titletitleAtividades didáticas <subtitle type="text"></subtitle> <link rel="alternate" type="text/html" href="http://cvc.instituto-camoes.pt"/> <id>http://cvc.instituto-camoes.pt/</id> <updated>2025-01-17T06:10:18+00:00</updated> <author> <name>Centro Virtual Camões</name> <email>naoresponder.plataforma.cvc@fbapps.pt</email> </author> <generator uri="http://joomla.org" version="1.6">Joomla! - Open Source Content Management</generator> <link rel="self" type="application/atom+xml" href="http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos-dp7.html?format=feed&type=atom"/> <entry> <title>Teatro D. Fernando <link rel="alternate" type="text/html" href="http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos/teatro-d-fernando-dp15.html"/> <published>2015-11-16T09:22:38+00:00</published> <updated>2015-11-16T09:22:38+00:00</updated> <id>http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos/teatro-d-fernando-dp15.html</id> <author> <name>João Marques</name> <email>joao.ramosmarques@camoes.mne.pt</email> </author> <summary type="html"><p>(Rua dos Fanqueiros, Lisboa 1849-1859)</p> <p>Localizado em plena Baixa Lisboeta, o Teatro D. Fernando foi implantado no lugar anteriormente ocupado pela Igreja de Santa Justa, um dos lugares de culto mais frequentados da cidade.</p> <table style="height: 253px;" border="0" width="209" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Ilustração do Teatro D. Fernando [&lt;i&gt;Revista popular&lt;/i&gt;, nº 37, 1849, p. 721]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_d_fernando.jpg" target="_blank"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_d_fernando.jpg" alt="Teatro D. Fernando" width="171" height="186" /></a></td> </tr> <tr> <td> </td> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Ilustração do Teatro D. Fernando [<i>Revista popular</i>, nº 37, 1849, p. 721].<br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;">Com a frente orientada para o atual Largo de Santa Justa, na continuidade da Rua dos Fanqueiros, e a fachada posterior voltada para a Rua da Madalena, o prédio de gaveto tinha ainda uma terceira fachada voltada para as escadas, que ligam as ruas supracitadas, vencendo o desnível entre elas. Projetado pelo arquiteto/engenheiro francês Arnould Bertin, o teatro – resultando da iniciativa privada do empresário Francisco Rodrigues Batalha – foi inaugurado no dia do aniversário do rei, que lhe dá o nome, tendo-se mantido em atividade até 1859.<br /><br />O projeto do Teatro D. Fernando inseria-se no plano urbanístico da Baixa Pombalina, da autoria de Eugénio dos Santos e ajustado por Carlos Mardel, à época ainda em execução. Dadas as dimensões do espaço onde foi implantado o edifício, ainda hoje observável, é possível adivinhar algumas dificuldades no seu programa de execução, assim como alguns inconvenientes para o adequar a uma sala de espetáculos. Todavia, acabou por se revelar suficientemente grande para acomodar com algum conforto os 636 espectadores que preenchiam a sala, e não faltavam sequer camarotes forrados de materiais nobres. Atendendo à estreiteza do terreno, o resultado não deixou de ser um interessante exercício de arquitetura.</p> <p style="text-align: justify;">O projeto foi do arquiteto/engenheiro francês Arnould Bertin, e as pinturas, que o decoravam no interior, eram de vários artistas da época, como Achille Rambois, Giuseppe Cinati, Rusconi e Inácio Caetano.</p> <p style="text-align: justify;">A construção do Teatro D. Fernando deveu-se à iniciativa privada do empresário Francisco Rodrigues Batalha, antigo negociante comercial, mantendo uma actividade regular durante um período aproximado de 10 anos, que podemos situar entre 29 de outubro de 1849 – coincidindo a inauguração com o aniversário do rei que lhe dá o nome – e 1859, muito embora existam registos de espetáculos esporádicos no teatro até fevereiro de 1860.</p> <p style="text-align: justify;">O teatro foi inaugurado a 29 de outubro com o drama <em>Adriana Lecouvreur</em>, de Eugène Scribe e Ernest Legouvé, estreado em Paris seis meses antes, a 14 de abril de 1849, e a comédia <em>A mulher da perna de pau</em>. A encenação foi de Emíle Doux, e o elenco contou com Emília das Neves no papel de Adriana. Os artistas contratados eram os mais consagrados da sua época, atestando a excelência que procurava seguir.</p> <p style="text-align: justify;">As leituras possíveis deste programa revelam que a fundação do teatro obedeceu a uma lógica que sobrepõe luxo e fama à conveniência comercial, não descurando a qualidade artística das representações.</p> <p style="text-align: justify;">No entanto, algumas descrições, que se podem encontrar em periódicos da época, parecem ser consonantes com algumas críticas à tendência que orientava este teatro, com uma maior atenção dada aos requintes burgueses, com que procurava conquistar o seu público, menosprezando a natureza e o valor artístico dos seus espetáculos.<br /><br /></p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span><br />CASTILHO, Júlio de (1967). <em>Lisboa Antiga – Bairros Orientais</em>, 3ª ed., vol. IV. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa.</p> <p>FRANÇA, José Augusto (1993). <em>O Romantismo em Portugal</em>, 2ª ed. Lisboa: Livros Horizonte.</p> <p>SOUSA BASTOS, António (1908). <em>Diccionário de Theatro Portuguez</em>. Lisboa: Imp. Libanio da Silva (há uma edição fac-similada de 1994. Coimbra: Minerva).</p> <p><br /><br />Consultar a ficha de espaço na <strong>CETbase</strong>:<br /><a href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=2753">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=2753</a><br /><br />Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:<br /><a href="http://opsis.fl.ul.pt/">http://opsis.fl.ul.pt/</a></p> <p><br /><strong>Bruno Miguel Henriques/Centro de Estudos de Teatro</strong></p></summary> <content type="html"><p>(Rua dos Fanqueiros, Lisboa 1849-1859)</p> <p>Localizado em plena Baixa Lisboeta, o Teatro D. Fernando foi implantado no lugar anteriormente ocupado pela Igreja de Santa Justa, um dos lugares de culto mais frequentados da cidade.</p> <table style="height: 253px;" border="0" width="209" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Ilustração do Teatro D. Fernando [&lt;i&gt;Revista popular&lt;/i&gt;, nº 37, 1849, p. 721]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_d_fernando.jpg" target="_blank"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_d_fernando.jpg" alt="Teatro D. Fernando" width="171" height="186" /></a></td> </tr> <tr> <td> </td> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Ilustração do Teatro D. Fernando [<i>Revista popular</i>, nº 37, 1849, p. 721].<br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;">Com a frente orientada para o atual Largo de Santa Justa, na continuidade da Rua dos Fanqueiros, e a fachada posterior voltada para a Rua da Madalena, o prédio de gaveto tinha ainda uma terceira fachada voltada para as escadas, que ligam as ruas supracitadas, vencendo o desnível entre elas. Projetado pelo arquiteto/engenheiro francês Arnould Bertin, o teatro – resultando da iniciativa privada do empresário Francisco Rodrigues Batalha – foi inaugurado no dia do aniversário do rei, que lhe dá o nome, tendo-se mantido em atividade até 1859.<br /><br />O projeto do Teatro D. Fernando inseria-se no plano urbanístico da Baixa Pombalina, da autoria de Eugénio dos Santos e ajustado por Carlos Mardel, à época ainda em execução. Dadas as dimensões do espaço onde foi implantado o edifício, ainda hoje observável, é possível adivinhar algumas dificuldades no seu programa de execução, assim como alguns inconvenientes para o adequar a uma sala de espetáculos. Todavia, acabou por se revelar suficientemente grande para acomodar com algum conforto os 636 espectadores que preenchiam a sala, e não faltavam sequer camarotes forrados de materiais nobres. Atendendo à estreiteza do terreno, o resultado não deixou de ser um interessante exercício de arquitetura.</p> <p style="text-align: justify;">O projeto foi do arquiteto/engenheiro francês Arnould Bertin, e as pinturas, que o decoravam no interior, eram de vários artistas da época, como Achille Rambois, Giuseppe Cinati, Rusconi e Inácio Caetano.</p> <p style="text-align: justify;">A construção do Teatro D. Fernando deveu-se à iniciativa privada do empresário Francisco Rodrigues Batalha, antigo negociante comercial, mantendo uma actividade regular durante um período aproximado de 10 anos, que podemos situar entre 29 de outubro de 1849 – coincidindo a inauguração com o aniversário do rei que lhe dá o nome – e 1859, muito embora existam registos de espetáculos esporádicos no teatro até fevereiro de 1860.</p> <p style="text-align: justify;">O teatro foi inaugurado a 29 de outubro com o drama <em>Adriana Lecouvreur</em>, de Eugène Scribe e Ernest Legouvé, estreado em Paris seis meses antes, a 14 de abril de 1849, e a comédia <em>A mulher da perna de pau</em>. A encenação foi de Emíle Doux, e o elenco contou com Emília das Neves no papel de Adriana. Os artistas contratados eram os mais consagrados da sua época, atestando a excelência que procurava seguir.</p> <p style="text-align: justify;">As leituras possíveis deste programa revelam que a fundação do teatro obedeceu a uma lógica que sobrepõe luxo e fama à conveniência comercial, não descurando a qualidade artística das representações.</p> <p style="text-align: justify;">No entanto, algumas descrições, que se podem encontrar em periódicos da época, parecem ser consonantes com algumas críticas à tendência que orientava este teatro, com uma maior atenção dada aos requintes burgueses, com que procurava conquistar o seu público, menosprezando a natureza e o valor artístico dos seus espetáculos.<br /><br /></p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span><br />CASTILHO, Júlio de (1967). <em>Lisboa Antiga – Bairros Orientais</em>, 3ª ed., vol. IV. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa.</p> <p>FRANÇA, José Augusto (1993). <em>O Romantismo em Portugal</em>, 2ª ed. Lisboa: Livros Horizonte.</p> <p>SOUSA BASTOS, António (1908). <em>Diccionário de Theatro Portuguez</em>. Lisboa: Imp. Libanio da Silva (há uma edição fac-similada de 1994. Coimbra: Minerva).</p> <p><br /><br />Consultar a ficha de espaço na <strong>CETbase</strong>:<br /><a href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=2753">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=2753</a><br /><br />Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:<br /><a href="http://opsis.fl.ul.pt/">http://opsis.fl.ul.pt/</a></p> <p><br /><strong>Bruno Miguel Henriques/Centro de Estudos de Teatro</strong></p></content> <category term="Teatro em Portugal - Espaços" /> </entry> <entry> <title>Cine-Teatro Monumental 2015-11-13T17:06:26+00:00 2015-11-13T17:06:26+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos/cine-teatro-monumental-dp12.html João Marques joao.ramosmarques@camoes.mne.pt <p>(Praça Duque de Saldanha, Lisboa – Portugal: 1946 - 1984)</p> <p>Edificado numa das mais emblemáticas praças lisboetas, o Cine-Teatro Monumental foi projetado, em 1946, pelo arquiteto Raúl Rodrigues Lima (1909-1980), correspondendo nos seus traços à estética modernista do Estado Novo.</p> <table style="height: 259px;" border="0" width="307" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Cine-Teatro Monumental (bilhete-postal), s/d, ed. Torres [cortesia do Museu Nacional do Teatro, cota: 32514]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_monumental.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_monumental.png" alt="Cine-Teatro Monumental" width="289" height="186" /></a></td> </tr> <tr> <td> </td> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Cine-Teatro Monumental (bilhete-postal), s/d, ed. Torres [cortesia do Museu Nacional do Teatro, cota: 32514].<br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;">Com uma sala de cinema e outra de teatro que comportavam mais de 1000 espectadores cada, o Monumental foi arrendado pelo empresário Vasco Morgado com o intuito de ali apresentar espetáculos de teatro declamado, operetas, revistas e atrações musicais, incluindo mesmo artistas estrangeiros. Foi nessa sala de teatro que Laura Alves protagonizou os maiores êxitos da sua carreira teatral. Nos anos de 1970, acrescentou-se uma nova sala de cinema, de reduzidas dimensões, no último piso do edifício, como espaço alternativo à grande sala de projeções. Com dificuldade em manter uma corrente de público que suportasse as despesas, acabou por ser decretada a sua demolição em 1982. Apesar da enorme onda de contestação que a decisão do executivo camarário liderado por Nuno Krus Abecasis gerou, o Cine-Teatro Monumental teve o seu fim em meados de 1984.<br /><br />Decorrendo de um despacho (24 de março de 1943) do Ministro da Educação Nacional, Dr. Mário de Figueiredo, que propunha a edificação “de uma casa de espectáculos como ainda não há em Lisboa [...] com salas independentes para teatro de declamação ou música ligeira, concertos e cinema” (LIMA. s/d: 3), este edifício teve a sua construção aprovada em 1946. Com traço do arquiteto Raúl Rodrigues Lima – que havia já participado na Exposição do Mundo Português de 1940 – iniciou-se assim um projeto pioneiro de construção de cine-teatros que depressa se estendeu a outras cidades no país.</p> <p style="text-align: justify;">Inserido na corrente modernista que marcou algumas das obras públicas do Estado Novo (por alguns denominada “Português Suave”), a sua composição arquitetónica servia as duas grandes salas que ali iriam nascer – uma sala de cinema, com eixo paralelo à Avenida Fontes Pereira de Melo, com lotação de 1967 lugares, e uma de teatro, paralela à Avenida Praia da Vitória, com 1086 lugares.<br /> Este edifício “monumental” foi revestido de pedra e ornamentado numa das suas esquinas com uma grande coluna encimada por uma esfera armilar (um símbolo caro ao Estado Novo) e estátuas em cada um dos lados da frontaria. A entrada principal do público, orientada para a Praça Duque de Saldanha, tinha sete portas em forma de arco com acesso direto ao átrio principal (onde se situavam as bilheteiras) e aos vestíbulos que antecediam as salas. Os artistas e trabalhadores do cine-teatro tinham uma entrada distinta que se fazia pela Avenida Praia da Vitória.</p> <p style="text-align: justify;">No interior, a decoração requintada, quase “<em>versailliana</em>”, esteve a cargo de José Espinho, e apresentava lustres imponentes, maples requintados, grandes escadarias, mármores e apontamentos dourados. Os <em>foyers</em> e os salões tornaram-se “um sítio de encontro, quase de estar” (FERNANDES 1995: 102) para uma burguesia lisboeta que apreciava o ambiente, bem como a sua atrativa localização nas avenidas novas. Cada piso tinha um salão de acesso exclusivo aos portadores de bilhete para os lugares do cinema e do teatro. No último andar estava situada a administração e a gerência a quem estava reservada uma sala de projeção privada. A sala de cinema abrigou dois grandes painéis – que ladeavam o gigantesco ecrã – da autoria da pintora Maria Keil e as estátuas exteriores, bem como as figuras que decoravam alguns pisos no interior, ficaram a cargo do escultor Euclides Vaz. Para garantir uma boa insonorização Manuel Bívar ocupou-se dos isolamentos fónicos e acústicos das duas grandes salas.</p> <p style="text-align: justify;">Cinco anos depois de se ter iniciado a construção, o edifício foi inaugurado – a 8 de novembro de 1951 – com a opereta <em>As três valsas</em> (1951), protagonizada por Laura Alves e João Villaret. <em>Lisboa nova</em> (1952) foi o segundo espectáculo a ser apresentado e a primeira revista a ser levada à cena neste espaço. Musicada pelo maestro Frederico Valério, a revista contou com as atuações de Laura Alves, João Villaret e Eugénio Salvador, entre outros. A sala de cinema, que acolheu a recém chegada tecnologia do <em>cinemascope</em>, inaugurou-se com o filme <em>O facho e a flecha</em>, de Jacques Tourneur, com Burt Lancaster e Virginia Mayo nos papéis principais.</p> <p style="text-align: justify;">Nem só de teatro e cinema viveu esta emblemática casa de espetáculos. Na década de 1960, Vasco Morgado contratou aquela que se tornou a mais famosa banda de <em>rock</em> portuguesa da época, os Gatos Negros, para assegurarem espetáculos no Monumental durante cinco anos. A banda colecionou seguidores e reuniu multidões na praça do Saldanha numa época em que eram estritamente proibidos os “ajuntamentos”, por imposição do regime ditatorial. Também, pela mão do empresário, ali se apresentaram artistas internacionais como os cantores Charles Aznavour, Sylvie Vartan e Rita Pavone, entre outros. No entanto, a vedeta do Monumental foi, incontestavelmente, Laura Alves que, durante décadas, foi a atração principal de dezenas de espetáculos do empresário Vasco Morgado.</p> <p style="text-align: justify;">Em 25 de fevereiro de 1971, a imprensa anunciou a abertura de um novo cinema no Monumental. No último piso do edifício passou a existir o Satélite: uma pequena sala com 208 lugares que oferecia ao público projeções que se mostravam uma alternativa aos filmes da grande sala de cinema. Foram reponsáveis por este projeto o arquiteto Rodrigues Lima em parceria com os engenheiros Ângelo Ramalheira, Barroso Ramos e Bustorff Silva. O espaço foi inaugurado com o filme <em>Les choses de la vie</em>, de Claude Sautet, com Romy Schneider no principal papel.</p> <p style="text-align: justify;">Contudo, a década de setenta marcou o início do declínio do Monumental, com uma quebra significativa de espectadores que dificilmente enchiam já aquelas salas de tão grandes dimensões. A aposta da televisão em vários formatos de entretenimento, o aparecimento de salas de cinema de dimensão mais reduzida e programações mais atrativas, as alterações políticas e sociais entretanto trazidas pela Revolução de Abril, a irrupção de outras formas de espetáculo que atraíam espectadores mais jovens, tudo se juntou para afastar cada vez mais o público daquelas salas. Assim, por decisão de Nuno Krus Abecasis e com “aval de todos os organismos oficiais” (FERNANDES 1989: 186) – incluindo o Instituto Português do Património Cultural que se recusou a classificá-lo (Anon. 1983b: 24) – em 1982 foi decretada a demolição do edifício. A onda de protestos não se fez esperar e foram vários os que se insurgiram contra esta polémica deliberação, inclusivamente representantes de órgãos institucionais que acusaram o líder da Câmara Municipal de estar a atentar contra a memória cultural do país. Os que se opunham à demolição alegaram que esta decisão estaria ligada à conotação do Monumental com o Estado Novo apesar de o argumento apresentado pelo executivo camarário ser a elevada despesa que o edifício acarretava e que não justificava o seu funcionamento. Além disso, e segundo palavras do presidente Krus Abecasis, o “Monumental nunca [tinha sido considerado] uma obra de arte” (PACHECO 1984: 20). Nem as “ténues manifestações de defesa [da obra] sob pretexto de se estar a ferir gravemente o património nacional” (<em>ibidem</em>) bastaram para embargar a destruição desta casa. A salvo ficaram as estátuas e a esfera armilar que se encontram ainda em locais públicos da cidade.</p> <p style="text-align: justify;">O último espetáculo apresentado no teatro do Monumental foi <em>Pai precisa-se</em>, de Júlio Mathias, com Laura Alves no elenco, estreado a 30 de setembro de 1982, e a 27 de novembro de 1983 o cinema do Monumental abriu as portas ao público pela última vez, numa altura em que já se procedia à retirada de todo o equipamento da sala que fora de teatro.