormentá-lo. Em 1976, sofre um ataque cardíaco, que o poeta admitiu dever-se à vida desregrada que sempre tinha sido a sua, e que, apesar de algum esforço em contrário, continuou a ser. No início dos anos 80, já divorciado de Teresa Gouveia, repartia o seu tempo entre a casa da Rua da Escola Politécnica e a vila de Constância, frequentemente com Laurinda Bom, sua companhia mais constante nos últimos anos. Em 1984, sofreu um acidente vascular cerebral, antecipatório daquele que, em abril de 1986, o levaria ao internamento prolongado no hospital. Morreu em Lisboa a 21 de agosto desse ano.<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Maria Antónia Oliveira</span><span style="color: #333333;"><br /></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">mariantonia@netcabo.pt</span><span style="color: #333333;"><br /></span> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><b>BIBLIOGRAFIA<br /></b><br /><br />DO AUTOR:<br /><br />1949 – <em>A Ampola Miraculosa</em>, Lisboa, Cadernos Surrealistas.<br /><br />1951 – <em>Tempo de Fantasmas</em>, Cadernos de Poesia, nº11.<br /><br />1958 – <em>No Reino da Dinamarca</em>, Lisboa, Guimarães.<br /><br />1960 – <em>Abandono Vigiado</em>, Lisboa, Guimarães.<br /><br />1962 – <em>Poemas com Endereço</em>, Lisboa, Moraes.<br /><br />1965 – <em>Feira Cabisbaixa</em>, Lisboa, Ulisseia.<br /><br />1967 – <em>No Reino da Dinamarca – Obra Poética (1951-1965)</em>, Lisboa, Guimarães.<br /><br />1969 – <em>De Ombro na Ombreira</em>, Lisboa, Dom Quixote.<br /><br />1970 – <em>As Andorinhas não têm Restaurante</em>, Lisboa, Dom Quixote.<br /><br />1972 – <em>Entre a Cortina e a Vidraça</em>, Lisboa, Estúdios Cor.<br /><br />1974 – <em>No Reino da Dinamarca – Obra Poética (1951-1969)</em>, Lisboa, Guimarães.<br /><br />1979 – <em>A Saca de Orelhas</em>, Lisboa, Sá da Costa.<br /><br />1980 – <em>Uma Coisa em Forma de Assim,</em> Lisboa, Edic,; 2ª edição revista e aumentada, Lisboa, Presença, 1985; 3ª edição revista, Lisboa, Assírio &amp; Alvim, 2004.<br /><br />1981 – <em>As Horas Já de Números Vestidas in Poesias Completas 1951-1981</em>, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982.<br /><br />1983 – <em>Dezanove Poemas in Poesias Completas (1951-1983)</em>, 2.ª edição, revista e aumentada, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1984.<br /><br />1986 – <em>O Princípio de Utopia, O Princípio de Realidade seguidos de Ana Brites, Balada tão ao Gosto Popular Potuguês &amp; Vários Outros Poemas</em>, Lisboa, Moraes.<br /><br />2000 – <em>Poesias Completas</em>, com inclusão de dispersos, Lisboa, Assírio &amp; Alvim.<br /><br />2005 – <em>Anos 70. Poemas Dispersos</em>, Lisboa, Assírio &amp; Alvim.<br /><br />ANTOLOGIAS:<br /><br />1959 – <em>Gomes Leal – Antologia Poética</em> (em colaboração com F. da Cunha Leão), Lisboa, Guimarães.<br /><br />1962 – <em>Teixeira de Pascoaes – Antologia Poética</em> (em colaboração com F. da Cunha Leão), Lisboa, Guimarães.<br /><br />1962 – <em>Carl Sandburg – Antologia Poética</em>, Lisboa, Edições Tempo.<br /><br />1963 – <em>João Cabral de Melo Neto – Poemas Escolhidos</em>, Lisboa, Portugália.<br /><br />1969 – <em>Vinicius de Moraes – O Poeta Apresenta o Poeta</em>, Lisboa, D. Quixote.<br /><br />1977 – <em>Poesía Portuguesa Contemporánea</em> (em colaboração com a Secção de Literatura da Direcção Geral de Acção Cultural), edição bilingue, Lisboa, Secretaria de Estado da Cultura.<br /><br />TRADUÇÕES (seleccionadas):<br /><br />1950 – Nora Mitrani, “A Razão Ardente (Do Romantismo ao Surrealismo)”, Cadernos Surrealistas, Lisboa.<br /><br />1959 – Maiakovski, <em>O Percevejo</em>, Lisboa, Editorial Gleba.<br /><br />1960 – Dostoievski, <em>O Jogador</em>, Lisboa, Guimarães.<br /><br />1961-63 – Colaboração com Ilse Losa em Bertolt Brecht, <em>Teatro I e II</em>, Lisboa Portugália Editora.<br /><br />1962 – Alfred Jarry, <em>Mestre Ubu</em>, versão e adaptação de Alexandre O’Neill e Luís de Lima Lisboa, Minotauro.<br /><br />DISCOS:<br /><br /><em>Alexandre O’Neill diz poemas da sua autoria</em> – Col. «A Voz e o Texto», Discos Decca, PEP 1010.<br /><br /><em>Os Bichos também são gente </em>– (Poemas dedicados aos bichos e ditos pelo autor) – Col. «A Voz e o Texto», Discos Decca, PEP, 1278.<br /><br />Sobre Alexandre O’Neill:<br /><br />Cabrita, António, “A Arca de O'Neill”, <em>Phala — Um Século de Poesia</em>, Lisboa, Assírio, 1988.<br /><br />Cuadrado, Perfecto E., “‘Um Adeus Português’ como pretexto para una primera aproximación a la poesia de Alexandre O’Neill, <em>A Palavra sobre a Palavra</em>, Porto, Portucalense, 1972.<br /><br />Freitas, Manuel de, “Make it real”, <em>Cadernos. Centro de Estudos do Surrealismo</em>, nº 2 (número especial sobre Alexandre O’Neill), Vila Nova de Famalicão, Fundação Cupertino de Miranda, 2002.<br /><br />Martins, Fernando Cabral, “Esperar o Inesperado”, posfácio a Alexandre O’Neill,<em> Anos 70. Poemas Dispersos</em>, Lisboa, Assírio &amp; Alvim, 2005.<br /><br />Oliveira, Maria Antónia, <em>A Tristeza Contentinha de Alexandre O’Neill</em>, Lisboa, Caminho, 1992.<br /><br />Oliveira, Maria Antónia, <em>Alexandre O’Neill. Uma Biografia Literária</em>, Lisboa, Dom Quixote, 2007.<br /><br /><em>Relâmpago </em>nº 13 – Alexandre O’Neill, Outubro 2003.<br /><br />Rocha, Clara, Prefácio a O'Neill, Alexandre, <em>Poesias Completas 1951-1981</em>, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1982.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Alexandre O'Neill</strong>, </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">por Maria Antónia Oliveira</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Alexandre O'Neill" alt="Alexandre O'Neill" src="figuras/alexandreoneill/alexandreoneill.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">“Que quis eu da poesia? Que quis ela de mim? Não sei bem. Mas há uma palavra francesa com a qual posso perfeitamente exprimir o rompante mais presente em tudo o que escrevo: <em>dégonfler</em>. Em português, traduzi-la-ia por <em>desimportantizar</em>, ou em certos momentos, por aliviar, aliviar os outros, e a mim primeiro, da importância que julgamos ter. Só aliviados podemos tirar o ombro da ombreira e partir fraternalmente, ombro a ombro, para melhores dias, que o mesmo é dizer, para dias mais verdadeiros. É pouco como projecto? Em todo o caso, é o meu. O que vou deixando escrito, ora me desgosta, enjoa até, ora me encanta. Acontece certamente o mesmo aos outros poetas, tenham estatuto ou não. Mas comigo, talvez essa oscilação se dê com mais frequência. É que a invenção atroz a que se chama o dia-a-dia, este nosso dia-a-dia, espreita de perto tudo o que faço. É o preço que tenho pago para o esconjurar, pelo menos nas suas formas mais gordas e flácidas.”<br /><br />Estas palavras ditas pelo autor na abertura do disco gravado em 1972, que acompanhava a edição do livro de poemas <em>Entre a Cortina e a Vidraça</em>, definem bem a atitude literária de Alexandre O’Neill – um poeta a quem repugnavam palavras como <em>carreira</em>, ou poses de “empolamento” características do meio literário, “certa importanticidade sumamente ridícula” de muitos escritores. A postura de desdém irónico perante a instituição literária não é senão a outra face da moeda de uma escrita poética fundamentada na recusa de qualquer misticismo, transcendência ou hermetismo tradicional, todo ocupado no <em>tricot</em> das palavras ou no fazer “bonito”. As palavras são “animais doentes”: a consciência trágica do desgaste da linguagem, do peso que o tempo veio acumulando sobre as palavras, transforma-a O’Neill ironicamente em jogo – tudo é reconstruído, parodiado e reaproveitado: calão, idiotismos, entoações. A representação exemplar do peso histórico da linguagem é, sem dúvida, o lugar-comum – a sua fonte predileta de desconstrução. Neste sentido, é uma poesia do quotidiano, o que não equivale a dizer que é uma poesia realista <em>strictu sensu</em>. Talvez se lhe possa pôr o rótulo de realismo subversivo, um realismo transtornado por um olhar alucinado simultaneamente por Cesário Verde e pela breve mas fortíssima experiência surrealista.<br /><br />“Sou parecidíssimo com a minha poesia. Mesmo no dia-a-dia, no próprio trabalho. Entre a minha expressão coloquial e a minha expressão poética não há distância. A diferença será de intensidade, ou ao que se pode chamar intensidade.” O que O’Neill não revela, nesta entrevista ao jornal <em>A Capital</em> (2/5/1968), é qual das duas considera mais intensa: se a poesia, se a vida.<br /><br />A sua vida, escreveu ele em 1983 (<em>A Capital</em>), “lisa, aplastada, chata como tem transcorrido, só pode ser inventada. E, seguramente, foi assim que eu passei a vida: a inventá-la.” Como era seu costume e gosto, desconversava. A vida de Alexandre O’Neill, se não profusa em bizarrias ou reviravoltas extravagantes, não foi lisa e chata quando a olhamos de fora. Utilizando uma figura de estilo que parece corresponder à sua forma mental, o oximoro – atentem-se em vários títulos da sua obra poética –, foi uma espécie de <em>vidinha</em> muitíssimo intensa, de tal forma que acabou cedo: aos sessenta e um anos, Alexandre O’Neill morreu na sequência de um acidente vascular cerebral. “Fiz do corpo alavanca sem pensar no futuro”, admitiu cerca de um ano antes de morrer.<br /><br />Assinava O’Neill, o apelido que já seu pai usara, herdado de um antepassado irlandês fugido para Lisboa na década de 40 do século XVIII. O nome completo era Alexandre Manuel Vahia de Castro O’Neill de Bulhões. Nasceu em Lisboa, a 19 de dezembro de 1924.<br /><br />Da infância, conservou Alexandre breves recordações: um menino triste e fechado, a espreitar a Rua da Alegria dum quarto andar; as visitas breves e marcantes da avó Maria O’Neill, escritora, sufragista, feminista, vegetariana e dedicada à causa espírita. Nas férias, a família mudava-se para Amarante, terra natal da mãe, Maria da Glória, onde o jovem Alexandre conheceu Teixeira de Pascoaes.<br /><br />Na adolescência começou a ler: além da avó escritora, a família era tradicionalmente bibliófila. O pai tinha uma vasta biblioteca – antes de enveredar pela profissão de bancário, José António O’Neill frequentara o curso de Belas Artes. Ainda estudante do Liceu, Alexandre iniciou-se na escrita. Em 1942, com dezassete anos, publicou os primeiros versos num jornal de Amarante, o <em>Flor do Tâmega</em>. Esta atividade não foi grandemente incentivada pela família. Apesar de ter recebido prémios literários no Colégio Valsassina, no final da adolescência Alexandre falhava nos estudos. Acabou por abandonar o Curso Geral dos Liceus: queria dedicar-se à vida marítima. Fez exames para a Escola Náutica, mas não prosseguiu estudos que, de resto, lhe eram impossibilitados pela miopia.<br /><br />Em 1946, tornou-se escriturário, na Caixa de Previdência dos Profissionais do Comércio. Permaneceu neste emprego até 1952. Na verdade, apesar de nunca ter sido um escritor profissional, viveu sempre da sua escrita ou de trabalhos relacionados com livros – viria a ser <em>copy </em>de publicidade, cronista de jornal, encarregado de uma Biblioteca Itinerante da Gulbenkian, tradutor e assessor literário.<br /><br />Data de 1947 o seu ardente envolvimento com o Surrealismo. Depois de um verão de ativas experiências e leituras, o Grupo Surrealista de Lisboa nasce de um encontro na pastelaria Mexicana, em outubro. Será constituído por Alexandre O’Neill, António Domingues, Fernando Azevedo, Vespeira, José-Augusto França, Mário Cesariny, Moniz Pereira e António Pedro.<br /><br />Entre a casa deste último e o atelier na Avenida da Liberdade de que o Grupo dispunha decorrerão as atividades e reuniões durante o ano de 1948. As posições anti-neorrealistas eram frontais e provocatórias, tal como as atitudes contra o regime: em abril, o Grupo Surrealista de Lisboa retira a sua colaboração da III Exposição Geral de Artes Plásticas, por recusar a censura prévia que a comissão organizadora decidira aceitar.<br /><br />Em janeiro de 1949 realiza-se a Exposição do Grupo Surrealista de Lisboa, do qual, entretanto já se tinham afastado Mário Cesariny e António Domingues. O'Neill expôs <em>O Sr. e a Srª Mills em 1894, Instrução Primária, De Terça a Domingo, Looping-the-loop e A Linguagem.</em> Na mesma altura, sai nos Cadernos Surrealistas o primeiro livro de Alexandre O'Neill, <em>A Ampola Miraculosa</em>, com o subtítulo “romance”.<br /><br />Acompanhando o seu progressivo afastamento do Grupo Surrealista de Lisboa, o poeta publica em 1951 <em>Tempo de Fantasmas</em>, em cujo prefácio se demarca claramente do Surrealismo. Neste primeiro livro de poesia inclui o poema que o tornou célebre, “Um Adeus Português”, originado num episódio biográfico que o próprio viria a contar, muitos anos mais tarde. No início de 1950, estivera em Lisboa Nora Mitrani, enviada do Surrealismo francês para fazer uma conferência. Conheceu O’Neill e apaixonaram-se. Meses mais tarde, querendo juntar-se-lhe em Paris, O’Neill foi chamado à PIDE e interrogado. Por pressão de uma pessoa da família, foi-lhe negado o passaporte. Coagido a ficar em Portugal, não voltaria a ver Nora Mitrani.<br /><br />Não foi, de resto, a única vez que Alexandre O’Neill foi confrontado com a polícia política. Em 1953, esteve preso vinte e um dias no Estabelecimento Prisional de Caxias, por ter ido esperar Maria Lamas, regressada do Congresso Mundial da Paz em Viena. A partir desta data, passou a ser vigiado pela PIDE. No entanto, sendo um oposicionista, não militou em nenhum partido político, nem durante o Estado Novo, nem a seguir ao 25 de Abril – conhece-se-lhe uma breve ligação ao MUD juvenil, na altura em que abandona o Grupo Surrealista de Lisboa. A partir desta época, O’Neill foi-se distanciando de grupos ou tertúlias, demasiado irónico e cioso do seu individualismo para se envolver seriamente em qualquer militância partidária. O seu empenho era sobretudo cultural: apreciou o trabalho nas Bibliotecas Itinerantes porque ia “distribuir livros ao povo”; gostava de traduzir poetas nas suas crónicas jornalísticas, para os mostrar ao <em>público em geral</em>.<br /><br />De facto, a partir de 1957, começou a escrever para os jornais, primeiro esporadicamente, depois, nas décadas seguintes, assinando colunas regulares no <em>Diário de Lisboa</em>, n’ <em>A Capital</em> e, nos anos 80, no <em>JL</em>, escrevendo indiferentemente prosa e poesia, que reeditava mais tarde em livro, à maneira dos folhetinistas do século XIX. Fez ainda parte da redação da revista <em>Almanaque</em> (1959-61), publicação arrojada com grafismo de Sebastião Rodrigues onde colaboravam, entre outros, José Cardoso Pires, Luís de Sttau Monteiro, Augusto Abelaira e João Abel Manta.<br /><br />Mas foi em 1958, com a edição de <em>No Reino da Dinamarca</em>, que Alexandre O’Neill se viu reconhecido como poeta. Tinha entretanto abandonado definitivamente a casa dos pais, casando com Noémia Delgado, de quem teve um filho em 1959, Alexandre. Nesta época, instalou-se no Príncipe Real, bairro lisboeta onde haveria de decorrer grande parte da sua vida, e que levaria para a sua escrita. Neste bairro, encontraria Pamela Ineichen, com quem manteve uma relação amorosa durante a década de 60. Mais tarde, em 1971, casará com Teresa Gouveia, mãe do seu segundo filho, Afonso, nascido em 1976.<br /><br />Na década de 60, provavelmente a mais produtiva literariamente, foi publicando livros de poesia, antologias de outros poetas e traduções. Iniciou-se como <em>copy</em> de publicidade, atividade que se tornaria definitivamente o seu ganha-pão. Ficaram famosos no meio alguns <em>slogans</em> publicitários da sua autoria, e um houve que se converteu em provérbio: “Há mar e mar, há ir e voltar”.<br /><br />Da sua atração por outros meios de comunicação, que não a palavra escrita, é testemunho a letra do fado <em>Gaivota</em> destinada à voz de Amália, com música de Alain Oulman, tal como a colaboração, nos anos 70, em programas televisivos (fora, aliás, crítico de televisão sob o pseudónimo de A. Jazente), ou em guiões de filmes e em peças de teatro.<br /><br />Mas a doença começava a atormentá-lo. Em 1976, sofre um ataque cardíaco, que o poeta admitiu dever-se à vida desregrada que sempre tinha sido a sua, e que, apesar de algum esforço em contrário, continuou a ser. No início dos anos 80, já divorciado de Teresa Gouveia, repartia o seu tempo entre a casa da Rua da Escola Politécnica e a vila de Constância, frequentemente com Laurinda Bom, sua companhia mais constante nos últimos anos. Em 1984, sofreu um acidente vascular cerebral, antecipatório daquele que, em abril de 1986, o levaria ao internamento prolongado no hospital. Morreu em Lisboa a 21 de agosto desse ano.<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Maria Antónia Oliveira</span><span style="color: #333333;"><br /></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">mariantonia@netcabo.pt</span><span style="color: #333333;"><br /></span> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><b>BIBLIOGRAFIA<br /></b><br /><br />DO AUTOR:<br /><br />1949 – <em>A Ampola Miraculosa</em>, Lisboa, Cadernos Surrealistas.<br /><br />1951 – <em>Tempo de Fantasmas</em>, Cadernos de Poesia, nº11.<br /><br />1958 – <em>No Reino da Dinamarca</em>, Lisboa, Guimarães.<br /><br />1960 – <em>Abandono Vigiado</em>, Lisboa, Guimarães.<br /><br />1962 – <em>Poemas com Endereço</em>, Lisboa, Moraes.<br /><br />1965 – <em>Feira Cabisbaixa</em>, Lisboa, Ulisseia.<br /><br />1967 – <em>No Reino da Dinamarca – Obra Poética (1951-1965)</em>, Lisboa, Guimarães.<br /><br />1969 – <em>De Ombro na Ombreira</em>, Lisboa, Dom Quixote.<br /><br />1970 – <em>As Andorinhas não têm Restaurante</em>, Lisboa, Dom Quixote.<br /><br />1972 – <em>Entre a Cortina e a Vidraça</em>, Lisboa, Estúdios Cor.<br /><br />1974 – <em>No Reino da Dinamarca – Obra Poética (1951-1969)</em>, Lisboa, Guimarães.<br /><br />1979 – <em>A Saca de Orelhas</em>, Lisboa, Sá da Costa.<br /><br />1980 – <em>Uma Coisa em Forma de Assim,</em> Lisboa, Edic,; 2ª edição revista e aumentada, Lisboa, Presença, 1985; 3ª edição revista, Lisboa, Assírio &amp; Alvim, 2004.<br /><br />1981 – <em>As Horas Já de Números Vestidas in Poesias Completas 1951-1981</em>, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982.<br /><br />1983 – <em>Dezanove Poemas in Poesias Completas (1951-1983)</em>, 2.ª edição, revista e aumentada, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1984.<br /><br />1986 – <em>O Princípio de Utopia, O Princípio de Realidade seguidos de Ana Brites, Balada tão ao Gosto Popular Potuguês &amp; Vários Outros Poemas</em>, Lisboa, Moraes.<br /><br />2000 – <em>Poesias Completas</em>, com inclusão de dispersos, Lisboa, Assírio &amp; Alvim.<br /><br />2005 – <em>Anos 70. Poemas Dispersos</em>, Lisboa, Assírio &amp; Alvim.<br /><br />ANTOLOGIAS:<br /><br />1959 – <em>Gomes Leal – Antologia Poética</em> (em colaboração com F. da Cunha Leão), Lisboa, Guimarães.<br /><br />1962 – <em>Teixeira de Pascoaes – Antologia Poética</em> (em colaboração com F. da Cunha Leão), Lisboa, Guimarães.<br /><br />1962 – <em>Carl Sandburg – Antologia Poética</em>, Lisboa, Edições Tempo.<br /><br />1963 – <em>João Cabral de Melo Neto – Poemas Escolhidos</em>, Lisboa, Portugália.<br /><br />1969 – <em>Vinicius de Moraes – O Poeta Apresenta o Poeta</em>, Lisboa, D. Quixote.<br /><br />1977 – <em>Poesía Portuguesa Contemporánea</em> (em colaboração com a Secção de Literatura da Direcção Geral de Acção Cultural), edição bilingue, Lisboa, Secretaria de Estado da Cultura.<br /><br />TRADUÇÕES (seleccionadas):<br /><br />1950 – Nora Mitrani, “A Razão Ardente (Do Romantismo ao Surrealismo)”, Cadernos Surrealistas, Lisboa.<br /><br />1959 – Maiakovski, <em>O Percevejo</em>, Lisboa, Editorial Gleba.<br /><br />1960 – Dostoievski, <em>O Jogador</em>, Lisboa, Guimarães.<br /><br />1961-63 – Colaboração com Ilse Losa em Bertolt Brecht, <em>Teatro I e II</em>, Lisboa Portugália Editora.<br /><br />1962 – Alfred Jarry, <em>Mestre Ubu</em>, versão e adaptação de Alexandre O’Neill e Luís de Lima Lisboa, Minotauro.<br /><br />DISCOS:<br /><br /><em>Alexandre O’Neill diz poemas da sua autoria</em> – Col. «A Voz e o Texto», Discos Decca, PEP 1010.<br /><br /><em>Os Bichos também são gente </em>– (Poemas dedicados aos bichos e ditos pelo autor) – Col. «A Voz e o Texto», Discos Decca, PEP, 1278.<br /><br />Sobre Alexandre O’Neill:<br /><br />Cabrita, António, “A Arca de O'Neill”, <em>Phala — Um Século de Poesia</em>, Lisboa, Assírio, 1988.<br /><br />Cuadrado, Perfecto E., “‘Um Adeus Português’ como pretexto para una primera aproximación a la poesia de Alexandre O’Neill, <em>A Palavra sobre a Palavra</em>, Porto, Portucalense, 1972.<br /><br />Freitas, Manuel de, “Make it real”, <em>Cadernos. Centro de Estudos do Surrealismo</em>, nº 2 (número especial sobre Alexandre O’Neill), Vila Nova de Famalicão, Fundação Cupertino de Miranda, 2002.<br /><br />Martins, Fernando Cabral, “Esperar o Inesperado”, posfácio a Alexandre O’Neill,<em> Anos 70. Poemas Dispersos</em>, Lisboa, Assírio &amp; Alvim, 2005.<br /><br />Oliveira, Maria Antónia, <em>A Tristeza Contentinha de Alexandre O’Neill</em>, Lisboa, Caminho, 1992.<br /><br />Oliveira, Maria Antónia, <em>Alexandre O’Neill. Uma Biografia Literária</em>, Lisboa, Dom Quixote, 2007.<br /><br /><em>Relâmpago </em>nº 13 – Alexandre O’Neill, Outubro 2003.<br /><br />Rocha, Clara, Prefácio a O'Neill, Alexandre, <em>Poesias Completas 1951-1981</em>, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1982.</span></p> António Gedeão 2011-03-02T16:39:42+00:00 2011-03-02T16:39:42+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/antonio-gedeao-dp19.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <div style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>António Gedeão</strong>, por Fernando J. B. Martinho</span><br /><br /></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="António Gedeão" alt="António Gedeão" src="figuras/antoniogedeao/antoniogedeao.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Nascido em 1906, contemporâneo dos poetas da <em>presença</em>, só em 1956 António Gedeão (1906-1997; pseudónimo de Rómulo de Carvalho, metodólogo de Ciências Físico-Químicas no ensino secundário, autor de trabalhos nos domínios da didática das disciplinas da sua especialidade, e da historiografia e divulgação científicas) publica o seu primeiro livro de poemas, <em>Movimento Perpétuo</em>. Entre esse ano e 1961 dará a público outras duas coletâneas, <em>Teatro do Mundo</em>, 1958, e <em>Máquina de Fogo</em>, tendo oportunidade logo em 1964 de reunir a sua produção poética nas <em>Poesias Completas</em>, acompanhadas de um importante e exaustivo estudo de Jorge de Sena, também ele homem de formação científica. Até aos princípios dos anos 90, as <em>Poesias Completas</em>, que a partir da 2ª edição, em 1968, passam a incluir <em>Linhas de Força</em>, de 1967, conhecerão uma dezena de edições, circunstância muito rara no panorama da edição poética portuguesa de Novecentos e que dá bem a medida da popularidade alcançada durante esse período pela obra de António Gedeão, que beneficiou igualmente da difusão que lhe foi dada por alguns nomes importantes da nossa música popular e de intervenção.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">No momento em que António Gedeão se estreia como poeta (sublinhe-se que já então é autor de trabalhos didáticos ou de divulgação científica e que, como pode ver-se na edição da <em>Obra Completa</em>, de 2004, desde muito jovem escreve poemas), é muito forte entre os autores emergentes a consciência de fazerem parte de uma tradição moderna, que remonta aos tempos do <em>Orpheu</em>, ou mesmo a certas figuras-chave anteriores como Cesário, Nobre ou Pessanha. Jorge de Sena dirá que Gedeão realiza, na sua poesia, uma síntese das grandes conquistas do Modernismo, e, em certo sentido, poderá mesmo afirmar-se que ele é um dos primeiros a levá-las a um público mais alargado que a lírica moderna, com algumas das suas ousadias, ainda não fora capaz de aliciar. A par de uma original reelaboração do legado modernista, sem dificuldade se reconhece igualmente nos versos de António Gedeão um poeta identificado com o <em>espírito do tempo</em> que presidiu à sua estreia literária. Assim o vemos, numa época dominada pelas filosofias da existência, entregue ao «desespero», a um mal-estar que vem das zonas mais fundas e turvas da consciência de existir. Ou dando expressão aos seus receios perante a «bomba», a capacidade de autodestruição do homem, em tempo de <em>guerra fria</em>. Esse pessimismo casa bem com a condição que é também a sua de herdeiro do ceticismo iluminista: «Os homens nascem maus./ Nós é que havemos de fazê-los bons.» Mas a herança do iluminismo permite-lhe, ao mesmo tempo, alimentar a confiança no homem: «Eu sou o homem. O Homem./ Desço ao mar e subo ao céu./ Não há temores que me domem./ É tudo meu, tudo meu.» Desse mesmo legado é possível aproximar, por outro lado, a <em>sage </em>ironia que o leva, em “Poema do fecho éclair”, a meter a ridículo o poder de um dos grandes do mundo por tudo possuir mas não conhecer um dos mais correntes artefactos do homem moderno, ou, em “Dia de Natal”, a fazer a denúncia do desenfreado consumismo próprio dessa quadra.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Numa fase da evolução da nossa lírica moderna em que já se verificara o alargamento dos domínios da poesia ao que era tido por <em>não poético</em>, uma das grandes novidades que os versos de António Gedeão trazem é a presença, muito marcada, neles da linguagem científica. Homem de ciência, ligado a conceitos e terminologias que preenchem quotidianamente a sua atividade, não separa, na sua poesia, Rómulo de Carvalho do seu <em>alter ego</em> literário António Gedeão. Pelo contrário, chega a fazê-los coexistir num mesmo texto, como acontece na famosa “Lição sobre a água”, em que o leitor colhe a impressão de que é o cientista que fala nas duas primeiras estrofes, para, na estrofe final, ceder a voz ao <em>poeta</em>. De outras vezes, à expressão da indignação do humanista, tantas vezes já gasta pela retórica do panfletarismo, prefere o poeta a austera eficácia da demonstração e da evidência científicas, como na antologiadíssima “Lágrima de preta”. A isto acresce o uso recorrente de termos científicos, respondendo a uma indeclinável necessidade gerada pelos próprios temas, sem que o poeta ponha de parte um dos grandes prazeres que a sua arte lhe reserva, o da nomeação, para o caso incidindo no que é a sua experiência interiorizada de todos os dias de homem de ciência. E aqui é a linguagem poética que se enriquece e as imagens e metáforas que ganham outro fulgor e novos modos de nos surpreender, numa decidida ampliação do campo expressivo, com o recurso a realidades evocadas por termos como, entre muitos outros, «protoplasma», «cisão do átomo», «neutrão», «colódio», «ácidos», «bases», «sais», «cloreto de sódio», «suspensão coloidal», «dissolvente», «aminoácido».</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">No plano da forma da expressão, é possível traçar uma linha evolutiva na poesia de Gedeão, entre o livro de estreia em meados dos anos 50 e a última coletânea, vinda a lume em 1990. Permitir-nos-á ela notar a predominância do metro regular nos livros publicados na década de 50, <em>Movimento Perpétuo </em>e<em> Teatro do Mundo</em>, a adoção de ritmos mais livres embora mantendo-se ainda o uso da rima nos volumes editados nos anos 60, <em>Máquina de Fogo</em> e <em>Linhas de Força</em>, e uma clara opção pelo verso livre não rimado nas duas últimas coletâneas, <em>Poemas Póstumos</em>, de 1983, e <em>Novos Poemas Póstumos</em>, de 1990. Nuns casos a forma escolhida aproxima-se das formas legadas pela tradição, que podem ser as que têm origem na poderosa tradição romancística, como se observa em “Cavalinho, cavalinho” e em “Ai Silvina, ai Silvininha”, ou as que entram num processo de interlocução com a tradição culta, trazendo à memória ora as Barcas vicentinas, em “Fala do homem nascido” ( «Minha barca aparelhada/ solta o pano rumo ao norte;/ meu desejo é passaporte/ para a fronteira fechada./ Não há ventos que não prestem/ nem marés que não convenham,/ nem forças que me molestem,/ correntes que me detenham» ), ora um dos mais glosados poemas de Camões em “Poema da auto-estrada”, aqui por via da distorção paródica ( «Voando vai para a praia/ Leonor na estrada preta./ Vai na brasa de lambreta.» ). Noutros casos, as suas opções formais aproximam-se, já no âmbito da tradição moderna, da combinação de diversos metros tão do agrado dos poetas da <em>presença</em>, ou, como é o caso, nos dois últimos livros, de modo mais nítido, do versilibrismo mais ou menos radical de que o Modernismo fez, em diferentes momentos, um dos seus mais apregoados instrumentos de libertação.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Registe-se ainda a incursão, em 1973, de António Gedeâo pela ficção narrativa em <em>A Poltrona e Outras Novelas</em>, e, em 1963 e 1981, pela literatura dramática, em <em>RTX – 78/24</em> e <em>História Breve da Lua</em>, respetivamente, textos estes que podem ler-se, para além de um conjunto de ensaios literários, em <em>Obra Completa</em>, de 2004.</span></span><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia Sumária</strong></span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><strong>Ativa:</strong></span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Poesia:</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Obra Poética</em>, 2001.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Ficção Narrativa:</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>A Poltrona e Outras Novelas</em>, 1973.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Teatro:</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>RTX – 78/24</em>, 1963.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>História Breve da Lua</em>, 1981.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Obra Completa:</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Obra Completa</em>, 2004. Notas introdutórias de Natália Nunes.</span></span><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><strong>Passiva:</strong></span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Jorge de Sena, “A poesia de António Gedeão ( esboço de análise objetiva )”, com um “Post Scriptum 1968”, a partir da 2ª ed. das <em>Poesias Completas</em>, 1968.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Bibliografia de António Gedeão/ Rómulo de Carvalho, em António Gedeão , <em>51+3 Poems and Other Writings</em> ( trad. de Christopher Auretta e Marya Berry ), org. de A.M. Nunes dos Santos, 1992.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Pedra Filosofal. Rómulo de Carvalho/ António Gedeão</em>, dir. Luísa Corte-Real e Marta Lourenço, 2001.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Natália Nunes, “Notas introdutórias”, <em>Obra Completa</em>, 2004. Inclui alguma bibliografia passiva, no fim do volume.</span></span><br /><br /></div> <span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"> <br /></span> <div style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>António Gedeão</strong>, por Fernando J. B. Martinho</span><br /><br /></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="António Gedeão" alt="António Gedeão" src="figuras/antoniogedeao/antoniogedeao.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Nascido em 1906, contemporâneo dos poetas da <em>presença</em>, só em 1956 António Gedeão (1906-1997; pseudónimo de Rómulo de Carvalho, metodólogo de Ciências Físico-Químicas no ensino secundário, autor de trabalhos nos domínios da didática das disciplinas da sua especialidade, e da historiografia e divulgação científicas) publica o seu primeiro livro de poemas, <em>Movimento Perpétuo</em>. Entre esse ano e 1961 dará a público outras duas coletâneas, <em>Teatro do Mundo</em>, 1958, e <em>Máquina de Fogo</em>, tendo oportunidade logo em 1964 de reunir a sua produção poética nas <em>Poesias Completas</em>, acompanhadas de um importante e exaustivo estudo de Jorge de Sena, também ele homem de formação científica. Até aos princípios dos anos 90, as <em>Poesias Completas</em>, que a partir da 2ª edição, em 1968, passam a incluir <em>Linhas de Força</em>, de 1967, conhecerão uma dezena de edições, circunstância muito rara no panorama da edição poética portuguesa de Novecentos e que dá bem a medida da popularidade alcançada durante esse período pela obra de António Gedeão, que beneficiou igualmente da difusão que lhe foi dada por alguns nomes importantes da nossa música popular e de intervenção.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">No momento em que António Gedeão se estreia como poeta (sublinhe-se que já então é autor de trabalhos didáticos ou de divulgação científica e que, como pode ver-se na edição da <em>Obra Completa</em>, de 2004, desde muito jovem escreve poemas), é muito forte entre os autores emergentes a consciência de fazerem parte de uma tradição moderna, que remonta aos tempos do <em>Orpheu</em>, ou mesmo a certas figuras-chave anteriores como Cesário, Nobre ou Pessanha. Jorge de Sena dirá que Gedeão realiza, na sua poesia, uma síntese das grandes conquistas do Modernismo, e, em certo sentido, poderá mesmo afirmar-se que ele é um dos primeiros a levá-las a um público mais alargado que a lírica moderna, com algumas das suas ousadias, ainda não fora capaz de aliciar. A par de uma original reelaboração do legado modernista, sem dificuldade se reconhece igualmente nos versos de António Gedeão um poeta identificado com o <em>espírito do tempo</em> que presidiu à sua estreia literária. Assim o vemos, numa época dominada pelas filosofias da existência, entregue ao «desespero», a um mal-estar que vem das zonas mais fundas e turvas da consciência de existir. Ou dando expressão aos seus receios perante a «bomba», a capacidade de autodestruição do homem, em tempo de <em>guerra fria</em>. Esse pessimismo casa bem com a condição que é também a sua de herdeiro do ceticismo iluminista: «Os homens nascem maus./ Nós é que havemos de fazê-los bons.» Mas a herança do iluminismo permite-lhe, ao mesmo tempo, alimentar a confiança no homem: «Eu sou o homem. O Homem./ Desço ao mar e subo ao céu./ Não há temores que me domem./ É tudo meu, tudo meu.» Desse mesmo legado é possível aproximar, por outro lado, a <em>sage </em>ironia que o leva, em “Poema do fecho éclair”, a meter a ridículo o poder de um dos grandes do mundo por tudo possuir mas não conhecer um dos mais correntes artefactos do homem moderno, ou, em “Dia de Natal”, a fazer a denúncia do desenfreado consumismo próprio dessa quadra.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Numa fase da evolução da nossa lírica moderna em que já se verificara o alargamento dos domínios da poesia ao que era tido por <em>não poético</em>, uma das grandes novidades que os versos de António Gedeão trazem é a presença, muito marcada, neles da linguagem científica. Homem de ciência, ligado a conceitos e terminologias que preenchem quotidianamente a sua atividade, não separa, na sua poesia, Rómulo de Carvalho do seu <em>alter ego</em> literário António Gedeão. Pelo contrário, chega a fazê-los coexistir num mesmo texto, como acontece na famosa “Lição sobre a água”, em que o leitor colhe a impressão de que é o cientista que fala nas duas primeiras estrofes, para, na estrofe final, ceder a voz ao <em>poeta</em>. De outras vezes, à expressão da indignação do humanista, tantas vezes já gasta pela retórica do panfletarismo, prefere o poeta a austera eficácia da demonstração e da evidência científicas, como na antologiadíssima “Lágrima de preta”. A isto acresce o uso recorrente de termos científicos, respondendo a uma indeclinável necessidade gerada pelos próprios temas, sem que o poeta ponha de parte um dos grandes prazeres que a sua arte lhe reserva, o da nomeação, para o caso incidindo no que é a sua experiência interiorizada de todos os dias de homem de ciência. E aqui é a linguagem poética que se enriquece e as imagens e metáforas que ganham outro fulgor e novos modos de nos surpreender, numa decidida ampliação do campo expressivo, com o recurso a realidades evocadas por termos como, entre muitos outros, «protoplasma», «cisão do átomo», «neutrão», «colódio», «ácidos», «bases», «sais», «cloreto de sódio», «suspensão coloidal», «dissolvente», «aminoácido».</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">No plano da forma da expressão, é possível traçar uma linha evolutiva na poesia de Gedeão, entre o livro de estreia em meados dos anos 50 e a última coletânea, vinda a lume em 1990. Permitir-nos-á ela notar a predominância do metro regular nos livros publicados na década de 50, <em>Movimento Perpétuo </em>e<em> Teatro do Mundo</em>, a adoção de ritmos mais livres embora mantendo-se ainda o uso da rima nos volumes editados nos anos 60, <em>Máquina de Fogo</em> e <em>Linhas de Força</em>, e uma clara opção pelo verso livre não rimado nas duas últimas coletâneas, <em>Poemas Póstumos</em>, de 1983, e <em>Novos Poemas Póstumos</em>, de 1990. Nuns casos a forma escolhida aproxima-se das formas legadas pela tradição, que podem ser as que têm origem na poderosa tradição romancística, como se observa em “Cavalinho, cavalinho” e em “Ai Silvina, ai Silvininha”, ou as que entram num processo de interlocução com a tradição culta, trazendo à memória ora as Barcas vicentinas, em “Fala do homem nascido” ( «Minha barca aparelhada/ solta o pano rumo ao norte;/ meu desejo é passaporte/ para a fronteira fechada./ Não há ventos que não prestem/ nem marés que não convenham,/ nem forças que me molestem,/ correntes que me detenham» ), ora um dos mais glosados poemas de Camões em “Poema da auto-estrada”, aqui por via da distorção paródica ( «Voando vai para a praia/ Leonor na estrada preta./ Vai na brasa de lambreta.» ). Noutros casos, as suas opções formais aproximam-se, já no âmbito da tradição moderna, da combinação de diversos metros tão do agrado dos poetas da <em>presença</em>, ou, como é o caso, nos dois últimos livros, de modo mais nítido, do versilibrismo mais ou menos radical de que o Modernismo fez, em diferentes momentos, um dos seus mais apregoados instrumentos de libertação.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Registe-se ainda a incursão, em 1973, de António Gedeâo pela ficção narrativa em <em>A Poltrona e Outras Novelas</em>, e, em 1963 e 1981, pela literatura dramática, em <em>RTX – 78/24</em> e <em>História Breve da Lua</em>, respetivamente, textos estes que podem ler-se, para além de um conjunto de ensaios literários, em <em>Obra Completa</em>, de 2004.</span></span><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia Sumária</strong></span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><strong>Ativa:</strong></span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Poesia:</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Obra Poética</em>, 2001.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Ficção Narrativa:</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>A Poltrona e Outras Novelas</em>, 1973.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Teatro:</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>RTX – 78/24</em>, 1963.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>História Breve da Lua</em>, 1981.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Obra Completa:</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Obra Completa</em>, 2004. Notas introdutórias de Natália Nunes.</span></span><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><strong>Passiva:</strong></span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Jorge de Sena, “A poesia de António Gedeão ( esboço de análise objetiva )”, com um “Post Scriptum 1968”, a partir da 2ª ed. das <em>Poesias Completas</em>, 1968.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Bibliografia de António Gedeão/ Rómulo de Carvalho, em António Gedeão , <em>51+3 Poems and Other Writings</em> ( trad. de Christopher Auretta e Marya Berry ), org. de A.M. Nunes dos Santos, 1992.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Pedra Filosofal. Rómulo de Carvalho/ António Gedeão</em>, dir. Luísa Corte-Real e Marta Lourenço, 2001.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Natália Nunes, “Notas introdutórias”, <em>Obra Completa</em>, 2004. Inclui alguma bibliografia passiva, no fim do volume.</span></span><br /><br /></div> <span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"> <br /></span> António José Saraiva 2012-12-13T12:55:16+00:00 2012-12-13T12:55:16+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/antonio-jose-saraiva-dp16.html Cláudio Vinagre cvinagre@instituto-camoes.pt <p><span style="color: #333333;"><span style="font-size: 12pt;"><strong>António José Saraiva</strong></span>, por Elisabeta Mariotto</span></p> <table border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"></td> <td><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><img style="border: 1px solid #dcdcdc; margin: 0px; float: left;" title="António José Saraiva" src="images/stories/figurasculturaportuguesa/seculo_xvi/fcp_ajsaraiva.png" alt="António José Saraiva" width="200" height="293" /></span></td> </tr> <tr> <td style="width: 10px; height: 10px;" align="center"></td> <td style="width: 200px; height: 10px; background-color: #d4e9ec;" align="center"> <p><span style="font-size: 8pt; font-family: arial, helvetica, sans-serif; color: #333333;"><em>História e Utopia - Estudos sobre Vieira</em>,&nbsp;</span><span style="font-size: 8pt; font-family: arial, helvetica, sans-serif; color: #333333;">António José Saraiva,&nbsp;</span><span style="font-size: 8pt; font-family: arial, helvetica, sans-serif; color: #333333;">ICALP,&nbsp;</span><span style="font-size: 8pt; font-family: arial, helvetica, sans-serif; color: #333333;">1992.</span></p> </td> </tr> </tbody> </table> <p><span style="color: #333333;">António José Saraiva nasceu a 31 de dezembro de 1917, em Leiria, onde viveu até os quinze anos. Licenciou-se em 1938 e obteve o doutoramento em Filologia Românica, em 1942, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Envolveu-se na oposição ao Salazarismo, chegando a ser militante do Partido Comunista Português. Por apresentar incompatibilidade com o sistema ideológico da época, foi impedido de exercer a atividade de docência no âmbito universitário. Foi professor do liceu em Viana do Castelo de 1946 a 1949, tendo depois sido demitido e preso, fruto ainda da sua oposição ao regime. Em 1960, exilou-se em França, onde foi investigador do <em>Centre National de Recherche Scientifique</em> de Paris, na secção de História Moderna. Posteriormente, partiu para Holanda, onde foi professor catedrático da Universidade de Amesterdão até 1974. Após a Revolução de Abril e o fim do regime Salazarista, voltou a Lisboa, assumindo o cargo de professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade de Lisboa, onde exerceria a atividade de docência até o fim da sua vida. Faleceu em Lisboa a 17 de março de 1993, deixando 24 obras de referência nos domínios da História da Literatura e da História da Cultura portuguesas. Tendo apresentado sempre uma postura contestatária, manifestou, nos seus livros, um olhar crítico sobre a sociedade contemporânea e, principalmente, sobre a cultura portuguesa, seu principal objeto de estudo.</span></p> <p><span style="color: #333333;">António Saraiva procurou estudar a fundo a história de Portugal para poder compreender e caracterizar o perfil psicológico e cultural do povo português. Na sua obra<em> A Cultura em Portugal – Teoria e História</em> (1994), o autor analisou o sentimento de isolamento de Portugal perante a Europa e a influência deste sentimento na construção da identidade cultural portuguesa. Segundo Saraiva, Portugal sentir-se-ia isolado devido à sua posição geográfica, comprimido entre o mar e Espanha, o que levaria os portugueses a sentirem-se como ilhéus, incomunicáveis. Impossibilitados de se relacionar com os vizinhos e de comparar realidades humanas diferentes da sua, os portugueses teriam um desconhecimento dos limites da sua própria realidade. Apresentariam, assim, uma avaliação pouco realista das suas verdadeiras possibilidades, ora inferiorizando-se e refugiando-se numa auto ironia perfurante, ora aventurando-se e desafiando o mundo. De acordo com Saraiva, este facto também pode ser observado na mitificação que, em Portugal, geralmente se faz do estrangeiro, às vezes caracterizando-o como um lugar de delícias e outras vezes como um lugar de perdição.</span></p> <p><span style="color: #333333;">A dualidade que se observa na perceção do estrangeiro e da própria identidade também se manifesta no sentimento tipicamente português chamado "saudade". Segundo Saraiva, a saudade é um tema que tem uma presença saliente e quase obsessiva na língua e na literatura portuguesas e que define um modo de pensar e de sentir tipicamente português. Trata-se de um apego aos sítios e às pessoas que ficaram distantes e que também estaria relacionado a uma necessidade de contemplação do passado, uma busca pela idade de ouro de Portugal.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Partindo dos estudos culturais, António José Saraiva também desenvolveu estudos sobre a língua portuguesa e, principalmente, sobre a história da literatura. Na sua obra <em>Para a história da cultura em Portugal</em> (1972), o autor afirmou que a história da literatura é apenas um degrau da história da cultura, não podendo ser compreendida sem a devida análise da cultura em que ela se insere. Da mesma forma, Saraiva considera que as línguas também se distinguem umas das outras como resultado de uma diferenciação cultural, numa tentativa de construir expressões que possam atribuir significado a realidades únicas e particulares.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Apesar de não ter-se especializado nos temas sobre a Idade Média, sempre interessado nos estudos culturais, Saraiva também escreveu algumas obras sobre a época medieval, como é o caso de <em>Gil Vicente e o Fim do Teatro Medieval</em> (1942), <em>A Épica Medieval Portuguesa</em> (1979), e <em>O Crepúsculo da Idade Média em Portugal</em> (1990).</span></p> <p><span style="color: #333333;">António José Saraiva foi uma personalidade de extrema importância para a história da literatura e da cultura portuguesas. Com ele, a história literária deixou de ser unicamente descritiva para se tornar contextualizada e enquadrada em parâmetros de tempo e espaço concretos.</span></p> <p><br /><strong><span style="color: #333333;">Bibliografia ativa</span></strong></p> <p><span style="color: #333333;">• Calafate, P. (2006).<em> Portugal como problema – Século XX: Os dramas de alternativa</em>. Lisboa : Fundação Luso-Americana.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1972). <em>Para a história da cultura em Portugal</em>. Lisboa : Europa-América.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1994). <em>A Cultura em Portugal – Teoria e História</em>. Lisboa: Gradiva.</span></p> <p><br /><strong><span style="color: #333333;">Bibliografia passiva</span></strong></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1942). <em>Gil Vicente e o Fim do Teatro Medieval</em>. Lisboa.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1956). <em>O Humanismo em Portugal</em>. Lisboa: Europa-América.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1969).<em> Inquisição e Cristãos-Novos</em>. Lisboa : Estampa.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1970). <em>Maio e a Crise da Civilização Burguesa</em>. Lisboa: Europa-América.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1977). <em>Herculano e o Liberalismo em Portugal</em>. Amadora : Bertrand.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1979). <em>A Épica Medieval Portuguesa</em>. Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1990). <em>A Tertúlia Ocidental</em>. Lisboa: Gradiva.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1990). <em>O Crepúsculo da Idade Média em Portugal</em>. Lisboa: Gradiva.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1996). <em>O discurso Engenhoso</em>. Lisboa: Gradiva.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Lopes, O. &amp; Saraiva, A. J. (2001) <em>História da Literatura Portuguesa</em>. Porto: Porto Editora.</span></p> <p><span style="color: #333333;"><span style="font-size: 12pt;"><strong>António José Saraiva</strong></span>, por Elisabeta Mariotto</span></p> <table border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"></td> <td><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><img style="border: 1px solid #dcdcdc; margin: 0px; float: left;" title="António José Saraiva" src="images/stories/figurasculturaportuguesa/seculo_xvi/fcp_ajsaraiva.png" alt="António José Saraiva" width="200" height="293" /></span></td> </tr> <tr> <td style="width: 10px; height: 10px;" align="center"></td> <td style="width: 200px; height: 10px; background-color: #d4e9ec;" align="center"> <p><span style="font-size: 8pt; font-family: arial, helvetica, sans-serif; color: #333333;"><em>História e Utopia - Estudos sobre Vieira</em>,&nbsp;</span><span style="font-size: 8pt; font-family: arial, helvetica, sans-serif; color: #333333;">António José Saraiva,&nbsp;</span><span style="font-size: 8pt; font-family: arial, helvetica, sans-serif; color: #333333;">ICALP,&nbsp;</span><span style="font-size: 8pt; font-family: arial, helvetica, sans-serif; color: #333333;">1992.</span></p> </td> </tr> </tbody> </table> <p><span style="color: #333333;">António José Saraiva nasceu a 31 de dezembro de 1917, em Leiria, onde viveu até os quinze anos. Licenciou-se em 1938 e obteve o doutoramento em Filologia Românica, em 1942, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Envolveu-se na oposição ao Salazarismo, chegando a ser militante do Partido Comunista Português. Por apresentar incompatibilidade com o sistema ideológico da época, foi impedido de exercer a atividade de docência no âmbito universitário. Foi professor do liceu em Viana do Castelo de 1946 a 1949, tendo depois sido demitido e preso, fruto ainda da sua oposição ao regime. Em 1960, exilou-se em França, onde foi investigador do <em>Centre National de Recherche Scientifique</em> de Paris, na secção de História Moderna. Posteriormente, partiu para Holanda, onde foi professor catedrático da Universidade de Amesterdão até 1974. Após a Revolução de Abril e o fim do regime Salazarista, voltou a Lisboa, assumindo o cargo de professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade de Lisboa, onde exerceria a atividade de docência até o fim da sua vida. Faleceu em Lisboa a 17 de março de 1993, deixando 24 obras de referência nos domínios da História da Literatura e da História da Cultura portuguesas. Tendo apresentado sempre uma postura contestatária, manifestou, nos seus livros, um olhar crítico sobre a sociedade contemporânea e, principalmente, sobre a cultura portuguesa, seu principal objeto de estudo.</span></p> <p><span style="color: #333333;">António Saraiva procurou estudar a fundo a história de Portugal para poder compreender e caracterizar o perfil psicológico e cultural do povo português. Na sua obra<em> A Cultura em Portugal – Teoria e História</em> (1994), o autor analisou o sentimento de isolamento de Portugal perante a Europa e a influência deste sentimento na construção da identidade cultural portuguesa. Segundo Saraiva, Portugal sentir-se-ia isolado devido à sua posição geográfica, comprimido entre o mar e Espanha, o que levaria os portugueses a sentirem-se como ilhéus, incomunicáveis. Impossibilitados de se relacionar com os vizinhos e de comparar realidades humanas diferentes da sua, os portugueses teriam um desconhecimento dos limites da sua própria realidade. Apresentariam, assim, uma avaliação pouco realista das suas verdadeiras possibilidades, ora inferiorizando-se e refugiando-se numa auto ironia perfurante, ora aventurando-se e desafiando o mundo. De acordo com Saraiva, este facto também pode ser observado na mitificação que, em Portugal, geralmente se faz do estrangeiro, às vezes caracterizando-o como um lugar de delícias e outras vezes como um lugar de perdição.</span></p> <p><span style="color: #333333;">A dualidade que se observa na perceção do estrangeiro e da própria identidade também se manifesta no sentimento tipicamente português chamado "saudade". Segundo Saraiva, a saudade é um tema que tem uma presença saliente e quase obsessiva na língua e na literatura portuguesas e que define um modo de pensar e de sentir tipicamente português. Trata-se de um apego aos sítios e às pessoas que ficaram distantes e que também estaria relacionado a uma necessidade de contemplação do passado, uma busca pela idade de ouro de Portugal.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Partindo dos estudos culturais, António José Saraiva também desenvolveu estudos sobre a língua portuguesa e, principalmente, sobre a história da literatura. Na sua obra <em>Para a história da cultura em Portugal</em> (1972), o autor afirmou que a história da literatura é apenas um degrau da história da cultura, não podendo ser compreendida sem a devida análise da cultura em que ela se insere. Da mesma forma, Saraiva considera que as línguas também se distinguem umas das outras como resultado de uma diferenciação cultural, numa tentativa de construir expressões que possam atribuir significado a realidades únicas e particulares.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Apesar de não ter-se especializado nos temas sobre a Idade Média, sempre interessado nos estudos culturais, Saraiva também escreveu algumas obras sobre a época medieval, como é o caso de <em>Gil Vicente e o Fim do Teatro Medieval</em> (1942), <em>A Épica Medieval Portuguesa</em> (1979), e <em>O Crepúsculo da Idade Média em Portugal</em> (1990).</span></p> <p><span style="color: #333333;">António José Saraiva foi uma personalidade de extrema importância para a história da literatura e da cultura portuguesas. Com ele, a história literária deixou de ser unicamente descritiva para se tornar contextualizada e enquadrada em parâmetros de tempo e espaço concretos.</span></p> <p><br /><strong><span style="color: #333333;">Bibliografia ativa</span></strong></p> <p><span style="color: #333333;">• Calafate, P. (2006).<em> Portugal como problema – Século XX: Os dramas de alternativa</em>. Lisboa : Fundação Luso-Americana.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1972). <em>Para a história da cultura em Portugal</em>. Lisboa : Europa-América.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1994). <em>A Cultura em Portugal – Teoria e História</em>. Lisboa: Gradiva.</span></p> <p><br /><strong><span style="color: #333333;">Bibliografia passiva</span></strong></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1942). <em>Gil Vicente e o Fim do Teatro Medieval</em>. Lisboa.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1956). <em>O Humanismo em Portugal</em>. Lisboa: Europa-América.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1969).<em> Inquisição e Cristãos-Novos</em>. Lisboa : Estampa.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1970). <em>Maio e a Crise da Civilização Burguesa</em>. Lisboa: Europa-América.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1977). <em>Herculano e o Liberalismo em Portugal</em>. Amadora : Bertrand.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1979). <em>A Épica Medieval Portuguesa</em>. Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1990). <em>A Tertúlia Ocidental</em>. Lisboa: Gradiva.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1990). <em>O Crepúsculo da Idade Média em Portugal</em>. Lisboa: Gradiva.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Saraiva, A. J. (1996). <em>O discurso Engenhoso</em>. Lisboa: Gradiva.</span></p> <p><span style="color: #333333;">• Lopes, O. &amp; Saraiva, A. J. (2001) <em>História da Literatura Portuguesa</em>. Porto: Porto Editora.</span></p> Aquilino Ribeiro 2011-03-02T16:57:44+00:00 2011-03-02T16:57:44+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/aquilino-ribeiro-39117-dp21.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Aquilino Ribeiro</strong>, por Serafina Martins</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Aquilino Ribeiro" alt="Aquilino Ribeiro" src="figuras/aquilinoribeiro/aquilinoribeiro01.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">"Alcança quem não cansa", diz o <em>ex-libris</em> de Aquilino Ribeiro. Não poderia ter escolhido melhor este escritor, que se designava a si próprio como um "obreiro das letras" e que trabalhou incansavelmente quase até ao dia da sua morte, chegada a 27 de maio de 1963; foi pouco depois de uma viagem ao Porto; aí ocorrera mais uma das muitas homenagens com as quais nesse ano, precisamente, o país consciente (e temerário) prestava tributo aos cinquenta anos de trabalho do "mestre", cuja arte de ficcionista, descontando alguma prosa de folhetim, começara a vir a lume em 1913, com a publicação do volume de contos <em>Jardim das Tormentas</em>.<br /></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Nascido a 13 de setembro de 1885 no concelho de Sernancelhe, freguesia de Carregal de Tabosa (uma lápide assinala a casa onde se julga que nasceu), filho de Mariana do Rosário Gomes e do padre Joaquim Francisco Ribeiro, tem uma infância, ao que se sabe, de miúdo um pouco mais que travesso, a tal ponto que ainda hoje é possível encontrar na zona quem tenha ouvido contar histórias picarescas de um menino destinado pela família à vida de sacerdócio. A sua ida para o Colégio da Senhora da Lapa, em 1895, seria o início de um percurso que o leva seguidamente para Lamego, mais tarde para Viseu (ano de 1902), onde vai estudar Filosofia, e, pouco tempo depois, para o Seminário de Beja, frequentado, ao que consta, pelos ordenandos mais recalcitrantes. Em 1904 é expulso do seminário, depois de ter dado uma réplica cortante a uma acusação do Padre Manuel Ançã, um dos dois irmãos que ao tempo dirigiam a instituição.<br /> <br /> </span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="left" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Um escritor confessa-se" alt="Um escritor confessa-se" src="figuras/aquilinoribeiro/aquilinoribeiro02m.jpg" height="171" width="134" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Registos deste tempo juvenil encontramo-los ficcionados em <em>A Via Sinuosa</em>, no díptico <em>Cinco Réis de Gente</em> e <em>Uma Luz ao Longe</em>, com o decurso da ação, neste último título, no Colégio da Lapa, e sob a forma de memórias em <em>Um Escritor Confessa-se</em>, publicado postumamente. Neste volume, contudo, encontramos fundamentalmente relatos de um tempo tão empenhado politicamente como aventuroso, do qual há também relato ficcional no romance <em>Lápides Partidas</em>, que prossegue a história de <em>A Via Sinuosa</em>. É o tempo que, pese embora algumas intermitências, Aquilino Ribeiro passa em Lisboa, chegado em 1906; aí, divide-se pela escrita, com artigos de opinião publicados em jornais como <em>A Vanguarda</em>, jornal republicano, pela tradução (<em>traduz Il Santo</em>, de Fogazzaro) ou pela redação, em parceria com José Ferreira da Silva, do folhetim <em>A Filha do Jardineiro</em>, uma ficção ao mesmo tempo de propaganda republicana e de crítica corrosiva às figuras do regime monárquico, a começar por D. Carlos.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Verdadeiro "homem de ação", um tipo social que o princípio do século XX muito exaltou, adere por completo às movimentações republicanas, quer através de um posicionamento pela escrita, quer através da participação em atividades que acabam por levá-lo à cadeia. De facto, no ano de 1907, o rebentamento de caixotes de explosivos guardados na sua casa leva à morte de dois correligionários e a que seja encarcerado na esquadra do Caminho Novo, de onde se evade em situações rocambolescas, como se pode ler no volume de memórias antes mencionado. Depois de alguns meses de clandestinidade em Lisboa, segue para Paris; aqui inscreve-se no curso de Filosofia da Sorbonne, onde tem a oportunidade de receber a lição de mestres como George Dumas, André Lalande, Levy Bruhl, Durckeim, e onde contacta com a intelectualidade portuguesa que, também por motivos políticos, se via forçada a viver fora de Portugal.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Jardim das Tormentas" alt="Jardim das Tormentas" src="figuras/aquilinoribeiro/aquilinoribeiro03m.jpg" height="172" width="113" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">O curso, a política, os projetos editoriais que vai desenvolvendo com os companheiros de exílio (parte destas circunstâncias vêm relatadas em <em>Leal da Câmara</em>, uma biografia deste pintor), as crónicas que envia para Portugal, para publicação, nomeadamente na <em>Ilustração Portuguesa</em> e no jornal <em>A Beira</em>, a observação, as pesquisas de bibliófilo ainda lhe deixam tempo para escrever, na biblioteca da Sainte Geneviève, perto da Sorbonne, o volume de contos <em>Jardim das Tormentas</em>. Também em Paris, conhece Grete Tiedemann, sua primeira mulher e mãe do filho mais velho. No dealbar da guerra mundial, é forçado pelas circunstâncias a regressar ao seu país com a família (volta em 1914); a vida parisiense dos tempos que antecedem o advento do conflito vem relatada no volume diarístico <em>É a Guerra</em>, no qual ganha proeminência a crítica àquele que era na altura o ministro da Legação de Portugal em Paris, João Chagas. Fica incompleto o curso de Filosofia, que deixa para trás já depois de se ter matriculado no quarto ano, como se pode ver em registos guardados no Centre d'Accueil et de Recherche des Archives Nationales (Paris).<br /><br />Já em Portugal, ocupam-no, para além da escrita ficcional e da escrita cronística para a imprensa periódica (uma atividade que desenvolverá com enorme regularidade ao longo de toda a sua vida), o trabalho de professor no Liceu Camões, onde fica durante três anos, e, posteriormente, o cargo de segundo bibliotecário na Biblioteca Nacional, para onde entra a convite de Raul Proença. Este posto, entre outras vantagens, dá-lhe a possibilidade de alimentar o seu gosto de bibliófilo pelo livro antigo, raro, um gosto que o levará produzir trabalhos de índole investigativa, publicados, por exemplo, nos <em>Anais das Bibliotecas e Arquivos</em>, e que transparece também na produção romanesca (veja-se <em>A Via Sinuosa</em>, o seu primeiro romance). Além disso, com colegas de trabalho - um "grupo de intelectuais altamente representativo da mentalidade do tempo", como escreveu Manuel Mendes - continua a desenvolver uma atividade cívica que vai ter a sua expressão mais visível na revista <em>Seara Nova</em>, publicação preponderante quer na difusão dos ideais republicanos (sociais e educativos, nomeadamente), quer mesmo no evoluir da conturbada vida política da 1.ª República.<br /><br />A sua faceta de "homem de ação", como já se viu, deu frutos ainda nos anos finais da monarquia (ainda hoje há quem se interrogue se no dia do regicídio Aquilino terá sido a "terceira carabina do Terreiro do Paço", para usar uma expressão de Batista Bastos) e torna vincadamente a manifestar-se com a sua participação, em 1927, na revolta frustrada contra a ditadura militar sequente ao golpe de 28 de maio de 1926, sendo por isso obrigado a refugiar-se em Paris. De regresso a Portugal, volta a participar numa ação antirregime (no chamado movimento do regimento de Pinhel), mas é capturado e levado para a prisão do Fontelo, em Viseu (um edifício que ainda hoje se pode ver nesta cidade). Foge também desta vez, esconde-se pelas serranias beirãs e enceta uma difícil jornada que de novo o levará até Paris; destas experiências de ativista político aproveitará também o escritor, no enredo, por exemplo, de <em>O Arcanjo Negro</em> (redigido em 1939-40, mas, devido a problemas com a censura, publicado apenas em 1947) ou de <em>O Homem que Matou o Diabo</em>. Sublinhe-se que na década de 20 publicara duas obras que, a par de <em>Terras do Demo</em> e de <em>A Casa Grande de Romarigães</em>, constituem dois dos seus textos mais emblemáticos: o picaresco <em>Malhadinhas</em>, primeiro inserido no volume de novelas <em>Estrada de Santiago</em>, depois em edição independente, e o extraordinário <em>Andam Faunos pelos Bosques</em>, uma sátira genial, mas tolerante ao conservadorismo cristão e um hino ao amor livre, consagrado tanto pelo anarquismo (que Aquilino chegou a abraçar mais do que intelectualmente) como pela palavra bíblica de Antigo Testamento, ponto de retorno constante do seu pensamento dúctil e cultivadíssimo.<br /> <br /> </span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="left" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Fotografia de Aquilino Ribeiro" alt="Fotografia de Aquilino Ribeiro" src="figuras/aquilinoribeiro/aquilinoribeiro04.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">O tempo de exílio termina em 1932, ano em que regressa ainda clandestinamente a Portugal; tinha entretanto casado em segundas núpcias (a primeira mulher morrera no ano de 1927) com Jerónima Dantas Machado, filha de Bernardino Machado, o presidente da República deposto por Sidónio Pais. O único filho do casal, segundo de Aquilino, nasce em 1930, ainda fora do país. Também em 1932, é aministiado (tinha sido julgado e condenado à revelia em 1929), o que lhe permite regressar à capital (fixando-se, mais precisamente, na Cruz Quebrada); acalmados, de um lado, os génios conspirativos e, de outro lado, os génios persecutórios, tem a possibilidade de se dedicar plenamente à escrita, continuando a produção ficcional, o trabalho de tradução, o trabalho ensaístico (<em>lato sensu</em>) e a colaboração na imprensa periódica. Em 1933, o conjunto de novelas <em>As Três Mulheres de Sansão</em> recebe o Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa, e em 1935 é eleito sócio correspondente desta instituição, da qual se tornará sócio efetivo em 1957.<br /><br />No entanto, mais do que o reconhecimento oficial, são a sua grandeza de escritor e também a temeridade política que o tornam merecedor do epíteto de mestre; têm o seu quê de lendário as idas ao Chiado, ao fim da tarde, para tertúlias à porta da Bertrand, a sua editora. Não tendo nunca abdicado da originalidade, um dos seus grandes valores estéticos, acabou por não alinhar com nenhum dos movimentos literários de que foi contemporâneo, do modernismo (em cartas de Fernando Pessoa ficamos a saber que era apreciado por este poeta), ao presencismo, que não o poupou a críticas (vindas, muitas delas, de José Régio e publicadas nas páginas da <em>Presença</em>), ao neorrealismo, embora críticos literários desta última corrente tivessem apreciado algumas das suas à luz desta doutrina, que nunca foi a do escritor. Não abdicou também da consciência política e cívica que, como vimos, o animou desde a juventude. Embora, findo o último período de exílio, se tenha dedicado afincadamente à escrita, continuou a participar em ações críticas da ditadura salazarista. Aderiu ao MUD (Movimento de Unidade Democrática) e empenhou-se na defesa e difusão da causa, por exemplo, em textos publicados na imprensa diária, em 1948-49 apoiou a campanha presidencial de Norton de Matos, integrou, com outras figuras do saber, a Comissão Promotora do Voto, militou na candidatura de Humberto Delgado à presidência da República, no ano de 1958.<br /><br />A este ativismo político, há que juntar a tenacidade com que, durante mais de duas décadas, promoveu uma agregação formal e institucionalizada dos escritores até conseguir criar, unido a alguns contemporâneos, a Sociedade Portuguesa de Escritores, de que foi fundador e presidente, isto no ano de 1956. O tempo não lhe subtrai o prestígio de grande figura da escrita, reconhecido dentro e fora de de Portugal. Atestam esse prestígio factos como a apresentação da sua candidatura ao Nobel, proposta por Francisco Vieira de Almeida e subscrita por José Cardoso Pires, David Mourão-Ferreira, Urbano Tavares Rodrigues, José Gomes Ferreira, Maria Judite de Carvalho, Joel Serrão, Mário Soares, Vitorino Nemésio, Abel Manta, Alves Redol, Luísa Dacosta, Vergílio Ferreira, entre muitos outros. Atestam-no também as homenagens que recebe no Brasil, país aonde se desloca, por motivos pessoais, no ano de 1952. Atesta-o sobremaneira o extraordinário movimento que se desenvolveu em sua defesa depois da publicação do romance <em>Quando os Lobos Uivam</em>, em 1958, considerado pelo regime como injurioso das instituições de poder e levando à instauração de um processo crime contra o escritor. Para além da defesa formal, levada a cabo pelo advogado Heliodoro Caldeira, Aquilino tem o apoio de cerca de 300 intelectuais portugueses que se juntam num abaixo-assinado pedindo o arquivamento do processo; fora de Portugal, François Mauriac redige uma petição em defesa de Aquilino, assinada, nomeadamente, por Louis Aragon e André Maurois e publicada em vários jornais e revistas franceses. O processo crime acaba por ser arquivado cerca de vinte meses depois da sua instauração, na sequência de uma amnistia.<br /> <br /> </span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Fotografia Aquilino Ribeiro 2" alt="Fotografia Aquilino Ribeiro 2" src="figuras/aquilinoribeiro/aquilinoribeiro05.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Embora sem se fazer completamente justiça, encerrava-se uma ação injuriosa dirigida contra alguém que foi e será sempre um dos nomes maiores das nossas letras, que trouxe à língua uma plasticidade impressionante combinando o rústico com o erudito, que foi um observador atento das 'grandezas e misérias' do género humano, que criou uma galeria de personagens passando pelo campesino beirão, pelo pequeno-burguês de província, pelo cosmopolita, pelo idealista, pelo obcecado, pelo asceta e pelo sibarita, pela mulher tentadora e pela virgem solícita e generosamente disponível...alguém que, enfim, por via da reflexão, saber, trabalho, estudo, deixou para os séculos uma visão exaltante da existência, mas temperada pela melancolia de quem não esquece a inevitável efemeridade de todas as coisas. "Mais não pude", pretendeu Aquilino que fosse o seu epitáfio.<br /><br /><br /><br /><strong>Bibliografia ativa</strong><br /><br />As indicações quanto a géneros e conteúdos seguem, sempre que possível, o que consta nos volumes a seguir mencionados.<br /><br />1915 - <em>Jardim das Tormentas </em>(contos).<br /><br />1918 - <em>A Via Sinuosa </em>(romance).<br /><br />1919 - <em>Terras do Demo</em> (romance).<br /><br />1920 - <em>Filhas de Babilónia </em>(novelas).<br /><br />1922 - <em>Estrada de Santiago </em>(novelas); incluía <em>O Malhadinhas</em>.<br /><br />1922 - <em>Recreação Periódica</em> (tradução de Amusement Périodique, do Cavaleiro de Oliveira).<br /><br />1924 - <em>Romance da Raposa </em>(romancinho infantil).<br /><br />1926 - <em>Andam Faunos pelos Bosques </em>(romance).<br /><br />1930 - <em>O Homem que Matou o Diabo </em>(romance).<br /><br />1931 - <em>Batalha sem Fim</em> (romance).<br /><br />1932 - <em>As Três Mulheres de Sansão </em>(novelas).<br /><br />1933 - <em>Maria Benigna</em> (romance).<br /><br />1934 - <em>É a Guerra</em> (diário).<br /><br />1935 - <em>Alemanha Ensanguentada</em> (caderno dum viajante).<br /><br />1935 - <em>Quando ao Gavião Cai a Pena </em>(contos).<br /><br />1936 - <em>O Galante Século XVIII</em> (compilação e tradução de textos do Cavaleiro de Oliveira).<br /><br />1936 - <em>Anastácio da Cunha, o Lente Penitenciado </em>(vida e obra). <br /><br />1936 - <em>Arca de Noé III Classe</em> (contos para as crianças).<br /><br />1936 - <em>Aventura Maravilhosa de D. Sebastião</em> (romance).<br /><br />1937 - <em>S. Banaboião Anacoreta e Mártir</em> (romance).<br /><br />1938 - <em>A Retirada dos Dez Mil </em>(tradução da Anábase, de Xenofonte).<br /><br />1939 - <em>Mónica</em> (romance).<br /><br />1939 - <em>Por Obra e Graça</em> (estudos).<br /><br />1940 - <em>Oeiras</em> (monografia).<br /><br />1940 - <em>Em Prol de Aristóteles</em> (tradução do texto latino de André de Gouveia).<br /><br />1940 - <em>O Servo de Deus e a Casa Roubada </em>(novelas).<br /><br />1942 - <em>Os Avós dos Nossos Avós</em> (história).<br /><br />1943 - <em>Volfrâmio</em> (romance).<br /><br />1945 - <em>Lápides Partidas </em>(romance).<br /><br />1945 - <em>O Livro do Menino Deus </em>(o Natal na história religiosa e na etnografia).<br /><br />1946 - <em>Aldeia</em> (terra, gente e bichos).<br /><br />1947 - <em>O Arcanjo Negro </em>(romance).<br /><br />1947 - <em>Caminhos Errados</em> (novelas).<br /><br />1947 <em>- Constantino de Bragança, VII Vizo-Rei da Índia </em>(história).<br /><br />1948 - <em>Cinco Réis de Gente</em> (romance).<br /><br />1948 - <em>Uma Luz ao Longe </em>(romance).<br /><br />1949 - <em>Camões, Camilo, Eça e Alguns Mais</em> (estudos de crítica histórico-literária).<br /><br />1949 - <em>O Malhadinhas</em> (edição autónoma).<br /><br />1950 - <em>Luís de Camões, Fabuloso, Verdadeiro</em> (ensaio).<br /><br />1951 - <em>Geografia Sentimental</em> (história, paisagem, folclore).<br /><br />1951 - <em>Portugueses das Sete Partidas</em> (viajantes, aventureiros, troca-tintas).<br /><br />1952 - <em>Leal da Câmara</em> (vida e obra).<br /><br />1952 - <em>O Príncipe Perfeito</em> (tradução da obra Kirou Paideia, de Xenofonte).<br /><br />1952 - <em>Príncipes de Portugal. Suas grandezas e misérias </em>(história).<br /><br />1953 - <em>Arcas Encoiradas</em> (estudos, opiniões, fantasias).<br /><br />1954 - <em>O Homem da Nave </em>(serranos, caçadores e fauna vária).<br /><br />1954 - <em>Humildade Gloriosa </em>(romance).<br /><br />1955 - <em>Abóboras no Telhado </em>(crónica e polémica).<br /><br />1957 - <em>A Casa Grande de Romarigães </em>(crónica romanceada).<br /><br />1957 - <em>O Romance de Camilo </em>(biografia e crítica).<br /><br />1958 - <em>Quando os Lobos Uivam </em>(romance).<br /><br />1959 - <em>Dom Frei Bertolameu. As três desgraças teologais </em>(legenda).<br /><br />1959 - <em>D. Quixote de la Mancha </em>(versão da obra de Cervantes).<br /><br />1959 - <em>Novelas Exemplares</em> (versão da obra de Cervantes).<br /><br />1960 - <em>No Cavalo de Pau com Sancho Pança </em>(ensaio).<br /><br />1960 - <em>De Meca a Freixo de Espada à Cinta</em> (ensaios ocasionais).<br /><br />1963 - <em>Tombo no Inferno. O Manto de Nossa Senhora </em>(teatro).<br /><br />1963 - <em>Casa do Escorpião</em> (novelas).<br /><br />1967 - <em>O Livro de Marianinha </em>(lengalengas e toadilhas em prosa rimada).<br /><br />1974 - <em>Um Escritor Confessa-se </em>(memórias).<br /><br />1988 - <em>Páginas do Exílio. Cartas e crónicas de Paris </em>(recolha de textos e organização de Jorge Reis).<br /><br /><br /><b>Obras traduzidas (apuradas)<br /></b><br /><em>A Casa Grande de Romarigães </em>(para castelhano - edição em Cuba -, romeno e francês - com várias edições)<br /><br /><em>Quando os Lobos Uivam</em> (para alemão e inglês)<br /><br /><em>A Via Sinuosa</em> (para francês)<br /><br /><br /><b>Bibliografia passiva (seleção)<br /></b><br />AA.VV., <em>Retratos para Aquilino</em>, Câmara Municipal de Paredes de Coura, 2000.<br /><br />ALMEIDA, Henrique, <em>Aquilino Ribeiro e a Crítica</em>, Porto, Edições Asa, 1993.<br /><br />ALMEIDA, Henrique, <em>Aquilino Ribeiro: Entre Jornalismo e Literatura - Conformação e canonização da escrita aquiliniana</em>, dissertação de doutoramento, Viseu, 2001.<br /><br />BIBLIOTECA NACIONAL (ed.), <em>Aquilino Ribeiro (1885-1963)</em>. Catálogo da exposição comemorativa do primeiro centenário do nascimento, Lisboa, 1985.<br /><br />BRITO, Ferreira de, <em>Aquilino Ribeiro e a Obsessão do Sagrado</em>, Lamego, Museu de Lamego, 1985.<br /><br />CAMILO, João, "À procura da pureza original? Uma leitura de Terras do Demo", <em>Arquivos do Centro Cultural Português</em>, XVI, 1979, pp. 543-572.<br /><br />CARMO, Carina Infante do, <em>Adolescer em Clausura. Olhares de Aquilino, Régio e Vergílio Ferreira sobre o romance de internato</em>, Faro-Viseu, Universidade do Algarve-Centro de Estudos Aquilino Ribeiro, 1998.<br /><br />CENTRO DE ESTUDOS AQUILINO RIBEIRO (ed.), <em>Cadernos Aquilinianos</em> (publicação periódica dedicada exclusivamente a Aquilino Ribeiro e à sua obra; o n.º 1 publicou-se em 1992).<br /><br />CHAVES, José Castelo Branco, <em>Aquilino Ribeiro</em>, Lisboa, Seara Nova, 1935.<br /><br />COELHO, Nelly Novaes, <em>Aquilino Ribeiro - Jardim das Tormentas: Génese da Ficção Aquiliniana</em>, São Paulo, Edições Quíron, 1973.<br /><br />FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN (ed.), <em>Arquivos do Centro Cultural Português</em>, XXI, 1985 (vários artigos sobre Aquilino Ribeiro).<br /><br />FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN (ed.), <em>Colóquio-Letras</em>, 85, 1985 (vários artigos sobre Aquilino Ribeiro).<br /><br />FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN (ed.), <em>Colóquio-Letras</em>, 115-116, 1990 (vários artigos sobre Aquilino Ribeiro).<br /><br />FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN - Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas (ed.), "Aquilino Ribeiro", <em>Boletim Cultural</em>, VIª série, 5, 1985.<br /><br />GARCIA, Frederick C. Hesse, <em>Aquilino Ribeiro: Um Almocreve na Estrada de Santiago</em>, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1981.<br /><br />GOMES, Elviro da Rocha, <em>Glossário Sucinto para Melhor Compreensão de Aquilino Ribeiro</em>, Porto, Porto Editora, 1960.<br /><br />LOPES, Óscar, "Quatro marcos literários: Fialho, Raul Brandão, Aquilino, Ferreira de Castro", Barreto, Costa (org.), <em>Estrada Larga</em>, 1, Porto, Porto Editora, [1958], pp. 498-504.<br /><br />LOPES, Óscar, "Aquilino Ribeiro: alguns livros e uma panorâmica", <em>Cinco Personalidades Literárias</em>, Porto, ed. do autor, 1961, pp. 25-48.<br /><br />LOPES, Óscar, "Aquilino: uma cota na história da literatura - três alocuções sobre Aquilino", <em>Ler e Depois</em>, Porto, Inova, 1970, pp. 285-309.<br /><br />LOPES, Óscar, <em>Entre Fialho e Nemésio. Estudos de literatura portuguesa contemporânea</em>, I, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1987, pp. 369-398.<br /><br />LOPES, Óscar, "Aquilino Ribeiro", <em>Cifras do Tempo</em>, Lisboa, Caminho, 1990, pp. 169-197.<br /><br />LOURENÇO, Eduardo, "Aquilino ou Eros e Cristo", <em>O Canto do Signo. Existência e literatura</em>, Lisboa, Editorial Presença, 1994, pp. 227-237.<br /><br />MALPIQUE, Cruz, <em>Aquilino. O homem e o escritor</em>. Porto, Divulgação, 1964.<br /><br />MARTINS, Serafina, <em>Saber Viver para Saber Morrer: A Imagem Ficcional do Amor em Aquilino Ribeiro</em>, dissertação de doutoramento, Lisboa, 1999 (policopiada).<br /><br />MATEUS, Isabel Cristina de Brito Pinto, <em>História e Ficção Histórica em Aquilino Ribeiro: A Casa Grande de Romarigães</em>, trabalho para prestação de provas de aptidão pedagógica, Braga, 1989 (policopiado).<br /><br />MENDES, Manuel (coord.), <em>Aquilino Ribeiro</em>, Lisboa, Arcádia, 1960.<br /><br />MOURÃO-FERREIRA, David, "Aquilino Ribeiro", <em>Sob o Mesmo Teto</em>. Estudos sobre autores de língua portuguesa, Lisboa, Editorial Presença, 1989, pp. 101-132.<br /><br />REIS, Jorge, <em>Aquilino em Paris</em>, Lisboa, Vega, s.d.<br /><br />RODRIGUES, Urbano Tavares, <em>A Horas e Desoras</em>, Lisboa, Edições Colibri, 1993 (vários ensaios sobre Aquilino Ribeiro).<br /><br />SEIXO, Maria Alzira, <em>A Palavra do Romance. Ensaios de genologia e análise</em>, Lisboa, Livros Horizonte, 1986 (dois ensaios sobre Aquilino Ribeiro).<br /><br />SERRÃO, Joel, "De Eça de Queirós a Aquilino Ribeiro - Uma sondagem histórica através do romance", <em>Temas Oitocentistas</em>, II, Lisboa, Portugália Editora, 1962, pp. 69-109.<br /><br />VASCONCELOS, Taborda de, <em>Aquilino Ribeiro</em>, Lisboa, Editorial Presença, 1965.<br /><br />VELOSO, Rui, <em>A Obra de Aquilino Ribeiro para Crianças: Imaginário e Escrita</em>, Porto, Porto Editora, 1994.<br /><br />VIDIGAL, Luís, <em>O Jovem Aquilino Ribeiro</em>, Lisboa, Livros Horizonte, 1986.<br /><br />VIDIGAL, Luís, <em>Imaginários Portugueses</em>, Viseu, Centro de Estudos Aquilino Ribeiro, 1992.</span> <br /></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Aquilino Ribeiro</strong>, por Serafina Martins</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Aquilino Ribeiro" alt="Aquilino Ribeiro" src="figuras/aquilinoribeiro/aquilinoribeiro01.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">"Alcança quem não cansa", diz o <em>ex-libris</em> de Aquilino Ribeiro. Não poderia ter escolhido melhor este escritor, que se designava a si próprio como um "obreiro das letras" e que trabalhou incansavelmente quase até ao dia da sua morte, chegada a 27 de maio de 1963; foi pouco depois de uma viagem ao Porto; aí ocorrera mais uma das muitas homenagens com as quais nesse ano, precisamente, o país consciente (e temerário) prestava tributo aos cinquenta anos de trabalho do "mestre", cuja arte de ficcionista, descontando alguma prosa de folhetim, começara a vir a lume em 1913, com a publicação do volume de contos <em>Jardim das Tormentas</em>.<br /></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Nascido a 13 de setembro de 1885 no concelho de Sernancelhe, freguesia de Carregal de Tabosa (uma lápide assinala a casa onde se julga que nasceu), filho de Mariana do Rosário Gomes e do padre Joaquim Francisco Ribeiro, tem uma infância, ao que se sabe, de miúdo um pouco mais que travesso, a tal ponto que ainda hoje é possível encontrar na zona quem tenha ouvido contar histórias picarescas de um menino destinado pela família à vida de sacerdócio. A sua ida para o Colégio da Senhora da Lapa, em 1895, seria o início de um percurso que o leva seguidamente para Lamego, mais tarde para Viseu (ano de 1902), onde vai estudar Filosofia, e, pouco tempo depois, para o Seminário de Beja, frequentado, ao que consta, pelos ordenandos mais recalcitrantes. Em 1904 é expulso do seminário, depois de ter dado uma réplica cortante a uma acusação do Padre Manuel Ançã, um dos dois irmãos que ao tempo dirigiam a instituição.<br /> <br /> </span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="left" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Um escritor confessa-se" alt="Um escritor confessa-se" src="figuras/aquilinoribeiro/aquilinoribeiro02m.jpg" height="171" width="134" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Registos deste tempo juvenil encontramo-los ficcionados em <em>A Via Sinuosa</em>, no díptico <em>Cinco Réis de Gente</em> e <em>Uma Luz ao Longe</em>, com o decurso da ação, neste último título, no Colégio da Lapa, e sob a forma de memórias em <em>Um Escritor Confessa-se</em>, publicado postumamente. Neste volume, contudo, encontramos fundamentalmente relatos de um tempo tão empenhado politicamente como aventuroso, do qual há também relato ficcional no romance <em>Lápides Partidas</em>, que prossegue a história de <em>A Via Sinuosa</em>. É o tempo que, pese embora algumas intermitências, Aquilino Ribeiro passa em Lisboa, chegado em 1906; aí, divide-se pela escrita, com artigos de opinião publicados em jornais como <em>A Vanguarda</em>, jornal republicano, pela tradução (<em>traduz Il Santo</em>, de Fogazzaro) ou pela redação, em parceria com José Ferreira da Silva, do folhetim <em>A Filha do Jardineiro</em>, uma ficção ao mesmo tempo de propaganda republicana e de crítica corrosiva às figuras do regime monárquico, a começar por D. Carlos.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Verdadeiro "homem de ação", um tipo social que o princípio do século XX muito exaltou, adere por completo às movimentações republicanas, quer através de um posicionamento pela escrita, quer através da participação em atividades que acabam por levá-lo à cadeia. De facto, no ano de 1907, o rebentamento de caixotes de explosivos guardados na sua casa leva à morte de dois correligionários e a que seja encarcerado na esquadra do Caminho Novo, de onde se evade em situações rocambolescas, como se pode ler no volume de memórias antes mencionado. Depois de alguns meses de clandestinidade em Lisboa, segue para Paris; aqui inscreve-se no curso de Filosofia da Sorbonne, onde tem a oportunidade de receber a lição de mestres como George Dumas, André Lalande, Levy Bruhl, Durckeim, e onde contacta com a intelectualidade portuguesa que, também por motivos políticos, se via forçada a viver fora de Portugal.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Jardim das Tormentas" alt="Jardim das Tormentas" src="figuras/aquilinoribeiro/aquilinoribeiro03m.jpg" height="172" width="113" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">O curso, a política, os projetos editoriais que vai desenvolvendo com os companheiros de exílio (parte destas circunstâncias vêm relatadas em <em>Leal da Câmara</em>, uma biografia deste pintor), as crónicas que envia para Portugal, para publicação, nomeadamente na <em>Ilustração Portuguesa</em> e no jornal <em>A Beira</em>, a observação, as pesquisas de bibliófilo ainda lhe deixam tempo para escrever, na biblioteca da Sainte Geneviève, perto da Sorbonne, o volume de contos <em>Jardim das Tormentas</em>. Também em Paris, conhece Grete Tiedemann, sua primeira mulher e mãe do filho mais velho. No dealbar da guerra mundial, é forçado pelas circunstâncias a regressar ao seu país com a família (volta em 1914); a vida parisiense dos tempos que antecedem o advento do conflito vem relatada no volume diarístico <em>É a Guerra</em>, no qual ganha proeminência a crítica àquele que era na altura o ministro da Legação de Portugal em Paris, João Chagas. Fica incompleto o curso de Filosofia, que deixa para trás já depois de se ter matriculado no quarto ano, como se pode ver em registos guardados no Centre d'Accueil et de Recherche des Archives Nationales (Paris).<br /><br />Já em Portugal, ocupam-no, para além da escrita ficcional e da escrita cronística para a imprensa periódica (uma atividade que desenvolverá com enorme regularidade ao longo de toda a sua vida), o trabalho de professor no Liceu Camões, onde fica durante três anos, e, posteriormente, o cargo de segundo bibliotecário na Biblioteca Nacional, para onde entra a convite de Raul Proença. Este posto, entre outras vantagens, dá-lhe a possibilidade de alimentar o seu gosto de bibliófilo pelo livro antigo, raro, um gosto que o levará produzir trabalhos de índole investigativa, publicados, por exemplo, nos <em>Anais das Bibliotecas e Arquivos</em>, e que transparece também na produção romanesca (veja-se <em>A Via Sinuosa</em>, o seu primeiro romance). Além disso, com colegas de trabalho - um "grupo de intelectuais altamente representativo da mentalidade do tempo", como escreveu Manuel Mendes - continua a desenvolver uma atividade cívica que vai ter a sua expressão mais visível na revista <em>Seara Nova</em>, publicação preponderante quer na difusão dos ideais republicanos (sociais e educativos, nomeadamente), quer mesmo no evoluir da conturbada vida política da 1.ª República.<br /><br />A sua faceta de "homem de ação", como já se viu, deu frutos ainda nos anos finais da monarquia (ainda hoje há quem se interrogue se no dia do regicídio Aquilino terá sido a "terceira carabina do Terreiro do Paço", para usar uma expressão de Batista Bastos) e torna vincadamente a manifestar-se com a sua participação, em 1927, na revolta frustrada contra a ditadura militar sequente ao golpe de 28 de maio de 1926, sendo por isso obrigado a refugiar-se em Paris. De regresso a Portugal, volta a participar numa ação antirregime (no chamado movimento do regimento de Pinhel), mas é capturado e levado para a prisão do Fontelo, em Viseu (um edifício que ainda hoje se pode ver nesta cidade). Foge também desta vez, esconde-se pelas serranias beirãs e enceta uma difícil jornada que de novo o levará até Paris; destas experiências de ativista político aproveitará também o escritor, no enredo, por exemplo, de <em>O Arcanjo Negro</em> (redigido em 1939-40, mas, devido a problemas com a censura, publicado apenas em 1947) ou de <em>O Homem que Matou o Diabo</em>. Sublinhe-se que na década de 20 publicara duas obras que, a par de <em>Terras do Demo</em> e de <em>A Casa Grande de Romarigães</em>, constituem dois dos seus textos mais emblemáticos: o picaresco <em>Malhadinhas</em>, primeiro inserido no volume de novelas <em>Estrada de Santiago</em>, depois em edição independente, e o extraordinário <em>Andam Faunos pelos Bosques</em>, uma sátira genial, mas tolerante ao conservadorismo cristão e um hino ao amor livre, consagrado tanto pelo anarquismo (que Aquilino chegou a abraçar mais do que intelectualmente) como pela palavra bíblica de Antigo Testamento, ponto de retorno constante do seu pensamento dúctil e cultivadíssimo.<br /> <br /> </span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="left" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Fotografia de Aquilino Ribeiro" alt="Fotografia de Aquilino Ribeiro" src="figuras/aquilinoribeiro/aquilinoribeiro04.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">O tempo de exílio termina em 1932, ano em que regressa ainda clandestinamente a Portugal; tinha entretanto casado em segundas núpcias (a primeira mulher morrera no ano de 1927) com Jerónima Dantas Machado, filha de Bernardino Machado, o presidente da República deposto por Sidónio Pais. O único filho do casal, segundo de Aquilino, nasce em 1930, ainda fora do país. Também em 1932, é aministiado (tinha sido julgado e condenado à revelia em 1929), o que lhe permite regressar à capital (fixando-se, mais precisamente, na Cruz Quebrada); acalmados, de um lado, os génios conspirativos e, de outro lado, os génios persecutórios, tem a possibilidade de se dedicar plenamente à escrita, continuando a produção ficcional, o trabalho de tradução, o trabalho ensaístico (<em>lato sensu</em>) e a colaboração na imprensa periódica. Em 1933, o conjunto de novelas <em>As Três Mulheres de Sansão</em> recebe o Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa, e em 1935 é eleito sócio correspondente desta instituição, da qual se tornará sócio efetivo em 1957.<br /><br />No entanto, mais do que o reconhecimento oficial, são a sua grandeza de escritor e também a temeridade política que o tornam merecedor do epíteto de mestre; têm o seu quê de lendário as idas ao Chiado, ao fim da tarde, para tertúlias à porta da Bertrand, a sua editora. Não tendo nunca abdicado da originalidade, um dos seus grandes valores estéticos, acabou por não alinhar com nenhum dos movimentos literários de que foi contemporâneo, do modernismo (em cartas de Fernando Pessoa ficamos a saber que era apreciado por este poeta), ao presencismo, que não o poupou a críticas (vindas, muitas delas, de José Régio e publicadas nas páginas da <em>Presença</em>), ao neorrealismo, embora críticos literários desta última corrente tivessem apreciado algumas das suas à luz desta doutrina, que nunca foi a do escritor. Não abdicou também da consciência política e cívica que, como vimos, o animou desde a juventude. Embora, findo o último período de exílio, se tenha dedicado afincadamente à escrita, continuou a participar em ações críticas da ditadura salazarista. Aderiu ao MUD (Movimento de Unidade Democrática) e empenhou-se na defesa e difusão da causa, por exemplo, em textos publicados na imprensa diária, em 1948-49 apoiou a campanha presidencial de Norton de Matos, integrou, com outras figuras do saber, a Comissão Promotora do Voto, militou na candidatura de Humberto Delgado à presidência da República, no ano de 1958.<br /><br />A este ativismo político, há que juntar a tenacidade com que, durante mais de duas décadas, promoveu uma agregação formal e institucionalizada dos escritores até conseguir criar, unido a alguns contemporâneos, a Sociedade Portuguesa de Escritores, de que foi fundador e presidente, isto no ano de 1956. O tempo não lhe subtrai o prestígio de grande figura da escrita, reconhecido dentro e fora de de Portugal. Atestam esse prestígio factos como a apresentação da sua candidatura ao Nobel, proposta por Francisco Vieira de Almeida e subscrita por José Cardoso Pires, David Mourão-Ferreira, Urbano Tavares Rodrigues, José Gomes Ferreira, Maria Judite de Carvalho, Joel Serrão, Mário Soares, Vitorino Nemésio, Abel Manta, Alves Redol, Luísa Dacosta, Vergílio Ferreira, entre muitos outros. Atestam-no também as homenagens que recebe no Brasil, país aonde se desloca, por motivos pessoais, no ano de 1952. Atesta-o sobremaneira o extraordinário movimento que se desenvolveu em sua defesa depois da publicação do romance <em>Quando os Lobos Uivam</em>, em 1958, considerado pelo regime como injurioso das instituições de poder e levando à instauração de um processo crime contra o escritor. Para além da defesa formal, levada a cabo pelo advogado Heliodoro Caldeira, Aquilino tem o apoio de cerca de 300 intelectuais portugueses que se juntam num abaixo-assinado pedindo o arquivamento do processo; fora de Portugal, François Mauriac redige uma petição em defesa de Aquilino, assinada, nomeadamente, por Louis Aragon e André Maurois e publicada em vários jornais e revistas franceses. O processo crime acaba por ser arquivado cerca de vinte meses depois da sua instauração, na sequência de uma amnistia.<br /> <br /> </span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Fotografia Aquilino Ribeiro 2" alt="Fotografia Aquilino Ribeiro 2" src="figuras/aquilinoribeiro/aquilinoribeiro05.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Embora sem se fazer completamente justiça, encerrava-se uma ação injuriosa dirigida contra alguém que foi e será sempre um dos nomes maiores das nossas letras, que trouxe à língua uma plasticidade impressionante combinando o rústico com o erudito, que foi um observador atento das 'grandezas e misérias' do género humano, que criou uma galeria de personagens passando pelo campesino beirão, pelo pequeno-burguês de província, pelo cosmopolita, pelo idealista, pelo obcecado, pelo asceta e pelo sibarita, pela mulher tentadora e pela virgem solícita e generosamente disponível...alguém que, enfim, por via da reflexão, saber, trabalho, estudo, deixou para os séculos uma visão exaltante da existência, mas temperada pela melancolia de quem não esquece a inevitável efemeridade de todas as coisas. "Mais não pude", pretendeu Aquilino que fosse o seu epitáfio.<br /><br /><br /><br /><strong>Bibliografia ativa</strong><br /><br />As indicações quanto a géneros e conteúdos seguem, sempre que possível, o que consta nos volumes a seguir mencionados.<br /><br />1915 - <em>Jardim das Tormentas </em>(contos).<br /><br />1918 - <em>A Via Sinuosa </em>(romance).<br /><br />1919 - <em>Terras do Demo</em> (romance).<br /><br />1920 - <em>Filhas de Babilónia </em>(novelas).<br /><br />1922 - <em>Estrada de Santiago </em>(novelas); incluía <em>O Malhadinhas</em>.<br /><br />1922 - <em>Recreação Periódica</em> (tradução de Amusement Périodique, do Cavaleiro de Oliveira).<br /><br />1924 - <em>Romance da Raposa </em>(romancinho infantil).<br /><br />1926 - <em>Andam Faunos pelos Bosques </em>(romance).<br /><br />1930 - <em>O Homem que Matou o Diabo </em>(romance).<br /><br />1931 - <em>Batalha sem Fim</em> (romance).<br /><br />1932 - <em>As Três Mulheres de Sansão </em>(novelas).<br /><br />1933 - <em>Maria Benigna</em> (romance).<br /><br />1934 - <em>É a Guerra</em> (diário).<br /><br />1935 - <em>Alemanha Ensanguentada</em> (caderno dum viajante).<br /><br />1935 - <em>Quando ao Gavião Cai a Pena </em>(contos).<br /><br />1936 - <em>O Galante Século XVIII</em> (compilação e tradução de textos do Cavaleiro de Oliveira).<br /><br />1936 - <em>Anastácio da Cunha, o Lente Penitenciado </em>(vida e obra). <br /><br />1936 - <em>Arca de Noé III Classe</em> (contos para as crianças).<br /><br />1936 - <em>Aventura Maravilhosa de D. Sebastião</em> (romance).<br /><br />1937 - <em>S. Banaboião Anacoreta e Mártir</em> (romance).<br /><br />1938 - <em>A Retirada dos Dez Mil </em>(tradução da Anábase, de Xenofonte).<br /><br />1939 - <em>Mónica</em> (romance).<br /><br />1939 - <em>Por Obra e Graça</em> (estudos).<br /><br />1940 - <em>Oeiras</em> (monografia).<br /><br />1940 - <em>Em Prol de Aristóteles</em> (tradução do texto latino de André de Gouveia).<br /><br />1940 - <em>O Servo de Deus e a Casa Roubada </em>(novelas).<br /><br />1942 - <em>Os Avós dos Nossos Avós</em> (história).<br /><br />1943 - <em>Volfrâmio</em> (romance).<br /><br />1945 - <em>Lápides Partidas </em>(romance).<br /><br />1945 - <em>O Livro do Menino Deus </em>(o Natal na história religiosa e na etnografia).<br /><br />1946 - <em>Aldeia</em> (terra, gente e bichos).<br /><br />1947 - <em>O Arcanjo Negro </em>(romance).<br /><br />1947 - <em>Caminhos Errados</em> (novelas).<br /><br />1947 <em>- Constantino de Bragança, VII Vizo-Rei da Índia </em>(história).<br /><br />1948 - <em>Cinco Réis de Gente</em> (romance).<br /><br />1948 - <em>Uma Luz ao Longe </em>(romance).<br /><br />1949 - <em>Camões, Camilo, Eça e Alguns Mais</em> (estudos de crítica histórico-literária).<br /><br />1949 - <em>O Malhadinhas</em> (edição autónoma).<br /><br />1950 - <em>Luís de Camões, Fabuloso, Verdadeiro</em> (ensaio).<br /><br />1951 - <em>Geografia Sentimental</em> (história, paisagem, folclore).<br /><br />1951 - <em>Portugueses das Sete Partidas</em> (viajantes, aventureiros, troca-tintas).<br /><br />1952 - <em>Leal da Câmara</em> (vida e obra).<br /><br />1952 - <em>O Príncipe Perfeito</em> (tradução da obra Kirou Paideia, de Xenofonte).<br /><br />1952 - <em>Príncipes de Portugal. Suas grandezas e misérias </em>(história).<br /><br />1953 - <em>Arcas Encoiradas</em> (estudos, opiniões, fantasias).<br /><br />1954 - <em>O Homem da Nave </em>(serranos, caçadores e fauna vária).<br /><br />1954 - <em>Humildade Gloriosa </em>(romance).<br /><br />1955 - <em>Abóboras no Telhado </em>(crónica e polémica).<br /><br />1957 - <em>A Casa Grande de Romarigães </em>(crónica romanceada).<br /><br />1957 - <em>O Romance de Camilo </em>(biografia e crítica).<br /><br />1958 - <em>Quando os Lobos Uivam </em>(romance).<br /><br />1959 - <em>Dom Frei Bertolameu. As três desgraças teologais </em>(legenda).<br /><br />1959 - <em>D. Quixote de la Mancha </em>(versão da obra de Cervantes).<br /><br />1959 - <em>Novelas Exemplares</em> (versão da obra de Cervantes).<br /><br />1960 - <em>No Cavalo de Pau com Sancho Pança </em>(ensaio).<br /><br />1960 - <em>De Meca a Freixo de Espada à Cinta</em> (ensaios ocasionais).<br /><br />1963 - <em>Tombo no Inferno. O Manto de Nossa Senhora </em>(teatro).<br /><br />1963 - <em>Casa do Escorpião</em> (novelas).<br /><br />1967 - <em>O Livro de Marianinha </em>(lengalengas e toadilhas em prosa rimada).<br /><br />1974 - <em>Um Escritor Confessa-se </em>(memórias).<br /><br />1988 - <em>Páginas do Exílio. Cartas e crónicas de Paris </em>(recolha de textos e organização de Jorge Reis).<br /><br /><br /><b>Obras traduzidas (apuradas)<br /></b><br /><em>A Casa Grande de Romarigães </em>(para castelhano - edição em Cuba -, romeno e francês - com várias edições)<br /><br /><em>Quando os Lobos Uivam</em> (para alemão e inglês)<br /><br /><em>A Via Sinuosa</em> (para francês)<br /><br /><br /><b>Bibliografia passiva (seleção)<br /></b><br />AA.VV., <em>Retratos para Aquilino</em>, Câmara Municipal de Paredes de Coura, 2000.<br /><br />ALMEIDA, Henrique, <em>Aquilino Ribeiro e a Crítica</em>, Porto, Edições Asa, 1993.<br /><br />ALMEIDA, Henrique, <em>Aquilino Ribeiro: Entre Jornalismo e Literatura - Conformação e canonização da escrita aquiliniana</em>, dissertação de doutoramento, Viseu, 2001.<br /><br />BIBLIOTECA NACIONAL (ed.), <em>Aquilino Ribeiro (1885-1963)</em>. Catálogo da exposição comemorativa do primeiro centenário do nascimento, Lisboa, 1985.<br /><br />BRITO, Ferreira de, <em>Aquilino Ribeiro e a Obsessão do Sagrado</em>, Lamego, Museu de Lamego, 1985.<br /><br />CAMILO, João, "À procura da pureza original? Uma leitura de Terras do Demo", <em>Arquivos do Centro Cultural Português</em>, XVI, 1979, pp. 543-572.<br /><br />CARMO, Carina Infante do, <em>Adolescer em Clausura. Olhares de Aquilino, Régio e Vergílio Ferreira sobre o romance de internato</em>, Faro-Viseu, Universidade do Algarve-Centro de Estudos Aquilino Ribeiro, 1998.<br /><br />CENTRO DE ESTUDOS AQUILINO RIBEIRO (ed.), <em>Cadernos Aquilinianos</em> (publicação periódica dedicada exclusivamente a Aquilino Ribeiro e à sua obra; o n.º 1 publicou-se em 1992).<br /><br />CHAVES, José Castelo Branco, <em>Aquilino Ribeiro</em>, Lisboa, Seara Nova, 1935.<br /><br />COELHO, Nelly Novaes, <em>Aquilino Ribeiro - Jardim das Tormentas: Génese da Ficção Aquiliniana</em>, São Paulo, Edições Quíron, 1973.<br /><br />FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN (ed.), <em>Arquivos do Centro Cultural Português</em>, XXI, 1985 (vários artigos sobre Aquilino Ribeiro).<br /><br />FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN (ed.), <em>Colóquio-Letras</em>, 85, 1985 (vários artigos sobre Aquilino Ribeiro).<br /><br />FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN (ed.), <em>Colóquio-Letras</em>, 115-116, 1990 (vários artigos sobre Aquilino Ribeiro).<br /><br />FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN - Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas (ed.), "Aquilino Ribeiro", <em>Boletim Cultural</em>, VIª série, 5, 1985.<br /><br />GARCIA, Frederick C. Hesse, <em>Aquilino Ribeiro: Um Almocreve na Estrada de Santiago</em>, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1981.<br /><br />GOMES, Elviro da Rocha, <em>Glossário Sucinto para Melhor Compreensão de Aquilino Ribeiro</em>, Porto, Porto Editora, 1960.<br /><br />LOPES, Óscar, "Quatro marcos literários: Fialho, Raul Brandão, Aquilino, Ferreira de Castro", Barreto, Costa (org.), <em>Estrada Larga</em>, 1, Porto, Porto Editora, [1958], pp. 498-504.<br /><br />LOPES, Óscar, "Aquilino Ribeiro: alguns livros e uma panorâmica", <em>Cinco Personalidades Literárias</em>, Porto, ed. do autor, 1961, pp. 25-48.<br /><br />LOPES, Óscar, "Aquilino: uma cota na história da literatura - três alocuções sobre Aquilino", <em>Ler e Depois</em>, Porto, Inova, 1970, pp. 285-309.<br /><br />LOPES, Óscar, <em>Entre Fialho e Nemésio. Estudos de literatura portuguesa contemporânea</em>, I, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1987, pp. 369-398.<br /><br />LOPES, Óscar, "Aquilino Ribeiro", <em>Cifras do Tempo</em>, Lisboa, Caminho, 1990, pp. 169-197.<br /><br />LOURENÇO, Eduardo, "Aquilino ou Eros e Cristo", <em>O Canto do Signo. Existência e literatura</em>, Lisboa, Editorial Presença, 1994, pp. 227-237.<br /><br />MALPIQUE, Cruz, <em>Aquilino. O homem e o escritor</em>. Porto, Divulgação, 1964.<br /><br />MARTINS, Serafina, <em>Saber Viver para Saber Morrer: A Imagem Ficcional do Amor em Aquilino Ribeiro</em>, dissertação de doutoramento, Lisboa, 1999 (policopiada).<br /><br />MATEUS, Isabel Cristina de Brito Pinto, <em>História e Ficção Histórica em Aquilino Ribeiro: A Casa Grande de Romarigães</em>, trabalho para prestação de provas de aptidão pedagógica, Braga, 1989 (policopiado).<br /><br />MENDES, Manuel (coord.), <em>Aquilino Ribeiro</em>, Lisboa, Arcádia, 1960.<br /><br />MOURÃO-FERREIRA, David, "Aquilino Ribeiro", <em>Sob o Mesmo Teto</em>. Estudos sobre autores de língua portuguesa, Lisboa, Editorial Presença, 1989, pp. 101-132.<br /><br />REIS, Jorge, <em>Aquilino em Paris</em>, Lisboa, Vega, s.d.<br /><br />RODRIGUES, Urbano Tavares, <em>A Horas e Desoras</em>, Lisboa, Edições Colibri, 1993 (vários ensaios sobre Aquilino Ribeiro).<br /><br />SEIXO, Maria Alzira, <em>A Palavra do Romance. Ensaios de genologia e análise</em>, Lisboa, Livros Horizonte, 1986 (dois ensaios sobre Aquilino Ribeiro).<br /><br />SERRÃO, Joel, "De Eça de Queirós a Aquilino Ribeiro - Uma sondagem histórica através do romance", <em>Temas Oitocentistas</em>, II, Lisboa, Portugália Editora, 1962, pp. 69-109.<br /><br />VASCONCELOS, Taborda de, <em>Aquilino Ribeiro</em>, Lisboa, Editorial Presença, 1965.<br /><br />VELOSO, Rui, <em>A Obra de Aquilino Ribeiro para Crianças: Imaginário e Escrita</em>, Porto, Porto Editora, 1994.<br /><br />VIDIGAL, Luís, <em>O Jovem Aquilino Ribeiro</em>, Lisboa, Livros Horizonte, 1986.<br /><br />VIDIGAL, Luís, <em>Imaginários Portugueses</em>, Viseu, Centro de Estudos Aquilino Ribeiro, 1992.</span> <br /></span></p> Augusto Abelaira 2011-03-02T18:25:10+00:00 2011-03-02T18:25:10+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/augusto-jose-de-freitas-abelaira-dp35.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Augusto José de Freitas Abelaira</strong>, por Agripina Carriço Vieira</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Foto de 2000" alt="Foto de 2000" src="figuras/augustoabelaira/augustoabelaira01.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="padding-left: 30px; text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial;"> <span style="font-size: x-small;">Foto de 2000</span></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Augusto José de Freitas Abelaira, nascido em 18 de março de 1926, em Ançã no concelho de Cantanhede, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi professor, tradutor, jornalista, no <em>Diário Popular</em>, em <em>O Século</em> onde assina a partir de janeiro de 1974 a rubrica “Entrelinhas”, cronista em <em>O Jornal</em> com uma crónica intitulada “Escrever na água” (1978-92) e no <em>Jornal de Letras</em> onde assinou de 1981 a 1996 a crónica “Ao pé das letras”. Exerceu igualmente os cargos de diretor de programas da RTP (1977-78), de diretor das revistas <em>Vida Mundial </em>(1974-75) e <em>Seara Nova</em> (1968-69) e de presidente da Associação Portuguesa de Escritores (1978-79), mas é sobretudo como dramaturgo e romancista que é recordado.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Estreou-se na escrita com a publicação, em 1959, do romance <em>A Cidade das Flores</em>, numa edição de autor, já que todas as editores contactadas recusaram publicá-lo. Cidadão empenhado e crítico, participou na luta contra o regime salazarista, integrando movimentos estudantis de oposição, foi detido – uma delas em 1965 por ter atribuído, na qualidade de presidente do júri, o Grande Prémio da Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores ao angolano José Luandino Vieira (então preso no Tarrafal) pelo seu <em>Luuanda</em>. Estas atividades levaram a que a Pide o tenha impedido de lecionar no ensino particular.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Não sendo um escritor de grandes públicos (manteve-se sempre afastado dos eventos mediáticos), viu no entanto, por inúmeras ocasiões, a sua obra premiada: <em>As Boas Intenções </em>– 1963 foi galardoado com o Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa, <em>Enseada Amena</em> – 1966 foi distinguido com o Prémio de Romance de IV Encontro da Imprensa Cultural, <em>Sem Teto, Entre Ruínas </em>– 1978 recebeu o Prémio Cidade de Lisboa e <em>Outrora Agora </em>– 1996 foi premiado com o Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB, o Prémio Municipal Eça de Queirós, da Câmara Municipal de Lisboa (Prémio de Prosa de Ficção), assim como o Prémio P.E.N. Clube Português de Ficção Prémio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários.</span><br /><br /></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="left" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Foto dos anos 70" alt="Foto dos anos 70" src="figuras/augustoabelaira/augustoabelaira03.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="padding-left: 60px; text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;">Foto dos anos 70</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">A vasta obra de Abelaira (12 romances – o último póstumo -, 3 peças de teatro, um livro de contos, um monólogo e as dezenas de crónicas jornalísticas de pendor político e cultural) encontra-se toda ela norteada por uma consciência ético-histórica, ancorando-se os seus escritos na observação de uma sociedade concreta e estranhamente atual, vista através de olhares atentos e críticos.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Os temas primordiais, que constituem a tessitura da sua escrita romanesca, assim como as estratégias retóricas que a alicerçam estão presentes desde o primeiro título, conferindo ao conjunto uma unidade temática e formal, facto que levou o autor a afirmar numa entrevista ao <em>Ciberkiosk</em>: “Certos romancistas contam histórias, histórias a que assistiram, que ouviram, leram nos jornais, inventaram. Tais romancistas escrevem romances muito diferentes uns dos outros. Mas há aqueles que se contam a si próprios, digamos assim (isto não significa que escrevem autobiografias). Estes últimos escrevem sempre o mesmo romance, variações sobre os mesmos temas (os temas que os preocupam). (…) Escrevo sempre o mesmo romance (tanto assim, que não distingo uns dos outros, não sei se certas cenas pertencem a este ou àquele). Embora talvez pudesse dizer que escrevo dois romances - ou sirvo-me de duas perspectivas para escrever o mesmo romance”.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Com efeito, os textos de Augusto Abelaira conduzem incessantemente o leitor para um universo marcado pelo questionamento constante das relações humanas, a análise dos sentimentos amorosos, a importância da arte na sociedade, o olhar crítico sobre as pessoas e as coisas, o sentido arbitrário e casuístico da existência, a fragmentação discursiva, a ironia impiedosamente lúcida, a metaficcionalidade discursiva. Neles (re)encontramos personagens que Michel Butor designa por «históricas», no sentido em que são reconhecíveis pelos leitores mais fiéis, porque vão transitando de romance em romance (veja-se por exemplo <em>J. Fonseca</em>, personagem de <em>Outrora Agora </em>e <em>Deste Modo ou Daquele</em>). Os protagonistas abelairianos, para além de serem oriundos de um mesmo espaço social (a burguesia lisboeta), pertencem a um mesmo meio laboral, partilham vivências, convicções e emoções, comungam de uma mesma aversão pela política de direita (simbolizada pelas figuras de Salazar e Cavaco Silva), perfilham de um imaginário cultural e afetivo comum, empenham-se nas mesmas causas (a MUD Juvenil, a contestação ao Plano Marshall), procuram pela escrita uma apreensão mais concreta do mundo.</span><br /><br /></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Caricatura - Vasco" alt="Caricatura - Vasco" src="figuras/augustoabelaira/augustoabelaira02.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;">Caricatura - Vasco</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">A obra de Abelaira, ainda muito influenciada, numa primeira fase, pela estética neorrealista, surge como um espaço de questionamento da sociedade contemporânea nacional, num pendor claramente documental e intervencionista, porém numa apropriação muito pessoal e singular das grandes linhas temáticas e retóricas que marcaram esse movimento cultural, facto que lhe confere um lugar particular e diferenciado na história literária nacional dessa época. De facto, Abelaira não trouxe para os seus romances as grandes questões que apaixonaram outros escritores neorrealistas: as condições de vida degradantes de operários e camponeses, a exploração do povo, as desigualdades sociais. Se as questões nacionais surgem de forma obsessiva (a identidade portuguesa e os destinos da nação), elas estão no entanto circunscritas a um núcleo extremamente restrito da sociedade portuguesa: uma sociedade urbana, lisboeta, burguesa e cultivada, que não tem problemas financeiros, vive confortavelmente instalada, gosta de viajar, ler, ouvir música e conversar. As personagens interessam-se pelo(s) outro(s) com quem partilham o espaço da intimidade, questionam desejos e emoções, discutem convicções políticas. O retrato desta forma esboçado reveste-se de uma grande minúcia, que resulta de uma observação pormenorizada e reiterada, apresentando uma visão irónica, por vezes sarcástica e disfórica, porém parcial porque circunscrita a um grupo particular e limitado da sociedade portuguesa. O espaço da intimidade - núcleo da efabulação –, propício à partilha de ideias, ideais e projetos, consubstancia-se do ponto de vista discursivo num privilégio do registo confessional (diálogo, diário, monólogo introspetivo), que se estende e prolonga com frequência para além e para fora do texto escrito, cooptando como interlocutor o próprio leitor.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Na produção romanesca de Abelaira, e desde o primeiro livro, o leitor ocupa um lugar privilegiado, de cúmplice, testemunha, coautor ou parceiro de diálogo, papel que o autor descreve da seguinte forma em crónicas ao <em>Jornal de Letras</em>: “<em>Um romance é não somente o que lá pôs o escritor mas é também aquilo que lá puseram os leitores”, “esse leitor imaginário é um leitor muito especial: é um leitor que sente a falta de um certo livro ainda por escrever. E o escritor procura corresponder a esse desejo, oferecendo-lhe o desejado livro</em>”.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">É por ventura o romance de 1981, <em>O Triunfo da Morte</em>, onde de uma forma mais premente o autor questiona, num registo ostensivamente metaficcional, pelo viés de um diálogo constante e divertido com o leitor, o trabalho da escrita e dos seus avatares, dando conta de todos os passos da “fabricação” do texto: “<em>Se tiver tempo, se a Sophie couber na economia do meu livro, ainda voltarei a citá-la, custa-me deixar em suspenso o que depois aconteceu. Mas precisamente o respeito por uma boa administração romanesca obriga-me a descrever imediatamente a tal aventura insólita já antes prometida, não devo desperdiçar totalmente os meus poucos recursos</em>” (p. 21).</span><br /><br /></div> <table id="_mc_tmp" style="height: 215px; text-align: justify;" align="left" border="0" width="39"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Capa, da autoria de António Ramos, da primeira edição (de autor)" alt="Capa, da autoria de António Ramos, da primeira edição (de autor)" src="figuras/augustoabelaira/augustoabelaira04.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;">Capa, da autoria de António Ramos, da primeira edição (de autor)</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">O diálogo, enquanto estratégia estruturadora da intriga está presente desde o primeiro romance. O entrecho de <em>A Cidade das Flores </em>constrói-se à volta das relações de um grupo de jovens intelectuais, na Florença do pós-guerra, a braços com o desejo de alterar a sociedade burguesa e repressora e as dúvidas acerca da capacidade que têm de resistir. Deslocando a intriga para a Itália, como forma de fuga à perseguição da censura, <em>A Cidade das Flores </em>é, de facto, uma reflexão subtil, desapiedada e crítica sobre a sociedade burguesa lisboeta, onde a história de vida das personagens centrais (Rosabianca e Giovanni) se dilui no texto, convertendo-se em pretexto narrativo da verdadeira efabulação: a crónica de uma época marcada pela ânsia de liberdade e dos planos sempre frustrados ou adiados de um geração desejosa, mas incapaz, de derrubar o regime sufocante e repressivo.<br /><br /><em>Bolor</em>, publicado em 1968, é sem dúvida um romance fundamental no panorama literário português, inscrevendo-se simultaneamente sob os signos do antigo e do moderno, sendo considerado, por muitos críticos, um dos livros inaugurais da pós-modernidade. Recuperando a tradição do romance epistolar (aqui páginas de diário em vez de cartas), Augusto Abelaira desconstrói os alicerces do romance clássico e cria uma nova ordem. A presença das datas que abrem as páginas do diário (à exceção de uma não-datada) e que convencionalmente seriam pontos de ancoragem temporal, transformam-se em instrumento de derisão paródica. O aparecimento de um segundo (terceiro) autor do diário, que reescreve, completa e emenda a versão do autor anterior, vem não só subverter de forma total as regras do género, mas também criar, pelo efeito de sobreposição de tempos, a desconstrução textual. A existência de vários autores do(s) diário(s), e por conseguinte de uma estância narrativa que se desdobra em várias vozes transmitindo outros tantos pontos de vista, dá origem a uma narração fragmentada, que se constitui como uma estratégica de problematização da impossibilidade da compreensão total ou do conhecimento da verdade absoluta, condição a que todos os seres estão votados.<br /><br />São igualmente os questionamentos da organização temporal e da construção da narrativa, numa elaboração alegórica de cunho irónico, que sustentam a trama diegética de <em>O Único animal que?</em>, cuja personagem principal, o macaco-homem, persegue o desejo de fugir à cronologia e destruir a linearidade temporal. Este romance tem a particularidade de ter sido apresentado de uma forma original. Numa recuperação curiosa da prática de folhetim muito em voga em meados do século passado foi publicado no <em>Jornal de Letras </em>ao longo de um ano (de 16/03/1982 a 29/03/1983).<br /><br />O pendor irónico que caracteriza a escrita abelairiana assume maior acutilância nos dois últimos romances. <em>Outrora Agora</em>, cujo título foi retirado de um poema de Fernando Pessoa apresentado em epígrafe, autor tutelar para Abelaira, assume-se como uma homenagem ao poeta. Constrói-se a narrativa pela sobreposição de níveis diegéticos, pela formulação constante de hipóteses, pelo confronto de versões, estratégias que se conjugam para uma apreensão mais próxima do sentido das coisas, vistas através do olhar sempre atento, lúcido e irónico da estância narrativa, que não se escusa a entrar frequentemente em diálogo com outros textos e outros autores, como no seguinte excerto, onde reencontramos uma personagem de Eça de Queirós: “<em>hoje, com o cartão de plástico, seria mais fácil, os progressos da nossa civilização, ó Jacinto</em>”.<br /><br /><em>Nem Só Mas Também</em>, o romance póstumo, convida o leitor a uma viagem incessante entre realidade e invenção, experiências vividas e vivências idealizadas, urdindo-se a narrativa pelo poder da memória. O texto surge ironicamente como um rascunho que melhorará quando e se for reescrito, acabando o narrador, já no final do romance, por encontrar o sentido da sua escrita: “<em>o meu objectivo, começo a adivinhá-lo, adivinha-se afinal simples: fazer de mim através da escrita um ser uno, não este caótico, contraditório indivíduo que sempre fui. Afinal escrever, mesmo descontinuamente, é fixar no papel uma continuidade e essa continuidade sou eu</em>”.<br /><br /><br /><b>BIBLIOGRAFIA<br /><br />1 - BIBLIOGRAFIA ATIVA<br /><br /><br />1.1 Produção literária</b></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>A Cidade das Flores</em>, (romance), 1959.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Os Desertores</em>, (romance), 1960.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>A Palavra É de Oiro</em>, (teatro), 1961.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>O Nariz de Cleópatra</em>, (teatro), 1962.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>As Boas Intenções</em> (Romance), 1963. Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Enseada Amena</em>, (romance), 1966. Prémio de Romance de IV Encontro da Imprensa Cultural.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Bolor</em>, (romance), 1968.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Ode (quase) marítima</em>, (monólogo), com desenhos de Maria Keil, 1968.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Quatro Paredes Nuas</em>, (contos), 1972.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Sem Tecto, Entre Ruínas</em>, (romance), 1978. Prémio Cidade de Lisboa.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Olfacto”, in <em>Poética dos Cinco Sentidos – La Dame à la Licorne</em>, 1979.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Anfitrião, Outra Vez</em>, (teatro), 1980.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>O Triunfo da Morte</em>, (romance), 1981.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>O Bosque Harmonioso</em>, (romance), 1982.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>O Único Animal Que?</em>, (romance), 1985.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Deste Modo ou Daquele</em>, (romance), 1990.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Outrora Agora</em>, (romance), 1996. Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB. Prémio Municipal Eça de Queiroz, da Câmara Municipal de Lisboa (Prémio de Prosa de Ficção). Prémio P.E.N. Clube Português de Ficção Prémio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Nem Só Mas Também</em>, (romance), 2004.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“O arquimortes”, in <em>Ficções </em>nº 8, 2003-2004.</span></span><br /><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><strong>1.2 Obras traduzidas</strong></span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Romeno:</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Bunele intentii </em>(As boas intenções), Tradução de Mirela Stanciulescu, Edinter, 1992</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Búlgaro:</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Outrora Agora</em>, Tradução de Iordanka Hascimento, Karin-Mariana Todorova, 1996. </span></span><br /><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><strong>1.3 Colaboração em periódicos (seleção)</strong></span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1947</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Sinceridade e falta de convicções na obra de Fernando Pessoa”, in <em>Mundo Literário: Semanário e crítica e informação</em>, nº 51, pp. 3-4.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1950</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Apontamento”, in <em>Contraponto: Cadernos de Crítica e Arte</em>, nº 1, pp. 1-3.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1954</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Acerca da ideia de progresso no Século XVI”, in <em>Vértice</em>, vol. 14, nº 133, pp. 539-542.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1958</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Urbano Tavares Rodrigues: Uma Pedrada no Charco”, in <em>Gazeta Musical e de Todas Artes</em>, nº 85, pp. 68-69.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“João José Cochofel: Iniciação Estética”, in <em>Gazeta Musical e de Todas Artes</em>, nº 86, pp. 88-89.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Fernanda Botelho: Calendário Privado”, in <em>Gazeta Musical e de Todas Artes</em>, nº 91-92, pp. 173-174.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1959</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Arte e Conhecimento”, in <em>Gazeta Musical e de Todas Artes</em>, nº 96, pp. 241-248.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Orpheu nos infernos. Tertúlia”, in <em>Gazeta Musical e de Todas Artes</em>, nº 105, p. 420.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Um livro inteligente e preguiçoso”, in <em>Dário Popular</em>. <em>Quinta-feira à tarde</em>, nº 132, pp. 7-11.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1962</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Confissões de um leitor de romances”, in <em>Dário de Lisboa. Vida Literária e Artística</em>, nº 189, pp. 17-21</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Nas vésperas de mais um centenário” in <em>Dário de Lisboa. Vida Literária e Artística</em>, nº 196, pp. 17-19</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1963</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Impressões de um leitor de romances”, in <em>Dário de Lisboa. Vida Literária e Artística</em>, nº 233, pp. 17-19.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Flores de papel”, in <em>Vértice</em>, vol. 23, nº 234/236, pp. 135-138</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1964</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">"Impressões de um leitor de romances", in <em>Suplemento Vida Literária e Artística do Diário de Lisboa</em>, 26 de Março.