</p> <p style="text-align: justify;">No espaço onde se situava o Monumental foi posteriormente erigido um centro comercial – de fachada espelhada, com lojas, escritórios e quatro salas de cinema – muito distinto do projeto que Rodrigues Lima tinha imaginado para aquele local.</p> <p style="text-align: justify;"> </p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span></p> <p style="text-align: justify;">Anon. (1983a). “Monumental: demolição à vista com substituição a complicar-se” in <em>Diário de Lisboa</em>, 28 de novembro, p. 24.</p> <p style="text-align: justify;">___ (1983b). “Monumental” começou a ser demolido”, in <em>Diário de Lisboa</em>, 31 de maio, p. 1 / 24.</p> <p style="text-align: justify;">___ (1971). “Satélite – nova sala de cinema com 208 lugares” in <em>A Capital</em>, 26 de fevereiro, p. 18.</p> <p style="text-align: justify;">CRUZ, Duarte Ivo (2005). <em>Teatros de Portugal</em>. Lisboa: Ed. Medialivros, pp. 75-78.</p> <p style="text-align: justify;">DIAS, Marina Tavares (1987). <em>Lisboa desaparecida</em>. 2ª ed., Lisboa: Quimera Editores, p. 149.</p> <p style="text-align: justify;">DUARTE, Maria João (1982).  “Era uma vez... o Monumental” in <em>Se7e</em>, 30 de junho, p. 6.</p> <p style="text-align: justify;">FERNANDES, José Manuel (1989). <em>Lisboa: arquitectura e património</em>. Lisboa: Livros Horizonte</p> <p style="text-align: justify;">___ (1995). <em>Cinemas de Portugal</em>. Lisboa: Ed. Inapa.</p> <p style="text-align: justify;">___ (2003). <em>Português suave – Arquitecturas do Estado Novo</em>. Lisboa: IPPAR.</p> <p style="text-align: justify;">FRÉTIGNÉ, Hélène (2005). <em>Uma praça adiada – Estudo de fluxos pedonais na Praça do Duque de Saldanha (Lisboa)</em>. Coord. Maria João Ramos, Edição Digital.</p> <p style="text-align: justify;">LIMA, Raúl Rodrigues; et al.  (s/d). <em>Monumental – Algumas notas sobre a sua construção e exploração</em>. Anuário comercial, Tip. Emp. Nacional.</p> <p style="text-align: justify;">OGANDO, Alice (1960). <em>Laura Alves – Êxitos de 20 anos da sua carreira</em>. Agência Portuguesa de Revistas.</p> <p style="text-align: justify;">PACHECO, Nuno (1984). “Cine-Teatro Monumental: a derrocada que ninguém evitou” in <em>Expresso</em>, 19 de maio, pp. 20-21.</p> <p style="text-align: justify;">PINHEIRO, Pedro (2003). “As salas de teatro, os contratos, os actores profissionais e os outros” in AAVV. <em>Teatro em debate(s) – I congresso do teatro português</em>. Lisboa: Ed. CET/APCT.</p> <p style="text-align: justify;">RAMOS, Carvalho (1984). “Vida e morte” in <em>Plateia</em>, 2ª quinzena de Janeiro, p. 41.</p> <p style="text-align: justify;">RIBEIRO, Nuno (1985). “Arquitectos criticam Câmara de Lisboa” in <em>Diário de Lisboa</em>, 24 de julho, p. 10.</p> <p style="text-align: justify;">SANTOS, Vítor Pavão dos (2002). “Guia breve do século XX teatral” in AA.VV. <em>Panorama da cultura portuguesa do século XX – Artes e Letras I</em>, Porto 2001 e Fund. Serralves: Ed. Afrontamento.</p> <p style="text-align: justify;"> </p> <p><strong>Sítiografia:</strong><br /><a href="http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/as-sete-vidas-do-gato-negro">http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/as-sete-vidas-do-gato-negro</a><br /><br />Consultar ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:<br /><a href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=203">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=203</a><br /><br />Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:<br /><a href="http://opsis.fl.ul.pt/">http://opsis.fl.ul.pt/</a><br /><br /><strong>Andreia Brito Silva / Centro de Estudos de Teatro</strong></p> <p>(Praça Duque de Saldanha, Lisboa – Portugal: 1946 - 1984)</p> <p>Edificado numa das mais emblemáticas praças lisboetas, o Cine-Teatro Monumental foi projetado, em 1946, pelo arquiteto Raúl Rodrigues Lima (1909-1980), correspondendo nos seus traços à estética modernista do Estado Novo.</p> <table style="height: 259px;" border="0" width="307" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Cine-Teatro Monumental (bilhete-postal), s/d, ed. Torres [cortesia do Museu Nacional do Teatro, cota: 32514]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_monumental.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_monumental.png" alt="Cine-Teatro Monumental" width="289" height="186" /></a></td> </tr> <tr> <td> </td> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Cine-Teatro Monumental (bilhete-postal), s/d, ed. Torres [cortesia do Museu Nacional do Teatro, cota: 32514].<br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;">Com uma sala de cinema e outra de teatro que comportavam mais de 1000 espectadores cada, o Monumental foi arrendado pelo empresário Vasco Morgado com o intuito de ali apresentar espetáculos de teatro declamado, operetas, revistas e atrações musicais, incluindo mesmo artistas estrangeiros. Foi nessa sala de teatro que Laura Alves protagonizou os maiores êxitos da sua carreira teatral. Nos anos de 1970, acrescentou-se uma nova sala de cinema, de reduzidas dimensões, no último piso do edifício, como espaço alternativo à grande sala de projeções. Com dificuldade em manter uma corrente de público que suportasse as despesas, acabou por ser decretada a sua demolição em 1982. Apesar da enorme onda de contestação que a decisão do executivo camarário liderado por Nuno Krus Abecasis gerou, o Cine-Teatro Monumental teve o seu fim em meados de 1984.<br /><br />Decorrendo de um despacho (24 de março de 1943) do Ministro da Educação Nacional, Dr. Mário de Figueiredo, que propunha a edificação “de uma casa de espectáculos como ainda não há em Lisboa [...] com salas independentes para teatro de declamação ou música ligeira, concertos e cinema” (LIMA. s/d: 3), este edifício teve a sua construção aprovada em 1946. Com traço do arquiteto Raúl Rodrigues Lima – que havia já participado na Exposição do Mundo Português de 1940 – iniciou-se assim um projeto pioneiro de construção de cine-teatros que depressa se estendeu a outras cidades no país.</p> <p style="text-align: justify;">Inserido na corrente modernista que marcou algumas das obras públicas do Estado Novo (por alguns denominada “Português Suave”), a sua composição arquitetónica servia as duas grandes salas que ali iriam nascer – uma sala de cinema, com eixo paralelo à Avenida Fontes Pereira de Melo, com lotação de 1967 lugares, e uma de teatro, paralela à Avenida Praia da Vitória, com 1086 lugares.<br /> Este edifício “monumental” foi revestido de pedra e ornamentado numa das suas esquinas com uma grande coluna encimada por uma esfera armilar (um símbolo caro ao Estado Novo) e estátuas em cada um dos lados da frontaria. A entrada principal do público, orientada para a Praça Duque de Saldanha, tinha sete portas em forma de arco com acesso direto ao átrio principal (onde se situavam as bilheteiras) e aos vestíbulos que antecediam as salas. Os artistas e trabalhadores do cine-teatro tinham uma entrada distinta que se fazia pela Avenida Praia da Vitória.</p> <p style="text-align: justify;">No interior, a decoração requintada, quase “<em>versailliana</em>”, esteve a cargo de José Espinho, e apresentava lustres imponentes, maples requintados, grandes escadarias, mármores e apontamentos dourados. Os <em>foyers</em> e os salões tornaram-se “um sítio de encontro, quase de estar” (FERNANDES 1995: 102) para uma burguesia lisboeta que apreciava o ambiente, bem como a sua atrativa localização nas avenidas novas. Cada piso tinha um salão de acesso exclusivo aos portadores de bilhete para os lugares do cinema e do teatro. No último andar estava situada a administração e a gerência a quem estava reservada uma sala de projeção privada. A sala de cinema abrigou dois grandes painéis – que ladeavam o gigantesco ecrã – da autoria da pintora Maria Keil e as estátuas exteriores, bem como as figuras que decoravam alguns pisos no interior, ficaram a cargo do escultor Euclides Vaz. Para garantir uma boa insonorização Manuel Bívar ocupou-se dos isolamentos fónicos e acústicos das duas grandes salas.</p> <p style="text-align: justify;">Cinco anos depois de se ter iniciado a construção, o edifício foi inaugurado – a 8 de novembro de 1951 – com a opereta <em>As três valsas</em> (1951), protagonizada por Laura Alves e João Villaret. <em>Lisboa nova</em> (1952) foi o segundo espectáculo a ser apresentado e a primeira revista a ser levada à cena neste espaço. Musicada pelo maestro Frederico Valério, a revista contou com as atuações de Laura Alves, João Villaret e Eugénio Salvador, entre outros. A sala de cinema, que acolheu a recém chegada tecnologia do <em>cinemascope</em>, inaugurou-se com o filme <em>O facho e a flecha</em>, de Jacques Tourneur, com Burt Lancaster e Virginia Mayo nos papéis principais.</p> <p style="text-align: justify;">Nem só de teatro e cinema viveu esta emblemática casa de espetáculos. Na década de 1960, Vasco Morgado contratou aquela que se tornou a mais famosa banda de <em>rock</em> portuguesa da época, os Gatos Negros, para assegurarem espetáculos no Monumental durante cinco anos. A banda colecionou seguidores e reuniu multidões na praça do Saldanha numa época em que eram estritamente proibidos os “ajuntamentos”, por imposição do regime ditatorial. Também, pela mão do empresário, ali se apresentaram artistas internacionais como os cantores Charles Aznavour, Sylvie Vartan e Rita Pavone, entre outros. No entanto, a vedeta do Monumental foi, incontestavelmente, Laura Alves que, durante décadas, foi a atração principal de dezenas de espetáculos do empresário Vasco Morgado.</p> <p style="text-align: justify;">Em 25 de fevereiro de 1971, a imprensa anunciou a abertura de um novo cinema no Monumental. No último piso do edifício passou a existir o Satélite: uma pequena sala com 208 lugares que oferecia ao público projeções que se mostravam uma alternativa aos filmes da grande sala de cinema. Foram reponsáveis por este projeto o arquiteto Rodrigues Lima em parceria com os engenheiros Ângelo Ramalheira, Barroso Ramos e Bustorff Silva. O espaço foi inaugurado com o filme <em>Les choses de la vie</em>, de Claude Sautet, com Romy Schneider no principal papel.</p> <p style="text-align: justify;">Contudo, a década de setenta marcou o início do declínio do Monumental, com uma quebra significativa de espectadores que dificilmente enchiam já aquelas salas de tão grandes dimensões. A aposta da televisão em vários formatos de entretenimento, o aparecimento de salas de cinema de dimensão mais reduzida e programações mais atrativas, as alterações políticas e sociais entretanto trazidas pela Revolução de Abril, a irrupção de outras formas de espetáculo que atraíam espectadores mais jovens, tudo se juntou para afastar cada vez mais o público daquelas salas. Assim, por decisão de Nuno Krus Abecasis e com “aval de todos os organismos oficiais” (FERNANDES 1989: 186) – incluindo o Instituto Português do Património Cultural que se recusou a classificá-lo (Anon. 1983b: 24) – em 1982 foi decretada a demolição do edifício. A onda de protestos não se fez esperar e foram vários os que se insurgiram contra esta polémica deliberação, inclusivamente representantes de órgãos institucionais que acusaram o líder da Câmara Municipal de estar a atentar contra a memória cultural do país. Os que se opunham à demolição alegaram que esta decisão estaria ligada à conotação do Monumental com o Estado Novo apesar de o argumento apresentado pelo executivo camarário ser a elevada despesa que o edifício acarretava e que não justificava o seu funcionamento. Além disso, e segundo palavras do presidente Krus Abecasis, o “Monumental nunca [tinha sido considerado] uma obra de arte” (PACHECO 1984: 20). Nem as “ténues manifestações de defesa [da obra] sob pretexto de se estar a ferir gravemente o património nacional” (<em>ibidem</em>) bastaram para embargar a destruição desta casa. A salvo ficaram as estátuas e a esfera armilar que se encontram ainda em locais públicos da cidade.</p> <p style="text-align: justify;">O último espetáculo apresentado no teatro do Monumental foi <em>Pai precisa-se</em>, de Júlio Mathias, com Laura Alves no elenco, estreado a 30 de setembro de 1982, e a 27 de novembro de 1983 o cinema do Monumental abriu as portas ao público pela última vez, numa altura em que já se procedia à retirada de todo o equipamento da sala que fora de teatro.</p> <p style="text-align: justify;">No espaço onde se situava o Monumental foi posteriormente erigido um centro comercial – de fachada espelhada, com lojas, escritórios e quatro salas de cinema – muito distinto do projeto que Rodrigues Lima tinha imaginado para aquele local.</p> <p style="text-align: justify;"> </p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span></p> <p style="text-align: justify;">Anon. (1983a). “Monumental: demolição à vista com substituição a complicar-se” in <em>Diário de Lisboa</em>, 28 de novembro, p. 24.</p> <p style="text-align: justify;">___ (1983b). “Monumental” começou a ser demolido”, in <em>Diário de Lisboa</em>, 31 de maio, p. 1 / 24.</p> <p style="text-align: justify;">___ (1971). “Satélite – nova sala de cinema com 208 lugares” in <em>A Capital</em>, 26 de fevereiro, p. 18.</p> <p style="text-align: justify;">CRUZ, Duarte Ivo (2005). <em>Teatros de Portugal</em>. Lisboa: Ed. Medialivros, pp. 75-78.</p> <p style="text-align: justify;">DIAS, Marina Tavares (1987). <em>Lisboa desaparecida</em>. 2ª ed., Lisboa: Quimera Editores, p. 149.</p> <p style="text-align: justify;">DUARTE, Maria João (1982).  “Era uma vez... o Monumental” in <em>Se7e</em>, 30 de junho, p. 6.</p> <p style="text-align: justify;">FERNANDES, José Manuel (1989). <em>Lisboa: arquitectura e património</em>. Lisboa: Livros Horizonte</p> <p style="text-align: justify;">___ (1995). <em>Cinemas de Portugal</em>. Lisboa: Ed. Inapa.</p> <p style="text-align: justify;">___ (2003). <em>Português suave – Arquitecturas do Estado Novo</em>. Lisboa: IPPAR.</p> <p style="text-align: justify;">FRÉTIGNÉ, Hélène (2005). <em>Uma praça adiada – Estudo de fluxos pedonais na Praça do Duque de Saldanha (Lisboa)</em>. Coord. Maria João Ramos, Edição Digital.</p> <p style="text-align: justify;">LIMA, Raúl Rodrigues; et al.  (s/d). <em>Monumental – Algumas notas sobre a sua construção e exploração</em>. Anuário comercial, Tip. Emp. Nacional.</p> <p style="text-align: justify;">OGANDO, Alice (1960). <em>Laura Alves – Êxitos de 20 anos da sua carreira</em>. Agência Portuguesa de Revistas.</p> <p style="text-align: justify;">PACHECO, Nuno (1984). “Cine-Teatro Monumental: a derrocada que ninguém evitou” in <em>Expresso</em>, 19 de maio, pp. 20-21.</p> <p style="text-align: justify;">PINHEIRO, Pedro (2003). “As salas de teatro, os contratos, os actores profissionais e os outros” in AAVV. <em>Teatro em debate(s) – I congresso do teatro português</em>. Lisboa: Ed. CET/APCT.</p> <p style="text-align: justify;">RAMOS, Carvalho (1984). “Vida e morte” in <em>Plateia</em>, 2ª quinzena de Janeiro, p. 41.</p> <p style="text-align: justify;">RIBEIRO, Nuno (1985). “Arquitectos criticam Câmara de Lisboa” in <em>Diário de Lisboa</em>, 24 de julho, p. 10.</p> <p style="text-align: justify;">SANTOS, Vítor Pavão dos (2002). “Guia breve do século XX teatral” in AA.VV. <em>Panorama da cultura portuguesa do século XX – Artes e Letras I</em>, Porto 2001 e Fund. Serralves: Ed. Afrontamento.</p> <p style="text-align: justify;"> </p> <p><strong>Sítiografia:</strong><br /><a href="http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/as-sete-vidas-do-gato-negro">http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/as-sete-vidas-do-gato-negro</a><br /><br />Consultar ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:<br /><a href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=203">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=203</a><br /><br />Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:<br /><a href="http://opsis.fl.ul.pt/">http://opsis.fl.ul.pt/</a><br /><br /><strong>Andreia Brito Silva / Centro de Estudos de Teatro</strong></p> Teatro Baquet 2015-11-13T16:53:56+00:00 2015-11-13T16:53:56+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos/teatro-baquet-dp12.html João Marques joao.ramosmarques@camoes.mne.pt <p>(Porto, Portugal: 1859 – 1888)</p> <p>Inaugurado em 1859, deve o seu nome ao alfaiate portuense António Pereira, conhecido por Baquet, responsável pela iniciativa da sua construção.</p> <table border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro Baquet, fachada principal, gravura de Nogueira da Silva, 1863 [&lt;i&gt;Archivo Pittoresco&lt;/i&gt;, v. VI, p. 257]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_baquet.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_baquet.png" alt="Teatro Baquet" width="200" height="207" /></a></td> </tr> <tr> <td> </td> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Teatro Baquet, fachada principal, gravura de Nogueira da Silva, 1863 [<i>Archivo Pittoresco</i>, v. VI, p. 257].<br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;">O espetáculo da estreia, <em>O segredo de uma família</em>, de José Carlos Santos, foi da responsabilidade da companhia do Teatro do Ginásio, de Lisboa, que assegurou as restantes apresentações durante o primeiro mês de vida deste espaço. Inicialmente arrendado por companhias ambulantes, o Teatro Baquet só conheceu alguma estabilidade a partir de 1870, com a empresa Moutinho e a empresa Perry, entre outras, mas infelizmente por relativo pouco tempo – na noite de 20 para 21 de março de 1888, durante o espetáculo de benefício do ator Firmino, um incêndio deflagrou no palco, resultando na trágica morte de muitas dezenas de pessoas.</p> <p style="text-align: justify;">O Teatro Baquet, erguido num terreno entre a Rua de Santo António (atual Rua 31 de Janeiro) e a Rua Sá da Bandeira, herdou o seu nome do alfaiate Baquet, de quem partiu a iniciativa da sua construção. Nascido no Porto como António Pereira, Baquet emigrou para Espanha durante a adolescência, onde aprendeu o seu <em>métier</em>, e viajou por outras cidades, como Paris, onde adotou o apelido que o acompanhou para a vida e lhe valeu a fama de “estrangeiro” – fama que não terá sido prejudicial ao <em>atelier</em> que veio a abrir na Rua de Santo António, nº 157. O terreno ao lado deste <em>atelier</em> também pertencia ao alfaiate e foi nele que este decidiu construir um teatro com o seu nome, que competiria com o vizinho Teatro do Príncipe Real. Com uma tipologia particular – estendia-se da Rua de Santo António à Rua Sá da Bandeira, com um considerável declive entre elas – o terreno obrigou a que fosse construído um armazém na base, possibilitando a localização da fachada principal na Rua de Santo António. A obra, que se adivinharia demorada devido a esta particularidade, surpreendeu pela sua brevidade: foi iniciada a 22 de fevereiro de 1858, estando o edifício pronto para a inauguração a 13 de fevereiro de 1859, Carnaval, com um baile de máscaras.</p> <p style="text-align: justify;">Segundo Sousa Bastos, a planta do edifício era da responsabilidade do próprio Baquet (inspirada na planta da Ópera Comique de Paris, de acordo com Júlio César Machado (FERREIRA 2011: 52)), tendo Guilherme Correia assinado o desenho da fachada “da melhor qualidade de granito em que abundam os arrabaldes do Porto” (SOUSA BASTOS 1908: 321), adornada com quatro estátuas de mármore figurando a Comédia, a Música, a Arte e a Pintura. A base do edifício consistia num armazém em arcos de pedra, aberto para a Viela da Neta (posteriormente Travessa da Rua Formosa e entretanto desaparecida), e sobre este assentava a sala de espetáculos. A plateia situava-se um andar abaixo da entrada principal, ficando esta nivelada com a primeira e segunda ordens de camarotes, e existia ainda um outro andar, ao nível da terceira ordem de camarotes, onde se encontrava o salão, com janelas e varandas para a Rua de Santo António. Inicialmente com 82 camarotes – ambição excessiva, que resultou em compartimentos demasiado estreitos – as ordens sofreram logo uma remodelação, que resultou no número mais sensato de 68 camarotes no total, complementados com duas frisas. O teatro incluía ainda uma sala destinada à pintura dos cenários (reputada como melhor que a do Teatro de São João), e um grande número de camarins situados por baixo do palco, com acesso através da Viela da Neta – acesso utilizado por todo o pessoal do teatro. Os pormenores decorativos do espaço só foram terminados após o Carnaval, tendo o trabalho de pintura sido assinado por Faria Teives e o de talha dourada da responsabilidade de Rossi, e também só nessa altura foram instaladas as cadeiras na plateia (cujo conforto ficava aquém das expectativas, alimentada pela riqueza da iluminação e das pinturas do proscénio e do pano de boca).</p> <p style="text-align: justify;">Era consensual a opinião de que o Teatro Baquet tinha resultado num espaço elegante e com bom gosto, apreciado na sua totalidade aquando da inauguração solene, a 16 de julho de 1859. Para o espetáculo inaugural Baquet contratou a companhia do Teatro do Ginásio, de Lisboa, que apresentou <em>O segredo de uma família</em> (comédia em 3 atos original do ator e diretor José Carlos Santos) e ainda a poesia <em>Assim é que eu gosto d’ella</em> – estreia recebida com agrado, onde tiveram particular sucesso José Carlos Santos, o ator Marcelino “que no papel de idiota andou perfeitamente” e ainda o pintor Rocha, aplaudido pelas suas pinturas “magníficas”, realizadas “com muito esmero” (<em>Jornal do Porto</em>, 18-07-1859, p. 3). A companhia assegurou as apresentações durante o primeiro mês de vida do espaço, com um elenco composto por, entre outros, os atores Taborda, Romão e Emília Letroublon.</p> <p style="text-align: justify;">Após a abertura, o teatro assistiu a um longo período de instabilidade durante o qual, sem companhia própria, se tornou espaço de acolhimento de companhias em itinerância ou ambulantes, resultando em apresentações esporádicas e sem um género específico associado. A situação mudou com a empresa Moutinho, que explorou o Baquet a partir de 1870, arrendando-o a D. Ignácia de la Bica, viúva do alfaiate Baquet e proprietária do teatro desde a morte deste, em 1869. Depois da morte de D. Ignácia, o teatro passou para o então seu marido António Teixeira d’Assis (por sinal, ex-sócio do alfaiate Baquet) e, com a morte deste, para a sua mãe, D. Anna Victória d’Ascenção. Tão intrincada como esta rede de propriedade foi a sucessão de empresas de exploração, na sua maioria constituídas por grupos cuja ligação era efémera e que se viam constantemente reformulados e reorganizados, com novos e antigos elementos – o que não impediu o Baquet de servir de palco aos melhores nomes da cena portuguesa de então, como Emília das Neves, Lucinda Simões, João Anastácio Rosa e ainda Augusto Rosa, que ali se estreou em 1872. À empresa Moutinho, ensaiada pelo ator Romão, seguiu-se uma sociedade de atores formada por Gama, Soller, Amaral e Domingos d’Almeida, que não conseguiu o sucesso financeiro esperado, sendo substituída pela empresa A. Portugal &amp; Cia. (com o tenor Portugal). O insucesso desta deu lugar a uma nova sociedade de atores, apoiada pelo jornalista Borges d’Avelar, que não evitou a fuga dos melhores elementos para o Teatro do Príncipe Real (onde se formava uma nova companhia de opereta), seguindo-se, na exploração do teatro, a empresa da atriz Emília Adelaide, também esta destinada à falência. Uma outra sociedade de atores, ensaiada pelo ator Amaral, foi substituída pela empresa Perry que, terminada em 1887, deu lugar à empresa do maestro Cyriaco Cardoso – cujo percurso, com um início auspicioso de apresentações de êxito, foi tragicamente interrompido poucos meses depois.</p> <p style="text-align: justify;">Foi durante a festa de benefício do ator Firmino Rosa, na noite de 20 para 21 de março de 1888, que um incêndio consumiu em poucas horas todo o interior do Teatro Baquet. A programação – extensa – incluía a ópera cómica <em>Dragões de Vilares</em> e a zarzuela <em>Grã via</em>, ambas do agrado de um público entusiasmado que “pedia furiosamente <em>bis</em>” (SOUSA BASTOS 1908: 321). Foi a troca apressada de panos de fundo, para repetir a cena anterior – o quadro “Os três ratas”, desempenhado por Firmino, Sanches e Gomes – que fez com que, no contacto com uma gambiarra, um dos panos se incendiasse. O pano de boca foi baixado rapidamente, mas não impediu que o fogo fosse anunciado momentos depois pelos espectadores de um camarim com um postigo sobre o palco. O rápido alastrar do fogo, o fumo intenso, a falta de iluminação (tendo sido cortado o gás assim que o incêndio deflagrou) e o pânico geral resultaram no desfecho trágico da morte de cerca de 120 pessoas. Nos bastidores, quase todos se salvaram devido à saída para a Viela da Neta (entretanto desativada, aquando da abertura de uma saída para a Rua Sá da Bandeira após a morte do alfaiate Baquet), sorte não partilhada pelos espectadores que não conseguiram chegar às saídas no curto espaço de tempo em que a fuga seria possível – “em menos de duas horas, do belíssimo Teatro Baquet, restavam apenas as quatro escalavradas paredes exteriores” (FERREIRA 2012: 124).</p> <p style="text-align: justify;">A tragédia comoveu o país inteiro, incluindo a rainha D. Maria Pia, que foi ao Porto visitar os familiares das vítimas e assistir às várias cerimónias fúnebres e de angariação de fundos, de que se destaca o espetáculo de 25 de março de 1888, no Palácio de Cristal, com artistas de todo o país. O caso do Baquet incentivou os governantes à criação de novas e reforçadas medidas de segurança relativamente aos teatros e casas de espetáculo.<br />Atualmente (2013), o espaço do Baquet na Rua Sá da Bandeira é ocupado pelo Hotel Teatro que, após os Grandes Armazéns Hermínios (também ali construídos), recupera parcialmente a memória do teatro que – por razões também menos felizes – marcou a história do país.</p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span></p> <p>ANON. (1859). [sem título], <em>Jornal do Porto</em>, 16-07-1859, p. 2.</p> <p>___ (1859b). “Companhia do Gymnazio”,<em> Jornal do Porto</em>, 18-07-1859, p. 3.</p> <p>___ (1889a). “A grande catastrophe”, <em>Jornal do Porto</em>, 21-03-1889, p. 1.</p> <p>___ (1889b). “A catastrophe do Baquet – Um anno depois”, <em>Jornal do Porto</em>, 21-03-1889, p. 1.</p> <p>BRITO, Maria Fernanda de (1982). “O «Baquet» na mira de um fotógrafo amador” in <em>Bibliotheca Portucalensis</em>, nº2. Porto: BPMP/Imprensa Portuguesa, pp. 9-79.</p> <p>FERREIRA, Laurinda (2012). “O Teatro do quintal do senhor Baquet” in <em>Sinais de Cena</em>, nº18. Lisboa: APCT/CET, pp. 119-128.</p> <p>FERREIRA, Licínia Rodrigues (2011). <em>Júlio César Machado cronista de Teatro: Os folhetins d’A Revolução de Setembro e do Diário de Notícias</em>. Dissertação de Mestrado em Estudos de Teatro apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (texto policopiado).</p> <p>FILINTO, Jayme (1888). <em>A grande catastrophe do Theatro Baquet : narrativa fidedigna do terrivel incendio occorrido em a noite de 20 para 21 de Março de 1888, precedida da historia do theatro</em>. Porto: Alcino Aranha.</p> <p>SOUSA BASTOS, António (1908).<em> Diccionário de Theatro Portuguez</em>. Lisboa: Imp. Libanio da Silva (há uma edição fac-similada de 1994. Coimbra: Minerva).</p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;">Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:</span></p> <p><a title="Teatro ABC" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=1347" target="_blank">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=1347</a></p> <p><span style="color: #333333;">Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:</span></p> <p><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank"><span style="text-decoration: underline; letter-spacing: 0px; color: #333333;"><span style="color: #333333; text-decoration: underline;">http://opsis.fl.ul.pt/</span> </span></a></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Joana d’Eça Leal/Centro de Estudos de Teatro</strong></span></p> <p>(Porto, Portugal: 1859 – 1888)</p> <p>Inaugurado em 1859, deve o seu nome ao alfaiate portuense António Pereira, conhecido por Baquet, responsável pela iniciativa da sua construção.</p> <table border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro Baquet, fachada principal, gravura de Nogueira da Silva, 1863 [&lt;i&gt;Archivo Pittoresco&lt;/i&gt;, v. VI, p. 257]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_baquet.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_baquet.png" alt="Teatro Baquet" width="200" height="207" /></a></td> </tr> <tr> <td> </td> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Teatro Baquet, fachada principal, gravura de Nogueira da Silva, 1863 [<i>Archivo Pittoresco</i>, v. VI, p. 257].<br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;">O espetáculo da estreia, <em>O segredo de uma família</em>, de José Carlos Santos, foi da responsabilidade da companhia do Teatro do Ginásio, de Lisboa, que assegurou as restantes apresentações durante o primeiro mês de vida deste espaço. Inicialmente arrendado por companhias ambulantes, o Teatro Baquet só conheceu alguma estabilidade a partir de 1870, com a empresa Moutinho e a empresa Perry, entre outras, mas infelizmente por relativo pouco tempo – na noite de 20 para 21 de março de 1888, durante o espetáculo de benefício do ator Firmino, um incêndio deflagrou no palco, resultando na trágica morte de muitas dezenas de pessoas.</p> <p style="text-align: justify;">O Teatro Baquet, erguido num terreno entre a Rua de Santo António (atual Rua 31 de Janeiro) e a Rua Sá da Bandeira, herdou o seu nome do alfaiate Baquet, de quem partiu a iniciativa da sua construção. Nascido no Porto como António Pereira, Baquet emigrou para Espanha durante a adolescência, onde aprendeu o seu <em>métier</em>, e viajou por outras cidades, como Paris, onde adotou o apelido que o acompanhou para a vida e lhe valeu a fama de “estrangeiro” – fama que não terá sido prejudicial ao <em>atelier</em> que veio a abrir na Rua de Santo António, nº 157. O terreno ao lado deste <em>atelier</em> também pertencia ao alfaiate e foi nele que este decidiu construir um teatro com o seu nome, que competiria com o vizinho Teatro do Príncipe Real. Com uma tipologia particular – estendia-se da Rua de Santo António à Rua Sá da Bandeira, com um considerável declive entre elas – o terreno obrigou a que fosse construído um armazém na base, possibilitando a localização da fachada principal na Rua de Santo António. A obra, que se adivinharia demorada devido a esta particularidade, surpreendeu pela sua brevidade: foi iniciada a 22 de fevereiro de 1858, estando o edifício pronto para a inauguração a 13 de fevereiro de 1859, Carnaval, com um baile de máscaras.</p> <p style="text-align: justify;">Segundo Sousa Bastos, a planta do edifício era da responsabilidade do próprio Baquet (inspirada na planta da Ópera Comique de Paris, de acordo com Júlio César Machado (FERREIRA 2011: 52)), tendo Guilherme Correia assinado o desenho da fachada “da melhor qualidade de granito em que abundam os arrabaldes do Porto” (SOUSA BASTOS 1908: 321), adornada com quatro estátuas de mármore figurando a Comédia, a Música, a Arte e a Pintura. A base do edifício consistia num armazém em arcos de pedra, aberto para a Viela da Neta (posteriormente Travessa da Rua Formosa e entretanto desaparecida), e sobre este assentava a sala de espetáculos. A plateia situava-se um andar abaixo da entrada principal, ficando esta nivelada com a primeira e segunda ordens de camarotes, e existia ainda um outro andar, ao nível da terceira ordem de camarotes, onde se encontrava o salão, com janelas e varandas para a Rua de Santo António. Inicialmente com 82 camarotes – ambição excessiva, que resultou em compartimentos demasiado estreitos – as ordens sofreram logo uma remodelação, que resultou no número mais sensato de 68 camarotes no total, complementados com duas frisas. O teatro incluía ainda uma sala destinada à pintura dos cenários (reputada como melhor que a do Teatro de São João), e um grande número de camarins situados por baixo do palco, com acesso através da Viela da Neta – acesso utilizado por todo o pessoal do teatro. Os pormenores decorativos do espaço só foram terminados após o Carnaval, tendo o trabalho de pintura sido assinado por Faria Teives e o de talha dourada da responsabilidade de Rossi, e também só nessa altura foram instaladas as cadeiras na plateia (cujo conforto ficava aquém das expectativas, alimentada pela riqueza da iluminação e das pinturas do proscénio e do pano de boca).</p> <p style="text-align: justify;">Era consensual a opinião de que o Teatro Baquet tinha resultado num espaço elegante e com bom gosto, apreciado na sua totalidade aquando da inauguração solene, a 16 de julho de 1859. Para o espetáculo inaugural Baquet contratou a companhia do Teatro do Ginásio, de Lisboa, que apresentou <em>O segredo de uma família</em> (comédia em 3 atos original do ator e diretor José Carlos Santos) e ainda a poesia <em>Assim é que eu gosto d’ella</em> – estreia recebida com agrado, onde tiveram particular sucesso José Carlos Santos, o ator Marcelino “que no papel de idiota andou perfeitamente” e ainda o pintor Rocha, aplaudido pelas suas pinturas “magníficas”, realizadas “com muito esmero” (<em>Jornal do Porto</em>, 18-07-1859, p. 3). A companhia assegurou as apresentações durante o primeiro mês de vida do espaço, com um elenco composto por, entre outros, os atores Taborda, Romão e Emília Letroublon.</p> <p style="text-align: justify;">Após a abertura, o teatro assistiu a um longo período de instabilidade durante o qual, sem companhia própria, se tornou espaço de acolhimento de companhias em itinerância ou ambulantes, resultando em apresentações esporádicas e sem um género específico associado. A situação mudou com a empresa Moutinho, que explorou o Baquet a partir de 1870, arrendando-o a D. Ignácia de la Bica, viúva do alfaiate Baquet e proprietária do teatro desde a morte deste, em 1869. Depois da morte de D. Ignácia, o teatro passou para o então seu marido António Teixeira d’Assis (por sinal, ex-sócio do alfaiate Baquet) e, com a morte deste, para a sua mãe, D. Anna Victória d’Ascenção. Tão intrincada como esta rede de propriedade foi a sucessão de empresas de exploração, na sua maioria constituídas por grupos cuja ligação era efémera e que se viam constantemente reformulados e reorganizados, com novos e antigos elementos – o que não impediu o Baquet de servir de palco aos melhores nomes da cena portuguesa de então, como Emília das Neves, Lucinda Simões, João Anastácio Rosa e ainda Augusto Rosa, que ali se estreou em 1872. À empresa Moutinho, ensaiada pelo ator Romão, seguiu-se uma sociedade de atores formada por Gama, Soller, Amaral e Domingos d’Almeida, que não conseguiu o sucesso financeiro esperado, sendo substituída pela empresa A. Portugal &amp; Cia. (com o tenor Portugal). O insucesso desta deu lugar a uma nova sociedade de atores, apoiada pelo jornalista Borges d’Avelar, que não evitou a fuga dos melhores elementos para o Teatro do Príncipe Real (onde se formava uma nova companhia de opereta), seguindo-se, na exploração do teatro, a empresa da atriz Emília Adelaide, também esta destinada à falência. Uma outra sociedade de atores, ensaiada pelo ator Amaral, foi substituída pela empresa Perry que, terminada em 1887, deu lugar à empresa do maestro Cyriaco Cardoso – cujo percurso, com um início auspicioso de apresentações de êxito, foi tragicamente interrompido poucos meses depois.</p> <p style="text-align: justify;">Foi durante a festa de benefício do ator Firmino Rosa, na noite de 20 para 21 de março de 1888, que um incêndio consumiu em poucas horas todo o interior do Teatro Baquet. A programação – extensa – incluía a ópera cómica <em>Dragões de Vilares</em> e a zarzuela <em>Grã via</em>, ambas do agrado de um público entusiasmado que “pedia furiosamente <em>bis</em>” (SOUSA BASTOS 1908: 321). Foi a troca apressada de panos de fundo, para repetir a cena anterior – o quadro “Os três ratas”, desempenhado por Firmino, Sanches e Gomes – que fez com que, no contacto com uma gambiarra, um dos panos se incendiasse. O pano de boca foi baixado rapidamente, mas não impediu que o fogo fosse anunciado momentos depois pelos espectadores de um camarim com um postigo sobre o palco. O rápido alastrar do fogo, o fumo intenso, a falta de iluminação (tendo sido cortado o gás assim que o incêndio deflagrou) e o pânico geral resultaram no desfecho trágico da morte de cerca de 120 pessoas. Nos bastidores, quase todos se salvaram devido à saída para a Viela da Neta (entretanto desativada, aquando da abertura de uma saída para a Rua Sá da Bandeira após a morte do alfaiate Baquet), sorte não partilhada pelos espectadores que não conseguiram chegar às saídas no curto espaço de tempo em que a fuga seria possível – “em menos de duas horas, do belíssimo Teatro Baquet, restavam apenas as quatro escalavradas paredes exteriores” (FERREIRA 2012: 124).</p> <p style="text-align: justify;">A tragédia comoveu o país inteiro, incluindo a rainha D. Maria Pia, que foi ao Porto visitar os familiares das vítimas e assistir às várias cerimónias fúnebres e de angariação de fundos, de que se destaca o espetáculo de 25 de março de 1888, no Palácio de Cristal, com artistas de todo o país. O caso do Baquet incentivou os governantes à criação de novas e reforçadas medidas de segurança relativamente aos teatros e casas de espetáculo.<br />Atualmente (2013), o espaço do Baquet na Rua Sá da Bandeira é ocupado pelo Hotel Teatro que, após os Grandes Armazéns Hermínios (também ali construídos), recupera parcialmente a memória do teatro que – por razões também menos felizes – marcou a história do país.</p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span></p> <p>ANON. (1859). [sem título], <em>Jornal do Porto</em>, 16-07-1859, p. 2.</p> <p>___ (1859b). “Companhia do Gymnazio”,<em> Jornal do Porto</em>, 18-07-1859, p. 3.</p> <p>___ (1889a). “A grande catastrophe”, <em>Jornal do Porto</em>, 21-03-1889, p. 1.</p> <p>___ (1889b). “A catastrophe do Baquet – Um anno depois”, <em>Jornal do Porto</em>, 21-03-1889, p. 1.</p> <p>BRITO, Maria Fernanda de (1982). “O «Baquet» na mira de um fotógrafo amador” in <em>Bibliotheca Portucalensis</em>, nº2. Porto: BPMP/Imprensa Portuguesa, pp. 9-79.</p> <p>FERREIRA, Laurinda (2012). “O Teatro do quintal do senhor Baquet” in <em>Sinais de Cena</em>, nº18. Lisboa: APCT/CET, pp. 119-128.</p> <p>FERREIRA, Licínia Rodrigues (2011). <em>Júlio César Machado cronista de Teatro: Os folhetins d’A Revolução de Setembro e do Diário de Notícias</em>. Dissertação de Mestrado em Estudos de Teatro apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (texto policopiado).</p> <p>FILINTO, Jayme (1888). <em>A grande catastrophe do Theatro Baquet : narrativa fidedigna do terrivel incendio occorrido em a noite de 20 para 21 de Março de 1888, precedida da historia do theatro</em>. Porto: Alcino Aranha.</p> <p>SOUSA BASTOS, António (1908).<em> Diccionário de Theatro Portuguez</em>. Lisboa: Imp. Libanio da Silva (há uma edição fac-similada de 1994. Coimbra: Minerva).