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1968</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Em louvor da virtude nas artes e nas letras” in <em>Dário de Lisboa. Vida Literária e Artística</em>, nº 233, pp. 4-5</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“José Gomes Ferreira: cantor (também) de passarinhos”, in <em>Dário de Lisboa. Vida Literária e Artística</em>, nº 506, p. 4</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Na época de entrevistas”, in <em>Dário de Lisboa. Vida Literária e Artística</em>, nº 515, pp. 4-5</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1972</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“A paisagem na literatura portuguesa”, in <em>Crítica</em>, nº 5 pp. 4-5.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1974</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Greves e caos económicos”, in <em>Vida Mundial</em>, Ano XXXV, nº 1826 (14 de Junho), pp. 7-8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Pontos de interrogação. Como ler um jornal?”, in <em>Vida Mundial</em>, Ano XXXV, nº 1829, p. 57.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Pêlo do mesmo cão”, in <em>Vida Mundial</em>, Ano XXXV, nº 1837, p. 53.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1975</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“O Respeito pelos Leitores”, in <em>O Jornal</em>, Ano I nº 9, p. 14.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“O congresso de escritores”, in <em>Vida Mundial</em>, nº 1861, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Que Portugal deixaremos aos nossos filhos?”, in <em>Vida Mundial</em>, nº 1868, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Paciência”, in <em>Vida Mundial</em>, nº 1885, p. 9.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1978</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“E agora António?”, in <em>O Jornal</em>, Ano III nº 147, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Magia”, literatura e revolução”, <em>Abril</em>, nº 3, pp. 2-4.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ainda o Tarrafal”, in <em>O Jornal</em>, Ano III nº 148, p. 6.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Aditamento à Carta de Pêro Vaz de Caminho”, in <em>O Jornal</em>, Ano III nº 150, p. 5.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. O país menos saudosista da Europa”, in <em>O Jornal</em>, Ano III nº 152, p. 3.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Melancolia”, in <em>O Jornal</em>, Ano III nº 154, p. 8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A indústria das opiniões”, in <em>O Jornal</em>, Ano III nº 156, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A propósito do 25 de Abril”, in <em>O Jornal</em>, Ano III nº 157, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Lição de coisas”, in <em>O Jornal</em>, Ano IV nº 160, p. 6.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. O direito às férias”, in <em>O Jornal</em>, Ano IV nº 173, p. 6.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Férias enfim!”, in <em>O Jornal</em>, Ano VI nº 175, p. 26.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Tentando desfazer um equívoco”, in <em>O Jornal</em>, Ano VI nº 178, p. 4.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Livros na gaveta”, in <em>O Jornal</em>, Ano IV nº 181, p. 33.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1979</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Natal”, in <em>O Jornal</em>, Ano IV nº 192, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. O meu partido sempre disse que”, in <em>O Jornal</em>, Ano IV nº 193, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Contra as passagens administrativas”, in <em>O Jornal</em>, Ano IV nº 196, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Homilia involuntária”, in <em>O Jornal</em>, Ano V nº 230, p. 9.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1980</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Sá Carneiro vai demitir-se?”, in <em>O Jornal</em>, Ano V nº 252, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Comunicação social e boas maneiras”, in <em>O Jornal</em>, Ano IV nº 254, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A grande festa do 25 de Abril”, in <em>O Jornal</em>, Ano V nº 257, p. 12.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Salazar de além”, in <em>O Jornal</em>, Ano VI nº 281, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Desculpa de mau pagador”, in <em>O Jornal</em>, Ano VI nº 294, p. 12.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1981</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O papel branco, afinal um tudo-nada pardacento”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 1, p. 16.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Alguma luz nos horizontes da cultura oficial?”, in <em>O Jornal</em>, Ano VI nº 308, p. 10.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Pecador eu me confesso”, in <em>O Jornal</em>, Ano VI nº 310, p. 6.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Salazar, o 25 de Abril e as ilusões perdidas”, in <em>O Jornal</em>, Ano VI nº 318, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Robinson Crusoe e o seu duplo”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 2, p. 8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Para uma outra história da literatura”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 3, p. 14.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O leitor imaginário”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 4, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Louros para a APU ou o PS deslaureado”, in <em>O Jornal</em>, Ano VII nº 346, p. 13.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1982</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Devo desistir?”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 23, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O ponto de referência”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 25, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Sugestão Democrática”, in <em>O Jornal</em>, Ano VII nº 359, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A RTP, a RDP, e os senhores ministros”, in <em>O Jornal</em>, Ano VII nº 365, p. 4.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. O poder da arte”, in <em>O Jornal</em>, Ano VII nº 367, p. 13.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Os deputados e a liberdade”, in <em>O Jornal</em>, Ano VIII nº 380, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Que pensa Ramalho Eanes”, in <em>O Jornal</em>, Ano VIII nº 397, p. 11.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1983</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Entrelinhas”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano III, nº 71, p. 22.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Uma proposta sólida”, in <em>O Jornal</em>, Ano VII nº 412, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A conferência de Lisboa”, in <em>O Jornal</em>, Ano VIII nº 423, p. 25.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Querida televisão”, in <em>O Jornal</em>, Ano IX nº 438, p. 8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Ainda a morte de Sá Carneiro”, in <em>O Jornal</em>, Ano IX nº 446, p. 5.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. A propósito de Eduardo Salgueiro”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano III, nº 72, p. 10.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1984</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. A morte do pai”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano III, nº 82, p. 12.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. A Crónica Geral de Espanha de 1344”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano III, nº 100, p. 19.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Ascensão e queda dos Jeans”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano IV. Nº 114, p. 23.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O Ministério da Finanças restaura as danças de morte medievais?”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano IV, nº 116, p. 5.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Os desafios do diabo”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano IV, nº 118, p. 19.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Sequóia”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 124, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Acordos culturais”, in <em>O Jornal</em>, Ano IX, nº 469, p. 33.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A censura e a RTP.”, in <em>O Jornal</em>, Ano X, nº 483, p. 17.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Apre, senhores políticos”, in <em>O Jornal</em>, Ano X, nº 511, p. 7.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1985</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Duas famílias culturais”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano VI, nº 134, p. 25.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Por quem os sinos dobram”, in <em>O Jornal</em>, Ano X, nº 524, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Homenagem a Fernando Pessoa”, in <em>O Jornal</em>, Ano XI nº 534, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Deus dorme?”, in <em>O Jornal</em>, Ano XI nº 562, p. 6.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1986</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Os escritores gostam de baralhar o jogo”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano VI, nº 200, p. 24.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1987</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A oposição na encruzilhada”, in <em>O Jornal</em>, Ano XII, nº 662, p. 8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A reforma do ensino já não existe”, in <em>O Jornal</em>, Ano XII, nº 629, p. 6.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A felicidade de ser minoritário”, in <em>O Jornal</em>, Ano XIII nº 670, p. 6.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1988</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Parágrafos únicos”, in <em>O Jornal</em>, Ano XIII, nº 684, p. 6.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Metafísica do pudim”, in <em>O Jornal</em>, Ano XIV, nº 717, p. 15.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. O adjectivo responsável”, in <em>O Jornal</em>, Ano XIV, nº 724, p. 8.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1989</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Tempos fora dos tempos”, in <em>O Jornal</em>, Ano XIV, nº 734, p. 14.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. O segredo da popularidade?”, in <em>O Jornal</em>, Ano XV, nº 752, p. 18.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Filosofia das luzes”, in <em>O Jornal</em>, Ano XV, nº 757, p. 14.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1990</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A terrível herança”, in <em>O Jornal</em>, Ano XV, nº 780, p. 16.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Trinta e dois anos depois”, in <em>O Jornal</em>, Ano XVI, nº 799, p. 4.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Recordando a destruição da SPE”, in <em>O Jornal</em>, Ano XVI, nº 817, p. 30.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Nascer em Portugal”, in <em>O Jornal</em>, Ano XVI, nº 826, p. 35.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1991</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Recordando o profeta Ezequiel”, in <em>O Jornal</em>, Ano XVII, nº 845, p. 10.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Esclarecer ou não esclarecer”, in <em>O Jornal</em>, Ano XIII, nº 855, p. 6.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1992</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Os primos Karamazov”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XI, nº 500, p. 13.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A solução óbvia”, in <em>O Jornal. O Jornal Ilustrado</em>, Ano XVII, nº 887, p. 15.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“A Morte de uma Época” Última Edição de O Jornal, In <em>O Jornal</em>, Ano XVII, p. 34.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1993</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Quando os leitores eram detectives das palavras”, <em>Jornal do Fundão</em>, Ano 48, nº 2440, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Segredos de leitura”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XII, nº 550, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Heroísmo”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIII, nº 568, p. 15.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Modesta proposta para uma história da literatura” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIII, nº 3, p. 5.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1994</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Saber ler”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIII, nº 602, p. 28.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Saber ler”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 613, p. 44.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Ler, reler?”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 619, p. 46.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O escritor e o público”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 620, p. 45.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O exame de latim” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 624, p. 39.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1995</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. De que falava Platão quando falava de coisa nenhuma”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 633, p. 41.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Duas leituras” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 635, p. 39.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Carteiristas” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 636, p. 45.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Recordação de Humberto Delgado” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 637, p. 40.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O milagre de Foz Côa” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 638 , p. 39.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Arte pela arte?”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 639, p. 41.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Washoe” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 641, p. 39.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. A história de amor que Homero ignorou”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 642, p. 41.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Deus ou ficção?”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 645, p. 39.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O erro de Voltaire”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 647, p. 36.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Horatio meu digno amigo” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 652, p. 24.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Problema em vez de conclusão” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 652, p. 38.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Como continuar” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 653, p. 36.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. A caça à lebre” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 655, p. 21.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1996</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Quando?” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 657, p. 37.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Rolhas” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 658, p. 36.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Livros de leitura permanente” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 659, p. 36.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Agora me recordo” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 660, p. 41.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O regresso de Thales de Mileto” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 661, p. 36.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. As portas da verdade” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 662, p. 21.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O acaso ou a necessidade?” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 663, p. 25.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Cafés e tertúlias” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 664, p. 41.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. A culpa” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 665, p. 38.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Quarenta em mil” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 666, p. 36.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Totoloto” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 667, p. 37.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Saudades do Brasil” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 668, p. 28.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O escritor contra o orador” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 669, p. 6.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O labirinto” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 670, p. 37.</span></span><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1.4 Traduções</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>A Roda da Fortuna </em>de Roger Vaillant, Ulisseia, Lisboa, 1961.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>A Promessa </em>de Gary Kassel, Bertrand, Lisboa, 1962.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>O Tambor </em>de Günter Grass, Estúdios Cor, Lisboa, 1964.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>História do Mundo </em>de Jean Duché, (em co-autoria com Severiano Ferreira), Estúdios Cor, Lisboa, 1963 – 1971.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>A Segunda Guerra da Indochina</em> de Wilfred G. Burchett, Seara Nova, Lisboa, 1971.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>O Doutor Jivago </em>de Boris Pasternak, Europa – América, Mem Martins, 1987.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>O Declínio da Idade Média </em>de Johan Huizinga, Ulisseia, Lisboa, 1996.</span></span><br /><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1.5 Outras Colaborações</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Revisão de matriz da tradução de Sérgio Milliet de <em>Gosta de Brahms? </em>de Françoise Sagan, 1961.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Edição literária de Breve Interpretação da <em>História de Portugal</em>, de António Sérgio, 1972.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Edição literária de <em>Introdução Geográfico-Sociológica à história de Portugal </em>de António Sérgio, 1973</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Edição literária de <em>Introdução geográfico-sociológica à história de Portugal </em>de António Sérgio, 1973</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Edição literária de <em>Democracia </em>de António Sérgio, 1974</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Edição literária de <em>Ensaios </em>de António Sérgio, 1971-1974</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Edição literária de <em>Antologia Sociológica: Pátio das comédias </em>de António Sérgio, 1978</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Revisão de matriz da tradução de Lólio Lourenço Oliveira e J. B. Damasco Penna de <em>Vocabulário de Filosofia </em>de Armand Cuvillier, 1978.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Prefácio de <em>Puta de Prisão: a prostituição vista em Custóias, </em>de Isabel do Carmo e Fernanda Fráguas, Regra do Jogo, Lisboa, 1982.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Prefácio de <em>De Noite as Árvores são Negras</em>, de Maria Isabel Barreno, Rolim, 1987.</span></span><br /><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1.6 Entrevistas</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1961</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“10 minutos com…” (entrevista a Augusto Abelaira), <em>Diário de Lisboa – Vida Literária e Artística</em>, nº 179, pp. 16-20.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1962</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Tertúlias de Lisboa: o grupo do Bocage” (entrevista a João José Cochofel, Mário Dionísio, Augusto Abelaira, José Gomes Ferreira, Egídio Namorado, Aquilino Ribeiro Filho, Carlos de Oliveira), <em>Diário de Lisboa – Vida Literária e Artística</em>, nº 190, pp. 17-18.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1971</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Entrevista com Augusto Abelaira” (conduzida por Eduardo Dionísio e Luís Salgado de Matos), <em>Crítica</em>, nº 1. Novembro, pp. 7-10.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1986</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Não tenho opinião” depoimento a um inquérito sobre o Acordo Ortográfico; a tempestade das letras, in <em>Expresso: A Revista</em>, nº 712, p. 38.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1990</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Augusto Abelaira – ‘Escrevo romances policiais sem cadáver” (conduzida por José Carlos Vasconcelos), <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano X, nº 415, pp. 8-11.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1990</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“O Único Animal Que …”, (conduzida por Inês Pedrosa), <em>Expresso – A Revista</em>, nº 936, pp. 81-83.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1994</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Augusto Abelaira, escritor – ‘Já não se sabe fazer livros maus’ ”, (conduzida por Mário Santos), <em>Público – Suplemento Leituras</em>, p. 7.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1996</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“A palavra é de ouro” (conduzida por Rodrigues da Silva), Jornal de Letras, Artes e Ideias, Ano XVI, nº 665, pp. 6-8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Ciberkosk</em>, nº3, «Aquilo que os autores dizem em entrevistas não tem importância nenhuma», in http://www.ciberkiosk.pt.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1999</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Entrevista a Augusto Abelaira”, (conduzida por Cecília Costa), in http://www.instituto-camoes.pt/arquivos/literatura/litrfeminino.html</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">2000</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Á conversa com Augusto Abelaira”, (conduzida por José Carlos Abrantes e Dora Santos), <em>Noesis</em>, nº 53, Janeiro/Março, pp. 41-49.</span></span><br /><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><strong>2 - BIBLIOGRAFIA PASSIVA</strong></span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">ARÊAS, Vilma, <em>A Cicatriz e o Verbo: análise da obra romanesca de Augusto Abelaira</em>, Casa da Medalha, Rio de Janeiro, 1972.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">AZEVEDO FILHO, Leodegário A. de, “O processo do romance em Augusto Abelaira”, in <em>Uma Visão Brasileira da Literatura Portuguesa</em>, Livraria Almedina, Coimbra, 1973.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">BOTELHO, Fernanda, “Augusto Abelaira – Deste Modo ou Daquele”, <em>Colóquio Letras</em>, nº 120, Abril/Junho, p. 213, 1991.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">CAMILO, João, <em>Augusto Abelaira e Vergílio Ferreira: plenitudes e absolutos adiados</em>, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa – Paris, 1983.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">COELHO, Eduardo Prado, “Augusto Abelaira: as palavras querem sempre dizer outra coisa”, in <em>O Cálculo das Sombras</em>, Edições Asa, Lisboa, 1997.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">COELHO, Nelly Novaes, “Augusto Abelaira – a consciência histórica de uma geração”,<em> Escritores Portugueses</em>, São Paulo, Edições Quiron, 1973, pp. 79-118.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">COSTA, André Pereira da, “Bolor a ambiguidade procurada”, <em>Colóquio Letras</em> nº 68 Julho 1982, pp. 35-41.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">COSTA, Linda Santos, “Um segredo intacto”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias, </em>Ano X, nº 421, 1990, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">COSTA, Maria Adelaide, <em>Os Caminhos de Narciso: uma leitura de Deste Modo e Daquele de Augusto Abelaira</em>, texto policopiado – tese de mestrado, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 1996.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">COSTA, Orlando, “Nem só mas também”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 10.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">CRUZ, Gastão, “Marivaux, Mozart, Renoir…”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 10.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">DANTAS, Gregório, “Nem Só Mas Também, de Augusto Abelaira”, <em>Estudos Portugueses e Africanos</em>, nºs 43/44, pp. 119-122.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">DUARTE, Lélia Parreira, “O Triunfo da Morte: novo caminho para o neo-realismo”, <em>Colóquio Letras</em>, nº 81, Setembro, 1984, pp. 34-39.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Criação e ironia em Borges e Abelaira”, <em>Colóquio Letras</em>, nº 109, Maio/Junho, 1989, pp. 55-59.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Ironia, componente da utopia – Fernão Mendes Pinto e Augusto Abelaira”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XI, nº 550, pp. 14-15.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">EMINESEU, Roxana, <em>Novas Coordenadas no Romance Português</em>, Biblioteca Breve, Lisboa, 1983.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">FERRAZ, Maria de Lurdes, “Artifícios de construção textual: a representação em Outrora Agora de Augusto Abelaira”, in <em>VI Congresso Internacional de Lusitanistas</em>, http://www.geocities.com/ail_br/artificiosdeconstrucaotextual.html</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">FERREIRA, José Gomes, <em>Dias comuns IV - Laboratório de cinzas</em>, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2004.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">FORNOS, José Luís Giovanoni, “A nação portuguesa revisitada em Deste Modo ou Daquele, de Augusto Abelaira, in http://www.pucrs.br/letras/pos/literaturaportuguesa/memoriadasgentes/trabalho4.htm</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">GUEDES, Maria Estela, recensão de O Bosque Harmonioso, <em>Colóquio Letras</em>, nº 73, 1982, pp. 77-78.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">GONÇALVES, Maria Isabel Rebelo, “O mito de Anfitrião na dramaturgia prtuguesa”, in <em>Revista da Faculdade de Letras</em>, nº.s 13-14, Junho de 1990, Lisboa, pp. 375-389.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">HENRY, Christel, <em>A Cidade das Flores pour une réception culturelle au Portugal du cinéma néoréaliste italien comme métaphore possible d’une absence: la réception critique du néoréalisme cinématographique italien dans le panorama culturel du Portugal des années 50, texto policopiado, tese de doutoramento, Université de Caen </em>(Basse Normandie) e Universidade de Lisboa, 2002.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">HORTA, Maria Teresa, “Questionar tudo”, <em>Jornal de Notícias</em>, 13 de Abril 1996, pp. 34-35.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">JÚDICE, Nuno, Á mesa da inteligência”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Ficção entre o olhar e a escrita”, <em>Expresso</em>, 19 de Julho 2004, pp. 48-49.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">LIMA, Isabel Pires de, “Traços Pós-modernos na Ficção Portuguesa Actual”, <em>Revista Semear </em>4, www. Letras.puc-rio.br/Catedra/revista/4Sem_02.html.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">LEPECKI, Maria Lúcia, “Posfácio deslocado”, introdução a <em>Enseada Amena, </em>col. Romances Portugueses – Obras Primas do séc. XX, Círculo dos Leitores, Lisboa, pp. VII – XI.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, <em>Meridianos do Texto</em>, Assírio e Alvim, Lisboa, 1979.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “O Bosque Harmonioso, ficções”, in <em>Sobreimpressões – Estudos de Literatura Portuguesa e Africana</em>, Editorial Caminho, Lisboa, 1988, pp. 31-38.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “O Triunfo da Morte, ou a dupla alegoria”, in <em>Sobreimpressões – Estudos de Literatura Portuguesa e Africana</em>, Editorial Caminho, Lisboa, 1988, pp. 39-44.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">LOPES, Óscar, “Augusto Abelaira Os Desertores”, in <em>Os Sinais e os Sentidos</em>, Editorial Caminho, Lisboa, pp. 273-280.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, Recensão crítica de As Boas Intenções, in <em>Comércio do Porto </em>de 11-II-1964.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">LOURENÇO, Eduardo, Da ubiquidade”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">MACHADO, Álvaro Manuel, <em>A Novelística Portuguesas Contemporânea</em>, 2º ed. Revista e aumentada, Biblioteca Breve, Lisboa, 1984.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">MACHADO, Carlos, <em>Entre a utopia e o apocalipse. Augusto Abelaira e o fim da história</em>, Angelus Novus, Coimbra, 2003.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">MARINHO, Maria de Fátima, <em>O romance histórico em Portugal</em>, Campo das Letras., Porto, 1999.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">MENDES, José Manuel, Tempo de dignidade”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 12.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">MOURÃO, Luís, “Augusto Abelaira: A Palha e o Resto”, <em>Cadernos de Literatura</em>, nº 24, Instituto nacional de Investigação Científica, Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra, 1980, pp. 35-46.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, <em>Um Romance de Impoder: a Paragem da História na Ficção Portuguesa contemporânea</em>, Angelus Novus, Braga – Coimbra, 1996.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">NAMORA, Fernando, “Ler e reler Abelaira”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 28, pp. 2-3.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">NEVES, Susana Caetano, <em>A (des)esperança de Sísifo ou de como Narciso se Busca a si próprio: contributos para uma análise do 25 de Abril na obra de Augusto Abelaira: crónicas</em>, texto policopiado - tese de mestrado da Universidade Aberta, 2002.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">OLIVEIRA, Marcelo Gonçalves, <em>Em Busca do Tempo Presente: Tempo, Discurso e Sujeito em Augusto Abelaira</em>, texto policopiado - Tese de Mestrado - Área de especialização: Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2000.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">OLIVEIRA, Rejane Pivetta, “Construção e desconstrução do real em O Único Animal Que?”, in <em>Anais do XIV Encontro de Professores Universitários de Literatura Portuguesa</em>, EDIPUCRS, Porto Alegre, 1994.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">POPPE, Manuel, “Tempo de espera? – Quatro Paredes Nuas”, in <em>Temas de Literatura Viva – 35 Escritores Contemporâneos</em>, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1972, pp. 47-50.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Fria ironia &amp; Etc. A Palavra É de Ouro”, in <em>Temas de Literatura Viva – 35 Escritores Contemporâneos</em>, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1972, pp. 51-54.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “O segredo de Ariadne”, <em>Jornal de Notícias</em>, 6 de Junho 2004, p. 14.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">PIRES, Lucília Gonçalves, “A reiteração no romance de Augusto Abelaira”, in <em>Cadernos de Literatura</em>, nº 7, Instituto nacional de Investigação Científica, Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra, 1980, pp. 38-44.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">ROCHA, Clara, recensão crítica a O Triunfo da Morte”, in <em>Colóquio Letras</em>, nº 66, Lisboa, 1982.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Intimismo e intervenção literária”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 4, pp. 12-13.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">REAL, Miguel, “O triunfo do cepticismo”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIV, nº 877, pp. 8-9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">REIS, Carlos, “Romance de geração”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 668, p. 23.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Lembrança e louvor”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">RODRIGUES, Ernesto, Natureza e cultura – O Único Animal Que?”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVII, nº 694, p. 12.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">RODRIGUES, Urbano Tavares, “O Abelaira de Quatro Paredes Nuas”, <em>Seara Nova</em>, nº 1538, 1973, pp. 98-99.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Questionador de enigmas”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 637, p. 23.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______“O espirituoso dissecador da existência”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">SEIXO, Maria Alzira, “Augusto Abelaira: um tempo de convergência”, in <em>Para um Estudo da Expressão do Tempo no Romance Português Contemporâneo</em>, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1968.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Augusto Abelaira, Quatro Paredes Nuas”, in <em>Discursos do Texto</em>, Livraria Bertrand, Lisboa, 1973.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, <em>Le Rapport individu - société dans les romans d’Augusto Abelaira</em>, Sep. do Bulletin des Études Portugaises et Brésiliennes, 33-34, Lisboa, 1974, pp. 353-358.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “O outro lado da ficção – Diário, Crónicas, Memórias, ect.”, <em>Colóquio Letras</em>, nº 82, Novembro 1984, pp. 76-81.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “A instituição alheada”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXII, nº 856, pp. 20-21.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">SILVA, Fátima Fernandes da, <em>À Escuta do silêncio: Bolor, Molloy e A Maçã no Escuro</em>, texto policopiado, tese de mestrado em Literatura Comparada, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, 2002.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">SILVA, Rodrigues da, “A obra de uma vida”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, pp. 6-7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">SIMÕES, João Gaspar, “Augusto Abelaira: A Cidade das Flores”, <em>Crítica III – Romancistas Contemporâneos (1942-1961)</em>, (sd.), pp. 441-446.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Augusto Abelaira: Os Desertores”, <em>Crítica III – Romancistas Contemporâneos (1942-1961)</em>, (sd.), pp. 446-450.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Augusto Abelaira: A Palavra É de Ouro”, <em>Crítica VI – O Teatro Contemporâneos (1942-1961)</em>, 1985, pp. 141-144.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Augusto Abelaira: O Nariz de Cleópatra”, <em>Crítica VI – O Teatro Contemporâneos (1942-1961)</em>, 1985, pp. 145-148.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Augusto Abelaira: Anfitrião Outra; Y. K. Centeno: Saudades do Paraíso”, <em>Crítica VI – O Teatro Contemporâneos (1942-1961)</em>, 1985, pp. 331-334.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Fez-se luz…”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">SOTTOMAYOR, Appio, “Testamento literário em forma de romance”, <em>A Capital</em>, 2 de Junho 2004, p. 37.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">TORRES, Alexandre Pinheiro, “O problema do amor na classe média lisboeta: As Imagens Destruídas de Faure da Rosa e Enseada Amena de Augusto Abelaira”, <em>Ensaios Escolhidos I. Estudos sobre as Literaturas de Língua Portuguesa</em>, Caminho, Lisboa, 1989, pp. 117-128.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">VASCONCELOS, José Carlos, “O triunfo da vida”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">VENÂNCIO, Fernando, “Augusto já não mora aqui?”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVII, nº 692, p. 26.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">VIÇOSO, Vítor, “As ficções reversíveis – Outrora Agora”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVII, nº 694, pp. 10-11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">VIEIRA, Agripina Carriço, “Temas e Variações na Escrita de Augusto Abelaira”, <em>Colóquio Letras</em>, nº 161/162, Julho – Dezembro 2002, pp. 109-124.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “O mundo dos possíveis”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIV, nº 888, p. 22.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">ZIBERMAN, Regina, “Bolor: identidade e verosimilhança”, in <em>Boletim do Centro de Estudos Portugueses</em>, vol. 13, nº. 16, Julho/Dezembro, Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1993.</span></span><br /></div> <p><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Augusto José de Freitas Abelaira</strong>, por Agripina Carriço Vieira</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Foto de 2000" alt="Foto de 2000" src="figuras/augustoabelaira/augustoabelaira01.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="padding-left: 30px; text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial;"> <span style="font-size: x-small;">Foto de 2000</span></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Augusto José de Freitas Abelaira, nascido em 18 de março de 1926, em Ançã no concelho de Cantanhede, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi professor, tradutor, jornalista, no <em>Diário Popular</em>, em <em>O Século</em> onde assina a partir de janeiro de 1974 a rubrica “Entrelinhas”, cronista em <em>O Jornal</em> com uma crónica intitulada “Escrever na água” (1978-92) e no <em>Jornal de Letras</em> onde assinou de 1981 a 1996 a crónica “Ao pé das letras”. Exerceu igualmente os cargos de diretor de programas da RTP (1977-78), de diretor das revistas <em>Vida Mundial </em>(1974-75) e <em>Seara Nova</em> (1968-69) e de presidente da Associação Portuguesa de Escritores (1978-79), mas é sobretudo como dramaturgo e romancista que é recordado.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Estreou-se na escrita com a publicação, em 1959, do romance <em>A Cidade das Flores</em>, numa edição de autor, já que todas as editores contactadas recusaram publicá-lo. Cidadão empenhado e crítico, participou na luta contra o regime salazarista, integrando movimentos estudantis de oposição, foi detido – uma delas em 1965 por ter atribuído, na qualidade de presidente do júri, o Grande Prémio da Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores ao angolano José Luandino Vieira (então preso no Tarrafal) pelo seu <em>Luuanda</em>. Estas atividades levaram a que a Pide o tenha impedido de lecionar no ensino particular.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Não sendo um escritor de grandes públicos (manteve-se sempre afastado dos eventos mediáticos), viu no entanto, por inúmeras ocasiões, a sua obra premiada: <em>As Boas Intenções </em>– 1963 foi galardoado com o Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa, <em>Enseada Amena</em> – 1966 foi distinguido com o Prémio de Romance de IV Encontro da Imprensa Cultural, <em>Sem Teto, Entre Ruínas </em>– 1978 recebeu o Prémio Cidade de Lisboa e <em>Outrora Agora </em>– 1996 foi premiado com o Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB, o Prémio Municipal Eça de Queirós, da Câmara Municipal de Lisboa (Prémio de Prosa de Ficção), assim como o Prémio P.E.N. Clube Português de Ficção Prémio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários.</span><br /><br /></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="left" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Foto dos anos 70" alt="Foto dos anos 70" src="figuras/augustoabelaira/augustoabelaira03.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="padding-left: 60px; text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;">Foto dos anos 70</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">A vasta obra de Abelaira (12 romances – o último póstumo -, 3 peças de teatro, um livro de contos, um monólogo e as dezenas de crónicas jornalísticas de pendor político e cultural) encontra-se toda ela norteada por uma consciência ético-histórica, ancorando-se os seus escritos na observação de uma sociedade concreta e estranhamente atual, vista através de olhares atentos e críticos.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Os temas primordiais, que constituem a tessitura da sua escrita romanesca, assim como as estratégias retóricas que a alicerçam estão presentes desde o primeiro título, conferindo ao conjunto uma unidade temática e formal, facto que levou o autor a afirmar numa entrevista ao <em>Ciberkiosk</em>: “Certos romancistas contam histórias, histórias a que assistiram, que ouviram, leram nos jornais, inventaram. Tais romancistas escrevem romances muito diferentes uns dos outros. Mas há aqueles que se contam a si próprios, digamos assim (isto não significa que escrevem autobiografias). Estes últimos escrevem sempre o mesmo romance, variações sobre os mesmos temas (os temas que os preocupam). (…) Escrevo sempre o mesmo romance (tanto assim, que não distingo uns dos outros, não sei se certas cenas pertencem a este ou àquele). Embora talvez pudesse dizer que escrevo dois romances - ou sirvo-me de duas perspectivas para escrever o mesmo romance”.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Com efeito, os textos de Augusto Abelaira conduzem incessantemente o leitor para um universo marcado pelo questionamento constante das relações humanas, a análise dos sentimentos amorosos, a importância da arte na sociedade, o olhar crítico sobre as pessoas e as coisas, o sentido arbitrário e casuístico da existência, a fragmentação discursiva, a ironia impiedosamente lúcida, a metaficcionalidade discursiva. Neles (re)encontramos personagens que Michel Butor designa por «históricas», no sentido em que são reconhecíveis pelos leitores mais fiéis, porque vão transitando de romance em romance (veja-se por exemplo <em>J. Fonseca</em>, personagem de <em>Outrora Agora </em>e <em>Deste Modo ou Daquele</em>). Os protagonistas abelairianos, para além de serem oriundos de um mesmo espaço social (a burguesia lisboeta), pertencem a um mesmo meio laboral, partilham vivências, convicções e emoções, comungam de uma mesma aversão pela política de direita (simbolizada pelas figuras de Salazar e Cavaco Silva), perfilham de um imaginário cultural e afetivo comum, empenham-se nas mesmas causas (a MUD Juvenil, a contestação ao Plano Marshall), procuram pela escrita uma apreensão mais concreta do mundo.</span><br /><br /></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Caricatura - Vasco" alt="Caricatura - Vasco" src="figuras/augustoabelaira/augustoabelaira02.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;">Caricatura - Vasco</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">A obra de Abelaira, ainda muito influenciada, numa primeira fase, pela estética neorrealista, surge como um espaço de questionamento da sociedade contemporânea nacional, num pendor claramente documental e intervencionista, porém numa apropriação muito pessoal e singular das grandes linhas temáticas e retóricas que marcaram esse movimento cultural, facto que lhe confere um lugar particular e diferenciado na história literária nacional dessa época. De facto, Abelaira não trouxe para os seus romances as grandes questões que apaixonaram outros escritores neorrealistas: as condições de vida degradantes de operários e camponeses, a exploração do povo, as desigualdades sociais. Se as questões nacionais surgem de forma obsessiva (a identidade portuguesa e os destinos da nação), elas estão no entanto circunscritas a um núcleo extremamente restrito da sociedade portuguesa: uma sociedade urbana, lisboeta, burguesa e cultivada, que não tem problemas financeiros, vive confortavelmente instalada, gosta de viajar, ler, ouvir música e conversar. As personagens interessam-se pelo(s) outro(s) com quem partilham o espaço da intimidade, questionam desejos e emoções, discutem convicções políticas. O retrato desta forma esboçado reveste-se de uma grande minúcia, que resulta de uma observação pormenorizada e reiterada, apresentando uma visão irónica, por vezes sarcástica e disfórica, porém parcial porque circunscrita a um grupo particular e limitado da sociedade portuguesa. O espaço da intimidade - núcleo da efabulação –, propício à partilha de ideias, ideais e projetos, consubstancia-se do ponto de vista discursivo num privilégio do registo confessional (diálogo, diário, monólogo introspetivo), que se estende e prolonga com frequência para além e para fora do texto escrito, cooptando como interlocutor o próprio leitor.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Na produção romanesca de Abelaira, e desde o primeiro livro, o leitor ocupa um lugar privilegiado, de cúmplice, testemunha, coautor ou parceiro de diálogo, papel que o autor descreve da seguinte forma em crónicas ao <em>Jornal de Letras</em>: “<em>Um romance é não somente o que lá pôs o escritor mas é também aquilo que lá puseram os leitores”, “esse leitor imaginário é um leitor muito especial: é um leitor que sente a falta de um certo livro ainda por escrever. E o escritor procura corresponder a esse desejo, oferecendo-lhe o desejado livro</em>”.</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">É por ventura o romance de 1981, <em>O Triunfo da Morte</em>, onde de uma forma mais premente o autor questiona, num registo ostensivamente metaficcional, pelo viés de um diálogo constante e divertido com o leitor, o trabalho da escrita e dos seus avatares, dando conta de todos os passos da “fabricação” do texto: “<em>Se tiver tempo, se a Sophie couber na economia do meu livro, ainda voltarei a citá-la, custa-me deixar em suspenso o que depois aconteceu. Mas precisamente o respeito por uma boa administração romanesca obriga-me a descrever imediatamente a tal aventura insólita já antes prometida, não devo desperdiçar totalmente os meus poucos recursos</em>” (p. 21).</span><br /><br /></div> <table id="_mc_tmp" style="height: 215px; text-align: justify;" align="left" border="0" width="39"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Capa, da autoria de António Ramos, da primeira edição (de autor)" alt="Capa, da autoria de António Ramos, da primeira edição (de autor)" src="figuras/augustoabelaira/augustoabelaira04.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;">Capa, da autoria de António Ramos, da primeira edição (de autor)</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">O diálogo, enquanto estratégia estruturadora da intriga está presente desde o primeiro romance. O entrecho de <em>A Cidade das Flores </em>constrói-se à volta das relações de um grupo de jovens intelectuais, na Florença do pós-guerra, a braços com o desejo de alterar a sociedade burguesa e repressora e as dúvidas acerca da capacidade que têm de resistir. Deslocando a intriga para a Itália, como forma de fuga à perseguição da censura, <em>A Cidade das Flores </em>é, de facto, uma reflexão subtil, desapiedada e crítica sobre a sociedade burguesa lisboeta, onde a história de vida das personagens centrais (Rosabianca e Giovanni) se dilui no texto, convertendo-se em pretexto narrativo da verdadeira efabulação: a crónica de uma época marcada pela ânsia de liberdade e dos planos sempre frustrados ou adiados de um geração desejosa, mas incapaz, de derrubar o regime sufocante e repressivo.<br /><br /><em>Bolor</em>, publicado em 1968, é sem dúvida um romance fundamental no panorama literário português, inscrevendo-se simultaneamente sob os signos do antigo e do moderno, sendo considerado, por muitos críticos, um dos livros inaugurais da pós-modernidade. Recuperando a tradição do romance epistolar (aqui páginas de diário em vez de cartas), Augusto Abelaira desconstrói os alicerces do romance clássico e cria uma nova ordem. A presença das datas que abrem as páginas do diário (à exceção de uma não-datada) e que convencionalmente seriam pontos de ancoragem temporal, transformam-se em instrumento de derisão paródica. O aparecimento de um segundo (terceiro) autor do diário, que reescreve, completa e emenda a versão do autor anterior, vem não só subverter de forma total as regras do género, mas também criar, pelo efeito de sobreposição de tempos, a desconstrução textual. A existência de vários autores do(s) diário(s), e por conseguinte de uma estância narrativa que se desdobra em várias vozes transmitindo outros tantos pontos de vista, dá origem a uma narração fragmentada, que se constitui como uma estratégica de problematização da impossibilidade da compreensão total ou do conhecimento da verdade absoluta, condição a que todos os seres estão votados.<br /><br />São igualmente os questionamentos da organização temporal e da construção da narrativa, numa elaboração alegórica de cunho irónico, que sustentam a trama diegética de <em>O Único animal que?</em>, cuja personagem principal, o macaco-homem, persegue o desejo de fugir à cronologia e destruir a linearidade temporal. Este romance tem a particularidade de ter sido apresentado de uma forma original. Numa recuperação curiosa da prática de folhetim muito em voga em meados do século passado foi publicado no <em>Jornal de Letras </em>ao longo de um ano (de 16/03/1982 a 29/03/1983).<br /><br />O pendor irónico que caracteriza a escrita abelairiana assume maior acutilância nos dois últimos romances. <em>Outrora Agora</em>, cujo título foi retirado de um poema de Fernando Pessoa apresentado em epígrafe, autor tutelar para Abelaira, assume-se como uma homenagem ao poeta. Constrói-se a narrativa pela sobreposição de níveis diegéticos, pela formulação constante de hipóteses, pelo confronto de versões, estratégias que se conjugam para uma apreensão mais próxima do sentido das coisas, vistas através do olhar sempre atento, lúcido e irónico da estância narrativa, que não se escusa a entrar frequentemente em diálogo com outros textos e outros autores, como no seguinte excerto, onde reencontramos uma personagem de Eça de Queirós: “<em>hoje, com o cartão de plástico, seria mais fácil, os progressos da nossa civilização, ó Jacinto</em>”.<br /><br /><em>Nem Só Mas Também</em>, o romance póstumo, convida o leitor a uma viagem incessante entre realidade e invenção, experiências vividas e vivências idealizadas, urdindo-se a narrativa pelo poder da memória. O texto surge ironicamente como um rascunho que melhorará quando e se for reescrito, acabando o narrador, já no final do romance, por encontrar o sentido da sua escrita: “<em>o meu objectivo, começo a adivinhá-lo, adivinha-se afinal simples: fazer de mim através da escrita um ser uno, não este caótico, contraditório indivíduo que sempre fui. Afinal escrever, mesmo descontinuamente, é fixar no papel uma continuidade e essa continuidade sou eu</em>”.<br /><br /><br /><b>BIBLIOGRAFIA<br /><br />1 - BIBLIOGRAFIA ATIVA<br /><br /><br />1.1 Produção literária</b></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>A Cidade das Flores</em>, (romance), 1959.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Os Desertores</em>, (romance), 1960.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>A Palavra É de Oiro</em>, (teatro), 1961.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>O Nariz de Cleópatra</em>, (teatro), 1962.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>As Boas Intenções</em> (Romance), 1963. Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Enseada Amena</em>, (romance), 1966. Prémio de Romance de IV Encontro da Imprensa Cultural.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Bolor</em>, (romance), 1968.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Ode (quase) marítima</em>, (monólogo), com desenhos de Maria Keil, 1968.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Quatro Paredes Nuas</em>, (contos), 1972.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Sem Tecto, Entre Ruínas</em>, (romance), 1978. Prémio Cidade de Lisboa.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Olfacto”, in <em>Poética dos Cinco Sentidos – La Dame à la Licorne</em>, 1979.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Anfitrião, Outra Vez</em>, (teatro), 1980.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>O Triunfo da Morte</em>, (romance), 1981.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>O Bosque Harmonioso</em>, (romance), 1982.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>O Único Animal Que?</em>, (romance), 1985.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Deste Modo ou Daquele</em>, (romance), 1990.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Outrora Agora</em>, (romance), 1996. Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB. Prémio Municipal Eça de Queiroz, da Câmara Municipal de Lisboa (Prémio de Prosa de Ficção). Prémio P.E.N. Clube Português de Ficção Prémio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Nem Só Mas Também</em>, (romance), 2004.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“O arquimortes”, in <em>Ficções </em>nº 8, 2003-2004.</span></span><br /><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><strong>1.2 Obras traduzidas</strong></span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Romeno:</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Bunele intentii </em>(As boas intenções), Tradução de Mirela Stanciulescu, Edinter, 1992</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Búlgaro:</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Outrora Agora</em>, Tradução de Iordanka Hascimento, Karin-Mariana Todorova, 1996. </span></span><br /><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><strong>1.3 Colaboração em periódicos (seleção)</strong></span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1947</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Sinceridade e falta de convicções na obra de Fernando Pessoa”, in <em>Mundo Literário: Semanário e crítica e informação</em>, nº 51, pp. 3-4.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1950</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Apontamento”, in <em>Contraponto: Cadernos de Crítica e Arte</em>, nº 1, pp. 1-3.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1954</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Acerca da ideia de progresso no Século XVI”, in <em>Vértice</em>, vol. 14, nº 133, pp. 539-542.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1958</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Urbano Tavares Rodrigues: Uma Pedrada no Charco”, in <em>Gazeta Musical e de Todas Artes</em>, nº 85, pp. 68-69.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“João José Cochofel: Iniciação Estética”, in <em>Gazeta Musical e de Todas Artes</em>, nº 86, pp. 88-89.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Fernanda Botelho: Calendário Privado”, in <em>Gazeta Musical e de Todas Artes</em>, nº 91-92, pp. 173-174.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1959</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Arte e Conhecimento”, in <em>Gazeta Musical e de Todas Artes</em>, nº 96, pp. 241-248.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Orpheu nos infernos. Tertúlia”, in <em>Gazeta Musical e de Todas Artes</em>, nº 105, p. 420.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Um livro inteligente e preguiçoso”, in <em>Dário Popular</em>. <em>Quinta-feira à tarde</em>, nº 132, pp. 7-11.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1962</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Confissões de um leitor de romances”, in <em>Dário de Lisboa. Vida Literária e Artística</em>, nº 189, pp. 17-21</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Nas vésperas de mais um centenário” in <em>Dário de Lisboa. Vida Literária e Artística</em>, nº 196, pp. 17-19</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1963</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Impressões de um leitor de romances”, in <em>Dário de Lisboa. Vida Literária e Artística</em>, nº 233, pp. 17-19.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Flores de papel”, in <em>Vértice</em>, vol. 23, nº 234/236, pp. 135-138</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1964</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">"Impressões de um leitor de romances", in <em>Suplemento Vida Literária e Artística do Diário de Lisboa</em>, 26 de Março.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1968</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Em louvor da virtude nas artes e nas letras” in <em>Dário de Lisboa. Vida Literária e Artística</em>, nº 233, pp. 4-5</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“José Gomes Ferreira: cantor (também) de passarinhos”, in <em>Dário de Lisboa. Vida Literária e Artística</em>, nº 506, p. 4</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Na época de entrevistas”, in <em>Dário de Lisboa. Vida Literária e Artística</em>, nº 515, pp. 4-5</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1972</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“A paisagem na literatura portuguesa”, in <em>Crítica</em>, nº 5 pp. 4-5.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1974</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Greves e caos económicos”, in <em>Vida Mundial</em>, Ano XXXV, nº 1826 (14 de Junho), pp. 7-8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Pontos de interrogação. Como ler um jornal?”, in <em>Vida Mundial</em>, Ano XXXV, nº 1829, p. 57.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Pêlo do mesmo cão”, in <em>Vida Mundial</em>, Ano XXXV, nº 1837, p. 53.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1975</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“O Respeito pelos Leitores”, in <em>O Jornal</em>, Ano I nº 9, p. 14.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“O congresso de escritores”, in <em>Vida Mundial</em>, nº 1861, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Que Portugal deixaremos aos nossos filhos?”, in <em>Vida Mundial</em>, nº 1868, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Paciência”, in <em>Vida Mundial</em>, nº 1885, p. 9.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1978</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“E agora António?”, in <em>O Jornal</em>, Ano III nº 147, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Magia”, literatura e revolução”, <em>Abril</em>, nº 3, pp. 2-4.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ainda o Tarrafal”, in <em>O Jornal</em>, Ano III nº 148, p. 6.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Aditamento à Carta de Pêro Vaz de Caminho”, in <em>O Jornal</em>, Ano III nº 150, p. 5.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. O país menos saudosista da Europa”, in <em>O Jornal</em>, Ano III nº 152, p. 3.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Melancolia”, in <em>O Jornal</em>, Ano III nº 154, p. 8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A indústria das opiniões”, in <em>O Jornal</em>, Ano III nº 156, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A propósito do 25 de Abril”, in <em>O Jornal</em>, Ano III nº 157, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Lição de coisas”, in <em>O Jornal</em>, Ano IV nº 160, p. 6.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. O direito às férias”, in <em>O Jornal</em>, Ano IV nº 173, p. 6.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Férias enfim!”, in <em>O Jornal</em>, Ano VI nº 175, p. 26.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Tentando desfazer um equívoco”, in <em>O Jornal</em>, Ano VI nº 178, p. 4.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Livros na gaveta”, in <em>O Jornal</em>, Ano IV nº 181, p. 33.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1979</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Natal”, in <em>O Jornal</em>, Ano IV nº 192, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. O meu partido sempre disse que”, in <em>O Jornal</em>, Ano IV nº 193, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Contra as passagens administrativas”, in <em>O Jornal</em>, Ano IV nº 196, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Homilia involuntária”, in <em>O Jornal</em>, Ano V nº 230, p. 9.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1980</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Sá Carneiro vai demitir-se?”, in <em>O Jornal</em>, Ano V nº 252, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Comunicação social e boas maneiras”, in <em>O Jornal</em>, Ano IV nº 254, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A grande festa do 25 de Abril”, in <em>O Jornal</em>, Ano V nº 257, p. 12.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Salazar de além”, in <em>O Jornal</em>, Ano VI nº 281, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Desculpa de mau pagador”, in <em>O Jornal</em>, Ano VI nº 294, p. 12.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1981</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O papel branco, afinal um tudo-nada pardacento”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 1, p. 16.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Alguma luz nos horizontes da cultura oficial?”, in <em>O Jornal</em>, Ano VI nº 308, p. 10.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Pecador eu me confesso”, in <em>O Jornal</em>, Ano VI nº 310, p. 6.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Salazar, o 25 de Abril e as ilusões perdidas”, in <em>O Jornal</em>, Ano VI nº 318, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Robinson Crusoe e o seu duplo”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 2, p. 8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Para uma outra história da literatura”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 3, p. 14.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O leitor imaginário”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 4, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Louros para a APU ou o PS deslaureado”, in <em>O Jornal</em>, Ano VII nº 346, p. 13.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1982</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Devo desistir?”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 23, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O ponto de referência”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 25, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Sugestão Democrática”, in <em>O Jornal</em>, Ano VII nº 359, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A RTP, a RDP, e os senhores ministros”, in <em>O Jornal</em>, Ano VII nº 365, p. 4.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. O poder da arte”, in <em>O Jornal</em>, Ano VII nº 367, p. 13.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Os deputados e a liberdade”, in <em>O Jornal</em>, Ano VIII nº 380, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Que pensa Ramalho Eanes”, in <em>O Jornal</em>, Ano VIII nº 397, p. 11.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1983</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Entrelinhas”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano III, nº 71, p. 22.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Uma proposta sólida”, in <em>O Jornal</em>, Ano VII nº 412, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A conferência de Lisboa”, in <em>O Jornal</em>, Ano VIII nº 423, p. 25.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Querida televisão”, in <em>O Jornal</em>, Ano IX nº 438, p. 8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Ainda a morte de Sá Carneiro”, in <em>O Jornal</em>, Ano IX nº 446, p. 5.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. A propósito de Eduardo Salgueiro”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano III, nº 72, p. 10.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1984</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. A morte do pai”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano III, nº 82, p. 12.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. A Crónica Geral de Espanha de 1344”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano III, nº 100, p. 19.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Ascensão e queda dos Jeans”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano IV. Nº 114, p. 23.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O Ministério da Finanças restaura as danças de morte medievais?”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano IV, nº 116, p. 5.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Os desafios do diabo”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano IV, nº 118, p. 19.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Sequóia”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 124, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Acordos culturais”, in <em>O Jornal</em>, Ano IX, nº 469, p. 33.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A censura e a RTP.”, in <em>O Jornal</em>, Ano X, nº 483, p. 17.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Apre, senhores políticos”, in <em>O Jornal</em>, Ano X, nº 511, p. 7.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1985</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Duas famílias culturais”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano VI, nº 134, p. 25.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Por quem os sinos dobram”, in <em>O Jornal</em>, Ano X, nº 524, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Homenagem a Fernando Pessoa”, in <em>O Jornal</em>, Ano XI nº 534, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Deus dorme?”, in <em>O Jornal</em>, Ano XI nº 562, p. 6.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1986</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Os escritores gostam de baralhar o jogo”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano VI, nº 200, p. 24.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1987</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A oposição na encruzilhada”, in <em>O Jornal</em>, Ano XII, nº 662, p. 8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A reforma do ensino já não existe”, in <em>O Jornal</em>, Ano XII, nº 629, p. 6.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A felicidade de ser minoritário”, in <em>O Jornal</em>, Ano XIII nº 670, p. 6.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1988</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Parágrafos únicos”, in <em>O Jornal</em>, Ano XIII, nº 684, p. 6.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Metafísica do pudim”, in <em>O Jornal</em>, Ano XIV, nº 717, p. 15.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. O adjectivo responsável”, in <em>O Jornal</em>, Ano XIV, nº 724, p. 8.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1989</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Tempos fora dos tempos”, in <em>O Jornal</em>, Ano XIV, nº 734, p. 14.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. O segredo da popularidade?”, in <em>O Jornal</em>, Ano XV, nº 752, p. 18.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Filosofia das luzes”, in <em>O Jornal</em>, Ano XV, nº 757, p. 14.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1990</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A terrível herança”, in <em>O Jornal</em>, Ano XV, nº 780, p. 16.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Trinta e dois anos depois”, in <em>O Jornal</em>, Ano XVI, nº 799, p. 4.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Recordando a destruição da SPE”, in <em>O Jornal</em>, Ano XVI, nº 817, p. 30.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Nascer em Portugal”, in <em>O Jornal</em>, Ano XVI, nº 826, p. 35.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1991</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Recordando o profeta Ezequiel”, in <em>O Jornal</em>, Ano XVII, nº 845, p. 10.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. Esclarecer ou não esclarecer”, in <em>O Jornal</em>, Ano XIII, nº 855, p. 6.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1992</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Os primos Karamazov”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XI, nº 500, p. 13.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Escrever na água. A solução óbvia”, in <em>O Jornal. O Jornal Ilustrado</em>, Ano XVII, nº 887, p. 15.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“A Morte de uma Época” Última Edição de O Jornal, In <em>O Jornal</em>, Ano XVII, p. 34.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1993</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Quando os leitores eram detectives das palavras”, <em>Jornal do Fundão</em>, Ano 48, nº 2440, p. 9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Segredos de leitura”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XII, nº 550, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Heroísmo”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIII, nº 568, p. 15.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Modesta proposta para uma história da literatura” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIII, nº 3, p. 5.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1994</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Saber ler”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIII, nº 602, p. 28.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Saber ler”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 613, p. 44.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Ler, reler?”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 619, p. 46.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O escritor e o público”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 620, p. 45.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O exame de latim” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 624, p. 39.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1995</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. De que falava Platão quando falava de coisa nenhuma”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 633, p. 41.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Duas leituras” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 635, p. 39.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Carteiristas” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 636, p. 45.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Recordação de Humberto Delgado” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 637, p. 40.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O milagre de Foz Côa” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XIV, nº 638 , p. 39.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Arte pela arte?”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 639, p. 41.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Washoe” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 641, p. 39.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. A história de amor que Homero ignorou”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 642, p. 41.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Deus ou ficção?”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 645, p. 39.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O erro de Voltaire”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 647, p. 36.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Horatio meu digno amigo” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 652, p. 24.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Problema em vez de conclusão” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 652, p. 38.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Como continuar” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 653, p. 36.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. A caça à lebre” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 655, p. 21.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1996</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Quando?” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 657, p. 37.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Rolhas” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 658, p. 36.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Livros de leitura permanente” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 659, p. 36.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Agora me recordo” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 660, p. 41.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O regresso de Thales de Mileto” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 661, p. 36.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. As portas da verdade” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 662, p. 21.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O acaso ou a necessidade?” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 663, p. 25.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Cafés e tertúlias” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 664, p. 41.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. A culpa” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 665, p. 38.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Quarenta em mil” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 666, p. 36.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Totoloto” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 667, p. 37.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. Saudades do Brasil” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 668, p. 28.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O escritor contra o orador” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 669, p. 6.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Ao pé das letras. O labirinto” <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 670, p. 37.</span></span><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1.4 Traduções</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>A Roda da Fortuna </em>de Roger Vaillant, Ulisseia, Lisboa, 1961.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>A Promessa </em>de Gary Kassel, Bertrand, Lisboa, 1962.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>O Tambor </em>de Günter Grass, Estúdios Cor, Lisboa, 1964.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>História do Mundo </em>de Jean Duché, (em co-autoria com Severiano Ferreira), Estúdios Cor, Lisboa, 1963 – 1971.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>A Segunda Guerra da Indochina</em> de Wilfred G. Burchett, Seara Nova, Lisboa, 1971.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>O Doutor Jivago </em>de Boris Pasternak, Europa – América, Mem Martins, 1987.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>O Declínio da Idade Média </em>de Johan Huizinga, Ulisseia, Lisboa, 1996.</span></span><br /><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1.5 Outras Colaborações</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Revisão de matriz da tradução de Sérgio Milliet de <em>Gosta de Brahms? </em>de Françoise Sagan, 1961.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Edição literária de Breve Interpretação da <em>História de Portugal</em>, de António Sérgio, 1972.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Edição literária de <em>Introdução Geográfico-Sociológica à história de Portugal </em>de António Sérgio, 1973</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Edição literária de <em>Introdução geográfico-sociológica à história de Portugal </em>de António Sérgio, 1973</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Edição literária de <em>Democracia </em>de António Sérgio, 1974</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Edição literária de <em>Ensaios </em>de António Sérgio, 1971-1974</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Edição literária de <em>Antologia Sociológica: Pátio das comédias </em>de António Sérgio, 1978</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Revisão de matriz da tradução de Lólio Lourenço Oliveira e J. B. Damasco Penna de <em>Vocabulário de Filosofia </em>de Armand Cuvillier, 1978.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Prefácio de <em>Puta de Prisão: a prostituição vista em Custóias, </em>de Isabel do Carmo e Fernanda Fráguas, Regra do Jogo, Lisboa, 1982.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Prefácio de <em>De Noite as Árvores são Negras</em>, de Maria Isabel Barreno, Rolim, 1987.</span></span><br /><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1.6 Entrevistas</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1961</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“10 minutos com…” (entrevista a Augusto Abelaira), <em>Diário de Lisboa – Vida Literária e Artística</em>, nº 179, pp. 16-20.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1962</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Tertúlias de Lisboa: o grupo do Bocage” (entrevista a João José Cochofel, Mário Dionísio, Augusto Abelaira, José Gomes Ferreira, Egídio Namorado, Aquilino Ribeiro Filho, Carlos de Oliveira), <em>Diário de Lisboa – Vida Literária e Artística</em>, nº 190, pp. 17-18.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1971</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Entrevista com Augusto Abelaira” (conduzida por Eduardo Dionísio e Luís Salgado de Matos), <em>Crítica</em>, nº 1. Novembro, pp. 7-10.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1986</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Não tenho opinião” depoimento a um inquérito sobre o Acordo Ortográfico; a tempestade das letras, in <em>Expresso: A Revista</em>, nº 712, p. 38.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1990</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Augusto Abelaira – ‘Escrevo romances policiais sem cadáver” (conduzida por José Carlos Vasconcelos), <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano X, nº 415, pp. 8-11.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1990</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“O Único Animal Que …”, (conduzida por Inês Pedrosa), <em>Expresso – A Revista</em>, nº 936, pp. 81-83.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1994</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Augusto Abelaira, escritor – ‘Já não se sabe fazer livros maus’ ”, (conduzida por Mário Santos), <em>Público – Suplemento Leituras</em>, p. 7.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1996</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“A palavra é de ouro” (conduzida por Rodrigues da Silva), Jornal de Letras, Artes e Ideias, Ano XVI, nº 665, pp. 6-8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Ciberkosk</em>, nº3, «Aquilo que os autores dizem em entrevistas não tem importância nenhuma», in http://www.ciberkiosk.pt.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">1999</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Entrevista a Augusto Abelaira”, (conduzida por Cecília Costa), in http://www.instituto-camoes.pt/arquivos/literatura/litrfeminino.html</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">2000</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">“Á conversa com Augusto Abelaira”, (conduzida por José Carlos Abrantes e Dora Santos), <em>Noesis</em>, nº 53, Janeiro/Março, pp. 41-49.</span></span><br /><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><strong>2 - BIBLIOGRAFIA PASSIVA</strong></span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">ARÊAS, Vilma, <em>A Cicatriz e o Verbo: análise da obra romanesca de Augusto Abelaira</em>, Casa da Medalha, Rio de Janeiro, 1972.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">AZEVEDO FILHO, Leodegário A. de, “O processo do romance em Augusto Abelaira”, in <em>Uma Visão Brasileira da Literatura Portuguesa</em>, Livraria Almedina, Coimbra, 1973.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">BOTELHO, Fernanda, “Augusto Abelaira – Deste Modo ou Daquele”, <em>Colóquio Letras</em>, nº 120, Abril/Junho, p. 213, 1991.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">CAMILO, João, <em>Augusto Abelaira e Vergílio Ferreira: plenitudes e absolutos adiados</em>, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa – Paris, 1983.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">COELHO, Eduardo Prado, “Augusto Abelaira: as palavras querem sempre dizer outra coisa”, in <em>O Cálculo das Sombras</em>, Edições Asa, Lisboa, 1997.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">COELHO, Nelly Novaes, “Augusto Abelaira – a consciência histórica de uma geração”,<em> Escritores Portugueses</em>, São Paulo, Edições Quiron, 1973, pp. 79-118.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">COSTA, André Pereira da, “Bolor a ambiguidade procurada”, <em>Colóquio Letras</em> nº 68 Julho 1982, pp. 35-41.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">COSTA, Linda Santos, “Um segredo intacto”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias, </em>Ano X, nº 421, 1990, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">COSTA, Maria Adelaide, <em>Os Caminhos de Narciso: uma leitura de Deste Modo e Daquele de Augusto Abelaira</em>, texto policopiado – tese de mestrado, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 1996.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">COSTA, Orlando, “Nem só mas também”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 10.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">CRUZ, Gastão, “Marivaux, Mozart, Renoir…”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 10.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">DANTAS, Gregório, “Nem Só Mas Também, de Augusto Abelaira”, <em>Estudos Portugueses e Africanos</em>, nºs 43/44, pp. 119-122.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">DUARTE, Lélia Parreira, “O Triunfo da Morte: novo caminho para o neo-realismo”, <em>Colóquio Letras</em>, nº 81, Setembro, 1984, pp. 34-39.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Criação e ironia em Borges e Abelaira”, <em>Colóquio Letras</em>, nº 109, Maio/Junho, 1989, pp. 55-59.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Ironia, componente da utopia – Fernão Mendes Pinto e Augusto Abelaira”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XI, nº 550, pp. 14-15.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">EMINESEU, Roxana, <em>Novas Coordenadas no Romance Português</em>, Biblioteca Breve, Lisboa, 1983.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">FERRAZ, Maria de Lurdes, “Artifícios de construção textual: a representação em Outrora Agora de Augusto Abelaira”, in <em>VI Congresso Internacional de Lusitanistas</em>, http://www.geocities.com/ail_br/artificiosdeconstrucaotextual.html</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">FERREIRA, José Gomes, <em>Dias comuns IV - Laboratório de cinzas</em>, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2004.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">FORNOS, José Luís Giovanoni, “A nação portuguesa revisitada em Deste Modo ou Daquele, de Augusto Abelaira, in http://www.pucrs.br/letras/pos/literaturaportuguesa/memoriadasgentes/trabalho4.htm</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">GUEDES, Maria Estela, recensão de O Bosque Harmonioso, <em>Colóquio Letras</em>, nº 73, 1982, pp. 77-78.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">GONÇALVES, Maria Isabel Rebelo, “O mito de Anfitrião na dramaturgia prtuguesa”, in <em>Revista da Faculdade de Letras</em>, nº.s 13-14, Junho de 1990, Lisboa, pp. 375-389.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">HENRY, Christel, <em>A Cidade das Flores pour une réception culturelle au Portugal du cinéma néoréaliste italien comme métaphore possible d’une absence: la réception critique du néoréalisme cinématographique italien dans le panorama culturel du Portugal des années 50, texto policopiado, tese de doutoramento, Université de Caen </em>(Basse Normandie) e Universidade de Lisboa, 2002.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">HORTA, Maria Teresa, “Questionar tudo”, <em>Jornal de Notícias</em>, 13 de Abril 1996, pp. 34-35.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">JÚDICE, Nuno, Á mesa da inteligência”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Ficção entre o olhar e a escrita”, <em>Expresso</em>, 19 de Julho 2004, pp. 48-49.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">LIMA, Isabel Pires de, “Traços Pós-modernos na Ficção Portuguesa Actual”, <em>Revista Semear </em>4, www. Letras.puc-rio.br/Catedra/revista/4Sem_02.html.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">LEPECKI, Maria Lúcia, “Posfácio deslocado”, introdução a <em>Enseada Amena, </em>col. Romances Portugueses – Obras Primas do séc. XX, Círculo dos Leitores, Lisboa, pp. VII – XI.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, <em>Meridianos do Texto</em>, Assírio e Alvim, Lisboa, 1979.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “O Bosque Harmonioso, ficções”, in <em>Sobreimpressões – Estudos de Literatura Portuguesa e Africana</em>, Editorial Caminho, Lisboa, 1988, pp. 31-38.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “O Triunfo da Morte, ou a dupla alegoria”, in <em>Sobreimpressões – Estudos de Literatura Portuguesa e Africana</em>, Editorial Caminho, Lisboa, 1988, pp. 39-44.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">LOPES, Óscar, “Augusto Abelaira Os Desertores”, in <em>Os Sinais e os Sentidos</em>, Editorial Caminho, Lisboa, pp. 273-280.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, Recensão crítica de As Boas Intenções, in <em>Comércio do Porto </em>de 11-II-1964.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">LOURENÇO, Eduardo, Da ubiquidade”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">MACHADO, Álvaro Manuel, <em>A Novelística Portuguesas Contemporânea</em>, 2º ed. Revista e aumentada, Biblioteca Breve, Lisboa, 1984.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">MACHADO, Carlos, <em>Entre a utopia e o apocalipse. Augusto Abelaira e o fim da história</em>, Angelus Novus, Coimbra, 2003.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">MARINHO, Maria de Fátima, <em>O romance histórico em Portugal</em>, Campo das Letras., Porto, 1999.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">MENDES, José Manuel, Tempo de dignidade”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 12.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">MOURÃO, Luís, “Augusto Abelaira: A Palha e o Resto”, <em>Cadernos de Literatura</em>, nº 24, Instituto nacional de Investigação Científica, Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra, 1980, pp. 35-46.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, <em>Um Romance de Impoder: a Paragem da História na Ficção Portuguesa contemporânea</em>, Angelus Novus, Braga – Coimbra, 1996.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">NAMORA, Fernando, “Ler e reler Abelaira”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 28, pp. 2-3.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">NEVES, Susana Caetano, <em>A (des)esperança de Sísifo ou de como Narciso se Busca a si próprio: contributos para uma análise do 25 de Abril na obra de Augusto Abelaira: crónicas</em>, texto policopiado - tese de mestrado da Universidade Aberta, 2002.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">OLIVEIRA, Marcelo Gonçalves, <em>Em Busca do Tempo Presente: Tempo, Discurso e Sujeito em Augusto Abelaira</em>, texto policopiado - Tese de Mestrado - Área de especialização: Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2000.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">OLIVEIRA, Rejane Pivetta, “Construção e desconstrução do real em O Único Animal Que?”, in <em>Anais do XIV Encontro de Professores Universitários de Literatura Portuguesa</em>, EDIPUCRS, Porto Alegre, 1994.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">POPPE, Manuel, “Tempo de espera? – Quatro Paredes Nuas”, in <em>Temas de Literatura Viva – 35 Escritores Contemporâneos</em>, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1972, pp. 47-50.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Fria ironia &amp; Etc. A Palavra É de Ouro”, in <em>Temas de Literatura Viva – 35 Escritores Contemporâneos</em>, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1972, pp. 51-54.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “O segredo de Ariadne”, <em>Jornal de Notícias</em>, 6 de Junho 2004, p. 14.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">PIRES, Lucília Gonçalves, “A reiteração no romance de Augusto Abelaira”, in <em>Cadernos de Literatura</em>, nº 7, Instituto nacional de Investigação Científica, Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra, 1980, pp. 38-44.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">ROCHA, Clara, recensão crítica a O Triunfo da Morte”, in <em>Colóquio Letras</em>, nº 66, Lisboa, 1982.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Intimismo e intervenção literária”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano I, nº 4, pp. 12-13.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">REAL, Miguel, “O triunfo do cepticismo”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIV, nº 877, pp. 8-9.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">REIS, Carlos, “Romance de geração”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVI, nº 668, p. 23.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Lembrança e louvor”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">RODRIGUES, Ernesto, Natureza e cultura – O Único Animal Que?”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVII, nº 694, p. 12.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">RODRIGUES, Urbano Tavares, “O Abelaira de Quatro Paredes Nuas”, <em>Seara Nova</em>, nº 1538, 1973, pp. 98-99.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Questionador de enigmas”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XV, nº 637, p. 23.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______“O espirituoso dissecador da existência”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 8.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">SEIXO, Maria Alzira, “Augusto Abelaira: um tempo de convergência”, in <em>Para um Estudo da Expressão do Tempo no Romance Português Contemporâneo</em>, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1968.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Augusto Abelaira, Quatro Paredes Nuas”, in <em>Discursos do Texto</em>, Livraria Bertrand, Lisboa, 1973.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, <em>Le Rapport individu - société dans les romans d’Augusto Abelaira</em>, Sep. do Bulletin des Études Portugaises et Brésiliennes, 33-34, Lisboa, 1974, pp. 353-358.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “O outro lado da ficção – Diário, Crónicas, Memórias, ect.”, <em>Colóquio Letras</em>, nº 82, Novembro 1984, pp. 76-81.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “A instituição alheada”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXII, nº 856, pp. 20-21.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">SILVA, Fátima Fernandes da, <em>À Escuta do silêncio: Bolor, Molloy e A Maçã no Escuro</em>, texto policopiado, tese de mestrado em Literatura Comparada, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, 2002.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">SILVA, Rodrigues da, “A obra de uma vida”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, pp. 6-7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">SIMÕES, João Gaspar, “Augusto Abelaira: A Cidade das Flores”, <em>Crítica III – Romancistas Contemporâneos (1942-1961)</em>, (sd.), pp. 441-446.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Augusto Abelaira: Os Desertores”, <em>Crítica III – Romancistas Contemporâneos (1942-1961)</em>, (sd.), pp. 446-450.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Augusto Abelaira: A Palavra É de Ouro”, <em>Crítica VI – O Teatro Contemporâneos (1942-1961)</em>, 1985, pp. 141-144.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Augusto Abelaira: O Nariz de Cleópatra”, <em>Crítica VI – O Teatro Contemporâneos (1942-1961)</em>, 1985, pp. 145-148.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Augusto Abelaira: Anfitrião Outra; Y. K. Centeno: Saudades do Paraíso”, <em>Crítica VI – O Teatro Contemporâneos (1942-1961)</em>, 1985, pp. 331-334.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “Fez-se luz…”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">SOTTOMAYOR, Appio, “Testamento literário em forma de romance”, <em>A Capital</em>, 2 de Junho 2004, p. 37.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">TORRES, Alexandre Pinheiro, “O problema do amor na classe média lisboeta: As Imagens Destruídas de Faure da Rosa e Enseada Amena de Augusto Abelaira”, <em>Ensaios Escolhidos I. Estudos sobre as Literaturas de Língua Portuguesa</em>, Caminho, Lisboa, 1989, pp. 117-128.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">VASCONCELOS, José Carlos, “O triunfo da vida”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIII, nº 855, p. 7.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">VENÂNCIO, Fernando, “Augusto já não mora aqui?”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVII, nº 692, p. 26.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">VIÇOSO, Vítor, “As ficções reversíveis – Outrora Agora”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XVII, nº 694, pp. 10-11.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">VIEIRA, Agripina Carriço, “Temas e Variações na Escrita de Augusto Abelaira”, <em>Colóquio Letras</em>, nº 161/162, Julho – Dezembro 2002, pp. 109-124.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">______, “O mundo dos possíveis”, <em>Jornal de Letras, Artes e Ideias</em>, Ano XXIV, nº 888, p. 22.</span></span><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">ZIBERMAN, Regina, “Bolor: identidade e verosimilhança”, in <em>Boletim do Centro de Estudos Portugueses</em>, vol. 13, nº. 16, Julho/Dezembro, Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1993.</span></span><br /></div> <p><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /></span></p> Bento de Jesus Caraça 2011-03-03T08:05:28+00:00 2011-03-03T08:05:28+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/bento-de-jesus-caraca-dp18.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <div style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Bento de Jesus Caraça</strong>, por Carlos Leone</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Bento de Jesus Caraça (Vila Viçosa, 1901 – Lisboa, 1948)</span><br /><br /></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Bento de Jesus Caraça" alt="Bento de Jesus Caraça" src="figuras/bentojesuscaraca/bentojesuscaraca.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Bento de Jesus Caraça, matemático e ensaísta, é ainda hoje uma das figuras de referência da Matemática em Portugal e figura cultural da Esquerda, sobretudo mais afeta ao Partido Comunista Português (um pouco como sucede com Rui Luís Gomes). Apesar de a sua morte ter sido prematura e de não ter tido oportunidade, por perseguição política, de exercer na Universidade todo o seu trabalho, a sua capacidade de intervenção, cultural e ideológica, sobrelevou esses problemas e garantiu-lhe uma posteridade para além do mundo universitário e do memorialismo antifascista. Tanto a sua Obra como a sua vida, pessoal e profissional, espelham a realidade portuguesa simultaneamente no que esta tinha de mais grave (a ditadura e seus efeitos) e de mais premente (a necessidade de romper com os paroquialismos).</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Oriundo de um meio social modesto, no Alentejo, a sua vocação para a matemática cedo se revelou e sempre manteve uma feição pedagógica e cívica intensa. A sua obra mais emblemática talvez seja <em>A Cultura Integral do Individuo</em>, de 1934, embora não seja a sua primeira publicação; de caráter ensaístico ela persiste ainda hoje como um trabalho de reflexão sobre a ciência na vida dos indivíduos, da cultura, do melhor que se fez em Portugal. Nesta produção inicial, forçoso será igualmente recordar <em>Galileu Galilei, Valor Científico e Valor Moral da sua Obra </em>(1933), um título revelador do espírito do autor, atendendo sobretudo ao ano de publicação. <em>Interpolação e Integração Numérica, Lições de Álgebra e Análise</em> (que lhe valeu elogios generalizados dos seus colegas) e <em>Cálculo Vetorial </em>(respetivamente de 1933, 1935 e 1937) granjearam-lhe respeito intelectual e reconhecimento como excecional divulgador de conhecimentos científicos especializados e atuais. Em 1938 funda e dirige o Centro de Estudos de Matemáticas Aplicadas à Economia, introduzindo em Portugal os métodos da econometria. A sua obra mais relevante, contudo, data de 1941, <em>Conceitos Fundamentais de Matemática</em>. Nesta obra encontramos a articulação filosófica da especialização matemática do autor com o seu espírito cívico. Apesar de se tratar de um livro publicado em três partes (dedicadas a Números, Funções e Continuidade) com uma história atribulada, a sua influência foi imensa: as duas primeiras partes surgiram em vida do autor, separados, na coleção Biblioteca Cosmos, por si dirigida e a que voltaremos mais adiante; mas só após a sua morte surge a terceira parte, reunida com as duas anteriores, em 1961.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Desde a década de 1930, também devido à sua intensa colaboração com publicações próximas do PCP (<em>Vértice</em>, <em>Diabo</em>, mesmo a <em>Seara</em> <em>Nova</em>), era um dos intelectuais académicos portugueses mais conhecidos do público. Muito ativo politicamente, fez parte do MUNAF (Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista, 1944) e «apadrinha» (com Azevedo Gomes) o surgimento do MUD (Movimento de Unidade Democrática, 1945). Toda esta combinação de espírito científico, empenho pedagógico e atividade oposicionista suscitaram naturalmente uma polémica com António Sérgio, que competia com todos os demais e, em particular, com a esquerda comunista pelo primado do apostolado entre os jovens da ciência e da democracia. Assim, em 1945 e 1946, nas páginas da <em>Vértice</em>, a leitura duvidosa de Platão por Sérgio e a exposição rigorosa de matemática por Caraça acabam por ser o menos relevante; trata-se sobretudo de um confronto que vinha já da década anterior, entre o espírito seareiro original, idealista, e a estratégia de influência comunista, materialista, de oposição ao regime. Apesar de o seu interesse por arte ter originado também reflexão no território em que habitualmente se pensa quando se fala de neorrealismo (a literatura, por oposição ao movimento da revista coimbrã Presença), como sucede em <em>A Arte e a Cultura Popular </em>(1936), certo é que a polémica de Caraça e Sérgio, já após a II Guerra Mundial, vem como que confirmar a verdadeira oposição interna aos círculos oposicionistas portugueses, entre os demoliberais como Sérgio e os revolucionários próximos do PCP designados usualmente «neorrealistas» por força da censura à defesa do comunismo.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Contudo, o espírito de Caraça não se encontrava dominado pelo sectarismo, como a sua criação mais lembrada, a Biblioteca Cosmos, comprova. Fundada em 1941, numa editora, Cosmos, que apostava forte na divulgação da ciência mais avançada (incluindo as ciências sociais e humanas, através das iniciativas de Vitorino Magalhães Godinho), a coleção dirigida por Bento de Jesus Caraça incluía diversas séries temáticas: «Ciência e Técnicas», «Artes e Ideias», «Filosofia e Religiões», «Povos e Civilizações», «Biografias», «Epopeias Humanas», «Problemas do nosso Tempo». Como se vê, era de facto toda uma biblioteca, orientada para uma cultura realmente integral. Fortemente marcada pela divulgação científica rigorosa, a partir daí sendo a referência no panorama editorial português nessa área, a sua influência imediata e mesmo posterior foi imensa, tendo ainda o mérito suplementar de não se limitar a traduzir obras adquiridas (o que também fez, naturalmente) mas de encomendar a autores portugueses, geralmente universitários, trabalhos originais adequados à coleção.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Como não poderia deixar de ser, tamanha proeminência prejudicou a sua vida profissional. Preso pela PIDE por duas vezes, acabou em 1946 por ser demitido da sua cátedra na Universidade Técnica de Lisboa. Permaneceu um ídolo entre os alunos do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (que, segundo a lenda, reduziam a sigla da instituição a «Isto Sem Caraça Era Fácil», dado a sua exigência como professor) e esteve ligado à origem da então inovadora <em>Revista de Economia</em>, cujo primeiro número, com colaboração sua, foi publicado em 1946, pouco tempo antes da sua morte. O seu funeral deu origem a um cortejo fúnebre explicitamente antissalazarista que ficou para a História. Hoje, com a publicação da sua Obra Integral em curso (muito lento, mas cuidado, a cargo de António Pedro Pita e de alguns outros investigadores, como Natália Bebiano), a sua memória está um pouco esquecida, apesar de o seu nome se encontrar repetidamente na toponímia das regiões do país, sobretudo a sul, nas autarquias comunistas.</span></span><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><strong>Referências bibliográficas:</strong></span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Calafate, P., dir., <em>História do Pensamento Filosófico Português</em>, (vol. V, tomo 2), editorial Caminho, Lisboa, 2000.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Coelho, A., <em>Desafio e Refutação – Controvérsia entre António Sérgio e Jesus Caraça sobre a Natureza e o Valor da Ciência</em>, Livros Horizonte, Lisboa, 1990.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Pacheco Pereira, J., <em>Álvaro Cunhal – Biografia Política</em>, vol. 2, temas&amp;debates, Lisboa, 2001.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Pita, coord., <em>Obra Integral de Bento de Jesus Caraça</em>, Campo das Letras, Porto (vários volumes, em curso desde 2002).</span></span><br /></div> <span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /></span> <div style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Bento de Jesus Caraça</strong>, por Carlos Leone</span><br /><br /><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Bento de Jesus Caraça (Vila Viçosa, 1901 – Lisboa, 1948)</span><br /><br /></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Bento de Jesus Caraça" alt="Bento de Jesus Caraça" src="figuras/bentojesuscaraca/bentojesuscaraca.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Bento de Jesus Caraça, matemático e ensaísta, é ainda hoje uma das figuras de referência da Matemática em Portugal e figura cultural da Esquerda, sobretudo mais afeta ao Partido Comunista Português (um pouco como sucede com Rui Luís Gomes). Apesar de a sua morte ter sido prematura e de não ter tido oportunidade, por perseguição política, de exercer na Universidade todo o seu trabalho, a sua capacidade de intervenção, cultural e ideológica, sobrelevou esses problemas e garantiu-lhe uma posteridade para além do mundo universitário e do memorialismo antifascista. Tanto a sua Obra como a sua vida, pessoal e profissional, espelham a realidade portuguesa simultaneamente no que esta tinha de mais grave (a ditadura e seus efeitos) e de mais premente (a necessidade de romper com os paroquialismos).</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Oriundo de um meio social modesto, no Alentejo, a sua vocação para a matemática cedo se revelou e sempre manteve uma feição pedagógica e cívica intensa. A sua obra mais emblemática talvez seja <em>A Cultura Integral do Individuo</em>, de 1934, embora não seja a sua primeira publicação; de caráter ensaístico ela persiste ainda hoje como um trabalho de reflexão sobre a ciência na vida dos indivíduos, da cultura, do melhor que se fez em Portugal. Nesta produção inicial, forçoso será igualmente recordar <em>Galileu Galilei, Valor Científico e Valor Moral da sua Obra </em>(1933), um título revelador do espírito do autor, atendendo sobretudo ao ano de publicação. <em>Interpolação e Integração Numérica, Lições de Álgebra e Análise</em> (que lhe valeu elogios generalizados dos seus colegas) e <em>Cálculo Vetorial </em>(respetivamente de 1933, 1935 e 1937) granjearam-lhe respeito intelectual e reconhecimento como excecional divulgador de conhecimentos científicos especializados e atuais. Em 1938 funda e dirige o Centro de Estudos de Matemáticas Aplicadas à Economia, introduzindo em Portugal os métodos da econometria. A sua obra mais relevante, contudo, data de 1941, <em>Conceitos Fundamentais de Matemática</em>. Nesta obra encontramos a articulação filosófica da especialização matemática do autor com o seu espírito cívico. Apesar de se tratar de um livro publicado em três partes (dedicadas a Números, Funções e Continuidade) com uma história atribulada, a sua influência foi imensa: as duas primeiras partes surgiram em vida do autor, separados, na coleção Biblioteca Cosmos, por si dirigida e a que voltaremos mais adiante; mas só após a sua morte surge a terceira parte, reunida com as duas anteriores, em 1961.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Desde a década de 1930, também devido à sua intensa colaboração com publicações próximas do PCP (<em>Vértice</em>, <em>Diabo</em>, mesmo a <em>Seara</em> <em>Nova</em>), era um dos intelectuais académicos portugueses mais conhecidos do público. Muito ativo politicamente, fez parte do MUNAF (Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista, 1944) e «apadrinha» (com Azevedo Gomes) o surgimento do MUD (Movimento de Unidade Democrática, 1945). Toda esta combinação de espírito científico, empenho pedagógico e atividade oposicionista suscitaram naturalmente uma polémica com António Sérgio, que competia com todos os demais e, em particular, com a esquerda comunista pelo primado do apostolado entre os jovens da ciência e da democracia. Assim, em 1945 e 1946, nas páginas da <em>Vértice</em>, a leitura duvidosa de Platão por Sérgio e a exposição rigorosa de matemática por Caraça acabam por ser o menos relevante; trata-se sobretudo de um confronto que vinha já da década anterior, entre o espírito seareiro original, idealista, e a estratégia de influência comunista, materialista, de oposição ao regime. Apesar de o seu interesse por arte ter originado também reflexão no território em que habitualmente se pensa quando se fala de neorrealismo (a literatura, por oposição ao movimento da revista coimbrã Presença), como sucede em <em>A Arte e a Cultura Popular </em>(1936), certo é que a polémica de Caraça e Sérgio, já após a II Guerra Mundial, vem como que confirmar a verdadeira oposição interna aos círculos oposicionistas portugueses, entre os demoliberais como Sérgio e os revolucionários próximos do PCP designados usualmente «neorrealistas» por força da censura à defesa do comunismo.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Contudo, o espírito de Caraça não se encontrava dominado pelo sectarismo, como a sua criação mais lembrada, a Biblioteca Cosmos, comprova. Fundada em 1941, numa editora, Cosmos, que apostava forte na divulgação da ciência mais avançada (incluindo as ciências sociais e humanas, através das iniciativas de Vitorino Magalhães Godinho), a coleção dirigida por Bento de Jesus Caraça incluía diversas séries temáticas: «Ciência e Técnicas», «Artes e Ideias», «Filosofia e Religiões», «Povos e Civilizações», «Biografias», «Epopeias Humanas», «Problemas do nosso Tempo». Como se vê, era de facto toda uma biblioteca, orientada para uma cultura realmente integral. Fortemente marcada pela divulgação científica rigorosa, a partir daí sendo a referência no panorama editorial português nessa área, a sua influência imediata e mesmo posterior foi imensa, tendo ainda o mérito suplementar de não se limitar a traduzir obras adquiridas (o que também fez, naturalmente) mas de encomendar a autores portugueses, geralmente universitários, trabalhos originais adequados à coleção.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Como não poderia deixar de ser, tamanha proeminência prejudicou a sua vida profissional. Preso pela PIDE por duas vezes, acabou em 1946 por ser demitido da sua cátedra na Universidade Técnica de Lisboa. Permaneceu um ídolo entre os alunos do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (que, segundo a lenda, reduziam a sigla da instituição a «Isto Sem Caraça Era Fácil», dado a sua exigência como professor) e esteve ligado à origem da então inovadora <em>Revista de Economia</em>, cujo primeiro número, com colaboração sua, foi publicado em 1946, pouco tempo antes da sua morte. O seu funeral deu origem a um cortejo fúnebre explicitamente antissalazarista que ficou para a História. Hoje, com a publicação da sua Obra Integral em curso (muito lento, mas cuidado, a cargo de António Pedro Pita e de alguns outros investigadores, como Natália Bebiano), a sua memória está um pouco esquecida, apesar de o seu nome se encontrar repetidamente na toponímia das regiões do país, sobretudo a sul, nas autarquias comunistas.</span></span><br /><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><strong>Referências bibliográficas:</strong></span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Calafate, P., dir., <em>História do Pensamento Filosófico Português</em>, (vol. V, tomo 2), editorial Caminho, Lisboa, 2000.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Coelho, A., <em>Desafio e Refutação – Controvérsia entre António Sérgio e Jesus Caraça sobre a Natureza e o Valor da Ciência</em>, Livros Horizonte, Lisboa, 1990.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Pacheco Pereira, J., <em>Álvaro Cunhal – Biografia Política</em>, vol. 2, temas&amp;debates, Lisboa, 2001.</span></span><br /><br /><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Pita, coord., <em>Obra Integral de Bento de Jesus Caraça</em>, Campo das Letras, Porto (vários volumes, em curso desde 2002).</span></span><br /></div> <span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /></span> Bernardo Marques 2011-03-03T08:15:52+00:00 2011-03-03T08:15:52+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/bernardo-marques-dp19.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Bernardo Marques</strong>, </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">por Marina Bairrão Ruivo</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Bernardo Marques" alt="Bernardo Marques" src="figuras/bernardomarques/bernardomarques01.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Bernardo Marques (1898-1962) foi autor de uma obra vastíssima e multifacetada que lhe confere um lugar de destaque na arte portuguesa contemporânea. Natural de Silves, nasceu no seio de uma família abastada. Veio para Lisboa em 1918 frequentar a Faculdade de Letras em Lisboa, que abandonou em 1921, juntamente com a sua colega de curso Ofélia Marques (1902-1952), pintora modernista que viria a ser sua mulher. No percurso da sua prática artística, que abrange o período de 1920 a 1962, é possível – apesar da diversidade das suas atividades – descortinar uma evolução inteligível, cujo fio condutor é o seu meio de expressão privilegiado, o desenho. Bernardo Marques preferiu, na sua opção pela prática do desenho, uma aprendizagem vivencial a uma formação académica e iniciou-se através do desenho humorístico, das caricaturas - de grande riqueza gráfica e decorativa - partilhando com os artistas “novos” da sua geração o desenvolvimento do modernismo durante a década de vinte. As imagens dos magazines não coincidiam com as imagens da realidade lisboeta. Lisboa, povoada de novos-ricos, era uma pequena cidade cheia de campos e lugares híbridos que Bernardo Marques retratou com um misto de ternura e de ironia. No final da década, a elegância daria lugar a uma temática mais social, e a estilização gráfica seria substituída por um traço mais violento e expressionista. Uma estadia em Berlim, em 1929, para além de lhe aguçar a perceção da estagnação da vida artística em Portugal, facultou-lhe novos meios de expressão. Os desenhos e as aguarelas de Berlim são registos de um impiedoso observador da sociedade urbana, resultam do contacto que teve com o expressionismo alemão e refletem já um certo desencanto e amargura associados a um traço mais violento e expressionista que caracterizaram a produção dos anos que se seguiram. Ao nível da ilustração, a sua produção deste período confina-se quase exclusivamente à sua colaboração nas revistas de cinema. A influência que o cinema exerceu e o mimetismo que provocou foram explorados com humor, ironia e algum ridículo em inúmeros desenhos de Bernardo Marques: a acutilante série de cinéfilas não foi com certeza feita para ser publicada numa revista da especialidade. Estadias por outras terras (Paris, Nova Iorque, São Francisco) condicionaram, de diferentes modos, a linguagem plástica e alimentaram o poder criador do artista. De Paris resultaram desenhos mais poéticos, de registo mais atmosférico. Depois de várias viagens e experiências plásticas e humanas diversificadas, Bernardo Marques regressa a Lisboa, iniciando um percurso mais solitário e particular. Apurando-se em técnica e solidão, vai passar gradualmente da análise dos homens à análise das coisas e concentrar a sua atenção na paisagem, rural ou urbana. É assim que nasce o paisagista dos anos quarenta. Nesses anos, a sua atividade desdobrou-se entre a ilustração, as artes gráficas e a decoração, colaborando com várias editoras e aceitando encomendas oficiais do S.P.N./S.N.I., participando na renovação do gosto artístico sem por isso se enquadrar na “Política do Espírito” protagonizada por António Ferro. Nestes anos, encontramos ainda outro tipo de desenhos, de caráter onírico, simbólico e até surreal. São exemplos pontuais que demonstram o interesse por vários tipos de correntes, sem as explorar, no entanto, até à exaustão. Na década de 50 volta ao desenho como atividade autónoma, de caráter íntimo, centrando-se essencialmente na análise da paisagem urbana e rural. Esta última fase, que culminou com a sua morte em 1962, corresponde à mais íntima e é acompanhada, tecnicamente, por importantes variações de registos, cada vez mais atmosféricos. É em Lisboa, a sua cidade de eleição, que uma mudança visível do relacionamento com o que rodeia vai ter lugar. Desinteressado dos homens, Bernardo Marques transferiu para a paisagem uma atenção cada vez mais seletiva e depurada. Percorreu o país de norte a sul, numa ânsia de ao mesmo tempo conhecer toda a terra portuguesa e de encontrar, quando lhe apetecia, o isolamento e a distância que procurava. As suas errâncias afetivas são pretextos para uma riquíssima e constante experimentação plástica. Mais sensível a valores como a forma, os volumes e a luz, os seus desenhos tornam-se mais sintéticos e depurados e transmitem uma impressão de calma e de recolhimento. A delicada caligrafia de signos, em que predomina a tinta da china, como que aprisiona a essência da paisagem através de uma sobreposição de linhas e da vibração colorística do preto e branco. Ignorando as formas estéticas que surgiam, Bernardo Marques assumiu uma postura simultaneamente sensível e distanciada, transferindo para a paisagem o seu espaço de intimidade. </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table style="text-align: justify;" id="_mc_tmp" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Bernardo Marques 2" alt="Bernardo Marques 2" src="figuras/bernardomarques/bernardomarques02.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">A variação dos meios técnicos utilizados, nomeadamente a aguarela de tradição paisagística e os pictóricos desenhos caligráficos a preto e branco, sugeridos pela sua atenção imediata à paisagem, tornam a obra de Bernardo Marques ambígua e original. É uma postura sincera e legítima, surgida de circunstâncias pessoais, que se ajusta ao lirismo íntimo e contemplativo que lhe convinha e que confere modernidade à sua obra.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">O percurso que se isola e se matura no silêncio da paisagem, alheio a correntes plásticas e ideológicas, confere-lhe um certo sentido de liberdade e de independência, fator que o torna, hoje em dia, mais atual e interessante. Contemporâneo da segunda geração modernista, Bernardo Marques participou ativamente na difusão do gosto moderno, sem por isso prescindir de formas de expressão muito pessoais que não se enquadravam nos padrões dominantes. Foi acima de tudo um grande desenhador.<br /><br /><br />Bibliografia:<br /><br /><br />Obras gerais<br /><br />BARROS, Júlia Leitão de - <em>Os «Night Clubs» de Lisboa nos anos 20</em>. Lisboa: Lucifer Edições, 1990.<br /><br />FRANÇA, José-Augusto - <em>A arte e a sociedade portuguesa no séc. XX</em>. Lisboa: Livros Horizonte, 1972.<br /><br />- <em>Os quadros de «A Brasileira»</em>. Lisboa: Artis, 1973.<br /><br />- <em>Cem Exposições</em>. Lisboa: INCM, 1982.<br /><br />- <em>A arte em Portugal no século XX</em>. Lisboa: Livraria Bertrand, 1984. <br /><br />- <em>O Modernismo na Arte Portuguesa</em>. Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa, 1987.<br /><br />- <em>História da arte ocidental, 1780-1980</em>. Lisboa: Livros Horizonte, 1987.<br /><br />- <em>Os anos vinte em Portugal</em>. Lisboa: Editorial Presença, 1992.<br /><br />- <em>Pintura portuguesa do séc. XX: de Amadeo a 1990</em>. Lisboa: Correios de Portugal, 1998.<br /><br />FREITAS, Maria Helena de - <em>Ilustração e grafismo nos anos 20</em>. Tese de Mestrado em História da Arte Contemporânea, FCSH/UNL, ex. policopiado, 1986.<br /><br />GONÇALVES, Rui Mário - <em>«O imaginário da cidade de Lisboa». In: O Imaginário da cidade: compilação as comunicações apresentadas no colóquio sobre o Imaginário da Cidade realizado em Outubro de 1985</em>. Lisboa: FCG: ACARTE, 1989.<br /><br />- <em>Pintura e escultura em Portugal, 1940-1980</em>. Lisboa: Instituto e Cultura Portuguesa, 1980.<br /><br />GUEDES, Fernando - <em>Estudos sobre artes plásticas. Os anos 40 em Portugal e outros estudos</em>. Lisboa: INCM, 1985.<br /><br />PORTELA, Artur - <em>Salazarismo e artes plásticas</em>. Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa, 1982.<br /><br />SANTOS, Rui Afonso - «O design e a decoração em Portugal». In: <em>História da Arte Portuguesa</em>, v. 3 (Dir. Paulo Pereira). Lisboa: Círculo dos Leitores, 1995.<br /><br />SILVA, Raquel Henriques da - «Sinais de ruptura: “livres” e humoristas». In: <em>História da Arte Portuguesa</em>, v. 3 (Dir. Paulo Pereira). Lisboa: Círculo dos Leitores, 1995.<br /><br /><br /><b>Obras específicas<br /></b><br />AZEVEDO, Fernando - «Memória de Bernardo Marques». In: <em>Bernardo Marques, obras de 1950 a 1960</em>. Lisboa: FCG, 1966<br /><br /> -</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> [texto de apresentação]. In: <em>Bernardo Marques (1899-1962)</em>. Lisboa: SEIT, 1969.<br /><br /> -</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> «A Terra e o Mar na obra de Bernardo Marques». In: <em>A Terra e o Mar</em>. Lisboa: FCG, 1976.<br /><br /> -</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> [texto de apresentação]. In: <em>Bernardo Marques: a entrega de um olhar</em>. Colares: Galeria de Colares, 1987.<br /><br /> -</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> «Bernardo Marques, do humor à contemplação». In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: FCG, 1989.<br /><br /> -</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> [texto de apresentação]. In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: Fundação Oriente, 1991.<br /><br />BERNARDO MARQUES <em>1898-1998. Obra gráfica</em>. Lisboa: IPM - Museu do Chiado, 1998.<br /><br />BERNARDO MARQUES <em>1898-1962</em>. Lisboa: CAMJAP, 1999.<br /><br />CASTRO, Fernanda - «Evocação do Bernardo». In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: FCG: CAM, 1989.<br /><br />CHICÓ, Silvia – [texto de apresentação]. In: <em>Bernardo Marques: a entrega de um olhar</em>. Colares: Galeria de Colares, 1987.<br /><br />COSTA, Pierre Léglise - «Bernardo Marques et son espace, Sintra». In: <em>Bernardo Marques: a entrega de um olhar</em>. Colares: Galeria de Colares, 1987.<br /><br />ESTEVES, Juvenal - «1953, por memória». In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: FCG: CAM, 1989.<br /><br />FERREIRA, David Mourão – [selecção de textos e prefácio]. <em>Saudades de Lisboa: de Eça de Queiroz a Miguel Torga</em>. Lisboa: Estúdios Cor, 1967.<br /><br />FERREIRA, Paulo - «Bernardo, mon frère d’élection». In: <em>Bernardo Marques: période 1934-1962</em>. Paris: FCG: CCP, 1982.<br /><br />FRANÇA, José-Augusto – [texto de apresentação]. In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: Galeria Dinastia, 1973.<br /><br />- [texto de apresentação]. In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: Galeria Dinastia, 1981.<br /><br />- «Introduction». In: <em>Bernardo Marques: période 1934-1962</em>. Paris: FCG: CCP, 1982.<br /><br />- «Bernardo Marques». In: <em>Os anos 40 na arte portuguesa</em>. Lisboa: FCG, 1982.<br /><br />- «Bernardo, anos 20». In: <em>Bernardo Marques: desenho e ilustração nos anos 20 e 30</em>. Lisboa: FCG, 1982.<br /><br />- «Breve intróito aos anos vinte». In: <em>O grafismo e a ilustração nos anos 20</em>. Lisboa: FCG: CAM, 1986 <br /><br />FREITAS, Maria Helena de - «Imagens e miragens de uma década». In: <em>O grafismo e a ilustração nos anos 20</em>. Lisboa: FCG: CAM, 1986.<br /><br />-</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> </span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"> «A Janela do Atelier». In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: FCG: CAM, 1989.<br /><br />MACEDO, Diogo de - «Bernardo Marques, apontamento inédito». In: <em>Bernardo Marques, obras de 1950 a 1960</em>. Lisboa: FCG, 1966.<br /><br />PAES, Sellés - <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: Ed. Notícias. Empresa Nacional de Publicidade, [s. d.]<br /><br />PEDRO, António - «Saudades do Bernardo Marques». In: <em>Bernardo Marques, obras de 1950 a 1960</em>. Lisboa: FCG, 1966.<br /><br />RUIVO, Marina Bairrão - [texto de apresentação e análise da obra]. In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: Fundação Oriente, 1991.<br /><br />- <em>Bernardo Marques (1898-1962)</em>. Lisboa: Ed. Presença, 1993.<br /><br />SEGURADO, Jorge - «Bernardo Marques decorador». In: <em>Bernardo Marques, obras de 1950 a 1960</em>. Lisboa: FCG, 1966.<br /><br />TEIXEIRA, Luís - «Recordando Bernardo Marques». In: <em>Bernardo Marques, obras de 1950 a 1960</em>. Lisboa: FCG, 1966.</span><br /></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Bernardo Marques</strong>, </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">por Marina Bairrão Ruivo</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Bernardo Marques" alt="Bernardo Marques" src="figuras/bernardomarques/bernardomarques01.