</p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;">Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:</span></p> <p><a title="Teatro ABC" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=1347" target="_blank">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=1347</a></p> <p><span style="color: #333333;">Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:</span></p> <p><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank"><span style="text-decoration: underline; letter-spacing: 0px; color: #333333;"><span style="color: #333333; text-decoration: underline;">http://opsis.fl.ul.pt/</span> </span></a></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Joana d’Eça Leal/Centro de Estudos de Teatro</strong></span></p> Teatro da Trindade 2014-05-22T14:55:58+00:00 2014-05-22T14:55:58+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos/teatro-da-trindade-dp7.html Catarina Isabel Lopes catarina.lopes@camoes.mne.pt <p>(Largo da Trindade, 7-A, 1200-466 Lisboa)</p> <p><br />O Teatro da Trindade, inaugurado em 1867, é um dos mais antigos teatros lisboetas ainda em atividade. Situa-se na zona da Trindade, entre o Chiado e o Bairro Alto, que já na época se assumia como centro cultural e de sociabilização.</p> <table style="width: 217px; height: 193px;" border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro da Trindade (entrada, Rua Nova da Trindade), 2012, fot. Joana d’Eça Leal/CET" href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_trindade_01.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_trindade_01.png" alt="Teatro da Trindade" width="200" height="149" /></a></td> </tr> <tr> <td style="text-align: center; width: 10px; background-color: #d7e5f4;"> </td> <td style="text-align: center; background-color: #d7e5f4; width: 200px;"><span style="color: #008000;">Teatro da Trindade (entrada, Rua Nova da Trindade), 2012, fot. Joana d’Eça Leal/CET</span></td> </tr> </tbody> </table> <p>A iniciativa da sua construção partiu do empresário Francisco Palha que, com o apoio de financiadores e o desenho do arquiteto Miguel Evaristo, construiu o teatro mais cómodo, elegante e tecnicamente avançado da capital no seu tempo. A par dos espetáculos no Teatro, o Trindade programou também concertos, bailes, recitais e palestras no Salão. Em 1921, adquirido pela Anglo-Portuguese Telephone Company, o Salão foi demolido e todo o recheio do teatro vendido, regressando à sua vocação teatral em 1924, pela mão do empresário José Loureiro. Nele foram apresentados espetáculos de teatro declamado e teatro musicado, fantasias, óperas e dramas, mas foi com a opereta que fez mais sucesso e atraiu um público fiel. Acolheu companhias fulcrais da cultura portuguesa, como a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, a Companhia Portuguesa de Ópera, Os Comediantes de Lisboa ou o Teatro Nacional Popular, além das sessões de animatógrafo e cinema, que ajudaram a ultrapassar períodos de crise financeira. Em 1962 foi adquirido pela FNAT [Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho], atual INATEL [Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores], que continua a assegurar a gestão do teatro.</p> <p><span style="font-size: 11px;">Foi Francisco Palha de Faria Lacerda (1824-1890), empresário teatral, ex-comissário régio no Teatro Nacional de D. Maria II, quem idealizou a criação de um teatro na zona da Trindade. O Chiado já se havia estabelecido como o coração da sociedade lisboeta, e a cena teatral encontrava-se em crescimento – sinal disso havia sido a inauguração do Teatro de S. Carlos (em 1793) e do Teatro de D. Maria e do Ginásio (ambos em 1846). A ideia ganhou forma com a criação, em 1866, de uma sociedade para a construção do Teatro da Trindade: uma sociedade de ações com o capital de 80 contos, cujos principais acionistas eram o Duque de Palmela, Fortunato e Francisco Chamiço, Frederico Biester, Ribeiro da Cunha, António Tomás Pacheco, Oliveira Machado, entre outros. O local escolhido foi o terreno do antigo Palácio dos Condes de Alva, onde em 1735 o empresário italiano Alessandro Paghetti havia criado a Academia da Trindade, “o primeiro teatro popular de Ópera” (ARAÚJO 1993: 66), que funcionou apenas três anos, tendo sido encerrada em 1738. Após o terramoto de 1755 o local albergava apenas restos do palácio e alguns casebres, que em 1865 deram lugar às obras de construção do teatro, sob a direção do arquiteto Miguel Evaristo de Lima Pinto.</span></p> <p>O Teatro da Trindade foi construído com uma enorme atenção ao pormenor, sendo o conforto do público um dos pontos mais valorizados. Segundo Norberto de Araújo, “o teatro, incluindo edifício, salões e materiais, custou 120 contos” (ARAÚJO 1993: 66). A sala era equipada com um sistema de ventilação e a distribuição dos assentos procurava corresponder à hierarquia social: cadeiras de mogno na primeira plateia (custavam 500 reis), bancadas com costas de palhinha na segunda plateia (400 reis) e bancos simples na geral (200 reis). Um lugar no balcão custava 600 reis e nas galerias 100 reis. Duas grandes novidades eram os ganchos nas costas das cadeiras (estas, “de assento movediço”) para pendurar chapéus, “inovação adorável” (MACHADO 1991: 151), e as frisas com reixas de madeira, pintadas de dourado, para salvaguardar os espectadores que não quisessem ser observados – esta última com pouco efeito prático, uma vez que o público se acumulava à saída das frisas para ver os espectadores que de lá saíam. A própria plateia era elevável, possibilitando o nivelamento com o palco para a realização de outro tipo de eventos. O teto, pintado por Jorge Procópio (discípulo de Cinatti e Rambois), segurava um enorme lustre e era adornado por medalhões com retratos de grandes figuras do teatro português (Gil Vicente, Sá de Miranda, Correia Garção, Almeida Garrett, Bocage, António José da Silva, entre outros). Esta homenagem também se fazia na fachada virada para o Largo da Trindade, com bustos de Gil Vicente, António Ferreira, Damião de Góis e Sá de Miranda. Era um teatro “vistoso, elegante”, no qual “se pensou em tudo” (MACHADO 1991: 151), que teve lugar de destaque em varias publicações, desde os folhetins de Júlio César Machado – por exemplo, todo o folhetim d’<em>A Revolução de Setembro</em> de 05-12-1867 foi dedicado à inauguração, e tanto os vários espetáculos como os atores da companhia eram comentados regularmente – aos romances de Eça de Queiroz – a apresentação de <em>O Barba Azul</em>, incluindo o teatro, o público e o ambiente estão presentes n’<em>A tragédia da Rua das Flores</em>, como uma referência da sociedade lisboeta de então.</p> <p>O Salão da Trindade, anexo ao Teatro, foi o primeiro a inaugurar, abrindo as portas ao público no Carnaval de 1867 com uma série de bailes de máscaras. Destinado a bailes, concertos e conferências, tinha cerca de 200m² e uma galeria sobre colunas à volta do espaço, assim como um anfiteatro para a orquestra e, mais tarde, um proscénio.</p> <p>A inauguração do Teatro teve lugar a 30 de novembro de 1867, com os espetáculos<em> A mãe dos pobres</em>, drama de Ernesto Biester, e a comédia espanhola <em>O xerez da Viscondessa</em>, traduzida e adaptada por Francisco Palha. O empresário esforçou-se por reunir um elenco de qualidade e, como tal, a primeira companhia do Trindade era composta pelos artistas Delfina do Espírito Santo, Rosa Damasceno, Emília Adelaide, Emília dos Anjos, Gertrudes Carneiro, Lucinda da Silva, Tasso, Izidoro, Eduardo Brazão, Leoni, Bayard, Lima, Queiroz, entre outros. Nos meses que se seguiram, de consolidação de elenco e de equipa, foi assinalável o êxito do espetáculo <em>As pupilas do sr. Reitor</em>, adaptação por Ernesto Biester do romance de Júlio Dinis, onde brilharam Rosa Damasceno e Brazão. Mas foi com a aposta na opereta que Francisco Palha encontrou a verdadeira fonte de sucessos do Trindade. <em>O Barba Azul</em>, estreado a 13 de junho de 1868, ficou em cena durante meses e revelou o talento de Ana Pereira, que nos anos seguintes ali brilhou, “fadada para as cenas de capricho, de gracejo, e de fantasia [...], a actriz do repertório de Offenbach” (MACHADO 1991: 164). De facto, até ao final do século XIX, o público teatral sabia exatamente onde ir consoante o género de espetáculo procurado: a ópera no S. Carlos, os dramas e tragédias no D. Maria, as comédias no Ginásio e, no Trindade, as tão famosas operetas, onde o repertório de Offenbach fez furor.</p> <p>Com a morte de Francisco Palha, em janeiro de 1890, a direção do teatro passou por várias mãos até 1893, ano em que o Trindade foi vendido a António Serrão Franco e este cedeu a exploração do mesmo a uma sociedade artística que, por sua vez, nomeou Sousa Bastos para a direção em 1894. Até 1900, e sob empresas com nomes e sócios diferentes, Sousa Bastos dirigiu o Trindade no que foi “um dos mais brilhantes, significativos e gloriosos períodos da sua história” (RIBAS 1993: 30-31). A companhia residente incluía nomes como Augusto Rosa, Ana Pereira, Mercedes Blasco, Palmira Bastos, Joaquim de Almeida, Lucinda do Carmo, Ferreira da Silva, etc. Em 1901, a direção da empresa e da companhia recaiu sobre o empresário Afonso Taveira, a quem coube guiar o Trindade através de um período de enorme instabilidade política, social e económica – o regicídio e consequente instauração da República e, mais tarde, a Primeira Guerra Mundial – até à sua morte, em 1916. Foram várias as companhias, portuguesas e estrangeiras, que passaram pelo Trindade nesta época sem deixar marca, como a de Italia Vitaliani em 1903 ou a (tentada) companhia lírica portuguesa em 1908. A estabilidade voltou em 1919, com uma empresa de exploração liderada por Augusto Pina, que apresentava uma companhia com Ângela Pinto, Emília de Oliveira, Etelvina Serra, Carlos Santos, Ferreira da Silva, entre outros. Este elenco fez sucesso nas encenações de António Pinheiro e assegurou, segundo Matos Sequeira, uma “temporada brilhante” (<em>apud</em> RIBAS 1993: 41). </p> <table style="width: 222px; height: 193px;" border="0" align="left"> <tbody> <tr> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro da Trindade (fachada, Largo da Trindade), 2012, fot. Joana d’Eça Leal/CET" href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_trindade_02.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_trindade_02.png" alt="teatro trindade 02" width="200" height="149" /></a></td> <td style="width: 10px;"> </td> </tr> <tr> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="color: #008000;">Teatro da Trindade (fachada, Largo da Trindade), 2012, fot. Joana d’Eça Leal/CET</span></td> <td style="text-align: center; width: 10px; background-color: #d7e5f4;"><span style="color: #008000;"> </span></td> </tr> </tbody> </table> <p>A 22 de janeiro de 1921 o proprietário Serrão Franco vendeu o Teatro da Trindade, por 350 contos, à Anglo-Portuguese Telephone Company, que ali instalaria os seus escritórios. O Salão da Trindade, palco de eventos como a palestra de Serpa Pinto sobre as colónias (1879), a apresentação do fonógrafo de Edison (1879), a conferência dos exploradores Capelo e Ivens, à qual assistiu a Família Real (1880), foi totalmente demolido. Uns meses depois, a 18 de outubro, Luís Nobre presidiu a um leilão de todo o recheio do teatro, incluindo cadeiras, móveis, adereços, arquivos, etc. A ideia de terminar assim o Teatro da Trindade causou indignação e “uma montanha de lamentações saudosas” (Matos Sequeira,<em> apud</em> RIBAS 1993: 42). Sabendo que a nova empresa proprietária necessitaria apenas do espaço do Salão e anexos, José Loureiro propôs a aquisição da parte do teatro, que foi aceite. Como tal, em 1923 o Teatro da Trindade foi vendido a José Loureiro pela quantia de dez mil libras esterlinas e foram iniciadas as obras de remodelação do interior do edifício, dirigidas pelo eng. Alexandre Soares – data desta altura o famoso frontão com a Trindade, da autoria de Leopoldo de Almeida, que ainda hoje encima o proscénio.</p> <p>Alguns meses depois, a 5 de fevereiro de 1924, o Teatro da Trindade teve nova inauguração, com o espetáculo <em>Fogo sagrado</em>, de Eduardo Schwalbach, pela companhia de Aura Abranches e Pinto Grijó. A dimensão do palco permitiu grandes produções que noutros espaços seriam complicadas ou mesmo impossíveis. Isto verificou-se com espetáculos de revista, que já antes do interregno tinham alternado com as operetas. Com as novas condições, as grandes montagens que eram impensáveis no Parque Mayer tinham lugar no Trindade e, a pouco e pouco, foram tomando o lugar das operetas (género já em declínio), dividindo os cartazes com o teatro declamado. Foram marcantes as revistas <em>Pó de Maio</em> (1929), de Eva Stachino, uma luxuosa montagem onde brilharam Vasco Santana e Beatriz Costa, e <em>Arraial</em> (1933), com António Silva, Maria das Neves e Costinha. Nas décadas seguintes o Trindade foi palco de companhias centrais do teatro português, como a de Lucília Simões e Erico Braga em 1926-27 ou a Rey Colaço-Robles Monteiro em 1928-29. Nestes anos da exploração de José Loureiro, embora com grandes êxitos de bilheteira, viveram-se alguns períodos difíceis em termos financeiros. Para fazer frente às crises, foi instalado equipamento de cinema e, a partir de 1938, o Trindade passou a realizar curtas temporadas cinematográficas, estreando <em>A Rosa do adro</em>, de Chianca de Garcia, com Adelina Abranches e Maria Lalande.</p> <p>Dois anos depois, em 1940, outro projeto teve estreia no Trindade: os Bailados Portugueses Verde Gaio, companhia de dança impulsionada por António Ferro, na altura Diretor do Secretariado Nacional da Informação, Cultura e Turismo. A reação do público foi fraca, sobretudo em comparação com o sucesso que tiveram, pouco tempo depois, Os Comediantes de Lisboa, companhia dos irmãos Francisco Ribeiro (Ribeirinho) e António Lopes Ribeiro. Estiveram no Trindade entre 1944 e 1947, apresentando temporadas brilhantes apenas equiparadas, alguns anos depois, pelo Teatro d’Arte de Lisboa (em 1955-56) e o Teatro Nacional Popular, entre 1957 e 1960 – este último responsável, a 18 de abril de 1959, pela primeira encenação de Beckett em Portugal, com<em> À espera de Godot.</em> Durante estes anos, o percurso do Teatro da Trindade foi intermitente, consequência, por um lado, do movimento dos grupos experimentais, em crescimento, cujas apresentações teatrais eram feitas em espaços periféricos ou improvisados, e, por outro lado, da ação castradora da censura, que limitava muito as companhias de repertório e de teatro declamado. Todas estas evoluções sociais e económicas fizeram com que o Trindade passasse a ser o palco de companhias já formadas que ali faziam temporadas curtas.</p> <p>Em 1962 o Teatro da Trindade mudou de novo de mãos. Os herdeiros de José Loureiro venderam-no, por 8000 contos, à FNAT, atualmente designada INATEL. Sofreu novas obras de remodelação em 1967 e, embora com novos equipamentos técnicos, a atenção recaiu sobre a decoração, coordenada por Maria José Salavisa – a sala, antigamente em tons de vermelho e dourado, vestiu-se de dourado e azul. O novo Trindade, com novas cores, acolheu a Companhia Portuguesa de Ópera e todas as suas produções até à sua extinção, em 1975. Pelo meio, um pequeno período de temporadas partilhadas com a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro (entre 1970 e 1974), que havia sido desalojada do Nacional pelo incêndio em 1964 e que passara, entretanto, pelo Teatro Avenida e pelo Teatro Capitólio antes de se apresentar no Trindade. O 25 de Abril trouxe de novo ao Teatro da Trindade a variedade de espetáculos e companhias, com apresentações de ópera, teatro profissional e amador, cinema, bailados, operetas, a par das conferências e exposições.</p> <p>Uma nova remodelação, desta vez profunda, teve lugar entre 1991 e 1992, com obras no telhado, na fachada, no átrio, na sala de espetáculos, no palco, no <em>foyer</em>, nos camarins, nas oficinas – no fundo, em todo o edifício, procurando torná-lo mais funcional e adequado às novas exigências de um teatro lisboeta daquela dimensão: o estúdio de ensaios foi transformado na Sala-Estúdio, destinada à apresentação de teatro experimental; o bar foi ampliado, possibilitando a realização de eventos e pequenas apresentações; novas instalações de luz, som e canalização; assim como novas instalações para os serviços administrativos.</p> <p> </p> <p><strong>Bibliografia<br /></strong>ARAÚJO, Norberto de (1993). <em>Peregrinações em Lisboa</em>, livro VI, 2ª ed. Lisboa: Vega.<br />BASTOS, Glória &amp; VASCONCELOS, Ana Isabel P. Teixeira (2004). <em>O Teatro em Lisboa no tempo da Primeira República</em>. Lisboa: IPM/Museu Nacional do Teatro.<br />FERREIRA, Licínia Rodrigues (2011). <em>Júlio César Machado cronista de teatro: Os folhetins d’A Revolução de Setembro e do Diário de Notícias</em>. Texto policopiado: dissertação de Mestrado em Estudos de Teatro apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.<br />MACHADO, Júlio César (1991). <em>Os teatros de Lisboa</em>, reedição do original de 1875. Lisboa: Editorial Notícias.<br />MAGALHÃES, Paula (2007). <em>Os dias alegres do Ginásio: Memórias de um teatro de comédia.</em> Dissertação de Mestrado em Estudos de Teatro apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (texto policopiado).<br />MATOS SEQUEIRA, Gustavo de (1967). <em>O Carmo e a Trindade</em>, vol. III, 2ª ed. Lisboa: Publicações Culturais da Câmara Municipal de Lisboa.<br />REBELLO, Luiz Francisco (2000). <em>Breve história do teatro português</em>, 5ª ed. Mem Martins: Publicações Europa-América.<br />RIBAS, Tomaz (1993). <em>O Teatro da Trindade: 125 anos de vida.</em> Porto: Lello &amp; Irmão.<br />SOUSA BASTOS, António (1908). <em>Diccionário de Theatro Portuguez.</em> Lisboa: Imp. Libanio da Silva (há uma edição fac-similada de 1994. Coimbra: Minerva), pp. 372-373.<br />___ (1947). <em>Recordações de Teatro.</em> Lisboa: Editorial Século.</p> <p><strong>Sitiografia</strong><br /><a title="INATEL" href="http://www.inatel.pt/content.aspx?menuid=516" target="_blank">http://www.inatel.pt/content.aspx?menuid=516</a><br /><a title="INATEL" href="http://www.inatel.pt/content.aspx?menuid=117" target="_blank">http://www.inatel.pt/content.aspx?menuid=117</a><br /><a title="INATEL" href="http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=7176" target="_blank">http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=7176</a></p> <p>Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:<br /><a title="CETBase" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=80" target="_blank">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=80</a></p> <p>Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:<br /><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank">http://opsis.fl.ul.pt/</a></p> <p><br /><strong>Joana d’Eça Leal/Centro de Estudos de Teatro</strong></p> <p>(Largo da Trindade, 7-A, 1200-466 Lisboa)</p> <p><br />O Teatro da Trindade, inaugurado em 1867, é um dos mais antigos teatros lisboetas ainda em atividade. Situa-se na zona da Trindade, entre o Chiado e o Bairro Alto, que já na época se assumia como centro cultural e de sociabilização.</p> <table style="width: 217px; height: 193px;" border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro da Trindade (entrada, Rua Nova da Trindade), 2012, fot. Joana d’Eça Leal/CET" href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_trindade_01.