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Bernardo Marques (1898-1962) foi autor de uma obra vastíssima e multifacetada que lhe confere um lugar de destaque na arte portuguesa contemporânea. Natural de Silves, nasceu no seio de uma família abastada. Veio para Lisboa em 1918 frequentar a Faculdade de Letras em Lisboa, que abandonou em 1921, juntamente com a sua colega de curso Ofélia Marques (1902-1952), pintora modernista que viria a ser sua mulher. No percurso da sua prática artística, que abrange o período de 1920 a 1962, é possível – apesar da diversidade das suas atividades – descortinar uma evolução inteligível, cujo fio condutor é o seu meio de expressão privilegiado, o desenho. Bernardo Marques preferiu, na sua opção pela prática do desenho, uma aprendizagem vivencial a uma formação académica e iniciou-se através do desenho humorístico, das caricaturas - de grande riqueza gráfica e decorativa - partilhando com os artistas “novos” da sua geração o desenvolvimento do modernismo durante a década de vinte. As imagens dos magazines não coincidiam com as imagens da realidade lisboeta. Lisboa, povoada de novos-ricos, era uma pequena cidade cheia de campos e lugares híbridos que Bernardo Marques retratou com um misto de ternura e de ironia. No final da década, a elegância daria lugar a uma temática mais social, e a estilização gráfica seria substituída por um traço mais violento e expressionista. Uma estadia em Berlim, em 1929, para além de lhe aguçar a perceção da estagnação da vida artística em Portugal, facultou-lhe novos meios de expressão. Os desenhos e as aguarelas de Berlim são registos de um impiedoso observador da sociedade urbana, resultam do contacto que teve com o expressionismo alemão e refletem já um certo desencanto e amargura associados a um traço mais violento e expressionista que caracterizaram a produção dos anos que se seguiram. Ao nível da ilustração, a sua produção deste período confina-se quase exclusivamente à sua colaboração nas revistas de cinema. A influência que o cinema exerceu e o mimetismo que provocou foram explorados com humor, ironia e algum ridículo em inúmeros desenhos de Bernardo Marques: a acutilante série de cinéfilas não foi com certeza feita para ser publicada numa revista da especialidade. Estadias por outras terras (Paris, Nova Iorque, São Francisco) condicionaram, de diferentes modos, a linguagem plástica e alimentaram o poder criador do artista. De Paris resultaram desenhos mais poéticos, de registo mais atmosférico. Depois de várias viagens e experiências plásticas e humanas diversificadas, Bernardo Marques regressa a Lisboa, iniciando um percurso mais solitário e particular. Apurando-se em técnica e solidão, vai passar gradualmente da análise dos homens à análise das coisas e concentrar a sua atenção na paisagem, rural ou urbana. É assim que nasce o paisagista dos anos quarenta. Nesses anos, a sua atividade desdobrou-se entre a ilustração, as artes gráficas e a decoração, colaborando com várias editoras e aceitando encomendas oficiais do S.P.N./S.N.I., participando na renovação do gosto artístico sem por isso se enquadrar na “Política do Espírito” protagonizada por António Ferro. Nestes anos, encontramos ainda outro tipo de desenhos, de caráter onírico, simbólico e até surreal. São exemplos pontuais que demonstram o interesse por vários tipos de correntes, sem as explorar, no entanto, até à exaustão. Na década de 50 volta ao desenho como atividade autónoma, de caráter íntimo, centrando-se essencialmente na análise da paisagem urbana e rural. Esta última fase, que culminou com a sua morte em 1962, corresponde à mais íntima e é acompanhada, tecnicamente, por importantes variações de registos, cada vez mais atmosféricos. É em Lisboa, a sua cidade de eleição, que uma mudança visível do relacionamento com o que rodeia vai ter lugar. Desinteressado dos homens, Bernardo Marques transferiu para a paisagem uma atenção cada vez mais seletiva e depurada. Percorreu o país de norte a sul, numa ânsia de ao mesmo tempo conhecer toda a terra portuguesa e de encontrar, quando lhe apetecia, o isolamento e a distância que procurava. As suas errâncias afetivas são pretextos para uma riquíssima e constante experimentação plástica. Mais sensível a valores como a forma, os volumes e a luz, os seus desenhos tornam-se mais sintéticos e depurados e transmitem uma impressão de calma e de recolhimento. A delicada caligrafia de signos, em que predomina a tinta da china, como que aprisiona a essência da paisagem através de uma sobreposição de linhas e da vibração colorística do preto e branco. Ignorando as formas estéticas que surgiam, Bernardo Marques assumiu uma postura simultaneamente sensível e distanciada, transferindo para a paisagem o seu espaço de intimidade. </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table style="text-align: justify;" id="_mc_tmp" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Bernardo Marques 2" alt="Bernardo Marques 2" src="figuras/bernardomarques/bernardomarques02.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">A variação dos meios técnicos utilizados, nomeadamente a aguarela de tradição paisagística e os pictóricos desenhos caligráficos a preto e branco, sugeridos pela sua atenção imediata à paisagem, tornam a obra de Bernardo Marques ambígua e original. É uma postura sincera e legítima, surgida de circunstâncias pessoais, que se ajusta ao lirismo íntimo e contemplativo que lhe convinha e que confere modernidade à sua obra.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">O percurso que se isola e se matura no silêncio da paisagem, alheio a correntes plásticas e ideológicas, confere-lhe um certo sentido de liberdade e de independência, fator que o torna, hoje em dia, mais atual e interessante. Contemporâneo da segunda geração modernista, Bernardo Marques participou ativamente na difusão do gosto moderno, sem por isso prescindir de formas de expressão muito pessoais que não se enquadravam nos padrões dominantes. Foi acima de tudo um grande desenhador.<br /><br /><br />Bibliografia:<br /><br /><br />Obras gerais<br /><br />BARROS, Júlia Leitão de - <em>Os «Night Clubs» de Lisboa nos anos 20</em>. Lisboa: Lucifer Edições, 1990.<br /><br />FRANÇA, José-Augusto - <em>A arte e a sociedade portuguesa no séc. XX</em>. Lisboa: Livros Horizonte, 1972.<br /><br />- <em>Os quadros de «A Brasileira»</em>. Lisboa: Artis, 1973.<br /><br />- <em>Cem Exposições</em>. Lisboa: INCM, 1982.<br /><br />- <em>A arte em Portugal no século XX</em>. Lisboa: Livraria Bertrand, 1984. <br /><br />- <em>O Modernismo na Arte Portuguesa</em>. Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa, 1987.<br /><br />- <em>História da arte ocidental, 1780-1980</em>. Lisboa: Livros Horizonte, 1987.<br /><br />- <em>Os anos vinte em Portugal</em>. Lisboa: Editorial Presença, 1992.<br /><br />- <em>Pintura portuguesa do séc. XX: de Amadeo a 1990</em>. Lisboa: Correios de Portugal, 1998.<br /><br />FREITAS, Maria Helena de - <em>Ilustração e grafismo nos anos 20</em>. Tese de Mestrado em História da Arte Contemporânea, FCSH/UNL, ex. policopiado, 1986.<br /><br />GONÇALVES, Rui Mário - <em>«O imaginário da cidade de Lisboa». In: O Imaginário da cidade: compilação as comunicações apresentadas no colóquio sobre o Imaginário da Cidade realizado em Outubro de 1985</em>. Lisboa: FCG: ACARTE, 1989.<br /><br />- <em>Pintura e escultura em Portugal, 1940-1980</em>. Lisboa: Instituto e Cultura Portuguesa, 1980.<br /><br />GUEDES, Fernando - <em>Estudos sobre artes plásticas. Os anos 40 em Portugal e outros estudos</em>. Lisboa: INCM, 1985.<br /><br />PORTELA, Artur - <em>Salazarismo e artes plásticas</em>. Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa, 1982.<br /><br />SANTOS, Rui Afonso - «O design e a decoração em Portugal». In: <em>História da Arte Portuguesa</em>, v. 3 (Dir. Paulo Pereira). Lisboa: Círculo dos Leitores, 1995.<br /><br />SILVA, Raquel Henriques da - «Sinais de ruptura: “livres” e humoristas». In: <em>História da Arte Portuguesa</em>, v. 3 (Dir. Paulo Pereira). Lisboa: Círculo dos Leitores, 1995.<br /><br /><br /><b>Obras específicas<br /></b><br />AZEVEDO, Fernando - «Memória de Bernardo Marques». In: <em>Bernardo Marques, obras de 1950 a 1960</em>. Lisboa: FCG, 1966<br /><br /> -</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> [texto de apresentação]. In: <em>Bernardo Marques (1899-1962)</em>. Lisboa: SEIT, 1969.<br /><br /> -</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> «A Terra e o Mar na obra de Bernardo Marques». In: <em>A Terra e o Mar</em>. Lisboa: FCG, 1976.<br /><br /> -</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> [texto de apresentação]. In: <em>Bernardo Marques: a entrega de um olhar</em>. Colares: Galeria de Colares, 1987.<br /><br /> -</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> «Bernardo Marques, do humor à contemplação». In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: FCG, 1989.<br /><br /> -</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> [texto de apresentação]. In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: Fundação Oriente, 1991.<br /><br />BERNARDO MARQUES <em>1898-1998. Obra gráfica</em>. Lisboa: IPM - Museu do Chiado, 1998.<br /><br />BERNARDO MARQUES <em>1898-1962</em>. Lisboa: CAMJAP, 1999.<br /><br />CASTRO, Fernanda - «Evocação do Bernardo». In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: FCG: CAM, 1989.<br /><br />CHICÓ, Silvia – [texto de apresentação]. In: <em>Bernardo Marques: a entrega de um olhar</em>. Colares: Galeria de Colares, 1987.<br /><br />COSTA, Pierre Léglise - «Bernardo Marques et son espace, Sintra». In: <em>Bernardo Marques: a entrega de um olhar</em>. Colares: Galeria de Colares, 1987.<br /><br />ESTEVES, Juvenal - «1953, por memória». In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: FCG: CAM, 1989.<br /><br />FERREIRA, David Mourão – [selecção de textos e prefácio]. <em>Saudades de Lisboa: de Eça de Queiroz a Miguel Torga</em>. Lisboa: Estúdios Cor, 1967.<br /><br />FERREIRA, Paulo - «Bernardo, mon frère d’élection». In: <em>Bernardo Marques: période 1934-1962</em>. Paris: FCG: CCP, 1982.<br /><br />FRANÇA, José-Augusto – [texto de apresentação]. In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: Galeria Dinastia, 1973.<br /><br />- [texto de apresentação]. In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: Galeria Dinastia, 1981.<br /><br />- «Introduction». In: <em>Bernardo Marques: période 1934-1962</em>. Paris: FCG: CCP, 1982.<br /><br />- «Bernardo Marques». In: <em>Os anos 40 na arte portuguesa</em>. Lisboa: FCG, 1982.<br /><br />- «Bernardo, anos 20». In: <em>Bernardo Marques: desenho e ilustração nos anos 20 e 30</em>. Lisboa: FCG, 1982.<br /><br />- «Breve intróito aos anos vinte». In: <em>O grafismo e a ilustração nos anos 20</em>. Lisboa: FCG: CAM, 1986 <br /><br />FREITAS, Maria Helena de - «Imagens e miragens de uma década». In: <em>O grafismo e a ilustração nos anos 20</em>. Lisboa: FCG: CAM, 1986.<br /><br />-</span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> </span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"> «A Janela do Atelier». In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: FCG: CAM, 1989.<br /><br />MACEDO, Diogo de - «Bernardo Marques, apontamento inédito». In: <em>Bernardo Marques, obras de 1950 a 1960</em>. Lisboa: FCG, 1966.<br /><br />PAES, Sellés - <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: Ed. Notícias. Empresa Nacional de Publicidade, [s. d.]<br /><br />PEDRO, António - «Saudades do Bernardo Marques». In: <em>Bernardo Marques, obras de 1950 a 1960</em>. Lisboa: FCG, 1966.<br /><br />RUIVO, Marina Bairrão - [texto de apresentação e análise da obra]. In: <em>Bernardo Marques</em>. Lisboa: Fundação Oriente, 1991.<br /><br />- <em>Bernardo Marques (1898-1962)</em>. Lisboa: Ed. Presença, 1993.<br /><br />SEGURADO, Jorge - «Bernardo Marques decorador». In: <em>Bernardo Marques, obras de 1950 a 1960</em>. Lisboa: FCG, 1966.<br /><br />TEIXEIRA, Luís - «Recordando Bernardo Marques». In: <em>Bernardo Marques, obras de 1950 a 1960</em>. Lisboa: FCG, 1966.</span><br /></span></p> Borges de Macedo 2011-03-03T08:30:48+00:00 2011-03-03T08:30:48+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/borges-de-macedo-dp17.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Borges de Macedo</strong>, </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">por Carlos Leone</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Jorge Borges de Macedo (Lisboa, 1921 - Lisboa, 1996)<br /></span></p> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Jorge Borges de Macedo" alt="Jorge Borges de Macedo" src="figuras/borgesdemacedo/borgesmacedo.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">A figura cultural de Jorge Borges de Macedo tem uma influência em Portugal que ultrapassa em muito a sua área académica por excelência, a História. Com efeito, é mesmo legítimo dizer que, tal como Vieira de Almeida excedeu a Filosofia e deixou marca em História e nas Ciências Sociais em geral, também Borges de Macedo exerceu um magistério com influência em numerosos cientistas sociais e filósofos de hoje, para além dos historiadores. Tal influência deveu-se a: capacidade argumentativa, em particular filosófica, invulgar; percurso político problemático, «da Esquerda para a Direita»; extraordinária capacidade de trabalho, sempre com originalidade.<br /><br />Fazendo parte de uma geração de historiadores decisiva no <em>aggiornamento</em> teórico e metodológico da historiografia portuguesa contemporânea, Borges de Macedo pertenceu ao «Grupo de Lisboa» (Oliveira Marques, cf. Referências bibliográficas) que, no final dos anos 1940 e início da década seguinte incluía também, entre outros, Vitorino Magalhães Godinho (com quem colaborou na tradução e divulgação das correntes então inovadoras da historiografia europeia) e Joel Serrão (tendo contribuído com vários ensaios, sobre temas de relevo, para o <em>Dicionário de História de Portugal</em>). O seu primeiro trabalho de fundo, <em>A situação económica no tempo de Pombal</em> (1951), marca o tom das suas obras iniciais, que se destacam pelos avanços que representam para a historiografia portuguesa contemporânea na área da História Económica, e que culminam com <em>Problemas de História da Indústria em Portugal no Século XVIII</em> (1963). Durante este período, a formação marxista (que mais tarde o próprio qualificaria como «hegeliana») transparece quer em conceitos quer em interpretações, sem esquecer ocasionais atividades extrauniversitárias, como a participação (discreta) na chamada «polémica interna do neo-realismo» nas páginas da revista Vértice dos anos 1950 (na sequência de várias intervenções anteriores na imprensa «progressista» do anos 1940). Mas rapidamente a sua carreira académica intensa o afasta das polémicas políticas do tempo e, em 1969, obtém a posição de catedrático da Faculdade de Letras, sendo igualmente seu diretor. Inequivocamente próximo do regime de Caetano, em 1974 é afastado compulsivamente da Faculdade, à qual regressará apenas em 1980. A sua ligação à Universidade Católica Portuguesa data desta época. Estes sobressaltos deveram-se tanto ao período histórico como ao temor que suscitava junto de alunos, embora mesmo entre estes os seus maiores críticos lhe reconhecessem uma capacidade intelectual fora do comum. O mesmo se verificará quando, após a sua aposentação por limite de idade, exerce o cargo de Diretor do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (desde 1990 até 1996, morrendo em funções), no qual foi particularmente controverso o regime de acesso de investigadores aos documentos da PIDE/DGS.<br /><br />Além da História Económica, também a Teoria da História, a História Política e Diplomática, e aspetos literários da História da Cultura foram objeto de trabalhos seus, que, desde a década de 1960, mas sobretudo a partir da década de 1970, são publicados cada vez mais na forma de prefácios, artigos, conferências, etc. Estes textos, apesar da sua curta extensão, quase sempre são extremamente originais, muito bem documentados e proporcionam ao leitor um ponto de vista original sobre temas em que, aparentemente, nada mais haveria a dizer. Para dar apenas um exemplo, que nos é particularmente caro pois o tema há muito que não conhece desenvolvimentos significativos, a conferência de 1974 «<em>Estrangeirados: um conceito a rever</em>». Nela encontramos uma crítica muito veemente à tradição historiográfica filiada em Sérgio, dirigida explicitamente ao artigo «Estrangeirados» incluído no <em>Dicionário de História de Portugal</em> e dando, por um lado, um manancial de informação documental, biográfica e bibliográfica habitualmente esquecida e, por outro, indicações metodológicas concretas (termo privilegiado por Borges de Macedo) quanto ao correto procedimento historiográfico (por oposição ao polemismo sergiano) a empregar na sua análise. Tal como sucede noutros textos seus, Borges de Macedo exprime aqui não apenas, e diríamos mesmo nem sequer fundamentalmente, uma oposição a correntes dominantes na historiografia do seu tempo (o que também faz, e com interesse) mas vai mais longe e expõe a sua conceção de História – algo que, em Portugal, talvez só Vitorino Magalhães Godinho elabora com igual mestria. Mesmo para aqueles que têm das ciências sociais e humanas um conceção antiteórica, algo comum em Portugal, esta dimensão filosófica da sua Obra não pode deixar de impressionar pela positiva, quer pelo rigor posto em fundamentá-la, quer pela capacidade polémica da sua escrita tensa, densa e marcada por um estilo austero mas em nada datado.<br /><br />Todos estes elementos conheceram alguma notoriedade pública quando, após décadas de prestígio intelectual na Universidade, a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia e a normalização do regime suscitaram em diversas instituições (como o Instituto de Defesa Nacional) e nos meios de comunicação social a procura da sua análise e opinião sobre questões internacionais. Nesta última fase, destaque para <em>História Diplomática Portuguesa: constantes e linhas de força </em>(1987) e <em>Portugal-Europa: para além da circunstância </em>(1988).<br /><br />Como é quase inevitável em Portugal, e apesar dos cargos de relevo que ocupou toda a sua vida, a originalidade de Jorge Borges de Macedo impediu que se formasse em torno da sua vasta e diversificada Obra uma «Escola» ou um conjunto de seguidores. Não obstante, como afirmámos no início, o facto de a sua atividade ser tão intensa e variada, e ter decorrido numa época em que a História e a Filosofia ainda estavam reunidas na Universidade e as Ciências Sociais ainda estarem a emergir, bem como, ainda, a sua ideologia ter mudado ao longo da vida de forma nítida, em muito contribuíram para que seja dos investigadores mais influentes da vida universitária portuguesa, que continua a recorrer muito ao seu trabalho.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /><br /><b>Referências bibliográficas:<br /></b><br />Barata, Maria do Rosário Themudo, <em>Elogio do Professor Doutor Jorge Borges de Macedo (1921-1996)</em>, Academia Portuguesa de História/Colibri, Lisboa, 2004. [inclui bibliografia de JBM e ainda textos de Humberto Baquero Moreno e Joaquim Veríssimo Serrão].<br /><br />Marques, A. H. Oliveira, org., <em>Antologia da historiografia portuguesa</em>, Publ. Europa-América, Lisboa, 1974 (2ª ed.).<br /><br />Mendonça, Manuela, <em>Jorge Borges de Macedo: itinerário de uma vida pública, cultural e científica</em>, Colibri, Lisboa, 1991.<br /><br />Serrão, Joaquim Veríssimo, dir., <em>Estudos em Homenagem a Jorge Borges de Macedo</em>, INIC, Lisboa, 1992.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Borges de Macedo</strong>, </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">por Carlos Leone</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Jorge Borges de Macedo (Lisboa, 1921 - Lisboa, 1996)<br /></span></p> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Jorge Borges de Macedo" alt="Jorge Borges de Macedo" src="figuras/borgesdemacedo/borgesmacedo.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">A figura cultural de Jorge Borges de Macedo tem uma influência em Portugal que ultrapassa em muito a sua área académica por excelência, a História. Com efeito, é mesmo legítimo dizer que, tal como Vieira de Almeida excedeu a Filosofia e deixou marca em História e nas Ciências Sociais em geral, também Borges de Macedo exerceu um magistério com influência em numerosos cientistas sociais e filósofos de hoje, para além dos historiadores. Tal influência deveu-se a: capacidade argumentativa, em particular filosófica, invulgar; percurso político problemático, «da Esquerda para a Direita»; extraordinária capacidade de trabalho, sempre com originalidade.<br /><br />Fazendo parte de uma geração de historiadores decisiva no <em>aggiornamento</em> teórico e metodológico da historiografia portuguesa contemporânea, Borges de Macedo pertenceu ao «Grupo de Lisboa» (Oliveira Marques, cf. Referências bibliográficas) que, no final dos anos 1940 e início da década seguinte incluía também, entre outros, Vitorino Magalhães Godinho (com quem colaborou na tradução e divulgação das correntes então inovadoras da historiografia europeia) e Joel Serrão (tendo contribuído com vários ensaios, sobre temas de relevo, para o <em>Dicionário de História de Portugal</em>). O seu primeiro trabalho de fundo, <em>A situação económica no tempo de Pombal</em> (1951), marca o tom das suas obras iniciais, que se destacam pelos avanços que representam para a historiografia portuguesa contemporânea na área da História Económica, e que culminam com <em>Problemas de História da Indústria em Portugal no Século XVIII</em> (1963). Durante este período, a formação marxista (que mais tarde o próprio qualificaria como «hegeliana») transparece quer em conceitos quer em interpretações, sem esquecer ocasionais atividades extrauniversitárias, como a participação (discreta) na chamada «polémica interna do neo-realismo» nas páginas da revista Vértice dos anos 1950 (na sequência de várias intervenções anteriores na imprensa «progressista» do anos 1940). Mas rapidamente a sua carreira académica intensa o afasta das polémicas políticas do tempo e, em 1969, obtém a posição de catedrático da Faculdade de Letras, sendo igualmente seu diretor. Inequivocamente próximo do regime de Caetano, em 1974 é afastado compulsivamente da Faculdade, à qual regressará apenas em 1980. A sua ligação à Universidade Católica Portuguesa data desta época. Estes sobressaltos deveram-se tanto ao período histórico como ao temor que suscitava junto de alunos, embora mesmo entre estes os seus maiores críticos lhe reconhecessem uma capacidade intelectual fora do comum. O mesmo se verificará quando, após a sua aposentação por limite de idade, exerce o cargo de Diretor do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (desde 1990 até 1996, morrendo em funções), no qual foi particularmente controverso o regime de acesso de investigadores aos documentos da PIDE/DGS.<br /><br />Além da História Económica, também a Teoria da História, a História Política e Diplomática, e aspetos literários da História da Cultura foram objeto de trabalhos seus, que, desde a década de 1960, mas sobretudo a partir da década de 1970, são publicados cada vez mais na forma de prefácios, artigos, conferências, etc. Estes textos, apesar da sua curta extensão, quase sempre são extremamente originais, muito bem documentados e proporcionam ao leitor um ponto de vista original sobre temas em que, aparentemente, nada mais haveria a dizer. Para dar apenas um exemplo, que nos é particularmente caro pois o tema há muito que não conhece desenvolvimentos significativos, a conferência de 1974 «<em>Estrangeirados: um conceito a rever</em>». Nela encontramos uma crítica muito veemente à tradição historiográfica filiada em Sérgio, dirigida explicitamente ao artigo «Estrangeirados» incluído no <em>Dicionário de História de Portugal</em> e dando, por um lado, um manancial de informação documental, biográfica e bibliográfica habitualmente esquecida e, por outro, indicações metodológicas concretas (termo privilegiado por Borges de Macedo) quanto ao correto procedimento historiográfico (por oposição ao polemismo sergiano) a empregar na sua análise. Tal como sucede noutros textos seus, Borges de Macedo exprime aqui não apenas, e diríamos mesmo nem sequer fundamentalmente, uma oposição a correntes dominantes na historiografia do seu tempo (o que também faz, e com interesse) mas vai mais longe e expõe a sua conceção de História – algo que, em Portugal, talvez só Vitorino Magalhães Godinho elabora com igual mestria. Mesmo para aqueles que têm das ciências sociais e humanas um conceção antiteórica, algo comum em Portugal, esta dimensão filosófica da sua Obra não pode deixar de impressionar pela positiva, quer pelo rigor posto em fundamentá-la, quer pela capacidade polémica da sua escrita tensa, densa e marcada por um estilo austero mas em nada datado.<br /><br />Todos estes elementos conheceram alguma notoriedade pública quando, após décadas de prestígio intelectual na Universidade, a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia e a normalização do regime suscitaram em diversas instituições (como o Instituto de Defesa Nacional) e nos meios de comunicação social a procura da sua análise e opinião sobre questões internacionais. Nesta última fase, destaque para <em>História Diplomática Portuguesa: constantes e linhas de força </em>(1987) e <em>Portugal-Europa: para além da circunstância </em>(1988).<br /><br />Como é quase inevitável em Portugal, e apesar dos cargos de relevo que ocupou toda a sua vida, a originalidade de Jorge Borges de Macedo impediu que se formasse em torno da sua vasta e diversificada Obra uma «Escola» ou um conjunto de seguidores. Não obstante, como afirmámos no início, o facto de a sua atividade ser tão intensa e variada, e ter decorrido numa época em que a História e a Filosofia ainda estavam reunidas na Universidade e as Ciências Sociais ainda estarem a emergir, bem como, ainda, a sua ideologia ter mudado ao longo da vida de forma nítida, em muito contribuíram para que seja dos investigadores mais influentes da vida universitária portuguesa, que continua a recorrer muito ao seu trabalho.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /><br /><b>Referências bibliográficas:<br /></b><br />Barata, Maria do Rosário Themudo, <em>Elogio do Professor Doutor Jorge Borges de Macedo (1921-1996)</em>, Academia Portuguesa de História/Colibri, Lisboa, 2004. [inclui bibliografia de JBM e ainda textos de Humberto Baquero Moreno e Joaquim Veríssimo Serrão].<br /><br />Marques, A. H. Oliveira, org., <em>Antologia da historiografia portuguesa</em>, Publ. Europa-América, Lisboa, 1974 (2ª ed.).<br /><br />Mendonça, Manuela, <em>Jorge Borges de Macedo: itinerário de uma vida pública, cultural e científica</em>, Colibri, Lisboa, 1991.<br /><br />Serrão, Joaquim Veríssimo, dir., <em>Estudos em Homenagem a Jorge Borges de Macedo</em>, INIC, Lisboa, 1992.</span></p> Carlos Ramos 2011-03-03T08:41:31+00:00 2011-03-03T08:41:31+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/carlos-ramos-dp28.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Carlos Ramos</strong>, por Bárbara Coutinho</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Carlos Ramos - Anos 60" alt="Carlos Ramos - Anos 60" src="figuras/carlosramos/carlosramos01x.jpg" height="199" width="144" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial;"> <span style="font-size: x-small;">Carlos Ramos - Anos 60</span></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Arquiteto, urbanista e pedagogo, Carlos João Chambers Ramos (1897-1969) nasce no Porto em 15 de janeiro de 1897. A infância passa-a em Lisboa depois de seu pai, Manuel Maria de Oliveira Ramos (1862-1931), ter sido convidado para lecionar a cátedra de História na Faculdade de Letras. Durante a adolescência, Carlos Ramos convive, graças à profissão e conhecimentos de seu pai, com a elite cultural e intelectual do país, crescendo num ambiente pautado pela música e pela arte. Depois de conhecer e privar com o arquiteto Ventura Terra, decide seguir arquitetura e, em 1915, faz o exame de admissão ao curso especial de arquitetura civil juntamente com os seus amigos, Cottinelli Telmo, Paulino Montez e Leitão de Barros. Durante o curso, tem ainda como colegas Cristino da Silva, Pardal Monteiro e Carlos Rebelo de Andrade, formando o que considera ser o maior lote de arquitetos que a Escola de Lisboa jamais formara. A amizade com Almada Negreiros, Eduardo Viana e Mário Eloy nasce durante a década de 1910, década em que projeta o Bristol Club, em que assiste aos bailados russos, em que participa na efémera revista <em>Sphinx</em> e no projeto da Lusitânia Films e em que inicia a sua importante coleção de arte.<br /><br />Arquiteto do primeiro modernismo português, Carlos Ramos retrata-se a si próprio como membro de uma “geração de transigentes” <a href="#1"><sup>[1]</sup></a> que teve de contemporizar ou mesmo abdicar de alguns dos seus ideais de forma a garantir a sua sobrevivência profissional. Nesta afirmação, Ramos mostra-se consciente dos custos e compromissos que implicou essa atitude. Depois da sua obra evoluir da influência <em>art déco</em> à afirmação da linguagem modernista, privilegiando a depuração e o tratamento rigoroso dos volumes <a href="#2"><sup>[2]</sup></a>, os projetos assinados entre 1930 e 1950 revelam-se qualitativamente irregulares. Testemunham o caráter eminentemente prático e epidérmico do modernismo nacional e a adoção de valores modernos utilizados como mais um vocabulário de uma linguagem eclética, cada vez mais historicista e revivalista. Deste modo, vemo-lo recorrer a um monumentalismo neoclássico, marcado por uma clara geometrização e uma frugalidade ornamental exterior quando se trata de representar o poder; a propor habitações, postos fronteiriços ou tribunais num regionalismo vernacular e com recurso a materiais de construção tradicionais; ou a projetar equipamentos públicos funcionalistas com técnicas e materiais modernos, como o betão armado e o vidro. Os inúmeros postos fronteiriços juntamente com os vários tribunais, equipamentos hospitalares e planos urbanísticos fazem dele uma figura importante na edificação da imagem arquitetónica do Estado Novo levada a cabo por Duarte Pacheco e pelo Ministério das Obras Públicas.<br /><br />Inerente a toda a sua obra arquitetónica está a procura em ultrapassar a aparente contradição entre os conceitos de <em>modernismo e nacionalismo</em>. Ao defender que <em>nacionalismo</em> não passa do conhecimento exato do espaço em que vivemos e <em>modernismo</em> a consciência exata do nosso tempo, Carlos Ramos procura encontrar, sem sucesso, a expressão arquitetónica que resultasse da articulação dos princípios funcionalistas com a especificidade nacional. Contudo, ao defender este princípio, antecipa o Regionalismo crítico dos anos cinquenta.<br /><br />Filho, sobrinho e neto de professores, Carlos Ramos toma a função educativa como o principal legado familiar. Para Ramos formar não é uma ação confinada à sala de aula nem se limita ao ensino de conhecimentos teóricos ou práticos. Formar é sobretudo transmitir uma ética profissional e uma consciência de classe que Ramos veicula através do seu exemplo, pois acredita que só com uma vida associativa forte e uma intervenção coesa dos arquitetos na sociedade civil é que se evitará uma outra geração de transigentes.<br /> <br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify; height: 169px;" align="left" border="0" width="191"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Carlos Ramos no atelier - finais dos anos 40" alt="Carlos Ramos no atelier - finais dos anos 40" src="figuras/carlosramos/carlosramos02x.jpg" height="127" width="198" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;">Carlos Ramos no atelier - finais dos anos 40</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Deste modo, e por defender que depende da mudança do sistema educativo toda e qualquer evolução da arquitetura nacional, só possível quando “a educação estética de meia dúzia de gerações sucessivas fôr feita com cuidado, bom senso e um grande sentido de equilíbrio” <a href="#3"><sup>[3]</sup></a>, Carlos Ramos elege a formação como objetivo maior da sua vida. Em 1933 concorre ao lugar de professor da 4ª cadeira de arquitetura na Escola de Belas Artes de Lisboa, juntamente com Paulino Montez, Cassiano Branco e Cristino da Silva. Fá-lo em nome dessa consciência e da determinação profunda em mudar o considerado obsoleto sistema de ensino. Perdida esta oportunidade para Cristino da Silva, Ramos transforma rapidamente o seu ateliê em Lisboa numa escola prática para as novas gerações de arquitetos que, durante os anos 1930 e 1940, encontram no Largo de Santos um contraponto ao ensino academizante protagonizado pela Escola. No ateliê Ramos exerce um papel de extrema relevância na tomada de consciência das novas gerações que com ele convivem, trabalham e aprendem. Por ali passam Keil do Amaral, Dário Vieira, Adelino Nunes, Raul Tojal ou Nuno Teotónio Pereira, entre muitos outros. É neste período que se torna uma referência incontornável para as novas gerações “nem sempre atravez das suas obras em que foi, por vezes, forçado a transigências, mas sempre atravez de encorajamentos aos outros e da defeza inabalável do seu direito a quererem ser coerentes com o seu tempo” <a href="#5"><sup>[4]</sup></a>.<br /><br />Concorrendo para este entendimento da formação, Carlos Ramos elege a palavra como meio privilegiado de comunicação e partilha. Homem de grande cultura geral, detentor de um rápido e ágil raciocínio e de uma escrita clara e apelativa, distingue-se em palestras, conferências e debates em que participa pelo seu discurso eloquente e retórico de fino e acutilante humor. Sem ser autor de um profundo corpo teórico reflete criticamente sobre a evolução da arquitetura e a função e formação do arquiteto, acaba por ganhar notoriedade entre a sua geração que pouco ou nada deixou escrito. Para Carlos Ramos toda e qualquer reflexão é indissociável da comunicação enquanto veículo de transmissão de conhecimentos e experiências. Daí recorrer sistematicamente ao seu percurso como exemplo prático, a interjeições pessoais e a imagens alegóricas de modo a facilitar a compreensão do seu raciocínio a toda a plateia. A reforma do sistema de ensino é a outra temática constante das suas comunicações. E mesmo que tal não aconteça, emana de todos seus discursos uma forte consciência pedagógica.<br /><br />Mas é na Escola de Belas Artes do Porto que Carlos Ramos acabará por concretizar o seu pensamento. A praticabilidade efetiva deste pensamento inicia-se em 1940 quando substitui Marques da Silva e assume as funções de professor interino da 4ª cadeira de arquitetura. Até 1952 – à exceção de 1946 a 1948 em que leciona na Escola de Lisboa – Ramos introduz uma série de inovações no ensino da arquitetura. Instaura a prática de as provas de arquitetura serem antecedidas por duas lições e leva os alunos a confrontarem-se com programas contemporâneos fazendo-os trabalhar sobre a arquitetura hospitalar, os aquartelamentos, a habitação coletiva ou os planos urbanísticos, enquanto fomenta o contacto direto com a prática profissional. É assim que promove a colaboração efetiva de discentes e docentes da Escola do Porto em projetos da sua responsabilidade. Na porta da sala de aula um excerto da definição de <em>arquiteto </em>de Vitrúvio <a href="#5"><sup>[5]</sup></a> relembra a todos que a formação é um ato contínuo e ininterrupto. No seu interior, Ramos promove a liberdade de expressão dos alunos, ajudando-os a desenvolver a sua capacidade de argumentação através da defesa das suas opções técnicas e formais. <em>Máxima liberdade com máxima responsabilidade</em> <a href="#6"><sup>[6]</sup></a> é o lema constantemente repetido.<br /><br />Em 1952, Carlos Ramos abandona a sala de aula para assumir a direção da Escola. Durante 15 anos consegue criar e manter, longe do estreito espartilho ideológico do Estado Novo, um microcosmos profícuo para a afirmação de uma consciência social e política inseparável das novas tendências arquitetónicas dos anos 1950/60. Este é um objetivo conseguido à custa de cedências, compromissos e pontuais ambiguidades numa delicada diplomacia. Durante este período, Ramos assume-se como catalisador ao promover um conjunto de atividades extracurriculares que procuram fazer da Escola um espaço cultural: as Magnas – onde se sente o pulsar da Escola com a exposição dos trabalhos de alunos e professores de arquitetura, pintura e escultura numa união das três artes; as exposições autorais ou temáticas; os cursos de verão e viagens; os concertos, debates, colóquios ou ciclos de cinema.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Carlos Ramos atelier - 1968" alt="Carlos Ramos atelier - 1968" src="figuras/carlosramos/carlosramos03x.jpg" height="152" width="232" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="padding-left: 60px; text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;">Carlos Ramos atelier - 1968</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-size: x-small;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">A Escola nunca foi entendida como um fim em si próprio, mas antes um meio de prosseguir a sua ideia de pedagogia. A sua importância não está apenas no que fez, disse ou lutou; encontra-se sobretudo na criação de um espaço livre, incentivador da ação de outros. Ramos teve a particular capacidade de saber olhar e congregar à sua volta homens de diferentes gerações, chamando-os para a Escola. Se o seu axial objetivo é construir uma escola de pessoas, a sua maior herança encontra-se no sentido de escola que transmite aos seus discípulos. Ramos forma no Porto alguns dos nossos mais importantes arquitetos desde a década de 1960 até à atualidade, entre os quais se destacam Mário Bonito, João Andresen, Arnaldo Araújo, Octávio Lixa Filgueiras, Alexandre Alves Costa, Sérgio Fernandez, Fernando Távora, Manuel Mendes, Alcino Soutinho e Álvaro Siza Vieira. Os diferentes percursos tomados por estes arquitetos e a sua importância na afirmação da arquitetura nacional, no desenvolvimento do ensino ou na reflexão teórica e histórica testemunham, mais uma vez, a herança do mestre cuja qualidade mais valorizada é o seu profundo sentido de equipa. É por estas razões que Alexandre Alves Costa apresenta a sua geração com objetivos, atitudes e convicções completamente diferentes dos de Carlos Ramos, mas acaba por se confessar herdeiro deste ao afirmar – “sem ele, não seríamos o que somos” <a href="#7"><sup>[7]</sup></a>.<br /><br /><br /><b>Notas:<br /></b><span style="font-size: x10pt;"><br /></span></span><span style="color: #333333;"><a name="1"></a></span><span style="color: #333333; font-family: arial;">[1] Carlos Ramos, <em>Alguns problemas de Urbanismo</em>, conferência organizada pelo ODAM, Ateneu Comercial do Porto, 1951 (manuscrito - Departamento de Documentação e Pesquisa – Centro de Arte Moderna).<br /><br /></span><span style="color: #333333;"><a name="2"></a></span><span style="color: #333333; font-family: arial;">[2] O edifício Barros &amp; Santos (1921/22) – depois Agência Havas, o Bairro Económico de Olhão (1925), o Pavilhão do Rádio (1927-1933), o projeto do Liceu Feminino Filipa de Lencastre (1929), o primeiro projeto para a Habitação Moreira de Almeida (1928) ou o Instituto Navarro de Paiva (1931) testemunham esta evolução.<br /><br /></span><span style="color: #333333;"><a name="3"></a></span><span style="color: #333333; font-family: arial;">[3] Carlos Ramos, «Algumas palavras e o seu verdadeiro significado», <em>Sudoeste</em>, nº 3, 1935.<br /><br /></span><span style="color: #333333;"><a name="4"></a></span><span style="color: #333333; font-family: arial;">[4] Keil do Amaral, <em>Homenagem a Carlos Ramos. Discurso proferido no Tivoli</em>, 1967 (manuscrito – espólio Carlos Ramos).<br /><br /></span><span style="color: #333333;"><a name="5"></a></span><span style="color: #333333; font-family: arial;">[5] “Para conseguir ser um bom arquitecto, é necessário ter talento e interesse pelo estudo, já que nem o talento sem o estudo, nem o estudo sem o talento podem formar um bom arquitecto. O futuro arquitecto deve estudar gramática, desenvolver a técnica de desenho, estudar geometria, instruir-se em aritmética e ser versado em história. Saber ouvir os filósofos com aproveitamento, ter conhecimentos de música, não ignorar a medicina, conseguir unir os conhecimentos do direito aos da astrologia e astronomia”, Tradução livre da versão espanhola de Marco Vitruvio, <em>Los Diez Libros de Arquitectura</em>. Barcelona: Editorial Ibéria, 1997, p.6.<br /><br /></span><span style="color: #333333;"><a name="6"></a></span><span style="color: #333333; font-family: arial;">[6] Fernando Távora, Evocando Carlos Ramos. rA. <em>Revista da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto</em>, Porto, FAUP, ano I, nº 0, Out -1987, p.75<br /><br /></span><span style="color: #333333;"><a name="7"></a></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="font-size: x10pt;">[7] Alexandre Alves da Costa, <em>Introdução ao Estudo da História da Arquitectura Portuguesa</em>. Porto: FAUP, 1995, p. 95.<br /><br /></span><br /><b>Bibliografia:<br /></b><br />ALMEIDA, Pedro Vieira, FILGUEIRAS, Octávio Lixa, GONÇALVES, Rui Mário e RAMOS, Carlos Manuel, <em>Carlos Ramos. Exposição retrospectiva da sua obra</em>. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1986.<br /><br />COUTINHO, Bárbara dos Santos – <em>Carlos Ramos (1897-1969): Obra, Pensamento e Acção. A Procura do Compromisso entre o Modernismo e a Tradição</em>. Lisboa: FCSH/ UNL, 2001.<br /><br />COUTINHO, Bárbara dos Santos, “Carlos Ramos, Comunicar e Professor – Contributo para a Afirmação e Divulgação do Moderno” in AA.VV., <em>Arquitectura Moderna Portuguesa</em>. 1920 -1970. Lisboa: IPPA, 2004.<br /><br />____________________<br /><br />ACCIAIUOLI, Margarida – <em>Exposições do Estado Novo 1934-1940</em>. Lisboa: Livros Horizonte, 1998.<br /><br />ACCIAIUOLI, Margarida – <em>Os Anos 40 em Portugal. O País, o Regime e as Artes. “Restauração” e “Celebração”</em>, dissertação de doutoramento em História da Arte Contemporânea, F.C.S.H., U.N.L., Lisboa, 1991, 2 vol.<br /><br />ALMEIDA, Pedro Vieira de; FERNANDES, José Manuel – "A Arquitectura Moderna", in <em>História da Arte em Portugal</em>. Lisboa: Alfa, 1986. vol. XIV.<br /><br />ALMEIDA, Pedro Vieira de – <em>Os concursos de Sagres. ”Representação 35” Condicionantes Consequências</em>, dissertação de doutoramento, Universidade de Valladolid, 1998.<br /><br />BECKER, Annette; TOSTÕES, Ana; WANG, Wilfried (org.) – <em>A Arquitectura do Século XX. Portugal</em>. Lisboa, Frankfurt: Portugal-Frankfurt 97, DAM, 1997.<br /><br />COSTA, Alexandre Alves – <em>Introdução ao Estudo da História da Arquitectura Portuguesa</em>. Porto: FAUP, 1995<br /><br />FERNANDES, José Manuel – <em>Arquitectura Modernista em Portugal [1890.1940]</em>. Lisboa: Gradiva, 1993.<br /><br />FRANÇA, José-Augusto – <em>A Arte em Portugal no Século XX</em>. Lisboa: Bertrand,1974 (2ª ed., 1984).<br /><br />PEREIRA, Nuno Teotónio; FERNANDES, José Manuel – "A Arquitectura do Estado Novo de 1926 a 1959" in <em>O Estado Novo das Origens ao Fim da Autarcia (1926-1959)</em>. Lisboa: Fragmentos, 1987. Vol. II, pp. 323-357.<br /><br />PORTAS, Nuno – "A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal: uma Interpretação" in Bruno Zevi, <em>História da Arquitectura Moderna</em>. Lisboa: Editora Ática, 1970-79. Vol II.<br /><br />TOSTÕES, Ana – <em>Os Verdes Anos na Arquitectura Portuguesa nos Anos 50</em>. Porto: FAUP, 1997.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Carlos Ramos</strong>, por Bárbara Coutinho</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Carlos Ramos - Anos 60" alt="Carlos Ramos - Anos 60" src="figuras/carlosramos/carlosramos01x.jpg" height="199" width="144" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial;"> <span style="font-size: x-small;">Carlos Ramos - Anos 60</span></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Arquiteto, urbanista e pedagogo, Carlos João Chambers Ramos (1897-1969) nasce no Porto em 15 de janeiro de 1897. A infância passa-a em Lisboa depois de seu pai, Manuel Maria de Oliveira Ramos (1862-1931), ter sido convidado para lecionar a cátedra de História na Faculdade de Letras. Durante a adolescência, Carlos Ramos convive, graças à profissão e conhecimentos de seu pai, com a elite cultural e intelectual do país, crescendo num ambiente pautado pela música e pela arte. Depois de conhecer e privar com o arquiteto Ventura Terra, decide seguir arquitetura e, em 1915, faz o exame de admissão ao curso especial de arquitetura civil juntamente com os seus amigos, Cottinelli Telmo, Paulino Montez e Leitão de Barros. Durante o curso, tem ainda como colegas Cristino da Silva, Pardal Monteiro e Carlos Rebelo de Andrade, formando o que considera ser o maior lote de arquitetos que a Escola de Lisboa jamais formara. A amizade com Almada Negreiros, Eduardo Viana e Mário Eloy nasce durante a década de 1910, década em que projeta o Bristol Club, em que assiste aos bailados russos, em que participa na efémera revista <em>Sphinx</em> e no projeto da Lusitânia Films e em que inicia a sua importante coleção de arte.<br /><br />Arquiteto do primeiro modernismo português, Carlos Ramos retrata-se a si próprio como membro de uma “geração de transigentes” <a href="#1"><sup>[1]</sup></a> que teve de contemporizar ou mesmo abdicar de alguns dos seus ideais de forma a garantir a sua sobrevivência profissional. Nesta afirmação, Ramos mostra-se consciente dos custos e compromissos que implicou essa atitude. Depois da sua obra evoluir da influência <em>art déco</em> à afirmação da linguagem modernista, privilegiando a depuração e o tratamento rigoroso dos volumes <a href="#2"><sup>[2]</sup></a>, os projetos assinados entre 1930 e 1950 revelam-se qualitativamente irregulares. Testemunham o caráter eminentemente prático e epidérmico do modernismo nacional e a adoção de valores modernos utilizados como mais um vocabulário de uma linguagem eclética, cada vez mais historicista e revivalista. Deste modo, vemo-lo recorrer a um monumentalismo neoclássico, marcado por uma clara geometrização e uma frugalidade ornamental exterior quando se trata de representar o poder; a propor habitações, postos fronteiriços ou tribunais num regionalismo vernacular e com recurso a materiais de construção tradicionais; ou a projetar equipamentos públicos funcionalistas com técnicas e materiais modernos, como o betão armado e o vidro. Os inúmeros postos fronteiriços juntamente com os vários tribunais, equipamentos hospitalares e planos urbanísticos fazem dele uma figura importante na edificação da imagem arquitetónica do Estado Novo levada a cabo por Duarte Pacheco e pelo Ministério das Obras Públicas.<br /><br />Inerente a toda a sua obra arquitetónica está a procura em ultrapassar a aparente contradição entre os conceitos de <em>modernismo e nacionalismo</em>. Ao defender que <em>nacionalismo</em> não passa do conhecimento exato do espaço em que vivemos e <em>modernismo</em> a consciência exata do nosso tempo, Carlos Ramos procura encontrar, sem sucesso, a expressão arquitetónica que resultasse da articulação dos princípios funcionalistas com a especificidade nacional. Contudo, ao defender este princípio, antecipa o Regionalismo crítico dos anos cinquenta.<br /><br />Filho, sobrinho e neto de professores, Carlos Ramos toma a função educativa como o principal legado familiar. Para Ramos formar não é uma ação confinada à sala de aula nem se limita ao ensino de conhecimentos teóricos ou práticos. Formar é sobretudo transmitir uma ética profissional e uma consciência de classe que Ramos veicula através do seu exemplo, pois acredita que só com uma vida associativa forte e uma intervenção coesa dos arquitetos na sociedade civil é que se evitará uma outra geração de transigentes.<br /> <br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify; height: 169px;" align="left" border="0" width="191"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Carlos Ramos no atelier - finais dos anos 40" alt="Carlos Ramos no atelier - finais dos anos 40" src="figuras/carlosramos/carlosramos02x.jpg" height="127" width="198" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;">Carlos Ramos no atelier - finais dos anos 40</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Deste modo, e por defender que depende da mudança do sistema educativo toda e qualquer evolução da arquitetura nacional, só possível quando “a educação estética de meia dúzia de gerações sucessivas fôr feita com cuidado, bom senso e um grande sentido de equilíbrio” <a href="#3"><sup>[3]</sup></a>, Carlos Ramos elege a formação como objetivo maior da sua vida. Em 1933 concorre ao lugar de professor da 4ª cadeira de arquitetura na Escola de Belas Artes de Lisboa, juntamente com Paulino Montez, Cassiano Branco e Cristino da Silva. Fá-lo em nome dessa consciência e da determinação profunda em mudar o considerado obsoleto sistema de ensino. Perdida esta oportunidade para Cristino da Silva, Ramos transforma rapidamente o seu ateliê em Lisboa numa escola prática para as novas gerações de arquitetos que, durante os anos 1930 e 1940, encontram no Largo de Santos um contraponto ao ensino academizante protagonizado pela Escola. No ateliê Ramos exerce um papel de extrema relevância na tomada de consciência das novas gerações que com ele convivem, trabalham e aprendem. Por ali passam Keil do Amaral, Dário Vieira, Adelino Nunes, Raul Tojal ou Nuno Teotónio Pereira, entre muitos outros. É neste período que se torna uma referência incontornável para as novas gerações “nem sempre atravez das suas obras em que foi, por vezes, forçado a transigências, mas sempre atravez de encorajamentos aos outros e da defeza inabalável do seu direito a quererem ser coerentes com o seu tempo” <a href="#5"><sup>[4]</sup></a>.<br /><br />Concorrendo para este entendimento da formação, Carlos Ramos elege a palavra como meio privilegiado de comunicação e partilha. Homem de grande cultura geral, detentor de um rápido e ágil raciocínio e de uma escrita clara e apelativa, distingue-se em palestras, conferências e debates em que participa pelo seu discurso eloquente e retórico de fino e acutilante humor. Sem ser autor de um profundo corpo teórico reflete criticamente sobre a evolução da arquitetura e a função e formação do arquiteto, acaba por ganhar notoriedade entre a sua geração que pouco ou nada deixou escrito. Para Carlos Ramos toda e qualquer reflexão é indissociável da comunicação enquanto veículo de transmissão de conhecimentos e experiências. Daí recorrer sistematicamente ao seu percurso como exemplo prático, a interjeições pessoais e a imagens alegóricas de modo a facilitar a compreensão do seu raciocínio a toda a plateia. A reforma do sistema de ensino é a outra temática constante das suas comunicações. E mesmo que tal não aconteça, emana de todos seus discursos uma forte consciência pedagógica.<br /><br />Mas é na Escola de Belas Artes do Porto que Carlos Ramos acabará por concretizar o seu pensamento. A praticabilidade efetiva deste pensamento inicia-se em 1940 quando substitui Marques da Silva e assume as funções de professor interino da 4ª cadeira de arquitetura. Até 1952 – à exceção de 1946 a 1948 em que leciona na Escola de Lisboa – Ramos introduz uma série de inovações no ensino da arquitetura. Instaura a prática de as provas de arquitetura serem antecedidas por duas lições e leva os alunos a confrontarem-se com programas contemporâneos fazendo-os trabalhar sobre a arquitetura hospitalar, os aquartelamentos, a habitação coletiva ou os planos urbanísticos, enquanto fomenta o contacto direto com a prática profissional. É assim que promove a colaboração efetiva de discentes e docentes da Escola do Porto em projetos da sua responsabilidade. Na porta da sala de aula um excerto da definição de <em>arquiteto </em>de Vitrúvio <a href="#5"><sup>[5]</sup></a> relembra a todos que a formação é um ato contínuo e ininterrupto. No seu interior, Ramos promove a liberdade de expressão dos alunos, ajudando-os a desenvolver a sua capacidade de argumentação através da defesa das suas opções técnicas e formais. <em>Máxima liberdade com máxima responsabilidade</em> <a href="#6"><sup>[6]</sup></a> é o lema constantemente repetido.<br /><br />Em 1952, Carlos Ramos abandona a sala de aula para assumir a direção da Escola. Durante 15 anos consegue criar e manter, longe do estreito espartilho ideológico do Estado Novo, um microcosmos profícuo para a afirmação de uma consciência social e política inseparável das novas tendências arquitetónicas dos anos 1950/60. Este é um objetivo conseguido à custa de cedências, compromissos e pontuais ambiguidades numa delicada diplomacia. Durante este período, Ramos assume-se como catalisador ao promover um conjunto de atividades extracurriculares que procuram fazer da Escola um espaço cultural: as Magnas – onde se sente o pulsar da Escola com a exposição dos trabalhos de alunos e professores de arquitetura, pintura e escultura numa união das três artes; as exposições autorais ou temáticas; os cursos de verão e viagens; os concertos, debates, colóquios ou ciclos de cinema.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Carlos Ramos atelier - 1968" alt="Carlos Ramos atelier - 1968" src="figuras/carlosramos/carlosramos03x.jpg" height="152" width="232" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="padding-left: 60px; text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;">Carlos Ramos atelier - 1968</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-size: x-small;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">A Escola nunca foi entendida como um fim em si próprio, mas antes um meio de prosseguir a sua ideia de pedagogia. A sua importância não está apenas no que fez, disse ou lutou; encontra-se sobretudo na criação de um espaço livre, incentivador da ação de outros. Ramos teve a particular capacidade de saber olhar e congregar à sua volta homens de diferentes gerações, chamando-os para a Escola. Se o seu axial objetivo é construir uma escola de pessoas, a sua maior herança encontra-se no sentido de escola que transmite aos seus discípulos. Ramos forma no Porto alguns dos nossos mais importantes arquitetos desde a década de 1960 até à atualidade, entre os quais se destacam Mário Bonito, João Andresen, Arnaldo Araújo, Octávio Lixa Filgueiras, Alexandre Alves Costa, Sérgio Fernandez, Fernando Távora, Manuel Mendes, Alcino Soutinho e Álvaro Siza Vieira. Os diferentes percursos tomados por estes arquitetos e a sua importância na afirmação da arquitetura nacional, no desenvolvimento do ensino ou na reflexão teórica e histórica testemunham, mais uma vez, a herança do mestre cuja qualidade mais valorizada é o seu profundo sentido de equipa. É por estas razões que Alexandre Alves Costa apresenta a sua geração com objetivos, atitudes e convicções completamente diferentes dos de Carlos Ramos, mas acaba por se confessar herdeiro deste ao afirmar – “sem ele, não seríamos o que somos” <a href="#7"><sup>[7]</sup></a>.<br /><br /><br /><b>Notas:<br /></b><span style="font-size: x10pt;"><br /></span></span><span style="color: #333333;"><a name="1"></a></span><span style="color: #333333; font-family: arial;">[1] Carlos Ramos, <em>Alguns problemas de Urbanismo</em>, conferência organizada pelo ODAM, Ateneu Comercial do Porto, 1951 (manuscrito - Departamento de Documentação e Pesquisa – Centro de Arte Moderna).<br /><br /></span><span style="color: #333333;"><a name="2"></a></span><span style="color: #333333; font-family: arial;">[2] O edifício Barros &amp; Santos (1921/22) – depois Agência Havas, o Bairro Económico de Olhão (1925), o Pavilhão do Rádio (1927-1933), o projeto do Liceu Feminino Filipa de Lencastre (1929), o primeiro projeto para a Habitação Moreira de Almeida (1928) ou o Instituto Navarro de Paiva (1931) testemunham esta evolução.<br /><br /></span><span style="color: #333333;"><a name="3"></a></span><span style="color: #333333; font-family: arial;">[3] Carlos Ramos, «Algumas palavras e o seu verdadeiro significado», <em>Sudoeste</em>, nº 3, 1935.<br /><br /></span><span style="color: #333333;"><a name="4"></a></span><span style="color: #333333; font-family: arial;">[4] Keil do Amaral, <em>Homenagem a Carlos Ramos. Discurso proferido no Tivoli</em>, 1967 (manuscrito – espólio Carlos Ramos).<br /><br /></span><span style="color: #333333;"><a name="5"></a></span><span style="color: #333333; font-family: arial;">[5] “Para conseguir ser um bom arquitecto, é necessário ter talento e interesse pelo estudo, já que nem o talento sem o estudo, nem o estudo sem o talento podem formar um bom arquitecto. O futuro arquitecto deve estudar gramática, desenvolver a técnica de desenho, estudar geometria, instruir-se em aritmética e ser versado em história. Saber ouvir os filósofos com aproveitamento, ter conhecimentos de música, não ignorar a medicina, conseguir unir os conhecimentos do direito aos da astrologia e astronomia”, Tradução livre da versão espanhola de Marco Vitruvio, <em>Los Diez Libros de Arquitectura</em>. Barcelona: Editorial Ibéria, 1997, p.6.<br /><br /></span><span style="color: #333333;"><a name="6"></a></span><span style="color: #333333; font-family: arial;">[6] Fernando Távora, Evocando Carlos Ramos. rA. <em>Revista da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto</em>, Porto, FAUP, ano I, nº 0, Out -1987, p.75<br /><br /></span><span style="color: #333333;"><a name="7"></a></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="font-size: x10pt;">[7] Alexandre Alves da Costa, <em>Introdução ao Estudo da História da Arquitectura Portuguesa</em>. Porto: FAUP, 1995, p. 95.<br /><br /></span><br /><b>Bibliografia:<br /></b><br />ALMEIDA, Pedro Vieira, FILGUEIRAS, Octávio Lixa, GONÇALVES, Rui Mário e RAMOS, Carlos Manuel, <em>Carlos Ramos. Exposição retrospectiva da sua obra</em>. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1986.<br /><br />COUTINHO, Bárbara dos Santos – <em>Carlos Ramos (1897-1969): Obra, Pensamento e Acção. A Procura do Compromisso entre o Modernismo e a Tradição</em>. Lisboa: FCSH/ UNL, 2001.<br /><br />COUTINHO, Bárbara dos Santos, “Carlos Ramos, Comunicar e Professor – Contributo para a Afirmação e Divulgação do Moderno” in AA.VV., <em>Arquitectura Moderna Portuguesa</em>. 1920 -1970. Lisboa: IPPA, 2004.<br /><br />____________________<br /><br />ACCIAIUOLI, Margarida – <em>Exposições do Estado Novo 1934-1940</em>. Lisboa: Livros Horizonte, 1998.<br /><br />ACCIAIUOLI, Margarida – <em>Os Anos 40 em Portugal. O País, o Regime e as Artes. “Restauração” e “Celebração”</em>, dissertação de doutoramento em História da Arte Contemporânea, F.C.S.H., U.N.L., Lisboa, 1991, 2 vol.<br /><br />ALMEIDA, Pedro Vieira de; FERNANDES, José Manuel – "A Arquitectura Moderna", in <em>História da Arte em Portugal</em>. Lisboa: Alfa, 1986. vol. XIV.<br /><br />ALMEIDA, Pedro Vieira de – <em>Os concursos de Sagres. ”Representação 35” Condicionantes Consequências</em>, dissertação de doutoramento, Universidade de Valladolid, 1998.<br /><br />BECKER, Annette; TOSTÕES, Ana; WANG, Wilfried (org.) – <em>A Arquitectura do Século XX. Portugal</em>. Lisboa, Frankfurt: Portugal-Frankfurt 97, DAM, 1997.<br /><br />COSTA, Alexandre Alves – <em>Introdução ao Estudo da História da Arquitectura Portuguesa</em>. Porto: FAUP, 1995<br /><br />FERNANDES, José Manuel – <em>Arquitectura Modernista em Portugal [1890.1940]</em>. Lisboa: Gradiva, 1993.<br /><br />FRANÇA, José-Augusto – <em>A Arte em Portugal no Século XX</em>. Lisboa: Bertrand,1974 (2ª ed., 1984).<br /><br />PEREIRA, Nuno Teotónio; FERNANDES, José Manuel – "A Arquitectura do Estado Novo de 1926 a 1959" in <em>O Estado Novo das Origens ao Fim da Autarcia (1926-1959)</em>. Lisboa: Fragmentos, 1987. Vol. II, pp. 323-357.<br /><br />PORTAS, Nuno – "A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal: uma Interpretação" in Bruno Zevi, <em>História da Arquitectura Moderna</em>. Lisboa: Editora Ática, 1970-79. Vol II.<br /><br />TOSTÕES, Ana – <em>Os Verdes Anos na Arquitectura Portuguesa nos Anos 50</em>. Porto: FAUP, 1997.</span></p> David Mourão-Ferreira 2011-03-03T09:13:48+00:00 2011-03-03T09:13:48+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/david-mourao-ferreira-19051-dp23.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>David Mourão-Ferreira</strong>, por Teresa Martins Marques</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="David Mourão-Ferreira" alt="David Mourão-Ferreira" src="figuras/davidmouraoferreira/davidmouraoferreira.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Escritor português (Lisboa, 24.2.1927 – Lisboa, 16.6.1996): poeta, ficcionista, tradutor, dramaturgo, ensaísta, cronista, crítico literário, conferencista, professor. Licenciou-se em Filologia Românica (1951) com a tese «Três Coordenadas na Poesia de Sá de Miranda», pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.