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_trindade_01.png" alt="Teatro da Trindade" width="200" height="149" /></a></td> </tr> <tr> <td style="text-align: center; width: 10px; background-color: #d7e5f4;"> </td> <td style="text-align: center; background-color: #d7e5f4; width: 200px;"><span style="color: #008000;">Teatro da Trindade (entrada, Rua Nova da Trindade), 2012, fot. Joana d’Eça Leal/CET</span></td> </tr> </tbody> </table> <p>A iniciativa da sua construção partiu do empresário Francisco Palha que, com o apoio de financiadores e o desenho do arquiteto Miguel Evaristo, construiu o teatro mais cómodo, elegante e tecnicamente avançado da capital no seu tempo. A par dos espetáculos no Teatro, o Trindade programou também concertos, bailes, recitais e palestras no Salão. Em 1921, adquirido pela Anglo-Portuguese Telephone Company, o Salão foi demolido e todo o recheio do teatro vendido, regressando à sua vocação teatral em 1924, pela mão do empresário José Loureiro. Nele foram apresentados espetáculos de teatro declamado e teatro musicado, fantasias, óperas e dramas, mas foi com a opereta que fez mais sucesso e atraiu um público fiel. Acolheu companhias fulcrais da cultura portuguesa, como a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, a Companhia Portuguesa de Ópera, Os Comediantes de Lisboa ou o Teatro Nacional Popular, além das sessões de animatógrafo e cinema, que ajudaram a ultrapassar períodos de crise financeira. Em 1962 foi adquirido pela FNAT [Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho], atual INATEL [Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores], que continua a assegurar a gestão do teatro.</p> <p><span style="font-size: 11px;">Foi Francisco Palha de Faria Lacerda (1824-1890), empresário teatral, ex-comissário régio no Teatro Nacional de D. Maria II, quem idealizou a criação de um teatro na zona da Trindade. O Chiado já se havia estabelecido como o coração da sociedade lisboeta, e a cena teatral encontrava-se em crescimento – sinal disso havia sido a inauguração do Teatro de S. Carlos (em 1793) e do Teatro de D. Maria e do Ginásio (ambos em 1846). A ideia ganhou forma com a criação, em 1866, de uma sociedade para a construção do Teatro da Trindade: uma sociedade de ações com o capital de 80 contos, cujos principais acionistas eram o Duque de Palmela, Fortunato e Francisco Chamiço, Frederico Biester, Ribeiro da Cunha, António Tomás Pacheco, Oliveira Machado, entre outros. O local escolhido foi o terreno do antigo Palácio dos Condes de Alva, onde em 1735 o empresário italiano Alessandro Paghetti havia criado a Academia da Trindade, “o primeiro teatro popular de Ópera” (ARAÚJO 1993: 66), que funcionou apenas três anos, tendo sido encerrada em 1738. Após o terramoto de 1755 o local albergava apenas restos do palácio e alguns casebres, que em 1865 deram lugar às obras de construção do teatro, sob a direção do arquiteto Miguel Evaristo de Lima Pinto.</span></p> <p>O Teatro da Trindade foi construído com uma enorme atenção ao pormenor, sendo o conforto do público um dos pontos mais valorizados. Segundo Norberto de Araújo, “o teatro, incluindo edifício, salões e materiais, custou 120 contos” (ARAÚJO 1993: 66). A sala era equipada com um sistema de ventilação e a distribuição dos assentos procurava corresponder à hierarquia social: cadeiras de mogno na primeira plateia (custavam 500 reis), bancadas com costas de palhinha na segunda plateia (400 reis) e bancos simples na geral (200 reis). Um lugar no balcão custava 600 reis e nas galerias 100 reis. Duas grandes novidades eram os ganchos nas costas das cadeiras (estas, “de assento movediço”) para pendurar chapéus, “inovação adorável” (MACHADO 1991: 151), e as frisas com reixas de madeira, pintadas de dourado, para salvaguardar os espectadores que não quisessem ser observados – esta última com pouco efeito prático, uma vez que o público se acumulava à saída das frisas para ver os espectadores que de lá saíam. A própria plateia era elevável, possibilitando o nivelamento com o palco para a realização de outro tipo de eventos. O teto, pintado por Jorge Procópio (discípulo de Cinatti e Rambois), segurava um enorme lustre e era adornado por medalhões com retratos de grandes figuras do teatro português (Gil Vicente, Sá de Miranda, Correia Garção, Almeida Garrett, Bocage, António José da Silva, entre outros). Esta homenagem também se fazia na fachada virada para o Largo da Trindade, com bustos de Gil Vicente, António Ferreira, Damião de Góis e Sá de Miranda. Era um teatro “vistoso, elegante”, no qual “se pensou em tudo” (MACHADO 1991: 151), que teve lugar de destaque em varias publicações, desde os folhetins de Júlio César Machado – por exemplo, todo o folhetim d’<em>A Revolução de Setembro</em> de 05-12-1867 foi dedicado à inauguração, e tanto os vários espetáculos como os atores da companhia eram comentados regularmente – aos romances de Eça de Queiroz – a apresentação de <em>O Barba Azul</em>, incluindo o teatro, o público e o ambiente estão presentes n’<em>A tragédia da Rua das Flores</em>, como uma referência da sociedade lisboeta de então.</p> <p>O Salão da Trindade, anexo ao Teatro, foi o primeiro a inaugurar, abrindo as portas ao público no Carnaval de 1867 com uma série de bailes de máscaras. Destinado a bailes, concertos e conferências, tinha cerca de 200m² e uma galeria sobre colunas à volta do espaço, assim como um anfiteatro para a orquestra e, mais tarde, um proscénio.</p> <p>A inauguração do Teatro teve lugar a 30 de novembro de 1867, com os espetáculos<em> A mãe dos pobres</em>, drama de Ernesto Biester, e a comédia espanhola <em>O xerez da Viscondessa</em>, traduzida e adaptada por Francisco Palha. O empresário esforçou-se por reunir um elenco de qualidade e, como tal, a primeira companhia do Trindade era composta pelos artistas Delfina do Espírito Santo, Rosa Damasceno, Emília Adelaide, Emília dos Anjos, Gertrudes Carneiro, Lucinda da Silva, Tasso, Izidoro, Eduardo Brazão, Leoni, Bayard, Lima, Queiroz, entre outros. Nos meses que se seguiram, de consolidação de elenco e de equipa, foi assinalável o êxito do espetáculo <em>As pupilas do sr. Reitor</em>, adaptação por Ernesto Biester do romance de Júlio Dinis, onde brilharam Rosa Damasceno e Brazão. Mas foi com a aposta na opereta que Francisco Palha encontrou a verdadeira fonte de sucessos do Trindade. <em>O Barba Azul</em>, estreado a 13 de junho de 1868, ficou em cena durante meses e revelou o talento de Ana Pereira, que nos anos seguintes ali brilhou, “fadada para as cenas de capricho, de gracejo, e de fantasia [...], a actriz do repertório de Offenbach” (MACHADO 1991: 164). De facto, até ao final do século XIX, o público teatral sabia exatamente onde ir consoante o género de espetáculo procurado: a ópera no S. Carlos, os dramas e tragédias no D. Maria, as comédias no Ginásio e, no Trindade, as tão famosas operetas, onde o repertório de Offenbach fez furor.</p> <p>Com a morte de Francisco Palha, em janeiro de 1890, a direção do teatro passou por várias mãos até 1893, ano em que o Trindade foi vendido a António Serrão Franco e este cedeu a exploração do mesmo a uma sociedade artística que, por sua vez, nomeou Sousa Bastos para a direção em 1894. Até 1900, e sob empresas com nomes e sócios diferentes, Sousa Bastos dirigiu o Trindade no que foi “um dos mais brilhantes, significativos e gloriosos períodos da sua história” (RIBAS 1993: 30-31). A companhia residente incluía nomes como Augusto Rosa, Ana Pereira, Mercedes Blasco, Palmira Bastos, Joaquim de Almeida, Lucinda do Carmo, Ferreira da Silva, etc. Em 1901, a direção da empresa e da companhia recaiu sobre o empresário Afonso Taveira, a quem coube guiar o Trindade através de um período de enorme instabilidade política, social e económica – o regicídio e consequente instauração da República e, mais tarde, a Primeira Guerra Mundial – até à sua morte, em 1916. Foram várias as companhias, portuguesas e estrangeiras, que passaram pelo Trindade nesta época sem deixar marca, como a de Italia Vitaliani em 1903 ou a (tentada) companhia lírica portuguesa em 1908. A estabilidade voltou em 1919, com uma empresa de exploração liderada por Augusto Pina, que apresentava uma companhia com Ângela Pinto, Emília de Oliveira, Etelvina Serra, Carlos Santos, Ferreira da Silva, entre outros. Este elenco fez sucesso nas encenações de António Pinheiro e assegurou, segundo Matos Sequeira, uma “temporada brilhante” (<em>apud</em> RIBAS 1993: 41). </p> <table style="width: 222px; height: 193px;" border="0" align="left"> <tbody> <tr> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro da Trindade (fachada, Largo da Trindade), 2012, fot. Joana d’Eça Leal/CET" href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_trindade_02.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_trindade_02.png" alt="teatro trindade 02" width="200" height="149" /></a></td> <td style="width: 10px;"> </td> </tr> <tr> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="color: #008000;">Teatro da Trindade (fachada, Largo da Trindade), 2012, fot. Joana d’Eça Leal/CET</span></td> <td style="text-align: center; width: 10px; background-color: #d7e5f4;"><span style="color: #008000;"> </span></td> </tr> </tbody> </table> <p>A 22 de janeiro de 1921 o proprietário Serrão Franco vendeu o Teatro da Trindade, por 350 contos, à Anglo-Portuguese Telephone Company, que ali instalaria os seus escritórios. O Salão da Trindade, palco de eventos como a palestra de Serpa Pinto sobre as colónias (1879), a apresentação do fonógrafo de Edison (1879), a conferência dos exploradores Capelo e Ivens, à qual assistiu a Família Real (1880), foi totalmente demolido. Uns meses depois, a 18 de outubro, Luís Nobre presidiu a um leilão de todo o recheio do teatro, incluindo cadeiras, móveis, adereços, arquivos, etc. A ideia de terminar assim o Teatro da Trindade causou indignação e “uma montanha de lamentações saudosas” (Matos Sequeira,<em> apud</em> RIBAS 1993: 42). Sabendo que a nova empresa proprietária necessitaria apenas do espaço do Salão e anexos, José Loureiro propôs a aquisição da parte do teatro, que foi aceite. Como tal, em 1923 o Teatro da Trindade foi vendido a José Loureiro pela quantia de dez mil libras esterlinas e foram iniciadas as obras de remodelação do interior do edifício, dirigidas pelo eng. Alexandre Soares – data desta altura o famoso frontão com a Trindade, da autoria de Leopoldo de Almeida, que ainda hoje encima o proscénio.</p> <p>Alguns meses depois, a 5 de fevereiro de 1924, o Teatro da Trindade teve nova inauguração, com o espetáculo <em>Fogo sagrado</em>, de Eduardo Schwalbach, pela companhia de Aura Abranches e Pinto Grijó. A dimensão do palco permitiu grandes produções que noutros espaços seriam complicadas ou mesmo impossíveis. Isto verificou-se com espetáculos de revista, que já antes do interregno tinham alternado com as operetas. Com as novas condições, as grandes montagens que eram impensáveis no Parque Mayer tinham lugar no Trindade e, a pouco e pouco, foram tomando o lugar das operetas (género já em declínio), dividindo os cartazes com o teatro declamado. Foram marcantes as revistas <em>Pó de Maio</em> (1929), de Eva Stachino, uma luxuosa montagem onde brilharam Vasco Santana e Beatriz Costa, e <em>Arraial</em> (1933), com António Silva, Maria das Neves e Costinha. Nas décadas seguintes o Trindade foi palco de companhias centrais do teatro português, como a de Lucília Simões e Erico Braga em 1926-27 ou a Rey Colaço-Robles Monteiro em 1928-29. Nestes anos da exploração de José Loureiro, embora com grandes êxitos de bilheteira, viveram-se alguns períodos difíceis em termos financeiros. Para fazer frente às crises, foi instalado equipamento de cinema e, a partir de 1938, o Trindade passou a realizar curtas temporadas cinematográficas, estreando <em>A Rosa do adro</em>, de Chianca de Garcia, com Adelina Abranches e Maria Lalande.</p> <p>Dois anos depois, em 1940, outro projeto teve estreia no Trindade: os Bailados Portugueses Verde Gaio, companhia de dança impulsionada por António Ferro, na altura Diretor do Secretariado Nacional da Informação, Cultura e Turismo. A reação do público foi fraca, sobretudo em comparação com o sucesso que tiveram, pouco tempo depois, Os Comediantes de Lisboa, companhia dos irmãos Francisco Ribeiro (Ribeirinho) e António Lopes Ribeiro. Estiveram no Trindade entre 1944 e 1947, apresentando temporadas brilhantes apenas equiparadas, alguns anos depois, pelo Teatro d’Arte de Lisboa (em 1955-56) e o Teatro Nacional Popular, entre 1957 e 1960 – este último responsável, a 18 de abril de 1959, pela primeira encenação de Beckett em Portugal, com<em> À espera de Godot.</em> Durante estes anos, o percurso do Teatro da Trindade foi intermitente, consequência, por um lado, do movimento dos grupos experimentais, em crescimento, cujas apresentações teatrais eram feitas em espaços periféricos ou improvisados, e, por outro lado, da ação castradora da censura, que limitava muito as companhias de repertório e de teatro declamado. Todas estas evoluções sociais e económicas fizeram com que o Trindade passasse a ser o palco de companhias já formadas que ali faziam temporadas curtas.</p> <p>Em 1962 o Teatro da Trindade mudou de novo de mãos. Os herdeiros de José Loureiro venderam-no, por 8000 contos, à FNAT, atualmente designada INATEL. Sofreu novas obras de remodelação em 1967 e, embora com novos equipamentos técnicos, a atenção recaiu sobre a decoração, coordenada por Maria José Salavisa – a sala, antigamente em tons de vermelho e dourado, vestiu-se de dourado e azul. O novo Trindade, com novas cores, acolheu a Companhia Portuguesa de Ópera e todas as suas produções até à sua extinção, em 1975. Pelo meio, um pequeno período de temporadas partilhadas com a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro (entre 1970 e 1974), que havia sido desalojada do Nacional pelo incêndio em 1964 e que passara, entretanto, pelo Teatro Avenida e pelo Teatro Capitólio antes de se apresentar no Trindade. O 25 de Abril trouxe de novo ao Teatro da Trindade a variedade de espetáculos e companhias, com apresentações de ópera, teatro profissional e amador, cinema, bailados, operetas, a par das conferências e exposições.</p> <p>Uma nova remodelação, desta vez profunda, teve lugar entre 1991 e 1992, com obras no telhado, na fachada, no átrio, na sala de espetáculos, no palco, no <em>foyer</em>, nos camarins, nas oficinas – no fundo, em todo o edifício, procurando torná-lo mais funcional e adequado às novas exigências de um teatro lisboeta daquela dimensão: o estúdio de ensaios foi transformado na Sala-Estúdio, destinada à apresentação de teatro experimental; o bar foi ampliado, possibilitando a realização de eventos e pequenas apresentações; novas instalações de luz, som e canalização; assim como novas instalações para os serviços administrativos.</p> <p> </p> <p><strong>Bibliografia<br /></strong>ARAÚJO, Norberto de (1993). <em>Peregrinações em Lisboa</em>, livro VI, 2ª ed. Lisboa: Vega.<br />BASTOS, Glória &amp; VASCONCELOS, Ana Isabel P. Teixeira (2004). <em>O Teatro em Lisboa no tempo da Primeira República</em>. Lisboa: IPM/Museu Nacional do Teatro.<br />FERREIRA, Licínia Rodrigues (2011). <em>Júlio César Machado cronista de teatro: Os folhetins d’A Revolução de Setembro e do Diário de Notícias</em>. Texto policopiado: dissertação de Mestrado em Estudos de Teatro apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.<br />MACHADO, Júlio César (1991). <em>Os teatros de Lisboa</em>, reedição do original de 1875. Lisboa: Editorial Notícias.<br />MAGALHÃES, Paula (2007). <em>Os dias alegres do Ginásio: Memórias de um teatro de comédia.</em> Dissertação de Mestrado em Estudos de Teatro apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (texto policopiado).<br />MATOS SEQUEIRA, Gustavo de (1967). <em>O Carmo e a Trindade</em>, vol. III, 2ª ed. Lisboa: Publicações Culturais da Câmara Municipal de Lisboa.<br />REBELLO, Luiz Francisco (2000). <em>Breve história do teatro português</em>, 5ª ed. Mem Martins: Publicações Europa-América.<br />RIBAS, Tomaz (1993). <em>O Teatro da Trindade: 125 anos de vida.</em> Porto: Lello &amp; Irmão.<br />SOUSA BASTOS, António (1908). <em>Diccionário de Theatro Portuguez.</em> Lisboa: Imp. Libanio da Silva (há uma edição fac-similada de 1994. Coimbra: Minerva), pp. 372-373.<br />___ (1947). <em>Recordações de Teatro.</em> Lisboa: Editorial Século.</p> <p><strong>Sitiografia</strong><br /><a title="INATEL" href="http://www.inatel.pt/content.aspx?menuid=516" target="_blank">http://www.inatel.pt/content.aspx?menuid=516</a><br /><a title="INATEL" href="http://www.inatel.pt/content.aspx?menuid=117" target="_blank">http://www.inatel.pt/content.aspx?menuid=117</a><br /><a title="INATEL" href="http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=7176" target="_blank">http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=7176</a></p> <p>Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:<br /><a title="CETBase" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=80" target="_blank">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=80</a></p> <p>Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:<br /><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank">http://opsis.fl.ul.pt/</a></p> <p><br /><strong>Joana d’Eça Leal/Centro de Estudos de Teatro</strong></p> Teatro Garcia de Resende 2014-04-07T12:39:51+00:00 2014-04-07T12:39:51+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos/teatro-garcia-de-resende-dp10.html Catarina Isabel Lopes catarina.lopes@camoes.mne.pt <p>(Praça Joaquim António de Aguiar – 7000-510 Évora, Portugal)</p> <p>O Teatro Garcia de Resende, assim denominado como homenagem ao poeta eborense do Renascimento, foi construído entre os anos de 1881 e 1890 e inaugurado a 1 de junho de 1892, pela companhia Rosas &amp; Brazão, com <em>O íntimo</em> de Eduardo Schwalbach.</p> <table border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro Garcia de Resende, 2012, fot. Eunice Azevedo [CET]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_garcia_de_resende_01.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_garcia_de_resende_01.png" alt="Teatro Garcia de Resende" width="200" height="133" /></a></td> </tr> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="color: #008000;">Teatro Garcia de Resende, 2012, fot. Eunice Azevedo [CET].</span></td> </tr> </tbody> </table> <p>A sua construção, marcada pela escassez de fundos, foi promovida pela Companhia Eborense Fundadora do Teatro Garcia de Resende, em especial por Ramalho Diniz Perdigão, e teve como responsável o engenheiro civil Adriano da Silva Monteiro, que desenhou o edifício em estilo neoclássico, fortemente influenciado pelos teatros italianos do séc. XVIII, bem como pelo Teatro de São Carlos, em Lisboa. O declínio do TGR acentuou-se durante o Estado Novo, tendo ficado praticamente ao abandono até que, em 1969, foram realizadas obras que alteraram radicalmente o seu aspeto exterior. Reabilitado após a revolução de Abril, o TGR é, desde ‘75, a casa do CENDREV (Centro Dramático de Évora, que no seu início foi Centro Cultural de Évora), instituição fulcral no processo de descentralização do teatro português.</p> <p>Antes do aparecimento do plano de construção do TGR como hoje o conhecemos houve, segundo Angélica Fernandes de Barahona, um projeto de construção de um novo teatro “por [ser] velho e deficiente o antigo” (SILVA 1891: 15). Apesar de o projeto ter avançado com a escolha do terreno, a planta e o orçamento da construção, a partida do Inspetor da Fazenda, seu principal impulsionador – João Ferreira Alves –, deitou por terra a ideia da construção de um novo teatro no centro da cidade de Évora.