<br /><br />Integrou os corpos redatoriais das revistas <em>Seara Nova </em>e <em>Graal </em>(1956-1957). Teve a seu cargo a rubrica de crítica de poesia no <em>Diário Popular </em>(1954-1957). A partir desse ano exerceu funções docentes na Faculdade de Letras como assistente, tendo desenvolvido um excecional trabalho de organização e regência da recém-criada cadeira de Teoria da Literatura, onde desenvolve estudos pioneiros, entre nós, sobre o <em>new criticism</em>. Em 1963 o seu contrato foi rescindido, vindo a ser novamente reconduzido a partir de 1970, lecionando Literatura Portuguesa e Francesa, tendo-lhe sido concedido, nos últimos anos de vida, o estatuto de Professor Catedrático Convidado. O seu magistério marcou sucessivas gerações de estudantes, muitos dos quais se contam hoje entre as mais prestigiadas figuras da universidade portuguesa e do ensaísmo literário. <br /><br />Desempenhou as funções de Secretário Geral da <em>Sociedade Portuguesa de Autores</em> (1965-1974), dirigiu o diário <em>A Capital </em>(1974-1975). Exerceu em três governos o cargo de Secretário de Estado da Cultura (1976-1979), foi vice-presidente da <em>Association Internationale des Critiques Littéraires </em>(1984-1992), presidente da <em>Associação Portuguesa de Escritores</em> (1984-1986) e do <em>Pen Club Português</em> (1991). Foi diretor do <em>Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian </em>(1981-1996), bem como da revista <em>Colóquio-Letras</em> (1984-1996) propriedade da mesma instituição. Sócio efetivo da <em>Academia das Ciências de Lisboa</em> (onde sucedeu a Vitorino Nemésio na cadeira nº 23). <em>Sócio-Correspondente</em> da <em>Academia Brasileira de Letras</em>. Membro titular da <em>Académie Européenne de Paris</em>, viria também a ser agraciado com as mais prestigiosas condecorações de Portugal, do Brasil e da França. O nome de David Mourão-Ferreira ficaria também ligado ao de Amália Rodrigues que interpretou cerca de duas dezenas dos seus poemas.<br /><br />Como autor, D.M-F. publica os seus primeiros artigos em 1942, no jornal <em>Gente Moça</em>, orgão dos estudantes do Colégio Moderno. As primeiras poesias viriam à luz nas prestigiadas páginas da <em>Seara Nova</em>, em 1945. Todavia, é pelo teatro que o seu nome começa a aparecer com alguma regularidade nos jornais tendo colaborado como autor e ator entre 1948 e 1951, sob a direção de Gino Saviotti, no <em>Teatro-Estúdio do Salitre</em>, o qual constituiu, sob a bandeira do “essencialismo,” o mais inovador movimento de Teatro Experimental dos Anos Quarenta, vendo aí encenados o poema dramático <em>Isolda </em>e a comédia <em>Contrabando</em>, respetivamente em 1948 e 1950. Ainda neste ano funda, com António Manuel Couto Viana e Luís de Macedo, as folhas de poesia <em>Távola Redonda</em>, em cujas edições daria à estampa o seu primeiro livro de poesia – <em>A Secreta Viagem</em>.<br /><br />D.M.-F. foi um dos mais fecundos teorizadores da <em>Távola Redonda</em> defendendo o equilíbrio, a coerência e a proporção entre os motivos e a técnica, entre os temas e as formas, procurando conciliar os valores da tradição e da modernidade, revalorizando o lirismo, recusando a imediatez da inspiração e o aproveitamento da poesia para fins utilitaristas, demarcando-se do neorrealismo. Este ideário ver-se-ia plasmado na sua futura Obra, a qual, do ponto de vista técnico, representa a feliz aliança da força criadora e da construção rigorosa, sendo geralmente considerado como detentor da melhor oficina poética da sua geração.<br /><br />Até à publicação de <em>Um Amor Feliz</em>, em 1986, D.M.-F. insistia em dizer que tinha consciência de que a sua Obra não teria um vasto público, mas que, em contrapartida, possuía leitores fiéis. Este romance viria indiscutivelmente aumentar-lhe o número desses leitores, continuando a ser objeto de sucessivas reedições. No dia seguinte à conclusão do romance, escreve: “Um Amor Feliz: um cântico de amor e de paixão erótica; uma sátira política a certa nova sociedade portuguesa; um romance do romance em que se vêem acareados o narrador e o autor; um ajuste de contas comigo mesmo.” Se pensarmos que desde os dezoito anos deixara de lado sucessivos romances inconclusos, entenderemos que contas seriam aquelas, que assim ajustou. Artur Ramos realizou a partir deste romance uma série televisiva de quatro episódios, apresentada pela RTP em 1990. Anteriormente, de duas das quatro narrativas de <em>Gaivotas em Terra </em>tinham sido extraídas duas longas metragens: <em>Fado Corrido </em>(1964) por Jorge Brum do Canto e <em>Sem Sombra de Pecado </em>(1983) por José Fonseca e Costa.<br /><br />Atentando nas sucessivas reedições da sua poesia, verificaremos que os volumes constituem organismos vivos, coerentes, nos quais os diversos textos se inter-respondem, contando “histórias” diferentes, consoante as seriações que o autor lhes conferiu, em diversas edições, nomeadamente nas recolhas poéticas, obedecendo a criteriosas reordenações poemáticas em círculos (<em>Lira de Bolso</em>, <em>As Lições do Fogo</em>), ou em ciclos (<em>Sonetos do Cativo</em>), jogando com a simbologia dos números quatro, sete e nove, de clara reminiscência pitagórica, cabalística ou dantesca. O ritmo, a musicalidade, a mestria das rimas assonantes, o superior domínio da metáfora e da aliteração, coadjuvadas pela antítese, ou mesmo pelo paradoxismo conferem uma personalidade singular à poesia davidiana, de perfeito recorte clássico, obedecendo, todavia, a princípios <em>sui generis</em> nomeadamente ao nível da metrificação, fazendo de D.M.-F. porventura, o mais clássico dos nossos poetas modernos.<br /><br />A obra davidiana edifica-se sobre um complexo sistema de vasos comunicantes, orquestrados pela memória interna da obra, em contraponto de harmonizações sinfónicas ou diafónicas. Com efeito, os elementos itinerantes constituem um dos aspetos mais interessantes da implícita ou explícita rede comunicante, como é, nomeadamente, o caso das obras poética e ficcional <em>Os Quatro Cantos do Tempo </em>e <em>As Quatro Estações</em>, ou do poema intitulado «Romance das Mulheres de Lisboa no Regresso das Praias», cujo primeiro verso — “Em terra, tantas gaivotas!” — inverte e subverte o título do seu primeiro volume de ficção narrativa, considerado como de novelas, mas que resultou de um trabalho de reconstrução de um anterior romance, razão por que certas personagens transitam de umas narrativas para as outras, em completa subversão da linearidade temporal do primitivo texto.<br /><br />O onirismo d’ <em>Os Amantes e Outros Contos</em> encontra-se inscrito em embrião n’ <em>A Recordação de Panflakaio</em> : “Sonho que sonho o que sonho” é um verso da poesia “Argumento”, inserta em <em>Os Ramos Os Remos</em>, a qual traduz precisamente a situação onírica que sustenta a arquitetura do conto <em>Os Amantes</em>. Conquanto seja o erotismo o filão mais reconhecido na Obra de D.M.-F., esta está longe de se reduzir àquela temática. Outras linhas se entrecruzam na memória, na meditação sobre a morte, no culto dos lugares, não apenas como sagradas relíquias do tempo, mas ainda como espaços de reflexão do sujeito, em processo de perda.<br /><br />Parafraseando um conhecido poema, de Matura Idade — “E por Vezes”—(justamente selecionado como símbolo davidiano para a antologia <em>Rosa do Mundo-2001 Poemas para o Futuro</em>), a angústia torna-se obsidiante imagem de fundo, que traz para o primeiro plano um sujeito que se vê através do olhar feminino e que, por vezes, se encontra e que, por vezes, se perde. Tântalo que não sacia a sede — destino que um deus lhe segredou. Fulguração do instante, revolta pelo fogo que se extingue, que não dura, mas que resiste, sendo apenas o que resta do desejo de eternidade. Na poesia davidiana o sujeito não ama porque existe, mas para que exista. E existe para sentir, por vezes, o prazer de se dissolver e ciclicamente renascer. As formas de diluição no mar – água primordial, por vezes metáfora da mãe e memória do tempo antes do tempo, ou as formas de diluição em terra — evasão, viagem, mudança — serão ainda uma outra forma de perdição e renascimento de quem se procura procurando, por vezes ganhando e, por vezes, perdendo ao jogo da vida. Condição trágica de quem ironicamente fica preso à busca da liberdade, como um Ícaro condenado aos trabalhos de Sísifo: ”há-de tudo prender-se aereamente solto”, lemos na “Ars Poetica”, inserta em <em>Do Tempo ao Coração</em>. <em>Os Ramos Os Remos</em> inscrevem, a partir do título, a fixidez e a flutuação. Ramos da árvore que prende, remos do barco que deriva.<br /><br />De uma outra forma, mais direta, de acordo com o registo escolhido, o sujeito assumirá a condição de errância na autobiografia fragmentária acoplada a um livro de aforismos sobre a sedução que muito oportunamente intitulou <em>Jogo de Espelhos</em>: “Sente-se, desde sempre, mais estável no movente que no fixo”. (fragmento II). D.M.-F deixa em “Testamento” a fuidez do verbo, a instabilidade do sentido, o calor da lava e o frio da cinza. O nada transmutado em tudo, o nada retomando a cor do infinito na «Ladainha dos Póstumos Natais». <br /><br />Como ensaísta, cronista e crítico literário, deixou-nos ainda dezassete clarividentes volumes, entre os quais o intitulado <em>Discurso Directo</em> que David classificava como um indireto autorretrato e por isso considerava o mais indicado para quem quisesse principiar a conhecê-lo, para além da obra de divulgação e tradução intitulada <em>Imagens da Poesia Europeia</em>, elaborada a partir de um programa homónimo que, como outros de sua autoria, intitulados <em>Miradouro</em>, <em>Momento Literário</em>, <em>Música e Poesia</em>, <em>Hospital das Letras</em>, lhe grangearam grande popularidade na Rádio e na Televisão. As recém publicadas <em>Vozes da Poesia Europeia I, II, III</em>, compilam a maior parte do seu trabalho como excecional tradutor, sendo que cada texto traduzido se metamorfoseia de forma original num autêntico poema de D. M. –F.<br /><br />A comunidade literária soube reconhecer o seu valor atribuindo-lhe onze prémios literários: três de Poesia, dois de Conto e Novela, quatro de Romance, um de Teatro e ainda um outro de Ensaio. As obras de D.M.-F. encontram-se traduzidas nas principais Línguas Europeias.<br /><br /><br /><b>● Bibliografia de D.M.-F:<br /></b><br /><em>Rumos </em>(antologia de contos e poemas, em co-autoria), Lisboa, Edição dos Autores (1946);<br /><br /><em>A Secreta Viagem</em>, Lisboa, Edições Távola Redonda (1950); Tempestade de Verão, Lisboa, Guimarães Editores (1954);<br /><br /><em>Os Quatro Cantos do Tempo</em>, Rio de Janeiro, Livros de Portugal (1958);<br /><br /><em>Infinito Pessoal</em>, Lisboa, Guimarães Editores (1962);<br /><br /><em>In Memoriam Memoriae</em>, Lisboa, Edições Minotauro (1962);Do Tempo ao Coração, Lisboa, Guimarães Editores (1966);<br /><br /><em>A Arte de Amar </em>(antologia) Lisboa, Guimarães Editores (1967); Lira de Bolso (antologia) Lisboa, Edições Dom Quixote (1969); Cancioneiro de Natal, Lisboa, Editorial Verbo (1971);<br /><br /><em>Matura Idade</em>, Lisboa, Editora Arcádia (1973);<br /><br /><em>Sonetos do Cativo </em>(antologia) Lisboa, Editora Arcádia (1974);<br /><br /><em>As Lições do Fogo </em>(antologia) Lisboa, Publicações Dom Quixote (1976);<br /><br /><em>Entre a Sombra e o Corpo</em>, Lisboa, Moraes Editores (1980);<br /><br /><em>Ode à Música</em>, Imprensa Nacional - Casa da Moeda (1980);<br /><br /><em>Obra Poética</em> (antologia -2vols) Lisboa, Livraria Bertrand (1980); Órfico Ofício, in 2º vol. da antologia Obra Poética — Lisboa, Livraria Bertrand (1980);<br /><br /><em>À Guitarra e à Viola</em>, in 1º vol. da antologia Obra Poética, Lisboa, Livraria Bertrand (1980);<br /><br /><em>Antologia Poética</em>, Lisboa, Publicações Dom Quixote (1983);<br /><br /><em>Os Ramos Os Remos</em>, Porto, Areal Editores (1985);<br /><br /><em>O Corpo Iluminado</em>, Lisboa, Editorial Presença (1987);<br /><br /><em>As Pedras Contadas</em> (antologia) Porto, Árvore, colecção Moinho de Vento (1987);<br /><br /><em>Obra Poética 1948-1988</em>, Lisboa (1988);<br /><br /><em>No Veio do Cristal in Obra Poética 1948-1988</em> — Lisboa (1988); Lisboa Luzes e Sombras, Edição do Metropolitano de Lisboa (1992);<br /><br /><em>A Arte de Amar</em> (antologia) Lisboa, Círculo de Leitores (1992);<br /><br /><em>Música de Cama </em>(antologia) Lisboa, Editorial Presença (1994); Rime Petrose, in Colóquio-Letras, nºs 135/136, Lisboa, Janeiro-Junho (1995).<br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /><b>Conto e Novela<br /></b><br /><em>Gaivotas em Terra</em>, Lisboa, Editora Ulisseia (s/d) [1959];<br /><br /><em> Os Amantes</em>, Lisboa, Guimarães Editores (1968);<br /><br /><em>Os Amantes e Outros Contos</em>, Lisboa, Livraria Bertrand (1974); Maria Antónia e Outras Mulheres (antologia de contos escolhidos) Lisboa, Círculo de Leitores (1978);<br /><br /><em> As Quatro Estações</em>, Lisboa, Galeria São Mamede (1980);<br /><br /><em>Duas Histórias de Lisboa</em>, Lisboa, Editorial Labirinto (1987); Maria da Luz e Outras Esfinges, (antologia) Lisboa, Círculo de Leitores (1992);<br /><br /><em>A Recordação de Panflakaio</em> (conto) Publicação póstuma e intr. de TMM in Infinito Pessoal –Colóquio-Letras n° 145/146, Julho-Dezembro de 1997.<br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /><b>Romance<br /></b><br /><em>Um Amor Feliz</em>, Lisboa, Editorial Presença (1986)<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><b>Teatro<br /></b><br /><em>Contrabando</em>, in Graal, nº2, Junho-Julho (1956);<br /><br /><em>O Irmão</em>, Lisboa, Guimarães Editores (1965).<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><b>Ensaio, Crítica, Crónica<br /></b><br /><em>Vinte Poetas Contemporâneos</em>, Lisboa, Ática (1960);<br /><br /><em>Aspectos da Obra de Manuel Teixeira-Gomes</em>, Lisboa, Portugália Ed. (1961);<br /><br /><em>Motim Literário</em>, Lisboa, Editorial Verbo (1962);<br /><br /><em>Hospital das Letras</em>, Lisboa, Guimarães Editores (1966);<br /><br /><em>Discurso Directo</em>, Lisboa, Guimarães Editores (1969);<br /><br /><em>Tópicos de Crítica e de História Literária</em>, Lisboa, União Gráfica (1969);<br /><br /><em>Sobre Viventes</em>, Lisboa, Dom Quixote (1976;<br /><br /><em>Presença da «Presença» </em>Porto, Brasília Ed. (1977);<br /><br /><em>Lâmpadas no Escuro</em>, Lisboa, Ed. Arcádia (1979);<br /><br /><em>O Essencial Sobre Vitorino Nemésio</em>, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda (1987);<br /><br /><em>Nos Passos de Pessoa</em>, Lisboa, Editorial Presença (1988); <em>Marguerite Yourcenar: Retrato de Uma Voz</em>, Lisboa, Edições Rolim (1988);<br /><br /><em>Os Ócios do Ofício</em>, Lisboa, Guimarães Editores (1989);<br /><br /><em>Sob o Mesmo Tecto</em>, Lisboa, Editorial Presença (1989);<br /><br /><em>Tópicos Recuperados</em>, Lisboa, Editorial Caminho (1992);<br /><br /><em>Terraço Aberto </em>(antologia) Lisboa, Círculo de Leitores (1992); <em>Elogio Académico de Vitorino Nemésio</em>, Academia das Ciências de Lisboa (1992);<br /><br /><em>Evocação de Sebastião da Gama</em>, Lisboa, Edições Ática (s/d)[1993];<br /><br /><em>Magia Palavra Corpo</em> Lisboa, Edições Cotovia (1993);<br /><br /><em>Em Movimento</em>, Edição do Metropolitano de Lisboa (1995).<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><b>Divulgação e Tradução de Poesia<br /></b><br /><em>Imagens da Poesia Europeia </em>— Vol. I (Grécia, Roma, Os Séculos Obscuros)- Lisboa, Realizações Artis (1972);<br /><br /><em>Vozes da Poesia Europeia I </em>(<em>Colóquio-Letras</em>, nº163- Janeiro-Abril de 2003);<br /><br /><em>Vozes da Poesia Europeia II</em> (<em>Colóquio-Letras</em>, nº164- Maio-Agosto de 2003); <em>Vozes da Poesia Europeia III </em>(<em>Colóquio-Letras</em>, nº165-Setembro- Dezembro de 2003).<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><b>Vária<br /></b><br /><em>Jogo de Espelhos – Reflexos para um Auto-Retrato</em>, Lisboa, Editorial Presença (1993).</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> <br /><br /><b>● Bibliografia Seletiva sobre a Obra de David Mourão-Ferreira:<br /></b><br />A.A.V.V. Infinito Pessoal - Homenagem a David Mourão-Ferreira. <em>Colóquio- Letras</em>. N° 145/146, Julho-Dezembro 1997;<br /><br />A.A.VV. <em>Letras, Sinais</em>. Edições Cosmos, 1999.<br /><br />BOLETIM DO SERVIÇO DE BIBLIOTECAS E APOIO À LEITURA. David Mourão-Ferreira. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Dezembro 1996.<br /><br />BRITO, Marília Regina da Silva, <em>O Amor em David Mourão-Ferreira: Da Vida à Poesia</em>. Porto, Edições Universidade Fernando Pessoa, 2002.<br /><br />COELHO, Eduardo Prado. «David Mourão-Ferreira: Mar, Palavra e Memória/ Leitura de Os Amantes/ Escreviver», in <em>O Reino Flutuante</em>, Edições 70, Lisboa, s.d. [1972], 263-289.<br /><br />GARCIA, José Martins. <em>David Mourão-Ferreira - a Obra e o Homem</em>. Lisboa Editora Arcádia, 1980.<br /><br />________ <em>David Mourão-Ferreira – Narrador</em>. Lisboa, Vega, s.d. [1988].<br /><br />GASTÃO, Ana Marques. «Um Outro David».<em>Diário de Notícias</em> (16 de Junho de 2003), 40.<br /><br />LEPECKI, Maria Lúcia «Uma das Vozes Cimeiras da Lírica Portuguesa», <em>Diário de Notícias </em>( 4/6/89).<br /><br />________ «Uma Perfeita Harmonia na Disciplina da Escrita», <em>Diário de Notícias </em>(11/6/89).<br /><br />LIMA, Isabel Pires de. «Desafiando Pedras—O Poeta e o Pintor. <em>Colóquio-Letras</em>. Nº101.Janeiro-Fevereiro de 1988.<br /><br />LISBOA, Eugénio. «Uma Claridade de Sombras e de Luzes: A <em>Obra Poética</em> de David Mourão-Ferreira» in <em>As Vinte e Cinco Notas do Texto</em>, Lisboa, INCM, 1987.<br /><br />MALHEIRO, Helena. <em>L'Art de la Nouvelle </em>dans «Os Amantes» de David Mourão-Ferreíra Arquivos do Centro Cultural Português. Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, 1980.<br /><br />MARQUES, Teresa Martins. «David Mourão-Ferreira – Microleituras da Reescrita Poética», <em>Colóquio-Letras</em>. Nº 140/141 Abril / Setembro 1996, 253 – 258.<br /><br />________ « O Primeiro Projecto de Romance de David Mourão-Ferreira: <em>Há Dezenas de caminhos</em>…” (introdução e notas) in <em>Mealibra</em>, nº 14, Verão de 2004. pp.9-13.<br /><br />MARTINHO, Fernando J.B. <em>Tendências Dominantes da Poesia Portuguesa da Década de 50</em>. Lisboa, Edições Colibri, 1996.<br /><br />MORÃO, Paula. «David Mourão-Ferreira - O desenho do tempo»; David Mourão-Ferreira - Um Natal- no tempo com o coração»; «Sob o mesmo Tecto» in <em>Viagens na Terra das Palavras</em>. Lisboa, Edições Cosmos, 1993.<br /><br />MOURA, Vasco Graça. <em>David Mourão-Ferreira ou a Mestria de Eros</em>. Porto, Brasília Editora, 1978.<br /><br />REIS, Carlos. «Poesia e Poética», JL (5/6/96), 7.<br /><br />RODRIGUES, Urbano Tavares, «A Novelística Portuguesa e David Mourão-Ferreira» (<em>Diário de Lisboa</em>, 28/3/1957).<br /><br />SEIXO, Maria Alzira. «Uma Poética dos Sentidos» JL, (24/11/86).</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>David Mourão-Ferreira</strong>, por Teresa Martins Marques</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="David Mourão-Ferreira" alt="David Mourão-Ferreira" src="figuras/davidmouraoferreira/davidmouraoferreira.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Escritor português (Lisboa, 24.2.1927 – Lisboa, 16.6.1996): poeta, ficcionista, tradutor, dramaturgo, ensaísta, cronista, crítico literário, conferencista, professor. Licenciou-se em Filologia Românica (1951) com a tese «Três Coordenadas na Poesia de Sá de Miranda», pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.<br /><br />Integrou os corpos redatoriais das revistas <em>Seara Nova </em>e <em>Graal </em>(1956-1957). Teve a seu cargo a rubrica de crítica de poesia no <em>Diário Popular </em>(1954-1957). A partir desse ano exerceu funções docentes na Faculdade de Letras como assistente, tendo desenvolvido um excecional trabalho de organização e regência da recém-criada cadeira de Teoria da Literatura, onde desenvolve estudos pioneiros, entre nós, sobre o <em>new criticism</em>. Em 1963 o seu contrato foi rescindido, vindo a ser novamente reconduzido a partir de 1970, lecionando Literatura Portuguesa e Francesa, tendo-lhe sido concedido, nos últimos anos de vida, o estatuto de Professor Catedrático Convidado. O seu magistério marcou sucessivas gerações de estudantes, muitos dos quais se contam hoje entre as mais prestigiadas figuras da universidade portuguesa e do ensaísmo literário. <br /><br />Desempenhou as funções de Secretário Geral da <em>Sociedade Portuguesa de Autores</em> (1965-1974), dirigiu o diário <em>A Capital </em>(1974-1975). Exerceu em três governos o cargo de Secretário de Estado da Cultura (1976-1979), foi vice-presidente da <em>Association Internationale des Critiques Littéraires </em>(1984-1992), presidente da <em>Associação Portuguesa de Escritores</em> (1984-1986) e do <em>Pen Club Português</em> (1991). Foi diretor do <em>Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian </em>(1981-1996), bem como da revista <em>Colóquio-Letras</em> (1984-1996) propriedade da mesma instituição. Sócio efetivo da <em>Academia das Ciências de Lisboa</em> (onde sucedeu a Vitorino Nemésio na cadeira nº 23). <em>Sócio-Correspondente</em> da <em>Academia Brasileira de Letras</em>. Membro titular da <em>Académie Européenne de Paris</em>, viria também a ser agraciado com as mais prestigiosas condecorações de Portugal, do Brasil e da França. O nome de David Mourão-Ferreira ficaria também ligado ao de Amália Rodrigues que interpretou cerca de duas dezenas dos seus poemas.<br /><br />Como autor, D.M-F. publica os seus primeiros artigos em 1942, no jornal <em>Gente Moça</em>, orgão dos estudantes do Colégio Moderno. As primeiras poesias viriam à luz nas prestigiadas páginas da <em>Seara Nova</em>, em 1945. Todavia, é pelo teatro que o seu nome começa a aparecer com alguma regularidade nos jornais tendo colaborado como autor e ator entre 1948 e 1951, sob a direção de Gino Saviotti, no <em>Teatro-Estúdio do Salitre</em>, o qual constituiu, sob a bandeira do “essencialismo,” o mais inovador movimento de Teatro Experimental dos Anos Quarenta, vendo aí encenados o poema dramático <em>Isolda </em>e a comédia <em>Contrabando</em>, respetivamente em 1948 e 1950. Ainda neste ano funda, com António Manuel Couto Viana e Luís de Macedo, as folhas de poesia <em>Távola Redonda</em>, em cujas edições daria à estampa o seu primeiro livro de poesia – <em>A Secreta Viagem</em>.<br /><br />D.M.-F. foi um dos mais fecundos teorizadores da <em>Távola Redonda</em> defendendo o equilíbrio, a coerência e a proporção entre os motivos e a técnica, entre os temas e as formas, procurando conciliar os valores da tradição e da modernidade, revalorizando o lirismo, recusando a imediatez da inspiração e o aproveitamento da poesia para fins utilitaristas, demarcando-se do neorrealismo. Este ideário ver-se-ia plasmado na sua futura Obra, a qual, do ponto de vista técnico, representa a feliz aliança da força criadora e da construção rigorosa, sendo geralmente considerado como detentor da melhor oficina poética da sua geração.<br /><br />Até à publicação de <em>Um Amor Feliz</em>, em 1986, D.M.-F. insistia em dizer que tinha consciência de que a sua Obra não teria um vasto público, mas que, em contrapartida, possuía leitores fiéis. Este romance viria indiscutivelmente aumentar-lhe o número desses leitores, continuando a ser objeto de sucessivas reedições. No dia seguinte à conclusão do romance, escreve: “Um Amor Feliz: um cântico de amor e de paixão erótica; uma sátira política a certa nova sociedade portuguesa; um romance do romance em que se vêem acareados o narrador e o autor; um ajuste de contas comigo mesmo.” Se pensarmos que desde os dezoito anos deixara de lado sucessivos romances inconclusos, entenderemos que contas seriam aquelas, que assim ajustou. Artur Ramos realizou a partir deste romance uma série televisiva de quatro episódios, apresentada pela RTP em 1990. Anteriormente, de duas das quatro narrativas de <em>Gaivotas em Terra </em>tinham sido extraídas duas longas metragens: <em>Fado Corrido </em>(1964) por Jorge Brum do Canto e <em>Sem Sombra de Pecado </em>(1983) por José Fonseca e Costa.<br /><br />Atentando nas sucessivas reedições da sua poesia, verificaremos que os volumes constituem organismos vivos, coerentes, nos quais os diversos textos se inter-respondem, contando “histórias” diferentes, consoante as seriações que o autor lhes conferiu, em diversas edições, nomeadamente nas recolhas poéticas, obedecendo a criteriosas reordenações poemáticas em círculos (<em>Lira de Bolso</em>, <em>As Lições do Fogo</em>), ou em ciclos (<em>Sonetos do Cativo</em>), jogando com a simbologia dos números quatro, sete e nove, de clara reminiscência pitagórica, cabalística ou dantesca. O ritmo, a musicalidade, a mestria das rimas assonantes, o superior domínio da metáfora e da aliteração, coadjuvadas pela antítese, ou mesmo pelo paradoxismo conferem uma personalidade singular à poesia davidiana, de perfeito recorte clássico, obedecendo, todavia, a princípios <em>sui generis</em> nomeadamente ao nível da metrificação, fazendo de D.M.-F. porventura, o mais clássico dos nossos poetas modernos.<br /><br />A obra davidiana edifica-se sobre um complexo sistema de vasos comunicantes, orquestrados pela memória interna da obra, em contraponto de harmonizações sinfónicas ou diafónicas. Com efeito, os elementos itinerantes constituem um dos aspetos mais interessantes da implícita ou explícita rede comunicante, como é, nomeadamente, o caso das obras poética e ficcional <em>Os Quatro Cantos do Tempo </em>e <em>As Quatro Estações</em>, ou do poema intitulado «Romance das Mulheres de Lisboa no Regresso das Praias», cujo primeiro verso — “Em terra, tantas gaivotas!” — inverte e subverte o título do seu primeiro volume de ficção narrativa, considerado como de novelas, mas que resultou de um trabalho de reconstrução de um anterior romance, razão por que certas personagens transitam de umas narrativas para as outras, em completa subversão da linearidade temporal do primitivo texto.<br /><br />O onirismo d’ <em>Os Amantes e Outros Contos</em> encontra-se inscrito em embrião n’ <em>A Recordação de Panflakaio</em> : “Sonho que sonho o que sonho” é um verso da poesia “Argumento”, inserta em <em>Os Ramos Os Remos</em>, a qual traduz precisamente a situação onírica que sustenta a arquitetura do conto <em>Os Amantes</em>. Conquanto seja o erotismo o filão mais reconhecido na Obra de D.M.-F., esta está longe de se reduzir àquela temática. Outras linhas se entrecruzam na memória, na meditação sobre a morte, no culto dos lugares, não apenas como sagradas relíquias do tempo, mas ainda como espaços de reflexão do sujeito, em processo de perda.<br /><br />Parafraseando um conhecido poema, de Matura Idade — “E por Vezes”—(justamente selecionado como símbolo davidiano para a antologia <em>Rosa do Mundo-2001 Poemas para o Futuro</em>), a angústia torna-se obsidiante imagem de fundo, que traz para o primeiro plano um sujeito que se vê através do olhar feminino e que, por vezes, se encontra e que, por vezes, se perde. Tântalo que não sacia a sede — destino que um deus lhe segredou. Fulguração do instante, revolta pelo fogo que se extingue, que não dura, mas que resiste, sendo apenas o que resta do desejo de eternidade. Na poesia davidiana o sujeito não ama porque existe, mas para que exista. E existe para sentir, por vezes, o prazer de se dissolver e ciclicamente renascer. As formas de diluição no mar – água primordial, por vezes metáfora da mãe e memória do tempo antes do tempo, ou as formas de diluição em terra — evasão, viagem, mudança — serão ainda uma outra forma de perdição e renascimento de quem se procura procurando, por vezes ganhando e, por vezes, perdendo ao jogo da vida. Condição trágica de quem ironicamente fica preso à busca da liberdade, como um Ícaro condenado aos trabalhos de Sísifo: ”há-de tudo prender-se aereamente solto”, lemos na “Ars Poetica”, inserta em <em>Do Tempo ao Coração</em>. <em>Os Ramos Os Remos</em> inscrevem, a partir do título, a fixidez e a flutuação. Ramos da árvore que prende, remos do barco que deriva.<br /><br />De uma outra forma, mais direta, de acordo com o registo escolhido, o sujeito assumirá a condição de errância na autobiografia fragmentária acoplada a um livro de aforismos sobre a sedução que muito oportunamente intitulou <em>Jogo de Espelhos</em>: “Sente-se, desde sempre, mais estável no movente que no fixo”. (fragmento II). D.M.-F deixa em “Testamento” a fuidez do verbo, a instabilidade do sentido, o calor da lava e o frio da cinza. O nada transmutado em tudo, o nada retomando a cor do infinito na «Ladainha dos Póstumos Natais». <br /><br />Como ensaísta, cronista e crítico literário, deixou-nos ainda dezassete clarividentes volumes, entre os quais o intitulado <em>Discurso Directo</em> que David classificava como um indireto autorretrato e por isso considerava o mais indicado para quem quisesse principiar a conhecê-lo, para além da obra de divulgação e tradução intitulada <em>Imagens da Poesia Europeia</em>, elaborada a partir de um programa homónimo que, como outros de sua autoria, intitulados <em>Miradouro</em>, <em>Momento Literário</em>, <em>Música e Poesia</em>, <em>Hospital das Letras</em>, lhe grangearam grande popularidade na Rádio e na Televisão. As recém publicadas <em>Vozes da Poesia Europeia I, II, III</em>, compilam a maior parte do seu trabalho como excecional tradutor, sendo que cada texto traduzido se metamorfoseia de forma original num autêntico poema de D. M. –F.<br /><br />A comunidade literária soube reconhecer o seu valor atribuindo-lhe onze prémios literários: três de Poesia, dois de Conto e Novela, quatro de Romance, um de Teatro e ainda um outro de Ensaio. As obras de D.M.-F. encontram-se traduzidas nas principais Línguas Europeias.<br /><br /><br /><b>● Bibliografia de D.M.-F:<br /></b><br /><em>Rumos </em>(antologia de contos e poemas, em co-autoria), Lisboa, Edição dos Autores (1946);<br /><br /><em>A Secreta Viagem</em>, Lisboa, Edições Távola Redonda (1950); Tempestade de Verão, Lisboa, Guimarães Editores (1954);<br /><br /><em>Os Quatro Cantos do Tempo</em>, Rio de Janeiro, Livros de Portugal (1958);<br /><br /><em>Infinito Pessoal</em>, Lisboa, Guimarães Editores (1962);<br /><br /><em>In Memoriam Memoriae</em>, Lisboa, Edições Minotauro (1962);Do Tempo ao Coração, Lisboa, Guimarães Editores (1966);<br /><br /><em>A Arte de Amar </em>(antologia) Lisboa, Guimarães Editores (1967); Lira de Bolso (antologia) Lisboa, Edições Dom Quixote (1969); Cancioneiro de Natal, Lisboa, Editorial Verbo (1971);<br /><br /><em>Matura Idade</em>, Lisboa, Editora Arcádia (1973);<br /><br /><em>Sonetos do Cativo </em>(antologia) Lisboa, Editora Arcádia (1974);<br /><br /><em>As Lições do Fogo </em>(antologia) Lisboa, Publicações Dom Quixote (1976);<br /><br /><em>Entre a Sombra e o Corpo</em>, Lisboa, Moraes Editores (1980);<br /><br /><em>Ode à Música</em>, Imprensa Nacional - Casa da Moeda (1980);<br /><br /><em>Obra Poética</em> (antologia -2vols) Lisboa, Livraria Bertrand (1980); Órfico Ofício, in 2º vol. da antologia Obra Poética — Lisboa, Livraria Bertrand (1980);<br /><br /><em>À Guitarra e à Viola</em>, in 1º vol. da antologia Obra Poética, Lisboa, Livraria Bertrand (1980);<br /><br /><em>Antologia Poética</em>, Lisboa, Publicações Dom Quixote (1983);<br /><br /><em>Os Ramos Os Remos</em>, Porto, Areal Editores (1985);<br /><br /><em>O Corpo Iluminado</em>, Lisboa, Editorial Presença (1987);<br /><br /><em>As Pedras Contadas</em> (antologia) Porto, Árvore, colecção Moinho de Vento (1987);<br /><br /><em>Obra Poética 1948-1988</em>, Lisboa (1988);<br /><br /><em>No Veio do Cristal in Obra Poética 1948-1988</em> — Lisboa (1988); Lisboa Luzes e Sombras, Edição do Metropolitano de Lisboa (1992);<br /><br /><em>A Arte de Amar</em> (antologia) Lisboa, Círculo de Leitores (1992);<br /><br /><em>Música de Cama </em>(antologia) Lisboa, Editorial Presença (1994); Rime Petrose, in Colóquio-Letras, nºs 135/136, Lisboa, Janeiro-Junho (1995).<br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /><b>Conto e Novela<br /></b><br /><em>Gaivotas em Terra</em>, Lisboa, Editora Ulisseia (s/d) [1959];<br /><br /><em> Os Amantes</em>, Lisboa, Guimarães Editores (1968);<br /><br /><em>Os Amantes e Outros Contos</em>, Lisboa, Livraria Bertrand (1974); Maria Antónia e Outras Mulheres (antologia de contos escolhidos) Lisboa, Círculo de Leitores (1978);<br /><br /><em> As Quatro Estações</em>, Lisboa, Galeria São Mamede (1980);<br /><br /><em>Duas Histórias de Lisboa</em>, Lisboa, Editorial Labirinto (1987); Maria da Luz e Outras Esfinges, (antologia) Lisboa, Círculo de Leitores (1992);<br /><br /><em>A Recordação de Panflakaio</em> (conto) Publicação póstuma e intr. de TMM in Infinito Pessoal –Colóquio-Letras n° 145/146, Julho-Dezembro de 1997.<br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /><b>Romance<br /></b><br /><em>Um Amor Feliz</em>, Lisboa, Editorial Presença (1986)<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><b>Teatro<br /></b><br /><em>Contrabando</em>, in Graal, nº2, Junho-Julho (1956);<br /><br /><em>O Irmão</em>, Lisboa, Guimarães Editores (1965).<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><b>Ensaio, Crítica, Crónica<br /></b><br /><em>Vinte Poetas Contemporâneos</em>, Lisboa, Ática (1960);<br /><br /><em>Aspectos da Obra de Manuel Teixeira-Gomes</em>, Lisboa, Portugália Ed. (1961);<br /><br /><em>Motim Literário</em>, Lisboa, Editorial Verbo (1962);<br /><br /><em>Hospital das Letras</em>, Lisboa, Guimarães Editores (1966);<br /><br /><em>Discurso Directo</em>, Lisboa, Guimarães Editores (1969);<br /><br /><em>Tópicos de Crítica e de História Literária</em>, Lisboa, União Gráfica (1969);<br /><br /><em>Sobre Viventes</em>, Lisboa, Dom Quixote (1976;<br /><br /><em>Presença da «Presença» </em>Porto, Brasília Ed. (1977);<br /><br /><em>Lâmpadas no Escuro</em>, Lisboa, Ed. Arcádia (1979);<br /><br /><em>O Essencial Sobre Vitorino Nemésio</em>, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda (1987);<br /><br /><em>Nos Passos de Pessoa</em>, Lisboa, Editorial Presença (1988); <em>Marguerite Yourcenar: Retrato de Uma Voz</em>, Lisboa, Edições Rolim (1988);<br /><br /><em>Os Ócios do Ofício</em>, Lisboa, Guimarães Editores (1989);<br /><br /><em>Sob o Mesmo Tecto</em>, Lisboa, Editorial Presença (1989);<br /><br /><em>Tópicos Recuperados</em>, Lisboa, Editorial Caminho (1992);<br /><br /><em>Terraço Aberto </em>(antologia) Lisboa, Círculo de Leitores (1992); <em>Elogio Académico de Vitorino Nemésio</em>, Academia das Ciências de Lisboa (1992);<br /><br /><em>Evocação de Sebastião da Gama</em>, Lisboa, Edições Ática (s/d)[1993];<br /><br /><em>Magia Palavra Corpo</em> Lisboa, Edições Cotovia (1993);<br /><br /><em>Em Movimento</em>, Edição do Metropolitano de Lisboa (1995).<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><b>Divulgação e Tradução de Poesia<br /></b><br /><em>Imagens da Poesia Europeia </em>— Vol. I (Grécia, Roma, Os Séculos Obscuros)- Lisboa, Realizações Artis (1972);<br /><br /><em>Vozes da Poesia Europeia I </em>(<em>Colóquio-Letras</em>, nº163- Janeiro-Abril de 2003);<br /><br /><em>Vozes da Poesia Europeia II</em> (<em>Colóquio-Letras</em>, nº164- Maio-Agosto de 2003); <em>Vozes da Poesia Europeia III </em>(<em>Colóquio-Letras</em>, nº165-Setembro- Dezembro de 2003).<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><b>Vária<br /></b><br /><em>Jogo de Espelhos – Reflexos para um Auto-Retrato</em>, Lisboa, Editorial Presença (1993).</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"> <br /><br /><b>● Bibliografia Seletiva sobre a Obra de David Mourão-Ferreira:<br /></b><br />A.A.V.V. Infinito Pessoal - Homenagem a David Mourão-Ferreira. <em>Colóquio- Letras</em>. N° 145/146, Julho-Dezembro 1997;<br /><br />A.A.VV. <em>Letras, Sinais</em>. Edições Cosmos, 1999.<br /><br />BOLETIM DO SERVIÇO DE BIBLIOTECAS E APOIO À LEITURA. David Mourão-Ferreira. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Dezembro 1996.<br /><br />BRITO, Marília Regina da Silva, <em>O Amor em David Mourão-Ferreira: Da Vida à Poesia</em>. Porto, Edições Universidade Fernando Pessoa, 2002.<br /><br />COELHO, Eduardo Prado. «David Mourão-Ferreira: Mar, Palavra e Memória/ Leitura de Os Amantes/ Escreviver», in <em>O Reino Flutuante</em>, Edições 70, Lisboa, s.d. [1972], 263-289.<br /><br />GARCIA, José Martins. <em>David Mourão-Ferreira - a Obra e o Homem</em>. Lisboa Editora Arcádia, 1980.<br /><br />________ <em>David Mourão-Ferreira – Narrador</em>. Lisboa, Vega, s.d. [1988].<br /><br />GASTÃO, Ana Marques. «Um Outro David».<em>Diário de Notícias</em> (16 de Junho de 2003), 40.<br /><br />LEPECKI, Maria Lúcia «Uma das Vozes Cimeiras da Lírica Portuguesa», <em>Diário de Notícias </em>( 4/6/89).<br /><br />________ «Uma Perfeita Harmonia na Disciplina da Escrita», <em>Diário de Notícias </em>(11/6/89).<br /><br />LIMA, Isabel Pires de. «Desafiando Pedras—O Poeta e o Pintor. <em>Colóquio-Letras</em>. Nº101.Janeiro-Fevereiro de 1988.<br /><br />LISBOA, Eugénio. «Uma Claridade de Sombras e de Luzes: A <em>Obra Poética</em> de David Mourão-Ferreira» in <em>As Vinte e Cinco Notas do Texto</em>, Lisboa, INCM, 1987.<br /><br />MALHEIRO, Helena. <em>L'Art de la Nouvelle </em>dans «Os Amantes» de David Mourão-Ferreíra Arquivos do Centro Cultural Português. Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, 1980.<br /><br />MARQUES, Teresa Martins. «David Mourão-Ferreira – Microleituras da Reescrita Poética», <em>Colóquio-Letras</em>. Nº 140/141 Abril / Setembro 1996, 253 – 258.<br /><br />________ « O Primeiro Projecto de Romance de David Mourão-Ferreira: <em>Há Dezenas de caminhos</em>…” (introdução e notas) in <em>Mealibra</em>, nº 14, Verão de 2004. pp.9-13.<br /><br />MARTINHO, Fernando J.B. <em>Tendências Dominantes da Poesia Portuguesa da Década de 50</em>. Lisboa, Edições Colibri, 1996.<br /><br />MORÃO, Paula. «David Mourão-Ferreira - O desenho do tempo»; David Mourão-Ferreira - Um Natal- no tempo com o coração»; «Sob o mesmo Tecto» in <em>Viagens na Terra das Palavras</em>. Lisboa, Edições Cosmos, 1993.<br /><br />MOURA, Vasco Graça. <em>David Mourão-Ferreira ou a Mestria de Eros</em>. Porto, Brasília Editora, 1978.<br /><br />REIS, Carlos. «Poesia e Poética», JL (5/6/96), 7.<br /><br />RODRIGUES, Urbano Tavares, «A Novelística Portuguesa e David Mourão-Ferreira» (<em>Diário de Lisboa</em>, 28/3/1957).<br /><br />SEIXO, Maria Alzira. «Uma Poética dos Sentidos» JL, (24/11/86).</span></p> Eugénio de Andrade 2011-03-03T10:02:28+00:00 2011-03-03T10:02:28+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/eugenio-de-andrade-14854-dp18.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Eugénio de Andrade</strong>, por Carlos Mendes de Sousa<br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Eugénio de Andrade " alt="Eugénio de Andrade" src="figuras/eugenioandrade/eugenioandrade.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Eugénio de Andrade nasceu em Póvoa de Atalaia (19. 01. 1923), uma aldeia da Beira Baixa onde passou a infância. Com oito anos de idade acompanha a mãe para Castelo Branco, e, em 1932, vão viver para Lisboa. Neste mesmo ano, termina os estudos primários que iniciara na aldeia natal. Em 1938, envia uma carta a António Botto, com alguns poemas, manifestando o desejo de o conhecer; momento particularmente importante, pois é nesse encontro com Botto que um amigo deste revela a Eugénio de Andrade a poesia de Fernando Pessoa, origem de um fascínio ilimitado. O conhecimento da literatura do autor da <em>Mensagem </em>será determinante para a afirmação de um estilo individual numa direção oposta à poética pessoana, naquilo em que esta se mostra distanciada da exaltação do sensualismo, da afirmação da corporalidade — vetores decisivos no trajeto poético de Eugénio de Andrade. Em 1942, dedicará o seu primeiro livro à memória de Pessoa. Outra influência marcante, nesses anos de formação, será a poesia de Camilo Pessanha. Este autor encarna o papel de mestre, sintetizando algumas das linhas idealisticamente perseguidas na poética eugeniana, como a musicalidade e a aguda consciência de que a poesia é ofício de artesão.<br /><br />É no ano de 1939 que, incitado por António Botto, publica uma plaqueta intitulada <em>Narciso</em>, o seu primeiro poema, ainda com o nome civil (José Fontinhas). Três anos depois é dado à estampa o primeiro livro, <em>Adolescente</em> (já com o pseudónimo), que, apesar de ter sido bem acolhido por algumas notas críticas na imprensa, seria posteriormente, por razões de ordem estética, renegado pelo autor. Esta posição estender-se-á ao seu segundo livro, <em>Pureza</em>, publicado em 1945. Bastante mais tarde, em 1977, numa edição de conjunto da sua obra, resgatará dez poemas daqueles dois livros, reunindo-os sob o título de <em>Primeiros Poemas</em>.<br /><br />Em 1943, Eugénio de Andrade instala-se na cidade de Coimbra. Torna-se amigo de Afonso Duarte, Carlos de Oliveira, Eduardo Lourenço e Miguel Torga; publica, em 1946, uma <em>Antologia Poética de García Lorca</em>. Regressa a Lisboa no final desse mesmo ano e, em 1947, ingressa no funcionalismo público. Publica em 1948 aquele que viria a ser o seu livro de consagração e o mais reeditado dos seus textos: <em>As Mãos e os Frutos</em>. Por essa altura faz amizade e convive com outros poetas como Mário Cesariny e Sophia de Mello Breyner Andresen. Fixa residência no Porto em 1950, onde passará a desempenhar as funções de inspetor dos Serviços Médico-Sociais até 1983, quando se reforma. Em 1956 morre a mãe, figura central na sua poesia, em cuja memória publica, dois anos depois, o livro <em>Coração do Dia</em>. Datam dos anos 50 os contactos pessoais com alguns poetas espanhóis da geração de 27 e a amizade com Teixeira de Pascoaes e Jorge de Sena. Além dos títulos já mencionados, publica <em>As Palavras Interditas</em> no ano de 1951; <em>Até Amanhã</em>, em 1956, e <em>Mar de Setembro</em>, em 1961.<br /><br />É de assinalar um grande interregno na sua produção poética após a publicação de <em>Ostinato Rigore </em>(1964); só no final de 1971 dá à estampa novo volume de poemas: <em>Obscuro Domínio</em>. A interrupção é importante do ponto de vista da linha evolutiva da obra; trata-se de um momento fulcral no sentido de uma viragem que resulta na amplificação da regularidade, que vai de <em>As Mãos e os Frutos </em>até <em>Ostinato Rigore</em>, em concreto ao nível das gamas lexicais e semânticas. A partir daqui, retoma o ritmo regular que vinha imprimindo à sua obra. Esta revelará contornos cada vez mais peculiares que denotam uma aguda consciência do percurso que se vai construindo: um profundo sentido de renovação, de diferença dentro de uma nítida linha de continuidades. O que já se verificava entre os livros publicados na primeira fase; daí que os contidos poemas de um livro como <em>Até Amanhã</em>, em relação ao qual com propriedade se pode falar de claridade apolínea, difiram dos poemas do livro anterior <em>As Palavras Interditas</em>, poemas mais extensos, marcados por uma imagética próxima de alguns textos dos poetas surrealistas. Com a publicação de <em>Obscuro Domínio</em> torna-se muito acurada, da parte do poeta, a necessidade de prosseguir no alargamento do círculo, o que passa por uma amplificação do espectro semântico. Nos últimos anos, a linha que vem traçando para a sua poética projeta um intencional caminho para o concreto, para o real. Um significativo gesto, neste sentido, é aquele que, em 1977, o leva a reabilitar poemas dos primeiros livros rejeitados. À medida que se aproxima do fim, vemo-lo mais atento a essa produção com o propósito claro de fundamentar a “tese” de que o real sempre esteve presente, de que a fundação da poesia assenta no real.<br /><br />Numa segunda fase, continuam a encontrar-se momentos tão diferentes como quando se confronta <em>Véspera da Água</em> (1973) com <em>Limiar dos Pássaros</em>, publicado em 1976. Este livro configura, no conjunto da produção poética de Eugénio de Andrade, uma espécie de nó onde se entrelaçam os principais núcleos de ressonância autobiográfica, texto denso do mais radical e perturbante olhar sobre esses núcleos. Outros livros apresentam assinaláveis marcas diferenciadoras dentro da continuidade estilística, podendo alguns deles ser aproximados por afinidades de diversa ordem, nomeadamente estruturais, caso de <em>Memória doutro Rio </em>(1978) e de <em>Vertentes do Olhar</em> (1987), onde ocorre uma comum matriz de narrativização dos poemas em prosa. <em>Matéria Solar </em>(1980) é um livro cujo metaforismo fulgurante se encontra próximo da equilibrada expressão de apaziguamento que irradia em <em>Branco no Branco</em> (1984). E se em <em>O Peso da Sombra </em>(1982) é onde mais notoriamente se manifesta a melancolia e a aguda consciência da passagem do tempo com seus efeitos sobre o corpo, a partir de <em>O Outro Nome da Terra</em> (1988) e <em>Rente ao Dizer</em> (1992) depara-se com um progressivo caminhar para o despojamento da expressão, aliado a uma atenção sábia às pequenas coisas da vida, às fulgurações da palavra, à cintilação das sílabas.<br /><br />Existe uma tendência manifesta para se identificar Eugénio de Andrade com alguns poemas antológicos, retirados na sua maioria dos primeiros livros (“Green God”, “Adeus”, “Os amantes sem dinheiro”, “As palavras interditas”, “Poema à mãe”, “Urgentemente”, “Litania”, “As palavras”, “Pequena elegia de Setembro”), assim como com alguns desses livros, como por exemplo, <em>As Mãos e os Frutos </em>ou <em>As Palavras Interditas</em>. A partir da década de 90, fomos assistindo, da parte do poeta, a um curioso esforço de correção dessa tendência. Se, nas sessões públicas, deu um maior destaque à última poesia, mais significativa será a inscrição do gesto em antologias organizadas por si, coletâneas que concedem um maior espaço aos poemas da última fase, como é o caso da antologia <em>30 poemas</em> (Fundação Eugénio de Andrade, 1993). Quando aparentemente parece retomar os mesmos procedimentos retórico-estilísticos e composicionais, esta poesia revela “novas direções” dentro da uma espantosa linha de coerência interna.<br /><br />Os últimos livros (<em>Ofício de Paciência</em>, 1994; <em>O Sal da Língua</em>, 1995; <em>Pequeno Formato</em>, 1997; <em>Os Lugares do Lume</em>, 1998; <em>Os Sulcos da Sede</em>, 2001) vêm confirmar a busca incessante de uma linguagem transparente face à pulsação do real quotidiano.<br /><br />Em 1974, publicou <em>Escrita da Terra</em> e <em>Outros Epitáfios</em>, livro que foi sendo continuamente ampliado, ao longo dos anos, até ao seu desdobramento em volumes diferenciados (<em>Escrita da Terra</em>, 5ª edição, 1983; <em>Homenagens e Outros Epitáfios</em>, 8ª edição, 1993). A obra poética de Eugénio de Andrade encontra-se traduzida em diversas línguas (a seguir a Pessoa é o poeta português mais traduzido).<br /><br />Eugénio de Andrade revela-se igualmente um notável prosador. Publicou três livros em prosa: <em>Rosto Precário</em> (1979), <em>Os Afluentes do Silêncio </em>(1968), <em>À Sombra da Memória </em>(1993). No primeiro, para além das poéticas explícitas, incorpora um conjunto de entrevistas apuradamente reescritas numa direção que, como afirma Vasco Graça Moura, permite “organizar uma matriz para os traços possíveis de um retrato do escritor, espécie de Narciso espelhando-se complacentemente na pose da sua própria arte poética e na sua oficina”. Nos outros dois livros, encontramos textos sobre poetas, prosadores, pintores, escultores, arquitetos, fotógrafos, músicos, sobre as cidades e regiões que conheceu bem. Todas as observações e leituras surgem impregnadas da vivência autobiográfica, e em praticamente todos esses textos encontramos traços que espelham a própria poética autoral.<br /><br />Em 1976, Eugénio de Andrade publica <em>História da Égua Branca</em> uma narrativa para crianças, onde se podem encontrar traços que permitem falar de um diálogo com a obra poética. Essa sintonia torna a acontecer com o livro <em>Aquela Nuvem e Outras</em> (1986), pequeno volume que agrupa um conjunto de poemas dedicados ao afilhado, Miguel, que foram sendo escritos à medida que este ia crescendo.<br /><br />No domínio da tradução, a sua bibliografia inclui poemas e textos dramáticos de Lorca, uma tradução das <em>Cartas Portuguesas atribuídas a Mariana Alcoforado</em>, uma edição de <em>Poemas e Fragmentos de Safo</em>, e um livro com o título: <em>Trocar de Rosa</em>, que reúne traduções de poetas contemporâneos.<br /><br />O poeta organizou também diversas antologias, muitas delas de considerável êxito editorial, como foi o caso da <em>Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa</em>, publicada em 1999; na fase final, organizou outra antologia panorâmica: <em>Poemas Portugueses para a Juventude</em>, publicada no ano de 2002. Assinalem-se também as recolhas de poemas de autores canónicos reunidos nos seguintes volumes: <em>Versos e Alguma Prosa de Luís de Camões</em>, 1972; <em>Fernando Pessoa, Poesias Escolhidas</em>, 1995; <em>Sonetos de Luís de Camões</em>, 2000. Em torno da poesia erótica portuguesa organizou: <em>Variações sobre um Corpo</em> (1972) e <em>Eros de Passagem</em>. <em>Poesia Erótica Contemporânea</em> (1982). Outro domínio de incidência dos volumes antológicos organizados por Eugénio de Andrade é o das recolhas de textos literários sobre cidades e regiões, como por exemplo: <em>Daqui Houve Nome Portugal</em> (1968), antologia consagrada ao Porto; <em>Memórias de Alegria </em>(1971), antologia que reúne textos sobre Coimbra; ou ainda <em>Alentejo não tem Sombra: Antologia de Poesia Contemporânea sobre o Alentejo</em> (1982). Para além destas recolhas, o poeta organizou algumas antologias com textos seus: <em>Antologia Breve</em>, 1972 (com sucessivas reedições atualizadas); <em>A Cidade de Garrett</em>, 1993; <em>Chuva sobre o rosto</em>, 1976; <em>Coração Habitado</em>, 1983; <em>Com o Sol em cada Sílaba</em>, 1991; <em>Os Dóceis Animais</em>, 2003.<br /><br />Em 1994, deixa a exígua morada na Rua Duque de Palmela, onde viveu durante décadas, e passa a viver numa casa, apoiada pela Câmara do Porto, onde funciona uma Fundação com o seu nome. Foi nesta casa, no Passeio Alegre, na Foz do Douro, que faleceu em 13 de junho de 2005.<br /><br />Eugénio de Andrade sagrou-se à poesia como uma espécie de monge que vê no poema a via da redenção. Afabilidade e rudeza, ascetismo e hedonismo nele coabitam sem qualquer espécie de tensão. O encanto desta poesia capaz de suscitar uma emoção tão viva provém em grande medida da extraordinária harmonia (“aliança primogénita entre a palavra e a música”) encontrada no corpo do poema. Torna real o símile da corporalidade, tornando a língua mais maleável.<br /><br />O poeta de <em>Ostinato Rigore</em> insere-se na tradição dos poetas artesãos, estatuto que para si mesmo reivindica. A recorrente insistência na afirmação do princípio orientador que o faz definir-se como poeta artesão tem óbvias implicações quanto ao rigor, observado no plano das micro-estruturas fónico-rítmicas e composicionais, mas também ao nível da conformação macro-estrutural de cada poema, de cada livro. Esta atitude traz consigo as mais fundas consequências face ao olhar vigilante exercido sobre a obra globalmente considerada, o que se torna cada vez mais notório nos últimos livros. Um núcleo restrito de obsessões configura o seu universo poético, recorrências que o poeta sintetiza nestas palavras: “fluir do tempo num jogo de luzes e de sombra; a ascensão e declínio de Eros, que não pode reduzir-se meramente à sexualidade; a descoberta do próprio rosto, entre os muitos que nos impõem; a dignificação do homem, num mundo mais empenhado em negar-lhe o corpo do que em negar-lhe a alma — preocupações maiores, ao que parece, da minha poesia, sem esquecer a face acolhedora e materna extensiva a tanta imagem de vida instintivamente feliz e aberta” (<em>Rosto Precário</em>). O que se observa na obra é a inter-relação destes valores que conformam a intrincada constelação de temas e motivos, de metáforas e imagens multiplicando-se incessantemente sob um efeito caleidoscópico.<br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /><b>Bibliografia Ativa<br /><br />Poesia:<br /></b><br /><em>As Mãos e os Frutos </em>(1948)<br /><em>Os Amantes sem Dinheiro</em> (1950)<br /><em>As Palavras Interditas</em> (1951)<br /><em>Até Amanhã</em> (1956)<br /><em>Coração do Dia </em>(1958)<br /><em>Mar de Setembro </em>(1961)<br /><em>Ostinato Rigore</em> (1964)<br /><em>Obscuro Domínio </em>(1971)<br /><em>Véspera da Água </em>(1973)<br /><em>Escrita da Terra e Outros Epitáfios</em> (1974)<br /><em>Limiar dos Pássaros</em> (1976)<br /><em>Memória doutro Rio </em>(1978)<br /><em>Matéria Solar</em> (1980)<br /><em>O Peso da Sombra </em>(1982)<br /><em>Branco no Branco</em> (1984)<br /><em>Vertentes do Olhar </em>(1987)<br /><em>Outro Nome da Terra </em>(1988)<br /><em>Rente ao Dizer</em> (1992)<br /><em>Ofício de Paciência </em>(1994)<br /><em>O Sal da Língua</em> (1995)<br /><em>Pequeno Formato </em>(1997)<br /><em>Os Lugares do Lume </em>(1998)<br /><em>Os Sulcos da Sede</em> (2001)<br /><br /><br /><b>Livros para crianças:<br /></b><br /><em>História da Égua Branca</em> (1977)<br /><em>Aquela Nuvem e Outras </em>(1986)<br /><br /><br /><b>Livros de Prosa<br /></b><br /><em>Os Afluentes do Silêncio </em>(1968)<br /><em>Rosto Precário</em> (1979)<br /><em>À Sombra da Memória </em>(1993 <br /><br /><br /><b>Traduções<br /></b><br /><em>Poemas de Garcia Lorca </em>(1946)<br /><em>Cartas Portuguesas, atribuídas a Mariana Alcoforado </em>(1969)<br /><em>Poemas e Fragmentos de Safo</em> (1974)<br /><em>Trocar de Rosa</em> (1980)<br /><br /><br /><b>Antologias<br /></b><br /><em>Daqui Houve Nome Portugal </em>(1968)<br /><em>Memórias de Alegria</em> (1971)<br /><em>Versos e Alguma Prosa de Luís de Camões </em>(1972)<br /><em>Antologia Breve</em> (1972)<br /><em>Variações sobre um Corpo </em>(1972)<br /><em>Chuva sobre o Rosto</em> (1976)<br /><em>Eros de Passagem. Poesia Erótica Contemporânea</em> (1982)<br /><em>Alentejo não tem Sombra: Antologia de Poesia Contemporânea sobre o Alentejo </em>(1982).<br /><em>Coração Habitado</em> (1983)<br /><em>Com o Sol em cada Sílaba </em>(1991)<br /><em>A Cidade de Garrett</em> (1993)<br /><em>Fernando Pessoa, Poesias Escolhidas </em>(1995)<br /><em>Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa </em>(1999)<br /><em>Sonetos de Luís de Camões</em> (2000)<br /><em>Poemas Portugueses para a Juventude </em>(2002)<br /><em>Os Dóceis Animais</em> (2003)</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /><b>Bibliografia passiva sumária<br /></b><br />AA.VV., <em>21 Ensaios sobre Eugénio de Andrade</em>, Porto, Inova, 1971.<br /><br />AA.VV., <em>Ensaios sobre Eugénio de Andrade </em>(coordenação de José da Cruz Santos; prefácio de Luís Miguel Queirós) Porto, Edições ASA, 2005.<br /><br /><em>Cadernos de Serrúbia</em>, nº 1, Porto, Fundação Eugénio de Andrade, Dezembro, 1996.<br /><br />Espacio/Espaço Escrito, <em>Revista de literatura en dos lenguas</em>, nº 19 e 20, Badajoz, Junta de Extremadura / Diputación de Badajoz, 2001.<br /><br /><em>Relâmpago</em>, nº 15, Fundação Luís Miguel Nava, Outubro de 2004.<br /><br /><em>Textos e Pretextos (Eugénio de Andrade)</em>, nº 5, Inverno de 2004.<br /><br />Crespo, Ángel, “La poesía de Eugénio de Andrade”, in Andrade, Eugénio, <em>Antología Poética </em>(1940-1980), Selecção e tradução de Ángel Crespo, Barcelona, Plaza &amp; Janés, 1981.<br /><br />Lopes, Óscar, <em>Uma Espécie de Música: a poesia de Eugénio de Andrade</em>, 2ª edição, Porto, Campo das Letras, 2001.<br /><br />Magalhães, Joaquim Manuel, <em>Os Dois Crepúsculos</em>, Lisboa, A Regra do Jogo, 1982.<br /><br />Morão, Paula, <em>Poemas de Eugénio de Andrade: o Homem, a Terra, a Palavra. Apresentação crítica, selecção, notas e sugestões para análise literária por Paula Morão</em>, Lisboa, Seara Nova / Editorial Comunicação, 1981.<br /><br />Moura, Vasco Graça, <em>Várias Vozes</em>, Lisboa, Presença, 1987.<br /><br />Nava, Luís Miguel, <em>O Essencial sobre Eugénio de Andrade</em>, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1987.<br /><br />Saraiva, Arnaldo, <em>Introdução à Poesia de Eugénio de Andrade</em>, Porto, Fundação Eugénio de Andrade, 1995.<br /><br />Sousa, Carlos Mendes de, <em>O Nascimento da Música: a Metáfora em Eugénio de Andrade</em>, Coimbra, Almedina, 1992.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Eugénio de Andrade</strong>, por Carlos Mendes de Sousa<br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Eugénio de Andrade " alt="Eugénio de Andrade" src="figuras/eugenioandrade/eugenioandrade.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Eugénio de Andrade nasceu em Póvoa de Atalaia (19. 01. 1923), uma aldeia da Beira Baixa onde passou a infância. Com oito anos de idade acompanha a mãe para Castelo Branco, e, em 1932, vão viver para Lisboa. Neste mesmo ano, termina os estudos primários que iniciara na aldeia natal. Em 1938, envia uma carta a António Botto, com alguns poemas, manifestando o desejo de o conhecer; momento particularmente importante, pois é nesse encontro com Botto que um amigo deste revela a Eugénio de Andrade a poesia de Fernando Pessoa, origem de um fascínio ilimitado. O conhecimento da literatura do autor da <em>Mensagem </em>será determinante para a afirmação de um estilo individual numa direção oposta à poética pessoana, naquilo em que esta se mostra distanciada da exaltação do sensualismo, da afirmação da corporalidade — vetores decisivos no trajeto poético de Eugénio de Andrade. Em 1942, dedicará o seu primeiro livro à memória de Pessoa. Outra influência marcante, nesses anos de formação, será a poesia de Camilo Pessanha. Este autor encarna o papel de mestre, sintetizando algumas das linhas idealisticamente perseguidas na poética eugeniana, como a musicalidade e a aguda consciência de que a poesia é ofício de artesão.<br /><br />É no ano de 1939 que, incitado por António Botto, publica uma plaqueta intitulada <em>Narciso</em>, o seu primeiro poema, ainda com o nome civil (José Fontinhas). Três anos depois é dado à estampa o primeiro livro, <em>Adolescente</em> (já com o pseudónimo), que, apesar de ter sido bem acolhido por algumas notas críticas na imprensa, seria posteriormente, por razões de ordem estética, renegado pelo autor. Esta posição estender-se-á ao seu segundo livro, <em>Pureza</em>, publicado em 1945. Bastante mais tarde, em 1977, numa edição de conjunto da sua obra, resgatará dez poemas daqueles dois livros, reunindo-os sob o título de <em>Primeiros Poemas</em>.<br /><br />Em 1943, Eugénio de Andrade instala-se na cidade de Coimbra. Torna-se amigo de Afonso Duarte, Carlos de Oliveira, Eduardo Lourenço e Miguel Torga; publica, em 1946, uma <em>Antologia Poética de García Lorca</em>. Regressa a Lisboa no final desse mesmo ano e, em 1947, ingressa no funcionalismo público. Publica em 1948 aquele que viria a ser o seu livro de consagração e o mais reeditado dos seus textos: <em>As Mãos e os Frutos</em>. Por essa altura faz amizade e convive com outros poetas como Mário Cesariny e Sophia de Mello Breyner Andresen. Fixa residência no Porto em 1950, onde passará a desempenhar as funções de inspetor dos Serviços Médico-Sociais até 1983, quando se reforma. Em 1956 morre a mãe, figura central na sua poesia, em cuja memória publica, dois anos depois, o livro <em>Coração do Dia</em>. Datam dos anos 50 os contactos pessoais com alguns poetas espanhóis da geração de 27 e a amizade com Teixeira de Pascoaes e Jorge de Sena. Além dos títulos já mencionados, publica <em>As Palavras Interditas</em> no ano de 1951; <em>Até Amanhã</em>, em 1956, e <em>Mar de Setembro</em>, em 1961.<br /><br />É de assinalar um grande interregno na sua produção poética após a publicação de <em>Ostinato Rigore </em>(1964); só no final de 1971 dá à estampa novo volume de poemas: <em>Obscuro Domínio</em>. A interrupção é importante do ponto de vista da linha evolutiva da obra; trata-se de um momento fulcral no sentido de uma viragem que resulta na amplificação da regularidade, que vai de <em>As Mãos e os Frutos </em>até <em>Ostinato Rigore</em>, em concreto ao nível das gamas lexicais e semânticas. A partir daqui, retoma o ritmo regular que vinha imprimindo à sua obra. Esta revelará contornos cada vez mais peculiares que denotam uma aguda consciência do percurso que se vai construindo: um profundo sentido de renovação, de diferença dentro de uma nítida linha de continuidades. O que já se verificava entre os livros publicados na primeira fase; daí que os contidos poemas de um livro como <em>Até Amanhã</em>, em relação ao qual com propriedade se pode falar de claridade apolínea, difiram dos poemas do livro anterior <em>As Palavras Interditas</em>, poemas mais extensos, marcados por uma imagética próxima de alguns textos dos poetas surrealistas. Com a publicação de <em>Obscuro Domínio</em> torna-se muito acurada, da parte do poeta, a necessidade de prosseguir no alargamento do círculo, o que passa por uma amplificação do espectro semântico. Nos últimos anos, a linha que vem traçando para a sua poética projeta um intencional caminho para o concreto, para o real. Um significativo gesto, neste sentido, é aquele que, em 1977, o leva a reabilitar poemas dos primeiros livros rejeitados. À medida que se aproxima do fim, vemo-lo mais atento a essa produção com o propósito claro de fundamentar a “tese” de que o real sempre esteve presente, de que a fundação da poesia assenta no real.<br /><br />Numa segunda fase, continuam a encontrar-se momentos tão diferentes como quando se confronta <em>Véspera da Água</em> (1973) com <em>Limiar dos Pássaros</em>, publicado em 1976. Este livro configura, no conjunto da produção poética de Eugénio de Andrade, uma espécie de nó onde se entrelaçam os principais núcleos de ressonância autobiográfica, texto denso do mais radical e perturbante olhar sobre esses núcleos. Outros livros apresentam assinaláveis marcas diferenciadoras dentro da continuidade estilística, podendo alguns deles ser aproximados por afinidades de diversa ordem, nomeadamente estruturais, caso de <em>Memória doutro Rio </em>(1978) e de <em>Vertentes do Olhar</em> (1987), onde ocorre uma comum matriz de narrativização dos poemas em prosa. <em>Matéria Solar </em>(1980) é um livro cujo metaforismo fulgurante se encontra próximo da equilibrada expressão de apaziguamento que irradia em <em>Branco no Branco</em> (1984). E se em <em>O Peso da Sombra </em>(1982) é onde mais notoriamente se manifesta a melancolia e a aguda consciência da passagem do tempo com seus efeitos sobre o corpo, a partir de <em>O Outro Nome da Terra</em> (1988) e <em>Rente ao Dizer</em> (1992) depara-se com um progressivo caminhar para o despojamento da expressão, aliado a uma atenção sábia às pequenas coisas da vida, às fulgurações da palavra, à cintilação das sílabas.