</p> <p>Todavia, em 1880, alguns sócios do Círculo Eborense formaram – com vista à construção de um teatro – uma sociedade, denominada Companhia Eborense Fundadora do Teatro Garcia de Resende, contando com centenas de acionistas, incluindo José Maria Ramalho Diniz Perdigão, e um capital social de “vinte contos de réis” (BANDEIRA 2007: 82). O projeto visava a construção, num terreno “na cêrca do demolido convento de S. Domingos” (SILVA 1981: 11), daquele que viria a ser o Teatro Garcia de Resende.</p> <p>O terreno, com cerca de 3 mil metros quadrados, foi cedido, “pelo fôro anual de 15$000 réis” (SOUSA BASTOS 1898: 229) pelo Conde da Costa, e procedeu-se ainda à compra de uma casa a “Luiz Valente Pereira Rosa pela quantia de 240$000 réis” (ANON. 1892: 203). A escolha do terreno foi feita por uma comissão composta especialmente para o efeito, também responsável pela direção da obra e aprovação da planta, elaborada por Adriano Augusto da Silva Monteiro, o engenheiro civil do projeto.</p> <p>As obras de construção do TGR, promovidas, em parte, para compensar a falta de emprego que se fazia sentir na região (empregou 1995 operários), tiveram início no dia 16 de abril de 1881 e decorreram a bom ritmo até ao final desse ano, altura em que os fundos começaram a escassear devido à magnitude da obra. Ramalho Diniz Perdigão, um abastado proprietário que assegurou cerca de 90% do capital da sociedade, tentou então uma emissão de novos títulos para recapitalizar a sociedade, mas sem grande êxito. Quando faleceu – em 1884 – estava já o edifício de pé, faltando apenas os acabamentos interiores, bem como a compra e montagem de equipamento, mas as dificuldades financeiras obrigaram à interrupção da obra.</p> <p>Só em 1888, após o casamento da viúva de Ramalho Perdigão com outro abastado proprietário, Francisco Eduardo de Barahona, as obras foram retomadas, tendo sido escolhidos para a realização dos acabamentos do TGR alguns dos melhores artistas do país: Manini encarregou-se da pintura dos cenários; António Ramalho e João Vaz – ambos pintores do Grupo do Leão – realizaram a decoração da sala; Leandro Braga, entalhador, e o estucador Domingos Meira asseguraram a ornamentação dos interiores do edifício. A maquinaria de cena – que ainda hoje se conserva operacional, sendo um ótimo exemplo de maquinaria barroca (FARIA 1992: 196) – ficou a cargo de João Henriques, então mestre do Teatro de São Carlos.</p> <p>A decoração do <em>foyer</em>, sala de espetáculos, salão nobre e alguns camarotes suscitou reações diversas: Sousa Bastos garante-nos, não só que “o theatro Garcia de Rezende pode considerar-se dos melhores de Portugal”, como também que “nenhum se lhe avantaja no gosto das suas decorações” (SOUSA BASTOS 1898: 212); enquanto Fialho de Almeida, bastante crítico em relação ao trabalho dos pintores, afirma que a falta de gosto e de harmonia se deveu à “inexperiência d’artistas acordados decoradores por incidente” (ALMEIDA 1923: 242), embora teça rasgados elogios ao trabalho de Leandro Braga, como sendo “delicado, sóbrio, elegante” (<em>ibidem:</em> 247).</p> <table border="0" align="left"> <tbody> <tr> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Theatro ‘Garcia de Rezende’, em Évora, O Occidente, nº494, 11-09-1892, p. 204" href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_garcia_de_resende_02.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_garcia_de_resende_02.png" alt="Teatro Garcia de Resende" width="200" height="158" /></a></td> <td style="width: 10px;"> </td> </tr> <tr> <td style="text-align: center; background-color: #d7e5f4; width: 200px;"><span style="color: #008000;">Theatro ‘Garcia de Rezende’, em Évora, O Occidente, nº494, 11-09-1892, p. 204</span></td> <td style="width: 10px;"><span style="color: #008000;"> </span></td> </tr> </tbody> </table> <p>Dos vários elementos decorativos do teatro salienta-se o pano de boca que Fialho de Almeida nos descreve como “bem achado: por uma escadaria de terraço, que tem no fundo verduras e silhuetas d’edifícios eborenses, um pagem desce, em seu costume de côrte” (<em>ibidem</em>), representando o próprio Garcia de Resende na sua mocidade. Apesar de não haver certeza sobre a autoria do magnífico pano de boca, parece hoje consensual o reconhecimento do traço de Luigi Manini, embora Sousa Bastos o atribua a António Ramalho e João Vaz (SOUSA BASTOS 1898: 212).</p> <p>O aspeto exterior do edifício, de inspiração neoclássica, foi descrito por Fialho de Almeida como tendo a “configuração do piano de cauda, pesadona, que em Lisboa S. Carlos offerece ao desconsolo dos physionomistas de monumentos” (ALMEIDA 1923: 243), denunciando a influência do modelo dos teatros italianos de meados do séc. XVIII. A sua fachada austera, com poucos elementos decorativos, que leva o cronista a fazer o paralelo entre o teatro e um armazém (<em>ibidem</em>), sofreu alterações drásticas – nas obras de recuperação do edifício, em 1969 – que a descaracterizaram ainda mais, destruindo “irremediavelmente o jogo de ritmos e contrastes original” (CARNEIRO 2002: 895), que alimentava a já reduzida graça da fachada primitiva.</p> <p>A semelhança com o Teatro de S. Carlos é reforçada pela existência de um pórtico, composto por três arcadas frontais e duas laterais, que formam uma varanda ao nível do piso superior e que “continua a ser o ponto central da atenção, por aí se fazendo a entrada” (<em>ibidem</em>: 896), embora tenham sido adicionadas portas laterais à fachada principal, após as obras de 1969. O átrio retangular, ao qual se acede através do pórtico principal, permite o acesso à plateia por meio de uma grande escadaria bifurcada. No piso superior situa-se o Salão Nobre, “ornamentado no stylo chamado de Luiz XVI, em perfeito trabalho de estuque, representando mármores finos de diversas côres” (SILVA 1891: 14). O teto deste salão foi ornamentado com medalhões com os bustos de várias figuras marcantes do teatro português, como João Anastácio Rosa, Taborda, Garrett, Pinheiro Chagas e Lopes de Mendonça.</p> <p>Os restantes espaços laterais do edifício, “mais residuais do que propriamente dedicados a funções especificas e, tal como no [São Carlos], ocupados com actividades diversas, consoante as necessidades e interesses” (CARNEIRO 2002: 896), demonstravam a incapacidade do edifício para albergar companhias residentes, estando apenas preparado para receber companhias em digressão. Em 1998, um projeto de ampliação do TGR, da autoria dos arquitetos Fernando e Bernardo Távora – que nunca saiu do papel – propunha a construção de “um outro teatro complementar no eixo do já existente e que, embora articulado com o anterior, gozasse de total autonomia, aliando a simplicidade à eficácia e criando, assim, um complexo teatral versátil” (FERNANDES 2007: 112), que serviria de local de acolhimento não apenas de espetáculos, mas também de um centro de documentação e oficinas de formação.</p> <table border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro Garcia de Resende (Évora) boca de cena e pano, s/d, IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_garcia_de_resende_03.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_garcia_de_resende_03.png" alt="Teatro Garcia de Resende" width="200" height="267" /></a></td> </tr> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="color: #008000;">Teatro Garcia de Resende (Évora) boca de cena e pano, s/d, IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana.</span></td> </tr> </tbody> </table> <p>A sala de espetáculos – que ocupa pouco mais de 500 m2 da área total do edifício – tinha, inicialmente, capacidade para receber cerca de 700 espectadores, distribuídos pela plateia frisas, três ordens de camarotes e varandas centrais, em bancada. Com o restauro do interior do edifício, em 1998, o TGR viu a sua capacidade diminuída para 400 lugares, embora esta intervenção – merecedora do Prémio Europeu de Conservação do Património – tenha assegurado uma maior comodidade para os espectadores. A ornamentação do teto da sala de espetáculos, de António Ramalho, é descrita por Filomena Bandeira: “O tecto, de pintura figurativa, com musas esvoaçando sob fundo celestial premeia o conjunto. Em lugar do lustre, peça habitual nas salas de espectáculos, uma esfera armilar com o nome de Garcia de Resende inscrito” (BANDEIRA 2007: 87).</p> <p>Terminadas as obras, em dezembro de 1890, o TGR foi oferecido por Barahona ao município de Évora, mas o processo burocrático que envolveu a doação apenas permitiu a passagem oficial para edifício municipal em abril de 1892, o que implicou que o teatro abrisse as suas portas pela primeira vez apenas em junho desse mesmo ano. Na estreia o público eborense veio em peso assistir à representação – com iluminação a gás da sala – d’<em>O íntimo</em>, de Eduardo Schwalbach, pela companhia que então explorava o Nacional, a Rosas &amp; Brazão. Durante cinco dias esta mesma companhia apresentou vários outros espetáculos, entre eles <em>Amigo Fritz </em>e<em> Leonor Teles</em>.</p> <p>Apesar da estreia auspiciosa, o TGR não assegurava uma programação muito intensa, uma vez que as companhias de teatro em digressão receavam a apresentação de espetáculos naquela sala, visto que era comum a falta de afluência de público e a consequente perda financeira, o que parece confirmar a opinião de Sousa Bastos de que era uma infraestrutura exagerada para uma cidade como Évora (SOUSA BASTOS 1898: 212).</p> <p>Os anos 40 do séc. XX marcaram um período de relativa negligência do espaço: um violento vendaval, em 1941, arrancou a cobertura do edifício, e a cedência empresas de projeção fílmica acabaram por danificar ainda mais o interior do teatro, em especial os painéis do <em>foyer</em>, ao afixarem os cartazes promocionais dos filmes em exibição por cima das obras de João Vaz.</p> <p>Com a revolução de Abril chegou, para o TGR, uma nova vida e uma companhia residente: o CENDREV – elemento fulcral da descentralização do teatro português – que apresenta, desde 1975, uma programação dinâmica. O reconhecimento devido ao edifício surgiu, em 1996, com a sua classificação como imóvel de interesse patrimonial.</p> <p> </p> <p><strong>Bibliografia</strong></p> <p>ALMEIDA, Fialho de (1923). <em>Os Gatos: publicação mensal d’inquérito à vida portugueza</em>, 5º vol. Lisboa: Livraria Clássica Editora.</p> <p>Anon. (1892). “Theatro Garcia de Rezende” in <em>O Occidente</em>, nº 494, 11 de setembro, pp. 203-206.</p> <p>___(2001). <em>Riscos de um século: memórias da evolução urbana de Évora</em>. Évora: Câmara Municipal de Évora.</p> <p>BANDEIRA, Filomena (2007). “O Teatro Garcia de Resende: A pertinência de um inventário para avaliação de uma herança” in <em>Monumentos: Revista Semestral de Edifícios e Monumentos</em>, nº26, abril, pp. 76-91.</p> <p>CARNEIRO, Luís Soares (2002). <em>Teatros portugueses de raíz italiana</em>, vol. II. Dissertação de Doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (texto policopiado).</p> <p>FARIA, José Carlos et al. (1992). “A recuperação do Teatro Garcia de Resende” in <em>Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais</em>. Lisboa: ACARTE – FCG.</p> <p>FERNANDES, Maria et al. (2007). “Três projectos para o centro histórico: a biblioteca, o rossio e o novo teatro” in <em>Monumentos: Revista Semestral de Edifícios e Monumentos</em>, nº26, abril, pp. 112-115</p> <p>LIMA, Miguel (1991). “Um teatro à italiana” in<em> Adágio</em>, nº 3, março-abril pp. 46-51.</p> <p>SÁ, José Pinto de (1998). “O novo brilho do velho ‘Garcia’” in <em>Público</em>, 23 de outubro, p.54.</p> <p>SILVA, D. Bruno da (1891). <em>À posteridade… Esboços biográficos dos excellentíssimos esposos Francisco Eduardo de Barahona Fragoso e D. Ignácia Angélica Fernandes de Barahona.</em> Lisboa: Typographia Castro Irmão</p> <p>SOUSA BASTOS, António (1898). <em>Carteira do artista</em>. Lisboa: Antiga Casa Bertrand.</p> <p>___ (1908). <em>Dicionário de teatro português</em>. Lisboa: Imp. Libânia da Silva (há uma edição fac-similada de 1994, Coimbra: Minerva).</p> <p> </p> <p><strong>Sítiografia</strong></p> <p><a title="IGESPAR" href="http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/333712/" target="_blank">http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/333712/</a></p> <p><a title="CENDREV" href="http://www.cendrev.com/" target="_blank">http://www.cendrev.com/</a></p> <p> </p> <p>Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:</p> <p><a title="CETbase" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=59" target="_blank">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=59</a></p> <p>Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:</p> <p><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank">http://opsis.fl.ul.pt/</a></p> <p> </p> <p><span style="font-size: 10pt;"><strong>Eunice Azevedo/Centro de Estudos de Teatro</strong></span></p> <p>(Praça Joaquim António de Aguiar – 7000-510 Évora, Portugal)</p> <p>O Teatro Garcia de Resende, assim denominado como homenagem ao poeta eborense do Renascimento, foi construído entre os anos de 1881 e 1890 e inaugurado a 1 de junho de 1892, pela companhia Rosas &amp; Brazão, com <em>O íntimo</em> de Eduardo Schwalbach.</p> <table border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro Garcia de Resende, 2012, fot. Eunice Azevedo [CET]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_garcia_de_resende_01.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_garcia_de_resende_01.png" alt="Teatro Garcia de Resende" width="200" height="133" /></a></td> </tr> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="color: #008000;">Teatro Garcia de Resende, 2012, fot. Eunice Azevedo [CET].</span></td> </tr> </tbody> </table> <p>A sua construção, marcada pela escassez de fundos, foi promovida pela Companhia Eborense Fundadora do Teatro Garcia de Resende, em especial por Ramalho Diniz Perdigão, e teve como responsável o engenheiro civil Adriano da Silva Monteiro, que desenhou o edifício em estilo neoclássico, fortemente influenciado pelos teatros italianos do séc. XVIII, bem como pelo Teatro de São Carlos, em Lisboa. O declínio do TGR acentuou-se durante o Estado Novo, tendo ficado praticamente ao abandono até que, em 1969, foram realizadas obras que alteraram radicalmente o seu aspeto exterior. Reabilitado após a revolução de Abril, o TGR é, desde ‘75, a casa do CENDREV (Centro Dramático de Évora, que no seu início foi Centro Cultural de Évora), instituição fulcral no processo de descentralização do teatro português.</p> <p>Antes do aparecimento do plano de construção do TGR como hoje o conhecemos houve, segundo Angélica Fernandes de Barahona, um projeto de construção de um novo teatro “por [ser] velho e deficiente o antigo” (SILVA 1891: 15). Apesar de o projeto ter avançado com a escolha do terreno, a planta e o orçamento da construção, a partida do Inspetor da Fazenda, seu principal impulsionador – João Ferreira Alves –, deitou por terra a ideia da construção de um novo teatro no centro da cidade de Évora.</p> <p>Todavia, em 1880, alguns sócios do Círculo Eborense formaram – com vista à construção de um teatro – uma sociedade, denominada Companhia Eborense Fundadora do Teatro Garcia de Resende, contando com centenas de acionistas, incluindo José Maria Ramalho Diniz Perdigão, e um capital social de “vinte contos de réis” (BANDEIRA 2007: 82). O projeto visava a construção, num terreno “na cêrca do demolido convento de S. Domingos” (SILVA 1981: 11), daquele que viria a ser o Teatro Garcia de Resende.</p> <p>O terreno, com cerca de 3 mil metros quadrados, foi cedido, “pelo fôro anual de 15$000 réis” (SOUSA BASTOS 1898: 229) pelo Conde da Costa, e procedeu-se ainda à compra de uma casa a “Luiz Valente Pereira Rosa pela quantia de 240$000 réis” (ANON. 1892: 203). A escolha do terreno foi feita por uma comissão composta especialmente para o efeito, também responsável pela direção da obra e aprovação da planta, elaborada por Adriano Augusto da Silva Monteiro, o engenheiro civil do projeto.</p> <p>As obras de construção do TGR, promovidas, em parte, para compensar a falta de emprego que se fazia sentir na região (empregou 1995 operários), tiveram início no dia 16 de abril de 1881 e decorreram a bom ritmo até ao final desse ano, altura em que os fundos começaram a escassear devido à magnitude da obra. Ramalho Diniz Perdigão, um abastado proprietário que assegurou cerca de 90% do capital da sociedade, tentou então uma emissão de novos títulos para recapitalizar a sociedade, mas sem grande êxito. Quando faleceu – em 1884 – estava já o edifício de pé, faltando apenas os acabamentos interiores, bem como a compra e montagem de equipamento, mas as dificuldades financeiras obrigaram à interrupção da obra.</p> <p>Só em 1888, após o casamento da viúva de Ramalho Perdigão com outro abastado proprietário, Francisco Eduardo de Barahona, as obras foram retomadas, tendo sido escolhidos para a realização dos acabamentos do TGR alguns dos melhores artistas do país: Manini encarregou-se da pintura dos cenários; António Ramalho e João Vaz – ambos pintores do Grupo do Leão – realizaram a decoração da sala; Leandro Braga, entalhador, e o estucador Domingos Meira asseguraram a ornamentação dos interiores do edifício. A maquinaria de cena – que ainda hoje se conserva operacional, sendo um ótimo exemplo de maquinaria barroca (FARIA 1992: 196) – ficou a cargo de João Henriques, então mestre do Teatro de São Carlos.</p> <p>A decoração do <em>foyer</em>, sala de espetáculos, salão nobre e alguns camarotes suscitou reações diversas: Sousa Bastos garante-nos, não só que “o theatro Garcia de Rezende pode considerar-se dos melhores de Portugal”, como também que “nenhum se lhe avantaja no gosto das suas decorações” (SOUSA BASTOS 1898: 212); enquanto Fialho de Almeida, bastante crítico em relação ao trabalho dos pintores, afirma que a falta de gosto e de harmonia se deveu à “inexperiência d’artistas acordados decoradores por incidente” (ALMEIDA 1923: 242), embora teça rasgados elogios ao trabalho de Leandro Braga, como sendo “delicado, sóbrio, elegante” (<em>ibidem:</em> 247).</p> <table border="0" align="left"> <tbody> <tr> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Theatro ‘Garcia de Rezende’, em Évora, O Occidente, nº494, 11-09-1892, p. 204" href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_garcia_de_resende_02.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_garcia_de_resende_02.png" alt="Teatro Garcia de Resende" width="200" height="158" /></a></td> <td style="width: 10px;"> </td> </tr> <tr> <td style="text-align: center; background-color: #d7e5f4; width: 200px;"><span style="color: #008000;">Theatro ‘Garcia de Rezende’, em Évora, O Occidente, nº494, 11-09-1892, p. 204</span></td> <td style="width: 10px;"><span style="color: #008000;"> </span></td> </tr> </tbody> </table> <p>Dos vários elementos decorativos do teatro salienta-se o pano de boca que Fialho de Almeida nos descreve como “bem achado: por uma escadaria de terraço, que tem no fundo verduras e silhuetas d’edifícios eborenses, um pagem desce, em seu costume de côrte” (<em>ibidem</em>), representando o próprio Garcia de Resende na sua mocidade. Apesar de não haver certeza sobre a autoria do magnífico pano de boca, parece hoje consensual o reconhecimento do traço de Luigi Manini, embora Sousa Bastos o atribua a António Ramalho e João Vaz (SOUSA BASTOS 1898: 212).</p> <p>O aspeto exterior do edifício, de inspiração neoclássica, foi descrito por Fialho de Almeida como tendo a “configuração do piano de cauda, pesadona, que em Lisboa S. Carlos offerece ao desconsolo dos physionomistas de monumentos” (ALMEIDA 1923: 243), denunciando a influência do modelo dos teatros italianos de meados do séc. XVIII. A sua fachada austera, com poucos elementos decorativos, que leva o cronista a fazer o paralelo entre o teatro e um armazém (<em>ibidem</em>), sofreu alterações drásticas – nas obras de recuperação do edifício, em 1969 – que a descaracterizaram ainda mais, destruindo “irremediavelmente o jogo de ritmos e contrastes original” (CARNEIRO 2002: 895), que alimentava a já reduzida graça da fachada primitiva.