<br /><br />Existe uma tendência manifesta para se identificar Eugénio de Andrade com alguns poemas antológicos, retirados na sua maioria dos primeiros livros (“Green God”, “Adeus”, “Os amantes sem dinheiro”, “As palavras interditas”, “Poema à mãe”, “Urgentemente”, “Litania”, “As palavras”, “Pequena elegia de Setembro”), assim como com alguns desses livros, como por exemplo, <em>As Mãos e os Frutos </em>ou <em>As Palavras Interditas</em>. A partir da década de 90, fomos assistindo, da parte do poeta, a um curioso esforço de correção dessa tendência. Se, nas sessões públicas, deu um maior destaque à última poesia, mais significativa será a inscrição do gesto em antologias organizadas por si, coletâneas que concedem um maior espaço aos poemas da última fase, como é o caso da antologia <em>30 poemas</em> (Fundação Eugénio de Andrade, 1993). Quando aparentemente parece retomar os mesmos procedimentos retórico-estilísticos e composicionais, esta poesia revela “novas direções” dentro da uma espantosa linha de coerência interna.<br /><br />Os últimos livros (<em>Ofício de Paciência</em>, 1994; <em>O Sal da Língua</em>, 1995; <em>Pequeno Formato</em>, 1997; <em>Os Lugares do Lume</em>, 1998; <em>Os Sulcos da Sede</em>, 2001) vêm confirmar a busca incessante de uma linguagem transparente face à pulsação do real quotidiano.<br /><br />Em 1974, publicou <em>Escrita da Terra</em> e <em>Outros Epitáfios</em>, livro que foi sendo continuamente ampliado, ao longo dos anos, até ao seu desdobramento em volumes diferenciados (<em>Escrita da Terra</em>, 5ª edição, 1983; <em>Homenagens e Outros Epitáfios</em>, 8ª edição, 1993). A obra poética de Eugénio de Andrade encontra-se traduzida em diversas línguas (a seguir a Pessoa é o poeta português mais traduzido).<br /><br />Eugénio de Andrade revela-se igualmente um notável prosador. Publicou três livros em prosa: <em>Rosto Precário</em> (1979), <em>Os Afluentes do Silêncio </em>(1968), <em>À Sombra da Memória </em>(1993). No primeiro, para além das poéticas explícitas, incorpora um conjunto de entrevistas apuradamente reescritas numa direção que, como afirma Vasco Graça Moura, permite “organizar uma matriz para os traços possíveis de um retrato do escritor, espécie de Narciso espelhando-se complacentemente na pose da sua própria arte poética e na sua oficina”. Nos outros dois livros, encontramos textos sobre poetas, prosadores, pintores, escultores, arquitetos, fotógrafos, músicos, sobre as cidades e regiões que conheceu bem. Todas as observações e leituras surgem impregnadas da vivência autobiográfica, e em praticamente todos esses textos encontramos traços que espelham a própria poética autoral.<br /><br />Em 1976, Eugénio de Andrade publica <em>História da Égua Branca</em> uma narrativa para crianças, onde se podem encontrar traços que permitem falar de um diálogo com a obra poética. Essa sintonia torna a acontecer com o livro <em>Aquela Nuvem e Outras</em> (1986), pequeno volume que agrupa um conjunto de poemas dedicados ao afilhado, Miguel, que foram sendo escritos à medida que este ia crescendo.<br /><br />No domínio da tradução, a sua bibliografia inclui poemas e textos dramáticos de Lorca, uma tradução das <em>Cartas Portuguesas atribuídas a Mariana Alcoforado</em>, uma edição de <em>Poemas e Fragmentos de Safo</em>, e um livro com o título: <em>Trocar de Rosa</em>, que reúne traduções de poetas contemporâneos.<br /><br />O poeta organizou também diversas antologias, muitas delas de considerável êxito editorial, como foi o caso da <em>Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa</em>, publicada em 1999; na fase final, organizou outra antologia panorâmica: <em>Poemas Portugueses para a Juventude</em>, publicada no ano de 2002. Assinalem-se também as recolhas de poemas de autores canónicos reunidos nos seguintes volumes: <em>Versos e Alguma Prosa de Luís de Camões</em>, 1972; <em>Fernando Pessoa, Poesias Escolhidas</em>, 1995; <em>Sonetos de Luís de Camões</em>, 2000. Em torno da poesia erótica portuguesa organizou: <em>Variações sobre um Corpo</em> (1972) e <em>Eros de Passagem</em>. <em>Poesia Erótica Contemporânea</em> (1982). Outro domínio de incidência dos volumes antológicos organizados por Eugénio de Andrade é o das recolhas de textos literários sobre cidades e regiões, como por exemplo: <em>Daqui Houve Nome Portugal</em> (1968), antologia consagrada ao Porto; <em>Memórias de Alegria </em>(1971), antologia que reúne textos sobre Coimbra; ou ainda <em>Alentejo não tem Sombra: Antologia de Poesia Contemporânea sobre o Alentejo</em> (1982). Para além destas recolhas, o poeta organizou algumas antologias com textos seus: <em>Antologia Breve</em>, 1972 (com sucessivas reedições atualizadas); <em>A Cidade de Garrett</em>, 1993; <em>Chuva sobre o rosto</em>, 1976; <em>Coração Habitado</em>, 1983; <em>Com o Sol em cada Sílaba</em>, 1991; <em>Os Dóceis Animais</em>, 2003.<br /><br />Em 1994, deixa a exígua morada na Rua Duque de Palmela, onde viveu durante décadas, e passa a viver numa casa, apoiada pela Câmara do Porto, onde funciona uma Fundação com o seu nome. Foi nesta casa, no Passeio Alegre, na Foz do Douro, que faleceu em 13 de junho de 2005.<br /><br />Eugénio de Andrade sagrou-se à poesia como uma espécie de monge que vê no poema a via da redenção. Afabilidade e rudeza, ascetismo e hedonismo nele coabitam sem qualquer espécie de tensão. O encanto desta poesia capaz de suscitar uma emoção tão viva provém em grande medida da extraordinária harmonia (“aliança primogénita entre a palavra e a música”) encontrada no corpo do poema. Torna real o símile da corporalidade, tornando a língua mais maleável.<br /><br />O poeta de <em>Ostinato Rigore</em> insere-se na tradição dos poetas artesãos, estatuto que para si mesmo reivindica. A recorrente insistência na afirmação do princípio orientador que o faz definir-se como poeta artesão tem óbvias implicações quanto ao rigor, observado no plano das micro-estruturas fónico-rítmicas e composicionais, mas também ao nível da conformação macro-estrutural de cada poema, de cada livro. Esta atitude traz consigo as mais fundas consequências face ao olhar vigilante exercido sobre a obra globalmente considerada, o que se torna cada vez mais notório nos últimos livros. Um núcleo restrito de obsessões configura o seu universo poético, recorrências que o poeta sintetiza nestas palavras: “fluir do tempo num jogo de luzes e de sombra; a ascensão e declínio de Eros, que não pode reduzir-se meramente à sexualidade; a descoberta do próprio rosto, entre os muitos que nos impõem; a dignificação do homem, num mundo mais empenhado em negar-lhe o corpo do que em negar-lhe a alma — preocupações maiores, ao que parece, da minha poesia, sem esquecer a face acolhedora e materna extensiva a tanta imagem de vida instintivamente feliz e aberta” (<em>Rosto Precário</em>). O que se observa na obra é a inter-relação destes valores que conformam a intrincada constelação de temas e motivos, de metáforas e imagens multiplicando-se incessantemente sob um efeito caleidoscópico.<br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /><b>Bibliografia Ativa<br /><br />Poesia:<br /></b><br /><em>As Mãos e os Frutos </em>(1948)<br /><em>Os Amantes sem Dinheiro</em> (1950)<br /><em>As Palavras Interditas</em> (1951)<br /><em>Até Amanhã</em> (1956)<br /><em>Coração do Dia </em>(1958)<br /><em>Mar de Setembro </em>(1961)<br /><em>Ostinato Rigore</em> (1964)<br /><em>Obscuro Domínio </em>(1971)<br /><em>Véspera da Água </em>(1973)<br /><em>Escrita da Terra e Outros Epitáfios</em> (1974)<br /><em>Limiar dos Pássaros</em> (1976)<br /><em>Memória doutro Rio </em>(1978)<br /><em>Matéria Solar</em> (1980)<br /><em>O Peso da Sombra </em>(1982)<br /><em>Branco no Branco</em> (1984)<br /><em>Vertentes do Olhar </em>(1987)<br /><em>Outro Nome da Terra </em>(1988)<br /><em>Rente ao Dizer</em> (1992)<br /><em>Ofício de Paciência </em>(1994)<br /><em>O Sal da Língua</em> (1995)<br /><em>Pequeno Formato </em>(1997)<br /><em>Os Lugares do Lume </em>(1998)<br /><em>Os Sulcos da Sede</em> (2001)<br /><br /><br /><b>Livros para crianças:<br /></b><br /><em>História da Égua Branca</em> (1977)<br /><em>Aquela Nuvem e Outras </em>(1986)<br /><br /><br /><b>Livros de Prosa<br /></b><br /><em>Os Afluentes do Silêncio </em>(1968)<br /><em>Rosto Precário</em> (1979)<br /><em>À Sombra da Memória </em>(1993 <br /><br /><br /><b>Traduções<br /></b><br /><em>Poemas de Garcia Lorca </em>(1946)<br /><em>Cartas Portuguesas, atribuídas a Mariana Alcoforado </em>(1969)<br /><em>Poemas e Fragmentos de Safo</em> (1974)<br /><em>Trocar de Rosa</em> (1980)<br /><br /><br /><b>Antologias<br /></b><br /><em>Daqui Houve Nome Portugal </em>(1968)<br /><em>Memórias de Alegria</em> (1971)<br /><em>Versos e Alguma Prosa de Luís de Camões </em>(1972)<br /><em>Antologia Breve</em> (1972)<br /><em>Variações sobre um Corpo </em>(1972)<br /><em>Chuva sobre o Rosto</em> (1976)<br /><em>Eros de Passagem. Poesia Erótica Contemporânea</em> (1982)<br /><em>Alentejo não tem Sombra: Antologia de Poesia Contemporânea sobre o Alentejo </em>(1982).<br /><em>Coração Habitado</em> (1983)<br /><em>Com o Sol em cada Sílaba </em>(1991)<br /><em>A Cidade de Garrett</em> (1993)<br /><em>Fernando Pessoa, Poesias Escolhidas </em>(1995)<br /><em>Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa </em>(1999)<br /><em>Sonetos de Luís de Camões</em> (2000)<br /><em>Poemas Portugueses para a Juventude </em>(2002)<br /><em>Os Dóceis Animais</em> (2003)</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /><b>Bibliografia passiva sumária<br /></b><br />AA.VV., <em>21 Ensaios sobre Eugénio de Andrade</em>, Porto, Inova, 1971.<br /><br />AA.VV., <em>Ensaios sobre Eugénio de Andrade </em>(coordenação de José da Cruz Santos; prefácio de Luís Miguel Queirós) Porto, Edições ASA, 2005.<br /><br /><em>Cadernos de Serrúbia</em>, nº 1, Porto, Fundação Eugénio de Andrade, Dezembro, 1996.<br /><br />Espacio/Espaço Escrito, <em>Revista de literatura en dos lenguas</em>, nº 19 e 20, Badajoz, Junta de Extremadura / Diputación de Badajoz, 2001.<br /><br /><em>Relâmpago</em>, nº 15, Fundação Luís Miguel Nava, Outubro de 2004.<br /><br /><em>Textos e Pretextos (Eugénio de Andrade)</em>, nº 5, Inverno de 2004.<br /><br />Crespo, Ángel, “La poesía de Eugénio de Andrade”, in Andrade, Eugénio, <em>Antología Poética </em>(1940-1980), Selecção e tradução de Ángel Crespo, Barcelona, Plaza &amp; Janés, 1981.<br /><br />Lopes, Óscar, <em>Uma Espécie de Música: a poesia de Eugénio de Andrade</em>, 2ª edição, Porto, Campo das Letras, 2001.<br /><br />Magalhães, Joaquim Manuel, <em>Os Dois Crepúsculos</em>, Lisboa, A Regra do Jogo, 1982.<br /><br />Morão, Paula, <em>Poemas de Eugénio de Andrade: o Homem, a Terra, a Palavra. Apresentação crítica, selecção, notas e sugestões para análise literária por Paula Morão</em>, Lisboa, Seara Nova / Editorial Comunicação, 1981.<br /><br />Moura, Vasco Graça, <em>Várias Vozes</em>, Lisboa, Presença, 1987.<br /><br />Nava, Luís Miguel, <em>O Essencial sobre Eugénio de Andrade</em>, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1987.<br /><br />Saraiva, Arnaldo, <em>Introdução à Poesia de Eugénio de Andrade</em>, Porto, Fundação Eugénio de Andrade, 1995.<br /><br />Sousa, Carlos Mendes de, <em>O Nascimento da Música: a Metáfora em Eugénio de Andrade</em>, Coimbra, Almedina, 1992.</span></p> Fernando Gil 2011-03-03T10:33:54+00:00 2011-03-03T10:33:54+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/fernando-gil-dp14.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Fernando Gil</strong>, por Carlos Leone</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="height: 207px; text-align: justify;" align="right" border="0" width="165"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Fernando Gil" alt="Fernando Gil" src="figuras/fernandogil/fernandogil01.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Fernando Gil (1937-2006) é um dos nomes maiores do pensamento e do ensino filosófico português no século XX. Poucos podem ser considerados autores de uma obra comparável à sua, pelo que não será tanto na relação com o meio português como na sua singularidade que se deve procurar o esclarecimento da sua influência e da relevância que adquiriu no espaço público português a sua morte, a 19 de março de 2006.<br /><br />Nascido e educado em Moçambique, Fernando Gil só abandonou o Liceu Salazar de Lourenço Marques (e seu o círculo informal de estudantes de marxismo, onde participaram outros nomes maiores das ciências sociais e humanas portuguesas, como Hermínio Martins) quando veio para Lisboa cursar Direito. Formado em 1959, não abdicou da sua vocação filosófica. Estreou-se como autor em 1961 com <em>Aproximação Antropológica</em> (Guimarães Editores, Lisboa,) tendo rapidamente partido para Paris, onde concluiu uma segunda licenciatura, em Filosofia, e se doutorou em Lógica (<em>La Logique du Nom</em>, até hoje inédito em Português) já em 1971. Aí continuou a traduzir, como já fizera em Lisboa: ficção (sobretudo ligado à editora Portugália) e ensaio (Merleau-Ponty, Jaspers, entre outros) mas, sobretudo, deu início ao seu trabalho universitário, continuado no imediato pós-25 de Abril de 1974 na Universidade de Lisboa.<br /><br />A trajetória universitária é decisiva, e o seu percurso em Portugal faz-se em ligação à Universidade Nova de Lisboa, a qual integra ainda no período inicial desta e onde rapidamente congrega no Departamento de Filosofia um conjunto de jovens licenciados que são, hoje, nomes relevantes da cultura filosófica portuguesa (em particular através dos cursos de mestrado, em cuja implementação foi pioneiro, e na orientação de dissertações de doutoramento). Então, na segunda metade da década de 1970 e inícios da de 1980, a sua evolução intelectual já o afastara da procura de uma teoria da subjetividade como aquela com que se estreara em 1961; nos trabalhos publicados em revistas como <em>Análise Social</em>, <em>Raiz e Utopia</em>, <em>Cultura</em>, <em>Prelo</em>, entre outras, bem como na coordenação da <em>Enciclopédia Einaudi</em><em> </em></span></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">(versão portuguesa, iniciada em 1983 pela INCM) e ainda na direção do Grupo de Investigação de Filosofia e Epistemologia, do qual emergem publicações várias (</span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Revista de Filosofia e Epistemologia</em>, <em>Estudos Filosóficos</em>, e, até hoje, <em>Análise</em>), o seu percurso estava cada vez mais norteado pela questão da objetividade.<br /><br />Embora a publicação dos seus trabalhos tenha habitualmente sido feita primeiro em Francês (viveu em Paris até à sua morte, tendo ensinado e investigado na <em>École des Hautes Études en Sciences Sociales</em>), as suas obras estão todas disponíveis em Português (quase todas publicadas na Imprensa Nacional – Casa da Moeda). E o que nelas se nota é, sobretudo após <em>Provas</em> (INCM, 1986, volume resultante da prova de agregação em Filosofia do Conhecimento), uma elaboração constante e cada vez mais sofisticada do problema da objetividade do conhecimento, que conhecerá o seu momento decisivo com a publicação em França, em 1993, de <em>Tratado da Evidência</em> (INCM, 1996). A compreensão do que entendemos como «evidente» e as relações do que é «evidente» com o sujeito particular em que se produz a evidência são, por assim dizer, a versão adulta do projeto inicial de <em>Aproximação antropológica</em>.<br /><br />Como foi notado por Miguel Real na revista <em>Prelo </em>(3ª série, nº 1, INCM, 2006), naquele que foi o primeiro conjunto de trabalhos relevante sobre a sua obra, a sua relação com a cultura filosófica e científica portuguesa é singular: destacando-se dela pela sua especialização, contribuiu por isso mesmo para a refazer noutros moldes ao influenciar as duas gerações universitárias com que mais trabalhou (a do GIFE e a de finais da década de 1980, princípio da de 1990, como no caso do atual diretor da <em>Análise</em>, André Barata). Não é de estranhar que assim seja, pois Fernando Gil fez parte de um vasto contingente de «estrangeirados» da cultura portuguesa que marcou decisivamente a história intelectual e institucional (política) do século XX em Portugal.<br /><br />Prémio Pessoa em 1993, Fernando Gil é consagrado: já tinha recebido o Prémio PEN por <em>Mimésis e Negação</em>, e a sua influência científica junto de centros de decisão políticos e não apenas científicos é invulgar, agraciado oficialmente em Portugal e em França. Colabora fora da sua área de competência especializada: com Hélder Macedo (<em>Viagens do Olhar</em>, igualmente Prémio PEN), em debate com o neurocientista António Damásio (crítica a <em>O Erro de Descartes</em>, em <em>Análise</em> nº19, 1996), em polémica ideológica com alguns dos seus amigos mais próximos (Manuel Villaverde Cabral, Eduardo Prado Coelho) a propósito da questão da ocupação do Iraque em 2003 e da questão civilizacional existente entre o ocidente laico e o islamismo militante (<em>Impasses</em>, Publ. Europa-América, Lisboa, 2003, em coautoria com Paulo Tunhas), em diálogo com o musicólogo Mário Vieira de Carvalho (<em>A Quatro Mãos</em>, INCM, 2005). Em simultâneo, coordenava a Rede Interdisciplinar de Centros de Investigação da UNL e continuava a sua vida académica intensa, sendo Professor Convidado de universidades de vários continentes.<br /><br />Depois da atenção que a sua morte recebeu por parte da comunicação social, começam as iniciativas de maior relevância. Além do dossier <em>in memoriam </em>que lhe é dedicado no nº1 da <em>Prelo</em>, já referido, 2007 trará novos estudos e edições que a sua obra, de futuro como já desde há tanto tempo, não cessará de suscitar.</span> <br /></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Fernando Gil</strong>, por Carlos Leone</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="height: 207px; text-align: justify;" align="right" border="0" width="165"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Fernando Gil" alt="Fernando Gil" src="figuras/fernandogil/fernandogil01.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Fernando Gil (1937-2006) é um dos nomes maiores do pensamento e do ensino filosófico português no século XX. Poucos podem ser considerados autores de uma obra comparável à sua, pelo que não será tanto na relação com o meio português como na sua singularidade que se deve procurar o esclarecimento da sua influência e da relevância que adquiriu no espaço público português a sua morte, a 19 de março de 2006.<br /><br />Nascido e educado em Moçambique, Fernando Gil só abandonou o Liceu Salazar de Lourenço Marques (e seu o círculo informal de estudantes de marxismo, onde participaram outros nomes maiores das ciências sociais e humanas portuguesas, como Hermínio Martins) quando veio para Lisboa cursar Direito. Formado em 1959, não abdicou da sua vocação filosófica. Estreou-se como autor em 1961 com <em>Aproximação Antropológica</em> (Guimarães Editores, Lisboa,) tendo rapidamente partido para Paris, onde concluiu uma segunda licenciatura, em Filosofia, e se doutorou em Lógica (<em>La Logique du Nom</em>, até hoje inédito em Português) já em 1971. Aí continuou a traduzir, como já fizera em Lisboa: ficção (sobretudo ligado à editora Portugália) e ensaio (Merleau-Ponty, Jaspers, entre outros) mas, sobretudo, deu início ao seu trabalho universitário, continuado no imediato pós-25 de Abril de 1974 na Universidade de Lisboa.<br /><br />A trajetória universitária é decisiva, e o seu percurso em Portugal faz-se em ligação à Universidade Nova de Lisboa, a qual integra ainda no período inicial desta e onde rapidamente congrega no Departamento de Filosofia um conjunto de jovens licenciados que são, hoje, nomes relevantes da cultura filosófica portuguesa (em particular através dos cursos de mestrado, em cuja implementação foi pioneiro, e na orientação de dissertações de doutoramento). Então, na segunda metade da década de 1970 e inícios da de 1980, a sua evolução intelectual já o afastara da procura de uma teoria da subjetividade como aquela com que se estreara em 1961; nos trabalhos publicados em revistas como <em>Análise Social</em>, <em>Raiz e Utopia</em>, <em>Cultura</em>, <em>Prelo</em>, entre outras, bem como na coordenação da <em>Enciclopédia Einaudi</em><em> </em></span></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">(versão portuguesa, iniciada em 1983 pela INCM) e ainda na direção do Grupo de Investigação de Filosofia e Epistemologia, do qual emergem publicações várias (</span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><em>Revista de Filosofia e Epistemologia</em>, <em>Estudos Filosóficos</em>, e, até hoje, <em>Análise</em>), o seu percurso estava cada vez mais norteado pela questão da objetividade.<br /><br />Embora a publicação dos seus trabalhos tenha habitualmente sido feita primeiro em Francês (viveu em Paris até à sua morte, tendo ensinado e investigado na <em>École des Hautes Études en Sciences Sociales</em>), as suas obras estão todas disponíveis em Português (quase todas publicadas na Imprensa Nacional – Casa da Moeda). E o que nelas se nota é, sobretudo após <em>Provas</em> (INCM, 1986, volume resultante da prova de agregação em Filosofia do Conhecimento), uma elaboração constante e cada vez mais sofisticada do problema da objetividade do conhecimento, que conhecerá o seu momento decisivo com a publicação em França, em 1993, de <em>Tratado da Evidência</em> (INCM, 1996). A compreensão do que entendemos como «evidente» e as relações do que é «evidente» com o sujeito particular em que se produz a evidência são, por assim dizer, a versão adulta do projeto inicial de <em>Aproximação antropológica</em>.<br /><br />Como foi notado por Miguel Real na revista <em>Prelo </em>(3ª série, nº 1, INCM, 2006), naquele que foi o primeiro conjunto de trabalhos relevante sobre a sua obra, a sua relação com a cultura filosófica e científica portuguesa é singular: destacando-se dela pela sua especialização, contribuiu por isso mesmo para a refazer noutros moldes ao influenciar as duas gerações universitárias com que mais trabalhou (a do GIFE e a de finais da década de 1980, princípio da de 1990, como no caso do atual diretor da <em>Análise</em>, André Barata). Não é de estranhar que assim seja, pois Fernando Gil fez parte de um vasto contingente de «estrangeirados» da cultura portuguesa que marcou decisivamente a história intelectual e institucional (política) do século XX em Portugal.<br /><br />Prémio Pessoa em 1993, Fernando Gil é consagrado: já tinha recebido o Prémio PEN por <em>Mimésis e Negação</em>, e a sua influência científica junto de centros de decisão políticos e não apenas científicos é invulgar, agraciado oficialmente em Portugal e em França. Colabora fora da sua área de competência especializada: com Hélder Macedo (<em>Viagens do Olhar</em>, igualmente Prémio PEN), em debate com o neurocientista António Damásio (crítica a <em>O Erro de Descartes</em>, em <em>Análise</em> nº19, 1996), em polémica ideológica com alguns dos seus amigos mais próximos (Manuel Villaverde Cabral, Eduardo Prado Coelho) a propósito da questão da ocupação do Iraque em 2003 e da questão civilizacional existente entre o ocidente laico e o islamismo militante (<em>Impasses</em>, Publ. Europa-América, Lisboa, 2003, em coautoria com Paulo Tunhas), em diálogo com o musicólogo Mário Vieira de Carvalho (<em>A Quatro Mãos</em>, INCM, 2005). Em simultâneo, coordenava a Rede Interdisciplinar de Centros de Investigação da UNL e continuava a sua vida académica intensa, sendo Professor Convidado de universidades de vários continentes.<br /><br />Depois da atenção que a sua morte recebeu por parte da comunicação social, começam as iniciativas de maior relevância. Além do dossier <em>in memoriam </em>que lhe é dedicado no nº1 da <em>Prelo</em>, já referido, 2007 trará novos estudos e edições que a sua obra, de futuro como já desde há tanto tempo, não cessará de suscitar.</span> <br /></span></p> Fernando Lopes-Graça 2011-03-03T11:16:56+00:00 2011-03-03T11:16:56+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/fernando-lopes-graca-dp22.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Fernando Lopes-Graça</strong>, por Teresa Cascudo</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="height: 215px; text-align: justify;" align="right" border="0" width="160"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Retrato de Fernando Lopes-Graça" alt="Retrato de Fernando Lopes-Graça" src="figuras/fernandolopesgraca/fenandolopesgraca01.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: x10pt;">Retrato de Fernando Lopes-Graça <br /> (© Câmara Municipal de Cascais / Museu da Música Portuguesa / Fundo Fernando Lopes-Graça)</span></span><br /> </span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">No decurso de uma entrevista concedida em 1986, Lopes-Graça afirmou que a sua atuação enquanto artista era inseparável dos compromissos que, como cidadão, tinha com a “Cidade” e com a “Grei”. A sua intenção era esclarecer definitivamente, no significativo momento do seu 80º aniversário, que não era nem um “compositor político” nem um “político compositor”. A posição de Lopes-Graça apresenta analogias com a de numerosos intelectuais portugueses, os quais, a partir de coordenadas diferentes, defenderam o papel da cultura como fundamento para a construção da sociedade civil. Este compromisso, no caso de Lopes-Graça, foi primeiramente um compromisso pessoal. Foi, ainda, um compromisso público, alicerçado numa conceção social da arte e na fé no progresso da humanidade. Porém, decorridos cem anos desde o seu nascimento, Lopes-Graça merece ser principalmente recordado como compositor, como autor de uma vasta obra em que deu voz a uma forma interveniente e crítica de “ser” português.<br /><br />Nascido em Tomar, em 1906, Fernando Lopes-Graça iniciou os seus estudos musicais na sua cidade natal, tendo-os concluído no Conservatório Nacional de Lisboa, que frequentou entre 1923 e 1931. Nessa instituição foi discípulo de piano dos professores Adriano Merea e José Viana da Mota, estudou composição com Tomás Borba, e ciências musicais com Luís de Freitas Branco. Frequentou ainda o curso de Letras das Universidades de Lisboa (1928-31) e de Coimbra (1932-4), embora não chegasse a conclui-lo. As primeiras obras do seu catálogo foram apresentadas em Lisboa em concertos organizados em colaboração com outros colegas do Conservatório, na mesma época em que iniciava um notável trabalho como cronista musical, manifestando um raro talento literário e uma ampla cultura. Em 1932 começou a ensinar na Academia de Música de Coimbra, cidade onde permaneceu radicado até 1936. Os anos de Coimbra foram precedidos e encerrados com duas detenções por motivos políticos que o impediram de ensinar em escolas públicas durante os anos posteriores, apesar de ter ganho por oposição uma vaga de professor de piano no Conservatório Nacional de Lisboa em 1931. Estes anos coincidiram com um primeiro período, que poderíamos qualificar como modernista, no seu percurso como compositor, durante o qual o seu estilo revelou a influência de autores como Arnold Schönberg e Paul Hindemith. Nas suas primeiras obras, muitas delas destruídas ou revistas posteriormente, também se destaca um atento estudo da prosódia da língua portuguesa, manifestado nas suas canções de poetas como Adolfo Casais Monteiro, José Régio ou Fernando Pessoa. O seu gosto pelos géneros vocais, estimulado pelo relacionamento constante com poetas contemporâneos, permaneceu ao longo de toda a sua vida.<br /><br />Lopes-Graça instalou-se em Paris em 1937. Na capital francesa frequentou o curso de Musicologia da Sorbonne, assistindo às aulas de Paul-Marie Masson, e teve alguns contactos com o compositor Charles Koechlin. Em Paris compôs várias obras para piano, a música para o bailado realista <em>La Fièvre du Temps</em> e realizou as suas primeiras harmonizações para voz e piano de canções tradicionais portuguesas. Uma parte da sua produção derivou num “nacionalismo essencial”, nas suas palavras, caracterizado pelo tratamento do material retirado da música tradicional e pela assimilação dos seus rasgos harmónicos, melódicos e rítmicos. Temos dois exemplos na <em>Sonata para piano nº 2</em> e na primeira versão do <em>Quarteto com piano</em>, onde a referência estilizada às canções populares surge junto com o uso de uma colorística harmonia e de ritmos percutidos alternados com polirritmias lineares. Esta nova tendência no seu estilo de compor manifesta a influência de Bela Bartók e de Manuel de Falla e a dos escritos de Koechlin publicados nestes anos.<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="height: 237px; text-align: justify;" align="left" border="0" width="291"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Fernando Lopes-Graça a dirigir o Coro da Academia dos Amadores de Música" alt="Fernando Lopes-Graça a dirigir o Coro da Academia dos Amadores de Música" src="figuras/fernandolopesgraca/fenandolopesgraca02m.jpg" height="182" width="271" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"> <p><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: x10pt;">Fernando Lopes-Graça a dirigir o Coro da Academia dos Amadores de Música (© Câmara Municipal de Cascais / Museu da Música Portuguesa / Fundo Fernando Lopes-Graça)</span></span><br /> </span></p> </td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Lopes-Graça regressou a Lisboa em 1939, tendo retomado a sua atividade como cronista musical, musicólogo e professor e iniciando o seu labor como organizador de concertos e maestro coral. Ensinou piano, harmonia e contraponto na Academia de Amadores de Música e constituiu a sociedade Sonata que, entre 1942 e 1960, promoveu a apresentação de programas inteiramente preenchidos por música do século XX. A sua primeira obra importante após o seu regresso de Paris foi o <em>Concerto para piano e orquestra nº 1</em>, composição que ganhou o primeiro prémio de composição patrocinado pelo Círculo de Cultura Musical em 1940. Recebeu a mesma distinção em 1942, com a cantata <em>História Trágico-Marítima</em> sobre textos de Miguel Torga, em 1944, com a <em>Sinfonia per orchestra</em>, e, em 1952, com a <em>Sonata para piano nº 3</em>. Lopes-Graça também retomou as suas colaborações nas publicações periódicas <em>Seara Nova</em> e <em>O Diabo</em>, como crítico musical e teatral respetivamente. Participou, com Bento de Jesus Caraça, na organização da Biblioteca Cosmos e publicou vários livros onde, para além de editar seleções dos seus artigos jornalísticos, se dedicou à difusão, com intuito pedagógico, de diversos assuntos de caráter musical.<br /><br />Após a Segunda Guerra Mundial, grande parte da atividade de Lopes-Graça foi determinada pela sua participação no Movimento de Unidade Democrática, assim como no PCP, do qual se tornou militante na década de 40. É de 1945, por exemplo, o seu plano para a organização estatal da música, inédito até à sua publicação em 1989, um bom indício das esperanças postas na mudança política que foram partilhadas por muitos nesta época. É também deste ano o início da composição das célebres <em>Canções Heróicas</em>, canções de intervenção que Lopes-Graça, apesar da proibição que pesava sobre a sua execução pública, continuou a compor até 1974, e inclusive em anos posteriores. A criação, igualmente em 1945, do Coro do Grupo Dramático Lisbonense fez parte deste movimento. Este foi o antecedente do Coro da Academia de Amadores de Música, fundado em 1950. Para além do trabalho de regência, Lopes-Graça escreveu para este agrupamento dezenas de harmonizações corais de canções tradicionais portuguesas, que constituíram o seu repertório. Por último, também em 1945, Lopes-Graça começou a colaborar regularmente na revista <em>Vértice</em>, onde publicou ao longo da segunda metade da década quatro artigos essenciais para entender as suas atitudes estéticas e políticas: “Necessidade e capricho da música contemporânea” (1945), “Sobre o conceito de popular na música” (1947), “O valor da tradição nas culturas musicais” e “Valor estético, pedagógico e patriótico da canção popular portuguesa” (ambos de 1949). O seu apreço reivindicativo da música tradicional continuou manifestando-se nas suas obras musicais da década de 50, nomeadamente na <em>Sonata nº 3</em> e nas <em>Glosas</em>, ambas para piano.<br /><br />O fim da sua atividade pedagógica na Academia de Amadores de Música, em 1954, foi consequência de um despacho ministerial que anulou a sua autorização para dar aulas em instituições privadas de ensino. Conseguiu, porém, manter a sua ligação com a instituição através da revista <em>Gazeta Musical</em> (1950-1957), fundada por ele juntamente com João José Cochofel, e da edição do <em>Dicionário de Música</em> (1954-8), empresa iniciada a partir do projeto de um dos seus professores, o então já falecido Tomás Borba, e através da direção musical do mencionado Coro da Academia de Amadores de Música, que teve nestes anos um dos seus períodos de mais intensa atividade. O dicionário foi editado pela Editorial Cosmos e durante estes anos foi a principal fonte de ingressos do compositor. O seu encontro com Michel Giacometti data de fins da década de 50, quando após um primeiro encontro pessoal ambos deram início a um trabalho conjunto que se manteve durante décadas. O primeiro fruto desta colaboração nasceu em 1960, ano em que foi editado o primeiro volume discográfico da coleção “Antologia da Música Regional Portuguesa”, dedicado à região de Trás-os-Montes. Ambos, em 1981, editaram no Círculo de Leitores o <em>Cancioneiro Popular Português</em>.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="height: 318px; text-align: justify;" align="right" border="0" width="233"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Primeira página da partitura autografa &quot;Suite Rústica N.º 1&quot; de Fernando Lopes-Graça " alt="Primeira página da partitura autografa &quot;Suite Rústica N.º 1&quot; de Fernando Lopes-Graça " src="figuras/fernandolopesgraca/fenandolopesgraca03m.jpg" height="230" width="178" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;">Primeira página da partitura autografa "Suite Rústica N.º 1" de Fernando Lopes-Graça (© Câmara Municipal de Cascais / Museu da Música Portuguesa / Fundo Fernando Lopes-Graça)</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">O desenvolvimento posterior da obra musical de Lopes-Graça tem permitido definir uma terceira fase iniciada na segunda metade da década de cinquenta, e marcada por obras como o ciclo vocal <em>As mãos e os frutos </em>(1959), sobre poemas de Eugénio de Andrade, o <em>Canto de Amor e de Morte</em>, quinteto com piano composto em 1961, e a <em>Sonata para piano nº 5</em>, escrita em 1977. Estas duas obras contam-se entre a produção mais intensa e exigente em termos formais e expressivos do compositor, evidenciando uma nova orientação no seu estilo. Embora nunca chegasse a abandonar completamente as referências explícitas à canção tradicional no seu catálogo, nestes anos, o compositor passou a explorar de maneira intensiva o ritmo e a harmonia, sendo o trabalho sobre este parâmetro baseado na utilização de um número muito reduzido de relações intervalares, em estruturas mais elaboradas. Esta é também a época do <em>Concerto da camera col violoncelo obbligato</em>, encomenda de Mstislav Rostropovich que o interpretou em primeira audição num concerto em Moscovo, e do <em>Quarteto de cordas nº 1</em>, vencedor do prémio de composição Rainier III de Mónaco em 1965. Nesse ano foram gravadas pela primeira vez obras sinfónicas da sua autoria interpretadas pela Orquestra do Porto sob a regência de Silva Pereira, que tinha dirigido no ano anterior um concerto inteiramente preenchido com composições para orquestra de Lopes-Graça, promovido pela delegação portuense da Juventude Musical Portuguesa.<br /><br />O fim do Estado Novo traduziu-se no reconhecimento oficial da importância de Lopes-Graça para a cultura portuguesa através de diversas homenagens e encomendas estatais. No que diz respeito à divulgação da sua obra, devemos referir a reedição, ao longo das décadas de 70 e de 80, dos seus livros numa coleção da Editorial Caminho e a gravação em disco de um considerável número de obras da sua autoria, editadas pela etiqueta discográfica PortugalSom, então dependente da Secretaria de Estado da Cultura. Os anos transcorridos desde 1974 até ao seu falecimento foram para Lopes-Graça criativamente muito férteis. São prova disso as duas sonatas para piano e um quarteto, o impressionante <em>Requiem para as vítimas do fascismo em Portugal</em> (1979) e as <em>Sete predicações de “Os Lusíadas” </em>(1980), o bailado <em>Dançares</em>, uma sinfonia para orquestra de formação clássica, numerosas canções, composições instrumentais mais breves e peças de circunstância. Da sua última produção para voz e piano, destacam-se os <em>Dez Novos Sonetos de Camões</em>, <em>Aquela nuvem e outras</em> (sobre poemas infantis de Eugénio de Andrade) e canções sobre textos de Fernando Pessoa e de José Saramago. Se o expressivo <em>Requiem </em>sintetiza a vertente mais dramática do seu catálogo, surgiram neste período outras composições com características novas. Lopes-Graça cultivou a partir dos anos 80 uma espécie de neoclassicismo revisitado para formações instrumentais que nunca tinham feito parte do seu catálogo. Na realidade, essa ideia de neoclassicismo relaciona-se ao longo de toda a sua obra com uma interessante reflexão sobre a de tradição, que se evidencia no recurso e manipulação constante de citações musicais. <em>Sonata nº 6</em>, a <em>Sinfonietta homenagem a Haydn </em>e <em>Geórgicas </em>são exemplos desta última fase, obras onde também se revela através da paródia o seu peculiar sentido do humor.<br /><br /><br /><br /><b>Bibliografia sumária:<br /></b><br />Carvalho, Mário Vieira de Carvalho, <em>O essencial sobre Fernando Lopes-Graça</em>, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988.<br /><br />Cascudo, Teresa, “À luz do presencismo: uma leitura da Introdução à música moderna (1942), de Fernando Lopes-Graça”, <em>Leituras: Revista da Biblioteca Nacional</em>, 12-13, 2003, pp. 107-124.<br /><br /><em>Uma homenagem a Fernando Lopes-Graça</em>, Porto, Câmara Municipal de Matosinhos/Edições Afrontamento, 1995.<br /><br /><em>Vértice</em>, 444/5 (1981) [número especial dedicado a Fernando Lopes-Graça].<br /><br /><br /><br /><b>Apontadores:<br /></b><br /><a href="http://www.musica.gulbenkian.pt/cgi-bin/wnp_db_dynamic_browse.pl?dn=db_notas_soltas_articles&amp;sn=dossier_fernando_lopes_graca">http://www.musica.gulbenkian.pt/cgi-bin/wnp_db_dynamic_browse.pl?dn=db_notas_soltas_articles&amp;sn=dossier_fernando_lopes_graca</a><br /><br />Dossier Lopes-Graça (Notas Soltas, webzine do Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian)</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Fernando Lopes-Graça</strong>, por Teresa Cascudo</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="height: 215px; text-align: justify;" align="right" border="0" width="160"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Retrato de Fernando Lopes-Graça" alt="Retrato de Fernando Lopes-Graça" src="figuras/fernandolopesgraca/fenandolopesgraca01.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: x10pt;">Retrato de Fernando Lopes-Graça <br /> (© Câmara Municipal de Cascais / Museu da Música Portuguesa / Fundo Fernando Lopes-Graça)</span></span><br /> </span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">No decurso de uma entrevista concedida em 1986, Lopes-Graça afirmou que a sua atuação enquanto artista era inseparável dos compromissos que, como cidadão, tinha com a “Cidade” e com a “Grei”. A sua intenção era esclarecer definitivamente, no significativo momento do seu 80º aniversário, que não era nem um “compositor político” nem um “político compositor”. A posição de Lopes-Graça apresenta analogias com a de numerosos intelectuais portugueses, os quais, a partir de coordenadas diferentes, defenderam o papel da cultura como fundamento para a construção da sociedade civil. Este compromisso, no caso de Lopes-Graça, foi primeiramente um compromisso pessoal. Foi, ainda, um compromisso público, alicerçado numa conceção social da arte e na fé no progresso da humanidade. Porém, decorridos cem anos desde o seu nascimento, Lopes-Graça merece ser principalmente recordado como compositor, como autor de uma vasta obra em que deu voz a uma forma interveniente e crítica de “ser” português.<br /><br />Nascido em Tomar, em 1906, Fernando Lopes-Graça iniciou os seus estudos musicais na sua cidade natal, tendo-os concluído no Conservatório Nacional de Lisboa, que frequentou entre 1923 e 1931. Nessa instituição foi discípulo de piano dos professores Adriano Merea e José Viana da Mota, estudou composição com Tomás Borba, e ciências musicais com Luís de Freitas Branco. Frequentou ainda o curso de Letras das Universidades de Lisboa (1928-31) e de Coimbra (1932-4), embora não chegasse a conclui-lo. As primeiras obras do seu catálogo foram apresentadas em Lisboa em concertos organizados em colaboração com outros colegas do Conservatório, na mesma época em que iniciava um notável trabalho como cronista musical, manifestando um raro talento literário e uma ampla cultura. Em 1932 começou a ensinar na Academia de Música de Coimbra, cidade onde permaneceu radicado até 1936. Os anos de Coimbra foram precedidos e encerrados com duas detenções por motivos políticos que o impediram de ensinar em escolas públicas durante os anos posteriores, apesar de ter ganho por oposição uma vaga de professor de piano no Conservatório Nacional de Lisboa em 1931. Estes anos coincidiram com um primeiro período, que poderíamos qualificar como modernista, no seu percurso como compositor, durante o qual o seu estilo revelou a influência de autores como Arnold Schönberg e Paul Hindemith. Nas suas primeiras obras, muitas delas destruídas ou revistas posteriormente, também se destaca um atento estudo da prosódia da língua portuguesa, manifestado nas suas canções de poetas como Adolfo Casais Monteiro, José Régio ou Fernando Pessoa. O seu gosto pelos géneros vocais, estimulado pelo relacionamento constante com poetas contemporâneos, permaneceu ao longo de toda a sua vida.<br /><br />Lopes-Graça instalou-se em Paris em 1937. Na capital francesa frequentou o curso de Musicologia da Sorbonne, assistindo às aulas de Paul-Marie Masson, e teve alguns contactos com o compositor Charles Koechlin. Em Paris compôs várias obras para piano, a música para o bailado realista <em>La Fièvre du Temps</em> e realizou as suas primeiras harmonizações para voz e piano de canções tradicionais portuguesas. Uma parte da sua produção derivou num “nacionalismo essencial”, nas suas palavras, caracterizado pelo tratamento do material retirado da música tradicional e pela assimilação dos seus rasgos harmónicos, melódicos e rítmicos. Temos dois exemplos na <em>Sonata para piano nº 2</em> e na primeira versão do <em>Quarteto com piano</em>, onde a referência estilizada às canções populares surge junto com o uso de uma colorística harmonia e de ritmos percutidos alternados com polirritmias lineares. Esta nova tendência no seu estilo de compor manifesta a influência de Bela Bartók e de Manuel de Falla e a dos escritos de Koechlin publicados nestes anos.<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="height: 237px; text-align: justify;" align="left" border="0" width="291"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Fernando Lopes-Graça a dirigir o Coro da Academia dos Amadores de Música" alt="Fernando Lopes-Graça a dirigir o Coro da Academia dos Amadores de Música" src="figuras/fernandolopesgraca/fenandolopesgraca02m.jpg" height="182" width="271" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"> <p><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: x10pt;">Fernando Lopes-Graça a dirigir o Coro da Academia dos Amadores de Música (© Câmara Municipal de Cascais / Museu da Música Portuguesa / Fundo Fernando Lopes-Graça)</span></span><br /> </span></p> </td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Lopes-Graça regressou a Lisboa em 1939, tendo retomado a sua atividade como cronista musical, musicólogo e professor e iniciando o seu labor como organizador de concertos e maestro coral. Ensinou piano, harmonia e contraponto na Academia de Amadores de Música e constituiu a sociedade Sonata que, entre 1942 e 1960, promoveu a apresentação de programas inteiramente preenchidos por música do século XX. A sua primeira obra importante após o seu regresso de Paris foi o <em>Concerto para piano e orquestra nº 1</em>, composição que ganhou o primeiro prémio de composição patrocinado pelo Círculo de Cultura Musical em 1940. Recebeu a mesma distinção em 1942, com a cantata <em>História Trágico-Marítima</em> sobre textos de Miguel Torga, em 1944, com a <em>Sinfonia per orchestra</em>, e, em 1952, com a <em>Sonata para piano nº 3</em>. Lopes-Graça também retomou as suas colaborações nas publicações periódicas <em>Seara Nova</em> e <em>O Diabo</em>, como crítico musical e teatral respetivamente. Participou, com Bento de Jesus Caraça, na organização da Biblioteca Cosmos e publicou vários livros onde, para além de editar seleções dos seus artigos jornalísticos, se dedicou à difusão, com intuito pedagógico, de diversos assuntos de caráter musical.<br /><br />Após a Segunda Guerra Mundial, grande parte da atividade de Lopes-Graça foi determinada pela sua participação no Movimento de Unidade Democrática, assim como no PCP, do qual se tornou militante na década de 40. É de 1945, por exemplo, o seu plano para a organização estatal da música, inédito até à sua publicação em 1989, um bom indício das esperanças postas na mudança política que foram partilhadas por muitos nesta época. É também deste ano o início da composição das célebres <em>Canções Heróicas</em>, canções de intervenção que Lopes-Graça, apesar da proibição que pesava sobre a sua execução pública, continuou a compor até 1974, e inclusive em anos posteriores. A criação, igualmente em 1945, do Coro do Grupo Dramático Lisbonense fez parte deste movimento. Este foi o antecedente do Coro da Academia de Amadores de Música, fundado em 1950. Para além do trabalho de regência, Lopes-Graça escreveu para este agrupamento dezenas de harmonizações corais de canções tradicionais portuguesas, que constituíram o seu repertório. Por último, também em 1945, Lopes-Graça começou a colaborar regularmente na revista <em>Vértice</em>, onde publicou ao longo da segunda metade da década quatro artigos essenciais para entender as suas atitudes estéticas e políticas: “Necessidade e capricho da música contemporânea” (1945), “Sobre o conceito de popular na música” (1947), “O valor da tradição nas culturas musicais” e “Valor estético, pedagógico e patriótico da canção popular portuguesa” (ambos de 1949). O seu apreço reivindicativo da música tradicional continuou manifestando-se nas suas obras musicais da década de 50, nomeadamente na <em>Sonata nº 3</em> e nas <em>Glosas</em>, ambas para piano.<br /><br />O fim da sua atividade pedagógica na Academia de Amadores de Música, em 1954, foi consequência de um despacho ministerial que anulou a sua autorização para dar aulas em instituições privadas de ensino. Conseguiu, porém, manter a sua ligação com a instituição através da revista <em>Gazeta Musical</em> (1950-1957), fundada por ele juntamente com João José Cochofel, e da edição do <em>Dicionário de Música</em> (1954-8), empresa iniciada a partir do projeto de um dos seus professores, o então já falecido Tomás Borba, e através da direção musical do mencionado Coro da Academia de Amadores de Música, que teve nestes anos um dos seus períodos de mais intensa atividade. O dicionário foi editado pela Editorial Cosmos e durante estes anos foi a principal fonte de ingressos do compositor. O seu encontro com Michel Giacometti data de fins da década de 50, quando após um primeiro encontro pessoal ambos deram início a um trabalho conjunto que se manteve durante décadas. O primeiro fruto desta colaboração nasceu em 1960, ano em que foi editado o primeiro volume discográfico da coleção “Antologia da Música Regional Portuguesa”, dedicado à região de Trás-os-Montes. Ambos, em 1981, editaram no Círculo de Leitores o <em>Cancioneiro Popular Português</em>.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="height: 318px; text-align: justify;" align="right" border="0" width="233"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Primeira página da partitura autografa &quot;Suite Rústica N.º 1&quot; de Fernando Lopes-Graça " alt="Primeira página da partitura autografa &quot;Suite Rústica N.º 1&quot; de Fernando Lopes-Graça " src="figuras/fernandolopesgraca/fenandolopesgraca03m.jpg" height="230" width="178" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;">Primeira página da partitura autografa "Suite Rústica N.º 1" de Fernando Lopes-Graça (© Câmara Municipal de Cascais / Museu da Música Portuguesa / Fundo Fernando Lopes-Graça)</span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">O desenvolvimento posterior da obra musical de Lopes-Graça tem permitido definir uma terceira fase iniciada na segunda metade da década de cinquenta, e marcada por obras como o ciclo vocal <em>As mãos e os frutos </em>(1959), sobre poemas de Eugénio de Andrade, o <em>Canto de Amor e de Morte</em>, quinteto com piano composto em 1961, e a <em>Sonata para piano nº 5</em>, escrita em 1977. Estas duas obras contam-se entre a produção mais intensa e exigente em termos formais e expressivos do compositor, evidenciando uma nova orientação no seu estilo. Embora nunca chegasse a abandonar completamente as referências explícitas à canção tradicional no seu catálogo, nestes anos, o compositor passou a explorar de maneira intensiva o ritmo e a harmonia, sendo o trabalho sobre este parâmetro baseado na utilização de um número muito reduzido de relações intervalares, em estruturas mais elaboradas. Esta é também a época do <em>Concerto da camera col violoncelo obbligato</em>, encomenda de Mstislav Rostropovich que o interpretou em primeira audição num concerto em Moscovo, e do <em>Quarteto de cordas nº 1</em>, vencedor do prémio de composição Rainier III de Mónaco em 1965. Nesse ano foram gravadas pela primeira vez obras sinfónicas da sua autoria interpretadas pela Orquestra do Porto sob a regência de Silva Pereira, que tinha dirigido no ano anterior um concerto inteiramente preenchido com composições para orquestra de Lopes-Graça, promovido pela delegação portuense da Juventude Musical Portuguesa.<br /><br />O fim do Estado Novo traduziu-se no reconhecimento oficial da importância de Lopes-Graça para a cultura portuguesa através de diversas homenagens e encomendas estatais. No que diz respeito à divulgação da sua obra, devemos referir a reedição, ao longo das décadas de 70 e de 80, dos seus livros numa coleção da Editorial Caminho e a gravação em disco de um considerável número de obras da sua autoria, editadas pela etiqueta discográfica PortugalSom, então dependente da Secretaria de Estado da Cultura. Os anos transcorridos desde 1974 até ao seu falecimento foram para Lopes-Graça criativamente muito férteis. São prova disso as duas sonatas para piano e um quarteto, o impressionante <em>Requiem para as vítimas do fascismo em Portugal</em> (1979) e as <em>Sete predicações de “Os Lusíadas” </em>(1980), o bailado <em>Dançares</em>, uma sinfonia para orquestra de formação clássica, numerosas canções, composições instrumentais mais breves e peças de circunstância. Da sua última produção para voz e piano, destacam-se os <em>Dez Novos Sonetos de Camões</em>, <em>Aquela nuvem e outras</em> (sobre poemas infantis de Eugénio de Andrade) e canções sobre textos de Fernando Pessoa e de José Saramago. Se o expressivo <em>Requiem </em>sintetiza a vertente mais dramática do seu catálogo, surgiram neste período outras composições com características novas. Lopes-Graça cultivou a partir dos anos 80 uma espécie de neoclassicismo revisitado para formações instrumentais que nunca tinham feito parte do seu catálogo. Na realidade, essa ideia de neoclassicismo relaciona-se ao longo de toda a sua obra com uma interessante reflexão sobre a de tradição, que se evidencia no recurso e manipulação constante de citações musicais. <em>Sonata nº 6</em>, a <em>Sinfonietta homenagem a Haydn </em>e <em>Geórgicas </em>são exemplos desta última fase, obras onde também se revela através da paródia o seu peculiar sentido do humor.<br /><br /><br /><br /><b>Bibliografia sumária:<br /></b><br />Carvalho, Mário Vieira de Carvalho, <em>O essencial sobre Fernando Lopes-Graça</em>, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988.<br /><br />Cascudo, Teresa, “À luz do presencismo: uma leitura da Introdução à música moderna (1942), de Fernando Lopes-Graça”, <em>Leituras: Revista da Biblioteca Nacional</em>, 12-13, 2003, pp. 107-124.<br /><br /><em>Uma homenagem a Fernando Lopes-Graça</em>, Porto, Câmara Municipal de Matosinhos/Edições Afrontamento, 1995.<br /><br /><em>Vértice</em>, 444/5 (1981) [número especial dedicado a Fernando Lopes-Graça].<br /><br /><br /><br /><b>Apontadores:<br /></b><br /><a href="http://www.musica.gulbenkian.pt/cgi-bin/wnp_db_dynamic_browse.pl?dn=db_notas_soltas_articles&amp;sn=dossier_fernando_lopes_graca">http://www.musica.gulbenkian.pt/cgi-bin/wnp_db_dynamic_browse.pl?dn=db_notas_soltas_articles&amp;sn=dossier_fernando_lopes_graca</a><br /><br />Dossier Lopes-Graça (Notas Soltas, webzine do Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian)</span></p> Fernando Pessoa 2011-03-03T11:59:14+00:00 2011-03-03T11:59:14+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/fernando-pessoa-70179-dp25.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Fernando Pessoa</strong>, por Fernando Cabral Martins</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Fernando Pessoa" alt="Fernando Pessoa" src="figuras/fernandopessoa/fernandopessoa.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Nasce a 13 de junho, dia de Santo António, num prédio em frente do teatro de S. Carlos, filho de Maria Madalena Nogueira e de Joaquim Pessoa. A família do pai é oriunda de Tavira – lugar escolhido mais tarde para berço de Álvaro de Campos – e a família da mãe tem raízes nos Açores.<br /><br />O pai morre de tuberculose em 1893, aos 43 anos. Dois anos mais tarde, a mãe volta a casar com João Miguel Rosa, que será cônsul português em Durban, na que é então a colónia inglesa de Natal. Em 1896 viaja com a mãe para Durban, onde fará toda a sua instrução primária e secundária. Aí se matricula em 1902 numa Escola Comercial, onde aprende os elementos da sua futura profissão. Por essa altura começa a escrever, em inglês e já sob o nome de outro – Alexander Search, o que continuará a fazer até 1910: é uma poesia de índole tradicional, muito à maneira dos românticos ingleses, e nela afloram todos os grandes temas futuros.<br /><br />Faz exame de admissão à Universidade do Cabo, recebendo, pelo ensaio que é parte da prova, e entre 899 candidatos, o Queen Victoria Memorial Prize, e no ano seguinte, 1904, matricula-se no liceu de Durban. Aí se prepara para o exame do primeiro ano da Universidade, em que vem a obter a melhor nota, pelo que deveria ter acesso a uma bolsa conferida pela Colónia do Natal para ir para Inglaterra fazer um curso superior. No entanto, a bolsa é entregue ao segundo classificado (aparentemente pelo facto de ser inglês). Em 1905 volta sozinho para Lisboa e matricula-se no Curso Superior de Letras, com tão pouco entusiasmo que não chega a passar do primeiro ano.<br /><br />Começa em 1907 a trabalhar como correspondente estrangeiro de casas comerciais. E, em 1908, começa a escrever poesia em português.<br /><br />Publica em <em>A Águia</em>, durante o ano de 1912, uma série de três artigos sobre «A Nova Poesia Portuguesa», em que o «próximo aparecer do supra-Camões» é o tema-chave. Nesse mesmo ano conhece Mário de Sá-Carneiro, que pouco depois parte para Paris, e inicia com ele uma correspondência (publicada em 1951) através da qual se trocam ideias literárias e artísticas que hão de estar na base dos «ismos» de referência da geração de <em>Orpheu</em> – Paulismo, Intersecionismo, Sensacionismo – na movência contemporânea das Vanguardas europeias, Futurismo, Expressionismo e Cubismo.<br /><br />Uma carta a Adolfo Casais Monteiro de 1935 situará o aparecimento dos heterónimos – Alberto Caeiro, o camponês sensacionista, Ricardo Reis, o médico neo-clássico, e Álvaro de Campos, o engenheiro extrovertido – com precisão excessiva, no dia 8 de março de 1914. O que só de certo modo (simbólico, ficcional) corresponde à verdade, pois a consulta dos manuscritos revela que os primeiros poemas de Caeiro datam de março, e os de Campos e Reis de junho. Será esta, porém, a fase mais produtiva de Pessoa e de todo o Modernismo. No ano seguinte, saem em março e junho os dois números da revista <em>Orpheu</em>, que na altura provocam escândalo e gargalhada mas hão de transformar o século XX português. Aí apresenta Pessoa a peça <em>O Marinheiro</em> e os poemas de <em>Chuva Oblíqua</em> assinados com o seu nome, e principalmente, <em>Opiário</em>, <em>Ode Triunfal</em> e <em>Ode Marítima</em> de Álvaro de Campos. Começa por essa época, igualmente, a interessar-se por teosofia, o que marca a sua atração de toda a vida pelos caminhos ocultos do conhecimento.<br /><br />Em 1917 colabora no <em>Portugal Futurista</em>, outra revista central do Modernismo português, com <em>Ultimatum</em> de Álvaro de Campos - também publicado em separata. Envia <em>The Mad Fiddler </em>a uma editora inglesa, que recusa a sua publicação. Chega a estar em adiantada preparação o n.º 3 do <em>Orpheu</em>, de que se conhecem provas tipográficas, incluindo sete poemas de Pessoa e um longo poema, <em>Para Além Doutro Oceano</em>, assinado por C. Pacheco, singular personagem parecida com Álvaro de Campos que tem aí a sua única aparição.<br /><br />Em 1918 publica dois opúsculos de poemas em inglês, <em>35 Sonnets</em> e <em>Antinous</em>. No ano seguinte conhece Ofélia Queirós, e inicia em 1920 o primeiro período do seu namoro com ela: são nove meses, documentados por uma correspondência amorosa publicada em 1978. Em 1921 cria a editora Olisipo, onde publica <em>English Poems </em>I-II (um <em>Antinous</em> reescrito mais <em>Inscriptions</em>) e <em>English Poems </em>III (que contém <em>Epithalamium</em>), e, como escreverá mais tarde numa carta a Rogelio Buendía, só <em>Inscriptions</em> «são consentâneas com a decência normal». A Olisipo edita ainda <em>A Invenção do Dia Claro</em>, de Almada Negreiros e a 2ª edição das <em>Canções</em> de António Botto.<br /><br />Dirige em 1924 <em>Athena. Revista de Arte </em>mensal, que chega aos cinco números, e onde aparece pela primeira vez a poesia dos dois outros heterónimos maiores, Ricardo Reis e Alberto Caeiro.<br /><br />Em 1925 morre a sua mãe: em 1926 publica <em>O Menino da sua Mãe </em>na revista modernista <em>Contemporânea</em>. <br /><br />Colabora com doze textos de técnica e teoria do comércio nos seis números da <em>Revista de Comércio e Contabilidade</em>, dirigida pelo seu cunhado Francisco Caetano Dias em 1926. Bernardo Soares aparece pela primeira vez publicamente em 1929, e, pelo menos no seu desenho de personagem, é uma espécie de resultado literário da experiência de correspondente comercial de Pessoa, usando um registo que aproxima o seu <em>Livro do Desassossego</em> de uma espécie de diário, o de um homem só entregue à deambulação lisboeta e ao devaneio lírico. Nesse mesmo ano se reacende o amor e a correspondência com Ofélia Queirós, ao longo de quatro meses.<br /><br />O seu único livro de poemas em português, <em>Mensagem</em>, sai a 1 de dezembro de 1934, e ganha um dos prémios nacionais instituídos por António Ferro.<br /><br />Em janeiro de 1935 envia a Adolfo Casais Monteiro a célebre e já citada carta sobre a génese dos heterónimos. Aí fixa, para além dos detalhes do mítico «dia triunfal» em que os heterónimos aparecem todos de seguida, a encenação daquilo a que chama o «drama em gente», e que virá organizar devidamente as relações que as personagens de poetas estabelecem entre si – e se estabelecem entre as suas obras. Assim, Alberto Caeiro surge como o Mestre, aquele que traz a verdade – a verdade da sensação. Os outros dois são os seus discípulos, um de educação clássica estrita e outro de educação moderna científica: Ricardo Reis e Álvaro de Campos. O próprio Fernando Pessoa afirma considerar-se discípulo de Alberto Caeiro, acedendo então a um convívio quotidiano com os heterónimos num universo alternativo, e, dentre todos, estabelecendo uma relação privilegiada com Álvaro de Campos, seu verdadeiro <em>alter ego</em>. Outro membro do clã imaginário é Bernardo Soares, um semi-heterónimo por não ser inteiramente <em>um outro </em>como cada um dos outros é. E, é claro, a heteronímia é uma máquina de fantasias complexa e variada, tecido de relações e de contradições à volta de certos temas centrais, o sentir e o pensar, o ver e o imaginar, o saber e o sonhar, o poder criador das palavras e a verdade como contradição essencial.<br /><br />É internado no Hospital de S. Luís dos Franceses. Escreve aí o seu último verso, imitado mais uma vez de Horácio, mas onde se lê, além de inquietação, a terrível e insaciável curiosidade do esotérico: «I know not what tomorrow will bring». Morre no dia seguinte, a 30 de novembro.<br /><br />A sua obra começará a ser publicada sistematicamente, em livro, só a partir de 1942, e a primeira versão de <em>O Livro do Desassossego</em> apenas chegará a sair em 1982. Assim atravessa todo o século XX, de que fica a ser um dos nomes maiores.<br /><br /><b><br />Bibliografia Sumária</b><br /><br />Jacinto do Prado Coelho, <em>Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa</em>, 6ª ed., Lisboa, Verbo, 1980.<br /><br />Teresa Rita Lopes, <em>Fernando Pessoa et le Drame Symboliste: Héritage e Création</em>, 2ª ed., Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985.<br /><br />Eduardo Lourenço, <em>Fernando Pessoa Revisitado. Leitura Estruturante do Drama em Gente</em>, 2ª ed., Lisboa, Moraes, 1981.<br /><br />David Mourão-Ferreira, <em>Nos Passos de Pessoa</em>, Lisboa, Presença, 1988.<br /><br />Georg Rudolf Lind, <em>Estudos sobre Fernando Pessoa</em>, Lisboa, IN-CM, 1981.<br /><br />José Augusto Seabra, <em>Fernando Pessoa ou o Poetodrama</em>, São Paulo, Perspectiva, 1974.<br /><br />Jorge de Sena, <em>Fernando Pessoa e Cª Heterónima</em>, 2 vol., Lisboa, Edições 70, 1982.<br /><br />João Gaspar Simões, <em>Vida e Obra de Fernando Pessoa. História de uma Geração</em>, 3ª ed., Lisboa, Bertrand, 1973<br /><br />João Rui de Sousa, <em>Fernando Pessoa Empregado de Escritório</em>, Lisboa, Sitese, 1985.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Fernando Pessoa</strong>, por Fernando Cabral Martins</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Fernando Pessoa" alt="Fernando Pessoa" src="figuras/fernandopessoa/fernandopessoa.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br type="_moz" /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Nasce a 13 de junho, dia de Santo António, num prédio em frente do teatro de S. Carlos, filho de Maria Madalena Nogueira e de Joaquim Pessoa. A família do pai é oriunda de Tavira – lugar escolhido mais tarde para berço de Álvaro de Campos – e a família da mãe tem raízes nos Açores.<br /><br />O pai morre de tuberculose em 1893, aos 43 anos. Dois anos mais tarde, a mãe volta a casar com João Miguel Rosa, que será cônsul português em Durban, na que é então a colónia inglesa de Natal. Em 1896 viaja com a mãe para Durban, onde fará toda a sua instrução primária e secundária. Aí se matricula em 1902 numa Escola Comercial, onde aprende os elementos da sua futura profissão. Por essa altura começa a escrever, em inglês e já sob o nome de outro – Alexander Search, o que continuará a fazer até 1910: é uma poesia de índole tradicional, muito à maneira dos românticos ingleses, e nela afloram todos os grandes temas futuros.<br /><br />Faz exame de admissão à Universidade do Cabo, recebendo, pelo ensaio que é parte da prova, e entre 899 candidatos, o Queen Victoria Memorial Prize, e no ano seguinte, 1904, matricula-se no liceu de Durban. Aí se prepara para o exame do primeiro ano da Universidade, em que vem a obter a melhor nota, pelo que deveria ter acesso a uma bolsa conferida pela Colónia do Natal para ir para Inglaterra fazer um curso superior. No entanto, a bolsa é entregue ao segundo classificado (aparentemente pelo facto de ser inglês). Em 1905 volta sozinho para Lisboa e matricula-se no Curso Superior de Letras, com tão pouco entusiasmo que não chega a passar do primeiro ano.<br /><br />Começa em 1907 a trabalhar como correspondente estrangeiro de casas comerciais. E, em 1908, começa a escrever poesia em português.<br /><br />Publica em <em>A Águia</em>, durante o ano de 1912, uma série de três artigos sobre «A Nova Poesia Portuguesa», em que o «próximo aparecer do supra-Camões» é o tema-chave. Nesse mesmo ano conhece Mário de Sá-Carneiro, que pouco depois parte para Paris, e inicia com ele uma correspondência (publicada em 1951) através da qual se trocam ideias literárias e artísticas que hão de estar na base dos «ismos» de referência da geração de <em>Orpheu</em> – Paulismo, Intersecionismo, Sensacionismo – na movência contemporânea das Vanguardas europeias, Futurismo, Expressionismo e Cubismo.<br /><br />Uma carta a Adolfo Casais Monteiro de 1935 situará o aparecimento dos heterónimos – Alberto Caeiro, o camponês sensacionista, Ricardo Reis, o médico neo-clássico, e Álvaro de Campos, o engenheiro extrovertido – com precisão excessiva, no dia 8 de março de 1914. O que só de certo modo (simbólico, ficcional) corresponde à verdade, pois a consulta dos manuscritos revela que os primeiros poemas de Caeiro datam de março, e os de Campos e Reis de junho. Será esta, porém, a fase mais produtiva de Pessoa e de todo o Modernismo. No ano seguinte, saem em março e junho os dois números da revista <em>Orpheu</em>, que na altura provocam escândalo e gargalhada mas hão de transformar o século XX português. Aí apresenta Pessoa a peça <em>O Marinheiro</em> e os poemas de <em>Chuva Oblíqua</em> assinados com o seu nome, e principalmente, <em>Opiário</em>, <em>Ode Triunfal</em> e <em>Ode Marítima</em> de Álvaro de Campos. Começa por essa época, igualmente, a interessar-se por teosofia, o que marca a sua atração de toda a vida pelos caminhos ocultos do conhecimento.<br /><br />Em 1917 colabora no <em>Portugal Futurista</em>, outra revista central do Modernismo português, com <em>Ultimatum</em> de Álvaro de Campos - também publicado em separata. Envia <em>The Mad Fiddler </em>a uma editora inglesa, que recusa a sua publicação. Chega a estar em adiantada preparação o n.º 3 do <em>Orpheu</em>, de que se conhecem provas tipográficas, incluindo sete poemas de Pessoa e um longo poema, <em>Para Além Doutro Oceano</em>, assinado por C. Pacheco, singular personagem parecida com Álvaro de Campos que tem aí a sua única aparição.<br /><br />Em 1918 publica dois opúsculos de poemas em inglês, <em>35 Sonnets</em> e <em>Antinous</em>. No ano seguinte conhece Ofélia Queirós, e inicia em 1920 o primeiro período do seu namoro com ela: são nove meses, documentados por uma correspondência amorosa publicada em 1978. Em 1921 cria a editora Olisipo, onde publica <em>English Poems </em>I-II (um <em>Antinous</em> reescrito mais <em>Inscriptions</em>) e <em>English Poems </em>III (que contém <em>Epithalamium</em>), e, como escreverá mais tarde numa carta a Rogelio Buendía, só <em>Inscriptions</em> «são consentâneas com a decência normal». A Olisipo edita ainda <em>A Invenção do Dia Claro</em>, de Almada Negreiros e a 2ª edição das <em>Canções</em> de António Botto.<br /><br />Dirige em 1924 <em>Athena. Revista de Arte </em>mensal, que chega aos cinco números, e onde aparece pela primeira vez a poesia dos dois outros heterónimos maiores, Ricardo Reis e Alberto Caeiro.<br /><br />Em 1925 morre a sua mãe: em 1926 publica <em>O Menino da sua Mãe </em>na revista modernista <em>Contemporânea</em>. <br /><br />Colabora com doze textos de técnica e teoria do comércio nos seis números da <em>Revista de Comércio e Contabilidade</em>, dirigida pelo seu cunhado Francisco Caetano Dias em 1926. Bernardo Soares aparece pela primeira vez publicamente em 1929, e, pelo menos no seu desenho de personagem, é uma espécie de resultado literário da experiência de correspondente comercial de Pessoa, usando um registo que aproxima o seu <em>Livro do Desassossego</em> de uma espécie de diário, o de um homem só entregue à deambulação lisboeta e ao devaneio lírico. Nesse mesmo ano se reacende o amor e a correspondência com Ofélia Queirós, ao longo de quatro meses.<br /><br />O seu único livro de poemas em português, <em>Mensagem</em>, sai a 1 de dezembro de 1934, e ganha um dos prémios nacionais instituídos por António Ferro.<br /><br />Em janeiro de 1935 envia a Adolfo Casais Monteiro a célebre e já citada carta sobre a génese dos heterónimos. Aí fixa, para além dos detalhes do mítico «dia triunfal» em que os heterónimos aparecem todos de seguida, a encenação daquilo a que chama o «drama em gente», e que virá organizar devidamente as relações que as personagens de poetas estabelecem entre si – e se estabelecem entre as suas obras. Assim, Alberto Caeiro surge como o Mestre, aquele que traz a verdade – a verdade da sensação. Os outros dois são os seus discípulos, um de educação clássica estrita e outro de educação moderna científica: Ricardo Reis e Álvaro de Campos. O próprio Fernando Pessoa afirma considerar-se discípulo de Alberto Caeiro, acedendo então a um convívio quotidiano com os heterónimos num universo alternativo, e, dentre todos, estabelecendo uma relação privilegiada com Álvaro de Campos, seu verdadeiro <em>alter ego</em>. Outro membro do clã imaginário é Bernardo Soares, um semi-heterónimo por não ser inteiramente <em>um outro </em>como cada um dos outros é. E, é claro, a heteronímia é uma máquina de fantasias complexa e variada, tecido de relações e de contradições à volta de certos temas centrais, o sentir e o pensar, o ver e o imaginar, o saber e o sonhar, o poder criador das palavras e a verdade como contradição essencial.<br /><br />É internado no Hospital de S. Luís dos Franceses. Escreve aí o seu último verso, imitado mais uma vez de Horácio, mas onde se lê, além de inquietação, a terrível e insaciável curiosidade do esotérico: «I know not what tomorrow will bring». Morre no dia seguinte, a 30 de novembro.<br /><br />A sua obra começará a ser publicada sistematicamente, em livro, só a partir de 1942, e a primeira versão de <em>O Livro do Desassossego</em> apenas chegará a sair em 1982. Assim atravessa todo o século XX, de que fica a ser um dos nomes maiores.<br /><br /><b><br />Bibliografia Sumária</b><br /><br />Jacinto do Prado Coelho, <em>Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa</em>, 6ª ed., Lisboa, Verbo, 1980.<br /><br />Teresa Rita Lopes, <em>Fernando Pessoa et le Drame Symboliste: Héritage e Création</em>, 2ª ed., Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985.<br /><br />Eduardo Lourenço, <em>Fernando Pessoa Revisitado. Leitura Estruturante do Drama em Gente</em>, 2ª ed., Lisboa, Moraes, 1981.<br /><br />David Mourão-Ferreira, <em>Nos Passos de Pessoa</em>, Lisboa, Presença, 1988.<br /><br />Georg Rudolf Lind, <em>Estudos sobre Fernando Pessoa</em>, Lisboa, IN-CM, 1981.<br /><br />José Augusto Seabra, <em>Fernando Pessoa ou o Poetodrama</em>, São Paulo, Perspectiva, 1974.<br /><br />Jorge de Sena, <em>Fernando Pessoa e Cª Heterónima</em>, 2 vol., Lisboa, Edições 70, 1982.<br /><br />João Gaspar Simões, <em>Vida e Obra de Fernando Pessoa. História de uma Geração</em>, 3ª ed., Lisboa, Bertrand, 1973<br /><br />João Rui de Sousa, <em>Fernando Pessoa Empregado de Escritório</em>, Lisboa, Sitese, 1985.</span></p> Fidelino Figueiredo 2011-03-03T12:17:17+00:00 2011-03-03T12:17:17+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/fidelino-figueiredo-dp14.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Fidelino Figueiredo</strong>, por Carlos Leone<br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Fidelino de Sousa Figueiredo (Lisboa, 1888 – Lisboa, 1967)<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Fidelino de Sousa Figueiredo" alt="Fidelino de Sousa Figueiredo" src="figuras/fidelinofigueiredo/fidelinofigueiredo.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Fidelino de Figueiredo é há muito um autor esquecido mesmo por aqueles que contactam com a sua imensa Obra. A mais forte das razões para esta situação é a dificuldade em enquadrá-la no seu tempo. Com efeito, nascido no mesmo ano que, por exemplo, Vieira de Almeida, a sua atividade parece anterior (apesar de ter morrido até mais tarde). O que sucede é algo simples de compreender (o próprio Fidelino o observou) mas difícil de contrariar: o seu pensamento e mesmo a sua sensibilidade eram tributários de um século XIX, liberal e seleto, que não chegou a tempo de viver.<br /><br />Homem de Letras, espírito fino e elevado, o seu tempo não poderia ser o século XX que conheceu em Portugal (e Espanha): o de regimes conflituosos e populares, e depois violentos e antiliberais. E se começou por fazer nome em sucessivos trabalhos de grande extensão dedicados à crítica literária como ciência (pós-positivista, no entanto) e à História da Literatura Portuguesa, nas décadas de 1910 e 1920, o seu espírito era o de um homem do mundo, mas não exatamente do seu tempo. Isso mesmo era óbvio quando o jovem José Régio, para melhor vincar a genialidade de Pessoa, comparava favoravelmente os breves prefácios deste com as longas obras de Fidelino. E o mesmo se poderia dizer dos géneros mistos (romanescos) que também ensaiou, nos quais o seu estilo sobressaía mas, de igual modo, o seu anacronismo também. Contudo, crescentemente considerado em Espanha, fruto do seu interesse pelos temas iberistas, obteve aí sucesso junto do público e da crítica, bem como de vastos setores académicos com duas obras: <em>As Duas Espanhas e Pyrene</em> (1932 e 1935, respetivamente). Mas desenvolveu o seu magistério académico não tanto na Península Ibérica quanto nos EUA, México e, sobretudo, Brasil (São Paulo, onde dirigiu a revista <em>Letras </em>e deixou discípulos). Por esta altura, cerca de 1950, mesmo antigos críticos, como o presencista Adolfo Casais Monteiro, já o estimavam quer intelectualmente quer civicamente. Veio a morrer, após longa doença, em Lisboa.<br /><br />Neste ponto convém observar que a vida de Fidelino de Figueiredo não decorreu apenas entre livros e bibliotecas, embora aí se sentisse em casa. Na verdade, foi político (ministro de Sidónio Pais), duas vezes diretor da Biblioteca Nacional (a primeira na década de 1910, a segunda na de 1920) e exilado político, fugindo ao desterro para as colónias (após tentar derrubar a ditadura instalada em 1926 num golpe em 1927). Mesmo reiterando o seu desinteresse pela política, nunca abdicou do seu liberalismo, tanto na vida literária como na pública. Foi, por isso, incompreendido tanto pelo regime do Estado Novo como por muitos dos mais novos que se lhe opunham. De certo modo próximo de Ortega y Gasset, só que sem esperança em renovar o liberalismo, que entendia ter sido superado pelo democratismo na Europa pós-Segunda Guerra Mundial, Fidelino desejava que o pós-guerra trouxesse uma governação global mais eficaz que a experiência da Liga das Nações, mas para todos os efeitos nunca foi um pensador político.<br /><br />Por outro lado, o seu pensamento tem numerosas facetas. O melhor estudo compreensivo de que dispomos, de Mário Carneiro, subdivide-o enquanto Filosofia em Epistemologia, Filosofia da Cultura e Filosofia da Educação, reconhecendo embora como o tempo acrescentou a estas áreas trabalhos de teoria da História, Música, etc. Em rigor, o pensamento de Fidelino é de tal modo diverso que melhor é identificar o que nele falta: ciências sociais. Como os seus estudiosos mais rigorosos notaram, mesmo a Psicologia e a História que encontramos nos seus escritos têm maiores afinidades com o século XIX do que com o XX, e isso deve-se ao modo de pensar, mais do que a falta de conhecimentos.<br /><br />Leitor incessante, Fidelino correspondeu-se com numerosos estudiosos de muitas origens. Sempre atento aos grandes temas do seu tempo, talvez melhor do que em outros temas seja no pensamento sobre as crises da época em que viveu que melhor se vê a marca original da sua Obra. De facto, Fidelino via o seu tempo como um de crise, mas pela positiva, isto é, como um de «cultura intervalar» (título de um dos seus livros). Entendia por este termo o período de passagem de uma era cultural para outra; assim, a Idade Média (finda logo com Carlos Magno, de resto) teria sido intervalar entre duas eras, e mesmo assim também original em muitas coisas, desde o Direito até aos registos vernaculares entretanto promovidos a línguas de cultura e oficiais. Mesmo hoje é discutível até que ponto tal leitura é rigorosa, mas independentemente de outros aspetos, a sua originalidade é real e merece interesse.<br /><br />Embora Fidelino nunca tivesse obtido consolo com semelhante singularidade: «roubar a alguem a pátria é talvez o maior crime da malevolência politica, porque é desenquadrar uma vida da moldura social que lhe dá significado e finalidade, é demolir toda a architectura duma vida.» (<em>Notas para um Idearium Português</em>, p. 221). Ele perdera a sua, o liberalismo de Oitocentos.<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><b>Referências bibliográficas:<br /></b><br />Carneiro, Mário, <em>O Pensamento Filosófico de Fidelino de Figueiredo</em>, INCM, Lisboa, 2004.<br /><br />Serra, Pedro, <em>Um Intelectual na Fobolândia</em>, Angelus Novus, Coimbra e Braga, 2004.<br /><br />Lemos e Moreira Leite, orgs, <em>A Missão Portuguesa : Rotas Entrecruzadas</em>, ed. UNESP, S. Paulo, 2002.</span><br /></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong>Fidelino Figueiredo</strong>, por Carlos Leone<br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Fidelino de Sousa Figueiredo (Lisboa, 1888 – Lisboa, 1967)<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Fidelino de Sousa Figueiredo" alt="Fidelino de Sousa Figueiredo" src="figuras/fidelinofigueiredo/fidelinofigueiredo.jpg" /></span></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> <td style="text-align: left;"><br type="_moz" /></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Fidelino de Figueiredo é há muito um autor esquecido mesmo por aqueles que contactam com a sua imensa Obra. A mais forte das razões para esta situação é a dificuldade em enquadrá-la no seu tempo. Com efeito, nascido no mesmo ano que, por exemplo, Vieira de Almeida, a sua atividade parece anterior (apesar de ter morrido até mais tarde). O que sucede é algo simples de compreender (o próprio Fidelino o observou) mas difícil de contrariar: o seu pensamento e mesmo a sua sensibilidade eram tributários de um século XIX, liberal e seleto, que não chegou a tempo de viver.<br /><br />Homem de Letras, espírito fino e elevado, o seu tempo não poderia ser o século XX que conheceu em Portugal (e Espanha): o de regimes conflituosos e populares, e depois violentos e antiliberais. E se começou por fazer nome em sucessivos trabalhos de grande extensão dedicados à crítica literária como ciência (pós-positivista, no entanto) e à História da Literatura Portuguesa, nas décadas de 1910 e 1920, o seu espírito era o de um homem do mundo, mas não exatamente do seu tempo. Isso mesmo era óbvio quando o jovem José Régio, para melhor vincar a genialidade de Pessoa, comparava favoravelmente os breves prefácios deste com as longas obras de Fidelino. E o mesmo se poderia dizer dos géneros mistos (romanescos) que também ensaiou, nos quais o seu estilo sobressaía mas, de igual modo, o seu anacronismo também. Contudo, crescentemente considerado em Espanha, fruto do seu interesse pelos temas iberistas, obteve aí sucesso junto do público e da crítica, bem como de vastos setores académicos com duas obras: <em>As Duas Espanhas e Pyrene</em> (1932 e 1935, respetivamente). Mas desenvolveu o seu magistério académico não tanto na Península Ibérica quanto nos EUA, México e, sobretudo, Brasil (São Paulo, onde dirigiu a revista <em>Letras </em>e deixou discípulos). Por esta altura, cerca de 1950, mesmo antigos críticos, como o presencista Adolfo Casais Monteiro, já o estimavam quer intelectualmente quer civicamente. Veio a morrer, após longa doença, em Lisboa.<br /><br />Neste ponto convém observar que a vida de Fidelino de Figueiredo não decorreu apenas entre livros e bibliotecas, embora aí se sentisse em casa. Na verdade, foi político (ministro de Sidónio Pais), duas vezes diretor da Biblioteca Nacional (a primeira na década de 1910, a segunda na de 1920) e exilado político, fugindo ao desterro para as colónias (após tentar derrubar a ditadura instalada em 1926 num golpe em 1927). Mesmo reiterando o seu desinteresse pela política, nunca abdicou do seu liberalismo, tanto na vida literária como na pública. Foi, por isso, incompreendido tanto pelo regime do Estado Novo como por muitos dos mais novos que se lhe opunham. De certo modo próximo de Ortega y Gasset, só que sem esperança em renovar o liberalismo, que entendia ter sido superado pelo democratismo na Europa pós-Segunda Guerra Mundial, Fidelino desejava que o pós-guerra trouxesse uma governação global mais eficaz que a experiência da Liga das Nações, mas para todos os efeitos nunca foi um pensador político.<br /><br />Por outro lado, o seu pensamento tem numerosas facetas. O melhor estudo compreensivo de que dispomos, de Mário Carneiro, subdivide-o enquanto Filosofia em Epistemologia, Filosofia da Cultura e Filosofia da Educação, reconhecendo embora como o tempo acrescentou a estas áreas trabalhos de teoria da História, Música, etc. Em rigor, o pensamento de Fidelino é de tal modo diverso que melhor é identificar o que nele falta: ciências sociais. Como os seus estudiosos mais rigorosos notaram, mesmo a Psicologia e a História que encontramos nos seus escritos têm maiores afinidades com o século XIX do que com o XX, e isso deve-se ao modo de pensar, mais do que a falta de conhecimentos.<br /><br />Leitor incessante, Fidelino correspondeu-se com numerosos estudiosos de muitas origens. Sempre atento aos grandes temas do seu tempo, talvez melhor do que em outros temas seja no pensamento sobre as crises da época em que viveu que melhor se vê a marca original da sua Obra. De facto, Fidelino via o seu tempo como um de crise, mas pela positiva, isto é, como um de «cultura intervalar» (título de um dos seus livros). Entendia por este termo o período de passagem de uma era cultural para outra; assim, a Idade Média (finda logo com Carlos Magno, de resto) teria sido intervalar entre duas eras, e mesmo assim também original em muitas coisas, desde o Direito até aos registos vernaculares entretanto promovidos a línguas de cultura e oficiais. Mesmo hoje é discutível até que ponto tal leitura é rigorosa, mas independentemente de outros aspetos, a sua originalidade é real e merece interesse.<br /><br />Embora Fidelino nunca tivesse obtido consolo com semelhante singularidade: «roubar a alguem a pátria é talvez o maior crime da malevolência politica, porque é desenquadrar uma vida da moldura social que lhe dá significado e finalidade, é demolir toda a architectura duma vida.» (<em>Notas para um Idearium Português</em>, p. 221). Ele perdera a sua, o liberalismo de Oitocentos.<br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><b>Referências bibliográficas:<br /></b><br />Carneiro, Mário, <em>O Pensamento Filosófico de Fidelino de Figueiredo</em>, INCM, Lisboa, 2004.<br /><br />Serra, Pedro, <em>Um Intelectual na Fobolândia</em>, Angelus Novus, Coimbra e Braga, 2004.<br /><br />Lemos e Moreira Leite, orgs, <em>A Missão Portuguesa : Rotas Entrecruzadas</em>, ed. UNESP, S. Paulo, 2002.</span><br /></span></p> Florbela Espanca 2011-03-03T12:26:49+00:00 2011-03-03T12:26:49+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/florbela-espanca-dp19.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><strong>Florbela Espanca</strong>, por Cecília Barreira</span></p> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Florbela Espanca" alt="Florbela Espanca" src="images/stories/figurasculturaportuguesa/seculo_xx/florbelaespanca.jpg" width="135" height="226" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;">Nascida em 1894 <a href="#1"><sup>[1]</sup></a>, escreve os primeiros poemas por volta de 1915. A sua poesia por um lado liga-se a ambivalências finisseculares, por outro dramatiza a problemática do eu de um modo muito particular.<br /><br />O <em>Livro das Mágoas</em> abre com um soneto decadentista por excelência, onde a mágoa, a dor e a saudade participam no mesmo universo convivencial de tortura e decadentismo. A tónica finissecular é-nos conferida pela propensão para o choro:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Irmãos na Dor, os olhos rasos de água,<br />Chorai comigo a minha imensa mágoa,<br />Lendo o meu livro só de mágoas cheio! </i><a href="#2"><sup>[2]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />No entanto, não menos importância do que a assumpção de uma tristeza intrínseca, é a definição de um espaço poético original e único, um espaço de eleição diríamos melhor. Esse espaço é definido pela própria poetisa:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Sonho que sou a Poetisa eleita,<br />Aquela que diz tudo e tudo sabe,</i> <a href="#3"><sup>[3]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />E neste entrecho surge-nos uma primeira contradição. A poesia recém-eleita a uma área de primazia é também e sobretudo a poesia do nada:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><em>Acordo do meu sonho… E não sou nada!… </em><a href="#4"><sup>[4]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />A relação do poeta com a sua escrita é dolorida, chorada:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /><i>Calaram-se os poetas, tristemente…<br />E é desde então que eu choro amargamente<br />Na minha Torre esguia junto ao Céu!… </i></span> <span style="color: #333333;"><a href="#5"><sup>[5]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Aliás, é porque se é poeta que se alcança a Dor. A poesia é base de definição de uma atitude de sofrimento.<br /><br />Há um certo deslumbramento por uma sorte não alcançada que é ainda e sobretudo a sugestão de um local de eleição:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /><i>Eu sou a que no mundo anda perdida,<br />sou a irmã do Sonho, e desta sorte<br />Sou a crucificada… a dolorida…</i></span> <span style="color: #333333;"> <a href="#6"><sup>[6]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Um pessimismo tão fundo enleia-se na capacidade de sofrimento único, desde a alusão à vivência sozinha no “Castelo da Dor”, até à categoria de Castelã da tristeza a que se alcandora.<br /><br />Problematizemos a relação que existe entre a poetisa e a escrita. Por um lado, existe a noção de que o Poeta é um sonhador, um criador de ilusões. Por outro, a de que poesia é a palavra iniciática, mas inaudível para a maior parte das pessoas. O poeta é um ser solitário por excelência. É aquele que fala da sua Dor e a transporta para um infinito. Quanto maior é o génio, mais pode transportá-lo a uma outra cultura, a uma maior capacidade de divinização. A vida é uma desgraça que se assume com imensa dor, uma infinita capacidade de a chorar. Há uma tomada de consciência de caráter trágico:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /><i>Poeta, eu sou um cardo desprezado,<br />A urze que se pisa sob os pés.<br />Sou como tu, um riso desgraçado!</i></span> <span style="color: #333333;"> <a href="#7"><sup>[7]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Um constante conceber da vida como uma antecâmara da morte: esta não escolhe idades. Preexiste a um estádio de vida. Encontra-se sempre latente. A morte é a permanente temática em Florbela Espanca:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><em>É tão triste morrer na minha idade! </em><a href="#8"><sup>[8]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />E aqui remetemo-nos para a poesia finissecular de um António Nobre, cujos constantes apelos à morte produzem uma espécie de elegia dos comportamentos, suicídio antecipado, morte desejada. Penitência que se arranja na soturnidade das ambiências:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>E os meus vinte e três anos… (Sou tão nova!)<br />Dizem baixinho a rir: “Que linda a vida!…<br />Responde a minha Dor: “Que linda a cova! </i><a href="#9"><sup>[9]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Morte física ou onde se quebra o elo com a morte religiosa. Em Florbela, se existem laivos de religiosidade é mais num sentido místico, na procura de uma infinitude, de algo que escape a uma visão perplexa e inquieta.<br /><br />Mas descodifiquemos o caráter profundamente sensual desta poesia, onde as mãos e os beijos adquirem uma forte conotação erótica. É uma sensualidade que tanto pode tocar as raias de uma entronização de eros, como pode diluir-se numa tristeza de um amor perdido ou não correspondido:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Beija-me bem!… Que fantasia louca<br />Guardar assim, fechados, nestas mãos,<br />Os beijos que sonhei prà minha boca!…</i> <a href="#10"><sup>[10]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Os estados excessivos de aniquilamento que caracterizam a sua poesia são eles próprios denunciadores de uma vida tumultuosa. Assim as paixões e o modo como são vividas.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Benditos sejam todos que te amarem!<br />Os que em volta de ti ajoelharem<br />Numa grande paixão, fervente, louca!</i> <a href="#11"><sup>[11]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />A paixão é um estádio que tem de ser vivido num arrebatamento místico, mesmo que não haja qualquer correspondência com o real. De <em>pathos </em>se trata na ânsia de se chegar a uma perfeição, limbo existencial que toca um lirismo profundo.<br /><br />Mas como é vivido o quotidiano? Sob o tédio que remete não ocasionalmente para um “lago plácido dormente”.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Essa tristeza<br />É menos dor intensa que frieza,<br />É um tédio profundo de viver!<br />E é tudo sempre o mesmo, eternamente:<br />o mesmo lago plácido dormente…<br />E os dias, sempre os mesmos, a correr… </i><a href="#12"><sup>[12]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Daí se nota a mesma imperiosa atitude de radicalismo. Entre a morte que se projeta num elanguescimento dos sentidos, num torpor algo mediúnico e a vida do eros, enlouquecimento do ser.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Gosto da noite imensa, triste, preta,<br />Como esta estranha e doida borboleta<br />Que eu sinto sempre a voltejar em mim!… </i><a href="#13"><sup>[13]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;">O pendor noturno revela-se nas tonalidades escolhidas, desde os tons de roxos até aos soturnos negros. A propensão para a morte, a noite, o negrume, a tristeza relva desse desequilíbrio entre os thanatos e o eros.<br /><br />No <em>Livro de Soror Saudade</em> prolongam-se as grandes temáticas que entrevíramos no <em>Livro de Mágoas</em>.<br /><br />O eros é mais forte que o thanatos, porventura:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Amo-te tanto! E nunca te beijei…<br />E, nesse beijo, Amor, que eu não te dei<br />Guardo os versos mais lindos que te fiz!</i> <a href="#14"><sup>[14]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />E é em torno do eros que se encontra no labirinto das palavras uma chave para esse eu tão problemático. Talvez um dos sonetos mais labirínticos se condense em a noite que desce sobre os olhos cansados, adormecendo o ser. Para além desta ideia encontra-se um poema de grande sensualidade:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>A noite vai descendo, sempre calma…<br />Meu doce Amor tu beijas a minh’alma<br />Beijando nesta hora a minha boca </i><a href="#15"><sup>[15]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Neste poema encontram-se alguns dos traços mais interessantes da poesia de Florbela. Por um lado, o pendor radical e afetivo pela noite, pelo crepúsculo. Por outro, a noite, triste e pessimista que se avizinha, transforma-se em embriaguez e loucura, em algo que se plasma no genesíaco, na embriaguez dos sentidos. A noite calma pressente o enlace dos amantes. Este poema radicaliza de um modo muito original a simbólica da noite, na sua proximidade da morte, abeirando-se calma e dramaticamente e transmudando-se numa apoteose de corpos que se amam.<br /><br />Em “O Nosso Mundo”, Florbela erege um autêntico hino à vida e ao eros, original na sua poesia, tendo em conta o pessimismo que a caracteriza vulgarmente:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>A vida, meu Amor, quero vivê-la!<br />Na mesma taça erguida em tuas mãos,<br />Bocas unidas hemos de bebê-la!<br />Que importa o mundo e as ilusões defuntas?…<br />Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?…<br />O mundo, Amor?… As nossas bocas juntas!… </i><a href="#16"><sup>[16]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />A Vida é uma taça que se deve beber com sofreguidão. De tal modo que em “Prince Charmant” são já os velhos fantasmas que retornam, desde as tardes que se morrem voluptuosas até à procura do ser eleito que se não encontra nunca. Essa procura do príncipe encantado dilui-se na “Charneca Alentejana” e a poetisa é a esfinge que olha “a planície enorme”.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Embalo em mim um sonho vão, miragem:<br />Que tu e eu, em beijos e carinhos,<br />Eu a Charneca e tu o Sol, sozinhos,<br />Fôssemos um pedaço de paisagem!</i> <a href="#17"><sup>[17]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Os amantes fundem-se na paisagem, fazem parte intrínseca dela, ou então, como no poema “Tarde Demais”, quando finalmente o ser adorado regressa, já a poetisa se encontra morta:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>E há cem anos que eu fui nova e linda!…<br />E a minha boca morta grita ainda:<br />“Porque chegaste tarde, ó meu Amor?…</i> <a href="#18"><sup>[18]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Mas este <em>Livro de Soror Saudade</em> apresenta outros traços igualmente interessantes. Imagens de um Alentejo que se prende à voz dos “sinos e das noras”. As “verbenas” que se morrem silenciosamente e um franciscanismo muito angélico desde o simples apelo aos poetas e aos irmãos até ao chamamento mais forte da vida, do vento e do sol:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Trago na boca o coração dos cravos!<br />Boémios, vagabundos, e poetas,<br />Como eu sou vossa Irmã, ó meus Irmãos!</i> <a href="#19"><sup>[19]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /><em>Charneca em Flor</em> é o livro publicado postumamente onde se concentram os poemas mais complexos de Florbela. Iniciemos um percurso por “Versos de Orgulho”:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>O mundo quer-me mal porque ninguém<br />Tem asas como eu tenho! Porque Deus<br />Me fez nascer Princesa entre plebeus<br />Numa torre de orgulho e de desdém!<br />Porque o meu reino fica para Além!<br />Porque trago no olhar os vastos céus,<br />E os oiros e os clarões são todos meus!<br />Porque Eu sou Eu e porque Eu sou alguém!</i> <sup><a href="#20">[20]</a></sup></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Neste entrecho o eu é um território inexpugnável, imenso, mediúnico, solitário porque único. Voltamos ao ego como centro de todas as problemáticas, de todos os dilemas. A insistência no Infinito, num horizonte sem fim, é o rasgar de limites para um eu que se pretende ilimitado.<br /><br />Também a interrogação sobre a morte é de uma grande lucidez:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>O que há depois? Depois?… O azul dos céus?<br />Um outro mundo? O eterno nada? Deus?<br />Um abismo? Um castigo? Uma guarida?</i> <a href="#21"><sup>[21]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />A resposta é de um pessimismo muito florbeliano: tudo será melhor para além da morte.<br /><br />Mas o erotismo é outro dos traços permanentes da poesia de Florbela. Charneca em Flor representa a consagração do eros subtil e suave, onde as mãos, a boca e o estreitar dos corpos se arriscam e se ousam:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Meu Amor! Meu Amante! Meu Amigo!<br />Colhe a hora que passa, hora divina,<br />Bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo!<br />Sinto-me alegre e forte! Sou menina!</i> <a href="#22"><sup>[22]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Ou então de um modo mais incisivo:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>As tuas mãos tacteiam-se a tremer...<br />Meu corpo de âmbar, harmonioso e moço<br />É como um jasmineiro em alvoroço<br />É o brio de sol, de aroma, de prazer!</i> <a href="#23"><sup>[23]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Em Florbela a marca do amor é também a de um donjuanismo onde a influência de um Mário de Sá-Carneiro se faz sentir, um pouco na ambiência do poeta de Orpheu:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Eu quero amar, amar perdidamente!<br />Amar só por amar: Aqui... Além...<br />Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...<br />Amar! Amar! E não amar ninguém!<br />Recordar? Esquecer? Indiferente?...<br />Prender ou desprender? É mal? É bem?<br />Quem disser que se pode amar alguém<br />Durante a vida inteira é porque mente!</i> <a href="#24"><sup>[24]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Neste entrecho o amor torna-se ele próprio subversor. Não interessa o objeto amado, mas o ato de amar. De um franciscanismo ingénuo passa-se a uma atitude radical onde se torna indiferente quem se ama, mas o ato de amar. Num outro poema, “Ambiciosa”, reverte-se para o homem/ Deus:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>O amor dum homem? - Terra tão pisada!<br />Gota de chuva ao vento baloiçada...<br />Um homem! - Quando eu sonho o amor dum deus!</i> <a href="#25"><sup>[25]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Se era indiferente o objeto amado num soneto anterior, neste excerto o amor não pode ser mais humano, mais divino. Esta divinização prende-se com o enaltecimento do próprio eu. O <em>ego </em>é uma entidade complexa que tanto se deixa envolver, segundo a expressão de José Régio, num donjuanismo psicológico – amar este, aquele ou aqueloutro – num cortejar sem fim, como passa por uma sensualidade muito à flor da pele.<br /><br />Se em <em>Livro de Mágoas</em> ainda se notava a nítida filiação em António Nobre, num apelo à Mágoa, à Dor, à atitude chorada, à medida que caminhamos na sua poesia, esta torna-se mais natural e pessoal, com uma carga erótica impressiva, num paganismo onde se mistura religiosismo e amor eterno. Como por exemplo:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Ó meu Deus, ó meu dono, ó meu senhor,<br />Eu te saúdo, olhar do meu olhar,<br />Fala da minha boca a palpitar,<br />Gosto das minhas mãos tontas de amor!</i> <a href="#26"><sup>[26]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Sensualidade que é o grande traço desta poesia. Se não observemos ainda este excerto:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Ah, fixar o efémero! Esse instante<br />Em que o teu beijo sôfrego de amante<br />Queima o meu corpo frágil de âmbar loiro</i> <a href="#27"><sup>[27]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />A poesia de Florbela é de uma grande expressividade dramática, possui uma carga emocional que a torna diferente da poesia sua contemporânea.<br /><br />Daí que tenhamos escolhido esta poesia como paradigma de um tempo e de uma ambiência mental feminina, embora perdêssemos de vista porventura outras expressões literárias não tão perfeitas, mas mais triviais na sua resolução.<br /><br />Contudo, as linhas gerais estão traçadas. Os anos 30 e 40 seriam anos mais frutuosos: Maria Archer, Irene Lisboa, Maria Lamas na prosa. E outros tantos nomes na poesia. Mas dificilmente com a qualidade de Florbela.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;">________________________<br /><br /><a name="1"></a>[1] Florbela Espanca nasce a 8 de dezembro de 1894 em Vila Viçosa. Com a idade de oito anos, Florbela escreve a sua primeira poesia conhecida “A Vida e a Morte”. No dia do seu décimo nono aniversário, faz o seu primeiro casamento civil com Alberto de Jesus Silva Moutinho. Vai viver para o Redondo, onde ensina línguas numa espécie de colégio.<br /><br />Colabora literariamente no <em>Notícias de Évora</em>. Em 1916, Raul Proença corrige e emenda um caderno de Florbela chamado <em>Primeiros Passos</em>, onde escrevera onze poesias. Em 1919, publica-se o primeiro livro de poesia de Florbela, <em>O Livro de Mágoas</em>. Inscreve-se também na Faculdade de Direito de Lisboa. Em 1920, passa a viver com António Guimarães, realizando-se o casamento a 29 de junho de 1921.<br /><br />Em 1923 é editado o <em>Livro de Soror Saudade</em>, por Francisco Lage. Divorciada de António Guimarães, a poetisa casa-se com Mário Pereira Lage. Em 1927, morre de acidente de hidroavião Apeles Espanca, irmão de Florbela. Suicida-se no dia 8 de dezembro de 1930. Em 1931, é publicado postumamente o livro <em>Charneca em Flor</em>, editado por Guido Batelli e também o livro de contos <em>As Máscaras do Destino</em>.<br /><br /><a name="2"></a>[2] <em>Obras Completas de Florbela Espanca</em>, Volume II, Poesia 1918-1930, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1986, p. 59.<br /><br /><a name="3"></a>[3] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 60<br /><br /><a name="4"></a>[4] Idem<br /><br /><a name="5"></a>[5] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 66<br /><br /><a name="6"></a>[6] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 61<br /><br /><a name="7"></a>[7] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 73<br /><br /><a name="8"></a>[8] Idem.<br /><br /><a name="9"></a>[9] Idem.<br /><br /><a name="10"></a>[10] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 77<br /><br /><a name="11"></a>[11] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 84<br /><br /><a name="12"></a>[12] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 89<br /><br /><a name="13"></a>[13] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 91<br /><br /><a name="14"></a>[14] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 123.<br /><br /><a name="15"></a>[15] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 126<br /><br /><a name="16"></a>[16] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 129<br /><br /><a name="17"></a>[17] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 132<br /><br /><a name="18"></a>[18] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 133<br /><br /><a name="19"></a>[19] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 157<br /><br /><a name="20"></a>[20] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 167<br /><br /><a name="21"></a>[21] Idem, <em>op. Cit.</em>,p. 171<br /><br /><a name="22"></a>[22] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 173<br /><br /><a name="23"></a>[23] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 184<br /><br /><a name="24"></a>[24] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 189<br /><br /><a name="25"></a>[25] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 191<br /><br /><a name="26"></a>[26] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 246<br /><br /><a name="27"></a>[27] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 247</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><strong>Florbela Espanca</strong>, por Cecília Barreira</span></p> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify;" align="right" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Florbela Espanca" alt="Florbela Espanca" src="images/stories/figurasculturaportuguesa/seculo_xx/florbelaespanca.jpg" width="135" height="226" /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> <td style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;">Nascida em 1894 <a href="#1"><sup>[1]</sup></a>, escreve os primeiros poemas por volta de 1915. A sua poesia por um lado liga-se a ambivalências finisseculares, por outro dramatiza a problemática do eu de um modo muito particular.<br /><br />O <em>Livro das Mágoas</em> abre com um soneto decadentista por excelência, onde a mágoa, a dor e a saudade participam no mesmo universo convivencial de tortura e decadentismo. A tónica finissecular é-nos conferida pela propensão para o choro:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Irmãos na Dor, os olhos rasos de água,<br />Chorai comigo a minha imensa mágoa,<br />Lendo o meu livro só de mágoas cheio! </i><a href="#2"><sup>[2]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />No entanto, não menos importância do que a assumpção de uma tristeza intrínseca, é a definição de um espaço poético original e único, um espaço de eleição diríamos melhor. Esse espaço é definido pela própria poetisa:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Sonho que sou a Poetisa eleita,<br />Aquela que diz tudo e tudo sabe,</i> <a href="#3"><sup>[3]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />E neste entrecho surge-nos uma primeira contradição. A poesia recém-eleita a uma área de primazia é também e sobretudo a poesia do nada:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><em>Acordo do meu sonho… E não sou nada!… </em><a href="#4"><sup>[4]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />A relação do poeta com a sua escrita é dolorida, chorada:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /><i>Calaram-se os poetas, tristemente…<br />E é desde então que eu choro amargamente<br />Na minha Torre esguia junto ao Céu!… </i></span> <span style="color: #333333;"><a href="#5"><sup>[5]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Aliás, é porque se é poeta que se alcança a Dor. A poesia é base de definição de uma atitude de sofrimento.<br /><br />Há um certo deslumbramento por uma sorte não alcançada que é ainda e sobretudo a sugestão de um local de eleição:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /><i>Eu sou a que no mundo anda perdida,<br />sou a irmã do Sonho, e desta sorte<br />Sou a crucificada… a dolorida…</i></span> <span style="color: #333333;"> <a href="#6"><sup>[6]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Um pessimismo tão fundo enleia-se na capacidade de sofrimento único, desde a alusão à vivência sozinha no “Castelo da Dor”, até à categoria de Castelã da tristeza a que se alcandora.<br /><br />Problematizemos a relação que existe entre a poetisa e a escrita. Por um lado, existe a noção de que o Poeta é um sonhador, um criador de ilusões. Por outro, a de que poesia é a palavra iniciática, mas inaudível para a maior parte das pessoas. O poeta é um ser solitário por excelência. É aquele que fala da sua Dor e a transporta para um infinito. Quanto maior é o génio, mais pode transportá-lo a uma outra cultura, a uma maior capacidade de divinização. A vida é uma desgraça que se assume com imensa dor, uma infinita capacidade de a chorar. Há uma tomada de consciência de caráter trágico:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /><i>Poeta, eu sou um cardo desprezado,<br />A urze que se pisa sob os pés.<br />Sou como tu, um riso desgraçado!</i></span> <span style="color: #333333;"> <a href="#7"><sup>[7]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Um constante conceber da vida como uma antecâmara da morte: esta não escolhe idades. Preexiste a um estádio de vida. Encontra-se sempre latente. A morte é a permanente temática em Florbela Espanca:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><em>É tão triste morrer na minha idade! </em><a href="#8"><sup>[8]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />E aqui remetemo-nos para a poesia finissecular de um António Nobre, cujos constantes apelos à morte produzem uma espécie de elegia dos comportamentos, suicídio antecipado, morte desejada. Penitência que se arranja na soturnidade das ambiências:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>E os meus vinte e três anos… (Sou tão nova!)<br />Dizem baixinho a rir: “Que linda a vida!…<br />Responde a minha Dor: “Que linda a cova! </i><a href="#9"><sup>[9]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Morte física ou onde se quebra o elo com a morte religiosa. Em Florbela, se existem laivos de religiosidade é mais num sentido místico, na procura de uma infinitude, de algo que escape a uma visão perplexa e inquieta.<br /><br />Mas descodifiquemos o caráter profundamente sensual desta poesia, onde as mãos e os beijos adquirem uma forte conotação erótica. É uma sensualidade que tanto pode tocar as raias de uma entronização de eros, como pode diluir-se numa tristeza de um amor perdido ou não correspondido:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Beija-me bem!… Que fantasia louca<br />Guardar assim, fechados, nestas mãos,<br />Os beijos que sonhei prà minha boca!…</i> <a href="#10"><sup>[10]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Os estados excessivos de aniquilamento que caracterizam a sua poesia são eles próprios denunciadores de uma vida tumultuosa. Assim as paixões e o modo como são vividas.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Benditos sejam todos que te amarem!<br />Os que em volta de ti ajoelharem<br />Numa grande paixão, fervente, louca!</i> <a href="#11"><sup>[11]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />A paixão é um estádio que tem de ser vivido num arrebatamento místico, mesmo que não haja qualquer correspondência com o real. De <em>pathos </em>se trata na ânsia de se chegar a uma perfeição, limbo existencial que toca um lirismo profundo.<br /><br />Mas como é vivido o quotidiano? Sob o tédio que remete não ocasionalmente para um “lago plácido dormente”.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Essa tristeza<br />É menos dor intensa que frieza,<br />É um tédio profundo de viver!<br />E é tudo sempre o mesmo, eternamente:<br />o mesmo lago plácido dormente…<br />E os dias, sempre os mesmos, a correr… </i><a href="#12"><sup>[12]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Daí se nota a mesma imperiosa atitude de radicalismo. Entre a morte que se projeta num elanguescimento dos sentidos, num torpor algo mediúnico e a vida do eros, enlouquecimento do ser.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Gosto da noite imensa, triste, preta,<br />Como esta estranha e doida borboleta<br />Que eu sinto sempre a voltejar em mim!… </i><a href="#13"><sup>[13]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;">O pendor noturno revela-se nas tonalidades escolhidas, desde os tons de roxos até aos soturnos negros. A propensão para a morte, a noite, o negrume, a tristeza relva desse desequilíbrio entre os thanatos e o eros.<br /><br />No <em>Livro de Soror Saudade</em> prolongam-se as grandes temáticas que entrevíramos no <em>Livro de Mágoas</em>.<br /><br />O eros é mais forte que o thanatos, porventura:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Amo-te tanto! E nunca te beijei…<br />E, nesse beijo, Amor, que eu não te dei<br />Guardo os versos mais lindos que te fiz!</i> <a href="#14"><sup>[14]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />E é em torno do eros que se encontra no labirinto das palavras uma chave para esse eu tão problemático. Talvez um dos sonetos mais labirínticos se condense em a noite que desce sobre os olhos cansados, adormecendo o ser. Para além desta ideia encontra-se um poema de grande sensualidade:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>A noite vai descendo, sempre calma…<br />Meu doce Amor tu beijas a minh’alma<br />Beijando nesta hora a minha boca </i><a href="#15"><sup>[15]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Neste poema encontram-se alguns dos traços mais interessantes da poesia de Florbela. Por um lado, o pendor radical e afetivo pela noite, pelo crepúsculo. Por outro, a noite, triste e pessimista que se avizinha, transforma-se em embriaguez e loucura, em algo que se plasma no genesíaco, na embriaguez dos sentidos. A noite calma pressente o enlace dos amantes. Este poema radicaliza de um modo muito original a simbólica da noite, na sua proximidade da morte, abeirando-se calma e dramaticamente e transmudando-se numa apoteose de corpos que se amam.<br /><br />Em “O Nosso Mundo”, Florbela erege um autêntico hino à vida e ao eros, original na sua poesia, tendo em conta o pessimismo que a caracteriza vulgarmente:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>A vida, meu Amor, quero vivê-la!<br />Na mesma taça erguida em tuas mãos,<br />Bocas unidas hemos de bebê-la!<br />Que importa o mundo e as ilusões defuntas?…<br />Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?…<br />O mundo, Amor?… As nossas bocas juntas!… </i><a href="#16"><sup>[16]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />A Vida é uma taça que se deve beber com sofreguidão. De tal modo que em “Prince Charmant” são já os velhos fantasmas que retornam, desde as tardes que se morrem voluptuosas até à procura do ser eleito que se não encontra nunca. Essa procura do príncipe encantado dilui-se na “Charneca Alentejana” e a poetisa é a esfinge que olha “a planície enorme”.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Embalo em mim um sonho vão, miragem:<br />Que tu e eu, em beijos e carinhos,<br />Eu a Charneca e tu o Sol, sozinhos,<br />Fôssemos um pedaço de paisagem!</i> <a href="#17"><sup>[17]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Os amantes fundem-se na paisagem, fazem parte intrínseca dela, ou então, como no poema “Tarde Demais”, quando finalmente o ser adorado regressa, já a poetisa se encontra morta:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>E há cem anos que eu fui nova e linda!…<br />E a minha boca morta grita ainda:<br />“Porque chegaste tarde, ó meu Amor?…</i> <a href="#18"><sup>[18]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Mas este <em>Livro de Soror Saudade</em> apresenta outros traços igualmente interessantes. Imagens de um Alentejo que se prende à voz dos “sinos e das noras”. As “verbenas” que se morrem silenciosamente e um franciscanismo muito angélico desde o simples apelo aos poetas e aos irmãos até ao chamamento mais forte da vida, do vento e do sol:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Trago na boca o coração dos cravos!<br />Boémios, vagabundos, e poetas,<br />Como eu sou vossa Irmã, ó meus Irmãos!</i> <a href="#19"><sup>[19]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br /><em>Charneca em Flor</em> é o livro publicado postumamente onde se concentram os poemas mais complexos de Florbela. Iniciemos um percurso por “Versos de Orgulho”:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>O mundo quer-me mal porque ninguém<br />Tem asas como eu tenho! Porque Deus<br />Me fez nascer Princesa entre plebeus<br />Numa torre de orgulho e de desdém!<br />Porque o meu reino fica para Além!<br />Porque trago no olhar os vastos céus,<br />E os oiros e os clarões são todos meus!<br />Porque Eu sou Eu e porque Eu sou alguém!</i> <sup><a href="#20">[20]</a></sup></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Neste entrecho o eu é um território inexpugnável, imenso, mediúnico, solitário porque único. Voltamos ao ego como centro de todas as problemáticas, de todos os dilemas. A insistência no Infinito, num horizonte sem fim, é o rasgar de limites para um eu que se pretende ilimitado.<br /><br />Também a interrogação sobre a morte é de uma grande lucidez:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>O que há depois? Depois?… O azul dos céus?<br />Um outro mundo? O eterno nada? Deus?<br />Um abismo? Um castigo? Uma guarida?</i> <a href="#21"><sup>[21]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />A resposta é de um pessimismo muito florbeliano: tudo será melhor para além da morte.<br /><br />Mas o erotismo é outro dos traços permanentes da poesia de Florbela. Charneca em Flor representa a consagração do eros subtil e suave, onde as mãos, a boca e o estreitar dos corpos se arriscam e se ousam:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Meu Amor! Meu Amante! Meu Amigo!<br />Colhe a hora que passa, hora divina,<br />Bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo!<br />Sinto-me alegre e forte! Sou menina!</i> <a href="#22"><sup>[22]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Ou então de um modo mais incisivo:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>As tuas mãos tacteiam-se a tremer...<br />Meu corpo de âmbar, harmonioso e moço<br />É como um jasmineiro em alvoroço<br />É o brio de sol, de aroma, de prazer!</i> <a href="#23"><sup>[23]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Em Florbela a marca do amor é também a de um donjuanismo onde a influência de um Mário de Sá-Carneiro se faz sentir, um pouco na ambiência do poeta de Orpheu:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Eu quero amar, amar perdidamente!<br />Amar só por amar: Aqui... Além...<br />Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...<br />Amar! Amar! E não amar ninguém!<br />Recordar? Esquecer? Indiferente?...<br />Prender ou desprender? É mal? É bem?<br />Quem disser que se pode amar alguém<br />Durante a vida inteira é porque mente!</i> <a href="#24"><sup>[24]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Neste entrecho o amor torna-se ele próprio subversor. Não interessa o objeto amado, mas o ato de amar. De um franciscanismo ingénuo passa-se a uma atitude radical onde se torna indiferente quem se ama, mas o ato de amar. Num outro poema, “Ambiciosa”, reverte-se para o homem/ Deus:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>O amor dum homem? - Terra tão pisada!<br />Gota de chuva ao vento baloiçada...<br />Um homem! - Quando eu sonho o amor dum deus!</i> <a href="#25"><sup>[25]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Se era indiferente o objeto amado num soneto anterior, neste excerto o amor não pode ser mais humano, mais divino. Esta divinização prende-se com o enaltecimento do próprio eu. O <em>ego </em>é uma entidade complexa que tanto se deixa envolver, segundo a expressão de José Régio, num donjuanismo psicológico – amar este, aquele ou aqueloutro – num cortejar sem fim, como passa por uma sensualidade muito à flor da pele.<br /><br />Se em <em>Livro de Mágoas</em> ainda se notava a nítida filiação em António Nobre, num apelo à Mágoa, à Dor, à atitude chorada, à medida que caminhamos na sua poesia, esta torna-se mais natural e pessoal, com uma carga erótica impressiva, num paganismo onde se mistura religiosismo e amor eterno. Como por exemplo:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Ó meu Deus, ó meu dono, ó meu senhor,<br />Eu te saúdo, olhar do meu olhar,<br />Fala da minha boca a palpitar,<br />Gosto das minhas mãos tontas de amor!</i> <a href="#26"><sup>[26]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />Sensualidade que é o grande traço desta poesia. Se não observemos ainda este excerto:</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="padding-left: 30px; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><i>Ah, fixar o efémero! Esse instante<br />Em que o teu beijo sôfrego de amante<br />Queima o meu corpo frágil de âmbar loiro</i> <a href="#27"><sup>[27]</sup></a></span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><br />A poesia de Florbela é de uma grande expressividade dramática, possui uma carga emocional que a torna diferente da poesia sua contemporânea.<br /><br />Daí que tenhamos escolhido esta poesia como paradigma de um tempo e de uma ambiência mental feminina, embora perdêssemos de vista porventura outras expressões literárias não tão perfeitas, mas mais triviais na sua resolução.<br /><br />Contudo, as linhas gerais estão traçadas. Os anos 30 e 40 seriam anos mais frutuosos: Maria Archer, Irene Lisboa, Maria Lamas na prosa. E outros tantos nomes na poesia. Mas dificilmente com a qualidade de Florbela.</span></p> <div style="text-align: justify;"></div> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;">________________________<br /><br /><a name="1"></a>[1] Florbela Espanca nasce a 8 de dezembro de 1894 em Vila Viçosa. Com a idade de oito anos, Florbela escreve a sua primeira poesia conhecida “A Vida e a Morte”. No dia do seu décimo nono aniversário, faz o seu primeiro casamento civil com Alberto de Jesus Silva Moutinho. Vai viver para o Redondo, onde ensina línguas numa espécie de colégio.<br /><br />Colabora literariamente no <em>Notícias de Évora</em>. Em 1916, Raul Proença corrige e emenda um caderno de Florbela chamado <em>Primeiros Passos</em>, onde escrevera onze poesias. Em 1919, publica-se o primeiro livro de poesia de Florbela, <em>O Livro de Mágoas</em>. Inscreve-se também na Faculdade de Direito de Lisboa. Em 1920, passa a viver com António Guimarães, realizando-se o casamento a 29 de junho de 1921.<br /><br />Em 1923 é editado o <em>Livro de Soror Saudade</em>, por Francisco Lage. Divorciada de António Guimarães, a poetisa casa-se com Mário Pereira Lage. Em 1927, morre de acidente de hidroavião Apeles Espanca, irmão de Florbela. Suicida-se no dia 8 de dezembro de 1930. Em 1931, é publicado postumamente o livro <em>Charneca em Flor</em>, editado por Guido Batelli e também o livro de contos <em>As Máscaras do Destino</em>.<br /><br /><a name="2"></a>[2] <em>Obras Completas de Florbela Espanca</em>, Volume II, Poesia 1918-1930, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1986, p. 59.<br /><br /><a name="3"></a>[3] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 60<br /><br /><a name="4"></a>[4] Idem<br /><br /><a name="5"></a>[5] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 66<br /><br /><a name="6"></a>[6] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 61<br /><br /><a name="7"></a>[7] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 73<br /><br /><a name="8"></a>[8] Idem.<br /><br /><a name="9"></a>[9] Idem.<br /><br /><a name="10"></a>[10] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 77<br /><br /><a name="11"></a>[11] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 84<br /><br /><a name="12"></a>[12] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 89<br /><br /><a name="13"></a>[13] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 91<br /><br /><a name="14"></a>[14] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 123.<br /><br /><a name="15"></a>[15] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 126<br /><br /><a name="16"></a>[16] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 129<br /><br /><a name="17"></a>[17] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 132<br /><br /><a name="18"></a>[18] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 133<br /><br /><a name="19"></a>[19] Idem, <em>op. cit.</em>, p. 157<br /><br /><a name="20"></a>[20] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 167<br /><br /><a name="21"></a>[21] Idem, <em>op. Cit.</em>,p. 171<br /><br /><a name="22"></a>[22] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 173<br /><br /><a name="23"></a>[23] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 184<br /><br /><a name="24"></a>[24] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 189<br /><br /><a name="25"></a>[25] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 191<br /><br /><a name="26"></a>[26] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 246<br /><br /><a name="27"></a>[27] Idem, <em>op. Cit.</em>, p. 247</span></p>