</p> <p>A semelhança com o Teatro de S. Carlos é reforçada pela existência de um pórtico, composto por três arcadas frontais e duas laterais, que formam uma varanda ao nível do piso superior e que “continua a ser o ponto central da atenção, por aí se fazendo a entrada” (<em>ibidem</em>: 896), embora tenham sido adicionadas portas laterais à fachada principal, após as obras de 1969. O átrio retangular, ao qual se acede através do pórtico principal, permite o acesso à plateia por meio de uma grande escadaria bifurcada. No piso superior situa-se o Salão Nobre, “ornamentado no stylo chamado de Luiz XVI, em perfeito trabalho de estuque, representando mármores finos de diversas côres” (SILVA 1891: 14). O teto deste salão foi ornamentado com medalhões com os bustos de várias figuras marcantes do teatro português, como João Anastácio Rosa, Taborda, Garrett, Pinheiro Chagas e Lopes de Mendonça.</p> <p>Os restantes espaços laterais do edifício, “mais residuais do que propriamente dedicados a funções especificas e, tal como no [São Carlos], ocupados com actividades diversas, consoante as necessidades e interesses” (CARNEIRO 2002: 896), demonstravam a incapacidade do edifício para albergar companhias residentes, estando apenas preparado para receber companhias em digressão. Em 1998, um projeto de ampliação do TGR, da autoria dos arquitetos Fernando e Bernardo Távora – que nunca saiu do papel – propunha a construção de “um outro teatro complementar no eixo do já existente e que, embora articulado com o anterior, gozasse de total autonomia, aliando a simplicidade à eficácia e criando, assim, um complexo teatral versátil” (FERNANDES 2007: 112), que serviria de local de acolhimento não apenas de espetáculos, mas também de um centro de documentação e oficinas de formação.</p> <table border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro Garcia de Resende (Évora) boca de cena e pano, s/d, IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_garcia_de_resende_03.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_garcia_de_resende_03.png" alt="Teatro Garcia de Resende" width="200" height="267" /></a></td> </tr> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="color: #008000;">Teatro Garcia de Resende (Évora) boca de cena e pano, s/d, IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana.</span></td> </tr> </tbody> </table> <p>A sala de espetáculos – que ocupa pouco mais de 500 m2 da área total do edifício – tinha, inicialmente, capacidade para receber cerca de 700 espectadores, distribuídos pela plateia frisas, três ordens de camarotes e varandas centrais, em bancada. Com o restauro do interior do edifício, em 1998, o TGR viu a sua capacidade diminuída para 400 lugares, embora esta intervenção – merecedora do Prémio Europeu de Conservação do Património – tenha assegurado uma maior comodidade para os espectadores. A ornamentação do teto da sala de espetáculos, de António Ramalho, é descrita por Filomena Bandeira: “O tecto, de pintura figurativa, com musas esvoaçando sob fundo celestial premeia o conjunto. Em lugar do lustre, peça habitual nas salas de espectáculos, uma esfera armilar com o nome de Garcia de Resende inscrito” (BANDEIRA 2007: 87).</p> <p>Terminadas as obras, em dezembro de 1890, o TGR foi oferecido por Barahona ao município de Évora, mas o processo burocrático que envolveu a doação apenas permitiu a passagem oficial para edifício municipal em abril de 1892, o que implicou que o teatro abrisse as suas portas pela primeira vez apenas em junho desse mesmo ano. Na estreia o público eborense veio em peso assistir à representação – com iluminação a gás da sala – d’<em>O íntimo</em>, de Eduardo Schwalbach, pela companhia que então explorava o Nacional, a Rosas &amp; Brazão. Durante cinco dias esta mesma companhia apresentou vários outros espetáculos, entre eles <em>Amigo Fritz </em>e<em> Leonor Teles</em>.</p> <p>Apesar da estreia auspiciosa, o TGR não assegurava uma programação muito intensa, uma vez que as companhias de teatro em digressão receavam a apresentação de espetáculos naquela sala, visto que era comum a falta de afluência de público e a consequente perda financeira, o que parece confirmar a opinião de Sousa Bastos de que era uma infraestrutura exagerada para uma cidade como Évora (SOUSA BASTOS 1898: 212).</p> <p>Os anos 40 do séc. XX marcaram um período de relativa negligência do espaço: um violento vendaval, em 1941, arrancou a cobertura do edifício, e a cedência empresas de projeção fílmica acabaram por danificar ainda mais o interior do teatro, em especial os painéis do <em>foyer</em>, ao afixarem os cartazes promocionais dos filmes em exibição por cima das obras de João Vaz.</p> <p>Com a revolução de Abril chegou, para o TGR, uma nova vida e uma companhia residente: o CENDREV – elemento fulcral da descentralização do teatro português – que apresenta, desde 1975, uma programação dinâmica. O reconhecimento devido ao edifício surgiu, em 1996, com a sua classificação como imóvel de interesse patrimonial.</p> <p> </p> <p><strong>Bibliografia</strong></p> <p>ALMEIDA, Fialho de (1923). <em>Os Gatos: publicação mensal d’inquérito à vida portugueza</em>, 5º vol. Lisboa: Livraria Clássica Editora.</p> <p>Anon. (1892). “Theatro Garcia de Rezende” in <em>O Occidente</em>, nº 494, 11 de setembro, pp. 203-206.</p> <p>___(2001). <em>Riscos de um século: memórias da evolução urbana de Évora</em>. Évora: Câmara Municipal de Évora.</p> <p>BANDEIRA, Filomena (2007). “O Teatro Garcia de Resende: A pertinência de um inventário para avaliação de uma herança” in <em>Monumentos: Revista Semestral de Edifícios e Monumentos</em>, nº26, abril, pp. 76-91.</p> <p>CARNEIRO, Luís Soares (2002). <em>Teatros portugueses de raíz italiana</em>, vol. II. Dissertação de Doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (texto policopiado).</p> <p>FARIA, José Carlos et al. (1992). “A recuperação do Teatro Garcia de Resende” in <em>Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais</em>. Lisboa: ACARTE – FCG.</p> <p>FERNANDES, Maria et al. (2007). “Três projectos para o centro histórico: a biblioteca, o rossio e o novo teatro” in <em>Monumentos: Revista Semestral de Edifícios e Monumentos</em>, nº26, abril, pp. 112-115</p> <p>LIMA, Miguel (1991). “Um teatro à italiana” in<em> Adágio</em>, nº 3, março-abril pp. 46-51.</p> <p>SÁ, José Pinto de (1998). “O novo brilho do velho ‘Garcia’” in <em>Público</em>, 23 de outubro, p.54.</p> <p>SILVA, D. Bruno da (1891). <em>À posteridade… Esboços biográficos dos excellentíssimos esposos Francisco Eduardo de Barahona Fragoso e D. Ignácia Angélica Fernandes de Barahona.</em> Lisboa: Typographia Castro Irmão</p> <p>SOUSA BASTOS, António (1898). <em>Carteira do artista</em>. Lisboa: Antiga Casa Bertrand.</p> <p>___ (1908). <em>Dicionário de teatro português</em>. Lisboa: Imp. Libânia da Silva (há uma edição fac-similada de 1994, Coimbra: Minerva).</p> <p> </p> <p><strong>Sítiografia</strong></p> <p><a title="IGESPAR" href="http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/333712/" target="_blank">http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/333712/</a></p> <p><a title="CENDREV" href="http://www.cendrev.com/" target="_blank">http://www.cendrev.com/</a></p> <p> </p> <p>Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:</p> <p><a title="CETbase" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=59" target="_blank">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=59</a></p> <p>Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:</p> <p><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank">http://opsis.fl.ul.pt/</a></p> <p> </p> <p><span style="font-size: 10pt;"><strong>Eunice Azevedo/Centro de Estudos de Teatro</strong></span></p> Teatro Variedades 2012-08-14T14:21:08+00:00 2012-08-14T14:21:08+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos/teatro-variedades-dp7.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p>(Parque Mayer – 1250 Lisboa, Portugal) (Parque Mayer – 1250 Lisboa, Portugal)</p> <p>Idealizado em 1922 para ser a segunda casa de espetáculos do Parque Mayer, em Lisboa, o Teatro Variedades começou a ser construído em 1924 com o traço de Urbano de Castro.</p> <table style="width: 200px;" border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro Variedades (fachada), 1961, fot. C. Madeira [cortesia do Museu Nacional do Teatro, cota: 57625]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_variedades.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_variedades.png" alt="Teatro Variedades" width="200" height="207" /></a></td> </tr> <tr> <td> </td> <td style="text-align: center; background-color: #d7e5f4;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Teatro Variedades (fachada), 1961, fot. C. Madeira [cortesia do Museu Nacional do Teatro, cota: 57625].</span></td> </tr> </tbody> </table> <p><span style="color: #333333;"> Foi inaugurado em 1926 com o espetáculo de revista <em>Pó de arroz</em>, assinado pelos “Troianos”, pseudónimo de uma parceria composta por Ernesto Rodrigues e Luís Galhardo, entre outros. Situado onde antes existira o lago dos jardins do palacete Mayer, apresentou espetáculos de revista e de teatro declamado, tendo sofrido também um incêndio, em 1966, à semelhança de outros edifícios do Parque. Com esporádicas apresentações ao longo dos anos noventa do séc. XX, abriu as suas portas pela última vez nessa mesma década. </span></p> <p><span style="color: #333333;">O Teatro Variedades, construído no Parque Mayer – com projeto de Urbano de Castro –, foi o segundo a ser edificado neste recinto, tendo sido inaugurado a 8 de julho de 1926, quando o primeiro teatro do Parque – Maria Vitória – apresentava a sua sexta revista. Foi com o espetáculo <em>Pó de arroz</em>, encenado por [Artur] Rosa Mateus, que esta casa abriu as portas ao público, apresentando no cartaz Vasco Santana como primeira atração e Augusto Costa (Costinha) como <em>compère</em>. Desde a sua inauguração, o Teatro Variedades foi regular na produção de espetáculos, apresentando uma média de cinco por ano até à década de sessenta, altura em que se registou uma visível quebra produtiva.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Neste teatro, no ano de 1931, celebrizaram-se êxitos da canção popular como o “Burrié”, da revista <em>O mexilhão</em>, interpretado por Beatriz Costa e “O cochicho”, da revista <em>Pim! Pam! Pum!</em>, protagonizado inicialmente por Maria das Neves, mas popularizado por Beatriz Costa. Nos anos sessenta Giuseppe Bastos e Vasco Morgado asseguraram em conjunto a exploração do Teatro Variedades, tendo então promovido uma série de renovações no seu interior.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Aqui se apresentaram artistas cómicos como Vasco Santana e Raul Solnado e atores e atrizes do teatro declamado como foi o caso de Eunice Muñoz, no espetáculo <em>Lições de matrimónio</em> (1965) de Leslie Stevens. Na mesma década e na revista <em>Zero, zero, zero, ordem para matar</em> (1966), José Viana interpretou o “Fado do cacilheiro”, tema que se tornou conhecido do grande público. Nesse mesmo ano o Variedades sofreu um incêndio quando estava em cena o espetáculo <em>Descalços no Parque</em>, com Irene Isidro no elenco.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Foi com a revista <em>Ó pá, pega na vassoura</em>, de 1974 – a primeira depois da revolução de Abril de 1974 – que o autor José Viana apresentou um texto de forte componente política, em que defendia a união das forças de esquerda e fazia um louvor aos intervenientes do 25 de Abril (PORTO/MENEZES 1985: 34).</span></p> <p><span style="color: #333333;">Na década de noventa, os empresários Hélder Freire Costa e Vasco Morgado Júnior investiram na renovação do interior deste teatro e foi a partir deste espaço que, em 1992, o encenador Filipe La Féria gravou para a RTP1 o programa semanal <em>Grande noite</em> – uma série de 26 episódios, com um leque de artistas convidados que se tinham distinguido nalguns dos espetáculos do Parque Mayer, para além de um elenco fixo que contava com a presença de atores mais jovens. A necessária recuperação deste teatro, várias vezes prometida, ainda não se concretizou.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span></p> <p><span style="color: #333333;">FRANCISCO, Rui / RAMOS, José (1992). “Mayer, o Parque Triste”, in AA.VV, <em>Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais: compilação das comunicações apresentadas no colóquio</em>. Lisboa: ACARTE/ Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 277- 288.</span></p> <p><span style="color: #333333;">NEGRÃO, Albano Zink (1965). <em>O Parque Mayer: cinquenta anos de vida</em>. Lisboa: Editorial Notícias.</span></p> <p><span style="color: #333333;">PORTO, Carlos / MENEZES, Salvato Teles (1985). <em>10 anos de teatro e cinema em Portugal : 1974-1984</em>. Lisboa: col. Nosso Mundo, ed. Caminho.</span></p> <p><span style="color: #333333;">REBELLO, Luiz Francisco (1984). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.I. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (1985). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.II. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">SANTOS, Vítor Pavão (1978). <em>A revista à portuguesa: uma história breve do teatro de revista</em>. Lisboa: O jornal.</span></p> <p><span style="color: #333333;">TRIGO, Jorge e REIS, Luciano (2004). <em>Parque Mayer, (1922/1952)</em>, vol.I. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2005). <em>Parque Mayer, (1953/1973)</em>, vol II. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2006). <em>Parque Mayer, (1974/1994)</em>, vol III. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;">Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:</span></p> <p><span style="text-decoration: underline; letter-spacing: 0px;"><a title="CETbase" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=66" target="_blank">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=66</a> </span></p> <p><span style="color: #333333;">Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:</span></p> <p><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank">http://opsis.fl.ul.pt/</a></p> <p><span style="color: #333333;"><strong> </strong></span></p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Andreia Brito Silva/Centro de Estudos de Teatro</strong></span> </p> <p>(Parque Mayer – 1250 Lisboa, Portugal) (Parque Mayer – 1250 Lisboa, Portugal)</p> <p>Idealizado em 1922 para ser a segunda casa de espetáculos do Parque Mayer, em Lisboa, o Teatro Variedades começou a ser construído em 1924 com o traço de Urbano de Castro.</p> <table style="width: 200px;" border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro Variedades (fachada), 1961, fot. C. Madeira [cortesia do Museu Nacional do Teatro, cota: 57625]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_variedades.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_variedades.png" alt="Teatro Variedades" width="200" height="207" /></a></td> </tr> <tr> <td> </td> <td style="text-align: center; background-color: #d7e5f4;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Teatro Variedades (fachada), 1961, fot. C. Madeira [cortesia do Museu Nacional do Teatro, cota: 57625].</span></td> </tr> </tbody> </table> <p><span style="color: #333333;"> Foi inaugurado em 1926 com o espetáculo de revista <em>Pó de arroz</em>, assinado pelos “Troianos”, pseudónimo de uma parceria composta por Ernesto Rodrigues e Luís Galhardo, entre outros. Situado onde antes existira o lago dos jardins do palacete Mayer, apresentou espetáculos de revista e de teatro declamado, tendo sofrido também um incêndio, em 1966, à semelhança de outros edifícios do Parque. Com esporádicas apresentações ao longo dos anos noventa do séc. XX, abriu as suas portas pela última vez nessa mesma década. </span></p> <p><span style="color: #333333;">O Teatro Variedades, construído no Parque Mayer – com projeto de Urbano de Castro –, foi o segundo a ser edificado neste recinto, tendo sido inaugurado a 8 de julho de 1926, quando o primeiro teatro do Parque – Maria Vitória – apresentava a sua sexta revista. Foi com o espetáculo <em>Pó de arroz</em>, encenado por [Artur] Rosa Mateus, que esta casa abriu as portas ao público, apresentando no cartaz Vasco Santana como primeira atração e Augusto Costa (Costinha) como <em>compère</em>. Desde a sua inauguração, o Teatro Variedades foi regular na produção de espetáculos, apresentando uma média de cinco por ano até à década de sessenta, altura em que se registou uma visível quebra produtiva.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Neste teatro, no ano de 1931, celebrizaram-se êxitos da canção popular como o “Burrié”, da revista <em>O mexilhão</em>, interpretado por Beatriz Costa e “O cochicho”, da revista <em>Pim! Pam! Pum!</em>, protagonizado inicialmente por Maria das Neves, mas popularizado por Beatriz Costa. Nos anos sessenta Giuseppe Bastos e Vasco Morgado asseguraram em conjunto a exploração do Teatro Variedades, tendo então promovido uma série de renovações no seu interior.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Aqui se apresentaram artistas cómicos como Vasco Santana e Raul Solnado e atores e atrizes do teatro declamado como foi o caso de Eunice Muñoz, no espetáculo <em>Lições de matrimónio</em> (1965) de Leslie Stevens. Na mesma década e na revista <em>Zero, zero, zero, ordem para matar</em> (1966), José Viana interpretou o “Fado do cacilheiro”, tema que se tornou conhecido do grande público. Nesse mesmo ano o Variedades sofreu um incêndio quando estava em cena o espetáculo <em>Descalços no Parque</em>, com Irene Isidro no elenco.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Foi com a revista <em>Ó pá, pega na vassoura</em>, de 1974 – a primeira depois da revolução de Abril de 1974 – que o autor José Viana apresentou um texto de forte componente política, em que defendia a união das forças de esquerda e fazia um louvor aos intervenientes do 25 de Abril (PORTO/MENEZES 1985: 34).</span></p> <p><span style="color: #333333;">Na década de noventa, os empresários Hélder Freire Costa e Vasco Morgado Júnior investiram na renovação do interior deste teatro e foi a partir deste espaço que, em 1992, o encenador Filipe La Féria gravou para a RTP1 o programa semanal <em>Grande noite</em> – uma série de 26 episódios, com um leque de artistas convidados que se tinham distinguido nalguns dos espetáculos do Parque Mayer, para além de um elenco fixo que contava com a presença de atores mais jovens. A necessária recuperação deste teatro, várias vezes prometida, ainda não se concretizou.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span></p> <p><span style="color: #333333;">FRANCISCO, Rui / RAMOS, José (1992). “Mayer, o Parque Triste”, in AA.VV, <em>Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais: compilação das comunicações apresentadas no colóquio</em>. Lisboa: ACARTE/ Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 277- 288.</span></p> <p><span style="color: #333333;">NEGRÃO, Albano Zink (1965). <em>O Parque Mayer: cinquenta anos de vida</em>. Lisboa: Editorial Notícias.</span></p> <p><span style="color: #333333;">PORTO, Carlos / MENEZES, Salvato Teles (1985). <em>10 anos de teatro e cinema em Portugal : 1974-1984</em>. Lisboa: col. Nosso Mundo, ed. Caminho.</span></p> <p><span style="color: #333333;">REBELLO, Luiz Francisco (1984). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.I. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (1985). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.II. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">SANTOS, Vítor Pavão (1978). <em>A revista à portuguesa: uma história breve do teatro de revista</em>. Lisboa: O jornal.</span></p> <p><span style="color: #333333;">TRIGO, Jorge e REIS, Luciano (2004). <em>Parque Mayer, (1922/1952)</em>, vol.I. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2005). <em>Parque Mayer, (1953/1973)</em>, vol II. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2006). <em>Parque Mayer, (1974/1994)</em>, vol III. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;">Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:</span></p> <p><span style="text-decoration: underline; letter-spacing: 0px;"><a title="CETbase" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=66" target="_blank">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=66</a> </span></p> <p><span style="color: #333333;">Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:</span></p> <p><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank">http://opsis.fl.ul.pt/</a></p> <p><span style="color: #333333;"><strong> </strong></span></p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Andreia Brito Silva/Centro de Estudos de Teatro</strong></span> </p> Teatro Maria Vitória 2012-08-14T14:20:43+00:00 2012-08-14T14:20:43+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos/teatro-maria-vitoria-dp5.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p>(Parque Mayer – 1250 Lisboa, Portugal)</p> <p>Edificado em 1922, o Teatro Maria Vitória foi o primeiro espaço teatral a ser erigido no Parque Mayer.</p> <table border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro Maria Vitória (fachada e lateral), 1943, fot. Eduardo Portugal [Arquivo Municipal de Lisboa – Arquivo Fotográfico]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_maria_vitoria.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_maria_vitoria.png" alt="Teatro Maria Vitória" width="200" height="122" /></a></td> </tr> <tr> <td> </td> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Teatro Maria Vitória (fachada e lateral), 1943, fot. Eduardo Portugal [Arquivo Municipal de Lisboa – Arquivo Fotográfico].</span></td> </tr> </tbody> </table> <p><span style="color: #333333;">O recinto, idealizado por Luís Galhardo, começou por ser um espaço com instalações precárias em madeira. Esta casa foi inaugurada no verão desse ano com a apresentação do espetáculo <em>Lua nova</em>, de autoria de Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos, a parceria que iria ser bastante profícua, também conhecida sob o pseudónimo de “Troianos”. Foi o espaço que apresentou um maior número de espetáculos de teatro de revista – embora também incluísse operetas e teatro declamado – e que se tornou o mais popular do Parque. É o único teatro que, passado quase um século da sua inauguração, ainda continua, na segunda década do séc. XXI, a abrir as portas ao público fiel a este tipo de espetáculos devido à contínua intervenção do empresário Hélder Freire Costa.</span></p> <p><span style="color: #333333;">A par das diversões de feira, como os “carrinhos de choque” e os carrosséis, inaugurou-se no Parque Mayer, a 1 de julho de 1922, a primeira sala de espetáculos cujo nome homenageia a fadista Maria Vitória. Foi com o espetáculo <em>Lua nova </em>que se estreou a revista nesta casa. Contava com temas musicais de gosto popular, reagindo, assim, contra a importação de danças e ritmos estrangeiros (REBELLO 1985: 38) numa década em que o <em>charleston</em>,<em> </em>o<em> fox-trot </em>e o<em> jazz-band</em> invadiam os clubes noturnos da vida lisboeta. Foi neste recinto que, em 1940, se estreou como atriz a fadista Amália Rodrigues, na revista <em>Ora vai tu!</em>,<em> </em>de Aníbal Nazaré e Nelson de Barros, tendo aqui conhecido o maestro Frederico Valério, em 1942, no espetáculo <em>Essa é que é essa!</em>.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Em 1945 iniciou a exploração desta casa o empresário Rosa Mateus, passando depois para outras gerências como a Empresa Portuguesa de Espetáculos, António Macedo e Piero Borbon. Entre 1953 e 1961 esteve aqui sediada a companhia de Eugénio Salvador que apresentou a sua primeira revista no Parque a 1 de março de 1953 – <em>Cantigas ó Rosa</em> – da autoria de Aníbal Nazaré e com a atriz de cinema Helga Liné como vedeta<em>.</em> À frente de uma grande equipa de cenógrafos, compositores (como Aníbal Nazaré), músicos e figurinistas, e com cabeças de cartaz tão célebres como António Silva, Humberto Madeira, Teresa Gomes, Costinha e Max, Eugénio Salvador teve um acolhimento muito favorável por parte do público. Os espetáculos de Salvador contavam também com atrações internacionais como a brasileira Bibi Ferreira, que atraiu multidões ao Parque Mayer. Salvador foi um dos precursores do humor <em>non-sense</em> em palco.</span></p> <p><span style="color: #333333;">A década de sessenta foi particularmente profícua para este teatro com quadros e canções que ainda perduram no imaginário do público: em 1961, na revista <em>Bate o pé</em>, Raul Solnado protagonizou dois dos quadros que marcariam para sempre a sua carreira: “A guerra de 1908” e a “História da minha vida”; Artur Mourão iniciou-se no teatro de revista, no ano seguinte, no espetáculo <em>Todos ao mesmo</em>, onde cantou o popular tema “Ó tempo volta p´ra trás”. Os empresários Vasco Morgado e Giuseppe Bastos assumiram a exploração do teatro no fim da década de sessenta<strong> </strong>e foram dois dos maiores responsáveis pelo sucesso alcançado nos espetáculos do Maria Vitória. Tome-se como exemplo o espetáculo <em>Grande poeta é o Zé</em> (1968), de Aníbal Nazaré, Eugénio Salvador e José Viana, que conquistou o Prémio de Imprensa, nesse ano, e garantiu a José Viana o prémio de melhor ator de teatro ligeiro.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Com a liberdade conquistada a 25 de abril de 1974, Aníbal Nazaré, Henrique Santana e Henrique Parreirão – os autores da revista que estava em cena nesta casa com o título <em>Ver, ouvir… e calar</em> – mudaram rapidamente o seu nome para <em>Ver, ouvir…e falar</em>, assumindo um ponto de viragem na liberdade criativa e de expressão dos autores de revista. <em>Até parece mentira </em>foi a primeira revista a estrear no Maria Vitória depois de Abril de 1974, sendo o seu título uma marca evidente da mudança política vivida no país. Com a morte do empresário Giuseppe Bastos, Hélder Freire Costa assumiu a gerência do Teatro Maria Vitória em meados da década de setenta.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Consumido por um aparatoso incêndio a 10 de maio de 1986, a mais antiga sala de espetáculos do Parque foi reconstruída por Hélder Freire Costa e Vasco Morgado Júnior, com projeto do arquiteto Barros Gomes. Conforme se pode ler na placa comemorativa afixada no teatro, reabriu em 1990 com uma nova revista <em>Vitória, Vitória</em>, de Henrique Santana e Francisco Nicholson. Mantém-se, na primeira década do século XXI, como a única sala que apresenta espetáculos com alguma regularidade por iniciativa do empresário Hélder Freire Costa.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span></p> <p><span style="color: #333333;">FRANCISCO, Rui / RAMOS, José (1992). “Mayer, o Parque Triste”, in AA.VV, <em>Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais: compilação das comunicações apresentadas no colóquio</em>. Lisboa: ACARTE/ Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 277- 288.</span></p> <p><span style="color: #333333;">NEGRÃO, Albano Zink (1965). <em>O Parque Mayer: cinquenta anos de vida. </em>Lisboa: Editorial Notícias.</span></p> <p><span style="color: #333333;">REBELLO, Luiz Francisco (1984). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.I. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (1985). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.II. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">SANTOS, Vítor Pavão (1978). <em>A revista à portuguesa: uma história breve do teatro de revista</em>. Lisboa: O jornal.</span></p> <p><span style="color: #333333;">TRIGO, Jorge / REIS, Luciano (2004). <em>Parque Mayer, (1922/1952)</em> vol.I. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2005). <em>Parque Mayer, (1953/1973)</em>, vol II. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2006). <em>Parque Mayer, (1974/1994)</em>, vol III. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;">Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:</span></p> <p><a title="CETbase" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=93" target="_blank">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=93</a></p> <p><span style="color: #333333;">Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:</span></p> <p><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank">http://opsis.fl.ul.pt/</a></p> <p><span style="color: #333333;"><strong> </strong></span></p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Andreia Brito Silva/Centro de Estudos de Teatro</strong></span></p> <p>(Parque Mayer – 1250 Lisboa, Portugal)</p> <p>Edificado em 1922, o Teatro Maria Vitória foi o primeiro espaço teatral a ser erigido no Parque Mayer.</p> <table border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro Maria Vitória (fachada e lateral), 1943, fot. Eduardo Portugal [Arquivo Municipal de Lisboa – Arquivo Fotográfico]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_maria_vitoria.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_maria_vitoria.png" alt="Teatro Maria Vitória" width="200" height="122" /></a></td> </tr> <tr> <td> </td> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Teatro Maria Vitória (fachada e lateral), 1943, fot. Eduardo Portugal [Arquivo Municipal de Lisboa – Arquivo Fotográfico].</span></td> </tr> </tbody> </table> <p><span style="color: #333333;">O recinto, idealizado por Luís Galhardo, começou por ser um espaço com instalações precárias em madeira. Esta casa foi inaugurada no verão desse ano com a apresentação do espetáculo <em>Lua nova</em>, de autoria de Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos, a parceria que iria ser bastante profícua, também conhecida sob o pseudónimo de “Troianos”. Foi o espaço que apresentou um maior número de espetáculos de teatro de revista – embora também incluísse operetas e teatro declamado – e que se tornou o mais popular do Parque. É o único teatro que, passado quase um século da sua inauguração, ainda continua, na segunda década do séc. XXI, a abrir as portas ao público fiel a este tipo de espetáculos devido à contínua intervenção do empresário Hélder Freire Costa.</span></p> <p><span style="color: #333333;">A par das diversões de feira, como os “carrinhos de choque” e os carrosséis, inaugurou-se no Parque Mayer, a 1 de julho de 1922, a primeira sala de espetáculos cujo nome homenageia a fadista Maria Vitória. Foi com o espetáculo <em>Lua nova </em>que se estreou a revista nesta casa. Contava com temas musicais de gosto popular, reagindo, assim, contra a importação de danças e ritmos estrangeiros (REBELLO 1985: 38) numa década em que o <em>charleston</em>,<em> </em>o<em> fox-trot </em>e o<em> jazz-band</em> invadiam os clubes noturnos da vida lisboeta. Foi neste recinto que, em 1940, se estreou como atriz a fadista Amália Rodrigues, na revista <em>Ora vai tu!</em>,<em> </em>de Aníbal Nazaré e Nelson de Barros, tendo aqui conhecido o maestro Frederico Valério, em 1942, no espetáculo <em>Essa é que é essa!</em>.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Em 1945 iniciou a exploração desta casa o empresário Rosa Mateus, passando depois para outras gerências como a Empresa Portuguesa de Espetáculos, António Macedo e Piero Borbon. Entre 1953 e 1961 esteve aqui sediada a companhia de Eugénio Salvador que apresentou a sua primeira revista no Parque a 1 de março de 1953 – <em>Cantigas ó Rosa</em> – da autoria de Aníbal Nazaré e com a atriz de cinema Helga Liné como vedeta<em>.</em> À frente de uma grande equipa de cenógrafos, compositores (como Aníbal Nazaré), músicos e figurinistas, e com cabeças de cartaz tão célebres como António Silva, Humberto Madeira, Teresa Gomes, Costinha e Max, Eugénio Salvador teve um acolhimento muito favorável por parte do público. Os espetáculos de Salvador contavam também com atrações internacionais como a brasileira Bibi Ferreira, que atraiu multidões ao Parque Mayer. Salvador foi um dos precursores do humor <em>non-sense</em> em palco.</span></p> <p><span style="color: #333333;">A década de sessenta foi particularmente profícua para este teatro com quadros e canções que ainda perduram no imaginário do público: em 1961, na revista <em>Bate o pé</em>, Raul Solnado protagonizou dois dos quadros que marcariam para sempre a sua carreira: “A guerra de 1908” e a “História da minha vida”; Artur Mourão iniciou-se no teatro de revista, no ano seguinte, no espetáculo <em>Todos ao mesmo</em>, onde cantou o popular tema “Ó tempo volta p´ra trás”. Os empresários Vasco Morgado e Giuseppe Bastos assumiram a exploração do teatro no fim da década de sessenta<strong> </strong>e foram dois dos maiores responsáveis pelo sucesso alcançado nos espetáculos do Maria Vitória. Tome-se como exemplo o espetáculo <em>Grande poeta é o Zé</em> (1968), de Aníbal Nazaré, Eugénio Salvador e José Viana, que conquistou o Prémio de Imprensa, nesse ano, e garantiu a José Viana o prémio de melhor ator de teatro ligeiro.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Com a liberdade conquistada a 25 de abril de 1974, Aníbal Nazaré, Henrique Santana e Henrique Parreirão – os autores da revista que estava em cena nesta casa com o título <em>Ver, ouvir… e calar</em> – mudaram rapidamente o seu nome para <em>Ver, ouvir…e falar</em>, assumindo um ponto de viragem na liberdade criativa e de expressão dos autores de revista. <em>Até parece mentira </em>foi a primeira revista a estrear no Maria Vitória depois de Abril de 1974, sendo o seu título uma marca evidente da mudança política vivida no país. Com a morte do empresário Giuseppe Bastos, Hélder Freire Costa assumiu a gerência do Teatro Maria Vitória em meados da década de setenta.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Consumido por um aparatoso incêndio a 10 de maio de 1986, a mais antiga sala de espetáculos do Parque foi reconstruída por Hélder Freire Costa e Vasco Morgado Júnior, com projeto do arquiteto Barros Gomes. Conforme se pode ler na placa comemorativa afixada no teatro, reabriu em 1990 com uma nova revista <em>Vitória, Vitória</em>, de Henrique Santana e Francisco Nicholson. Mantém-se, na primeira década do século XXI, como a única sala que apresenta espetáculos com alguma regularidade por iniciativa do empresário Hélder Freire Costa.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span></p> <p><span style="color: #333333;">FRANCISCO, Rui / RAMOS, José (1992). “Mayer, o Parque Triste”, in AA.VV, <em>Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais: compilação das comunicações apresentadas no colóquio</em>. Lisboa: ACARTE/ Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 277- 288.</span></p> <p><span style="color: #333333;">NEGRÃO, Albano Zink (1965). <em>O Parque Mayer: cinquenta anos de vida. </em>Lisboa: Editorial Notícias.</span></p> <p><span style="color: #333333;">REBELLO, Luiz Francisco (1984). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.I. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (1985). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.II. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">SANTOS, Vítor Pavão (1978). <em>A revista à portuguesa: uma história breve do teatro de revista</em>. Lisboa: O jornal.</span></p> <p><span style="color: #333333;">TRIGO, Jorge / REIS, Luciano (2004). <em>Parque Mayer, (1922/1952)</em> vol.I. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2005). <em>Parque Mayer, (1953/1973)</em>, vol II. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2006). <em>Parque Mayer, (1974/1994)</em>, vol III. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;">Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:</span></p> <p><a title="CETbase" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=93" target="_blank">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=93</a></p> <p><span style="color: #333333;">Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:</span></p> <p><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank">http://opsis.fl.ul.pt/</a></p> <p><span style="color: #333333;"><strong> </strong></span></p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Andreia Brito Silva/Centro de Estudos de Teatro</strong></span></p> Teatro Capitólio 2012-08-14T14:20:09+00:00 2012-08-14T14:20:09+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos/teatro-capitolio-dp11.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p>(Parque Mayer – 1250 Lisboa, Portugal)</p> <p>Inaugurado a 31 de julho de 1931, o cine-teatro Capitólio foi projetado pelo arquiteto Luís Cristino da Silva e contou com José Belard da Fonseca para a edificação da estrutura de betão armado.</p> <table style="width: 200px;" border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro Capitólio (fachada), 1961, fot. C. Madeira [cortesia do Museu Nacional do Teatro, cota: 57624]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_capitolio.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_capitolio.png" alt="Teatro Capitólio" width="200" height="207" /></a></td> </tr> <tr> <td> </td> <td style="text-align: center; background-color: #d7e5f4; width: 200px;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Teatro Capitólio (fachada), 1961, fot. C. Madeira [cortesia do Museu Nacional do Teatro, cota: 57624].</span></td> </tr> </tbody> </table> <p><span style="color: #333333;">Situado no Parque Mayer, em Lisboa, este edifício é um marco histórico do modernismo nacional, tendo sido considerado Imóvel de Interesse Público em 1983 pelas suas características inovadoras. Ocupou o lugar onde antes se encontrava a “Esplanada Egípcia“ e foi o recinto do Parque que ofereceu uma maior variedade de espetáculos ao público: desde filmes portugueses, filmes pornográficos, teatro de revista, circo e operetas. Pioneiro em muitas das inovações do país (como uma pista de patinagem no gelo e cinema ao ar livre), tem também a particularidade de ser apontado como o edifício que abrigou as primeiras escadas rolantes do país para acesso ao seu terraço. Assim como o Teatro Variedades e o Teatro ABC, igualmente situados no Parque Mayer, também o Capitólio não escapou à usura do tempo.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Com a edificação do cine-teatro Capitólio,<strong> </strong>em julho de 1931, pelo traço de Luís Cristino Silva – o mesmo que projetou o pórtico da entrada do Parque Mayer – inaugurou-se a terceira sala de espetáculos deste recinto. Construído pela Sociedade Avenida Parque, Lda., detentora do espaço do Parque Mayer, o Capitólio foi inaugurado já por Campos Figueira uma vez que Luís Galhardo, a figura de maior destaque da Sociedade, havia falecido. Para a sua construção perdeu-se a “Esplanada Egípcia”, um dos recintos de convívio do Parque, onde se estreara Hermínia Silva. No terraço eram apresentadas projeções ao ar livre que se revelaram bastante populares no verão.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Os filmes portugueses <em>A Severa </em>(1931), de Leitão de Barros, e <em>A canção de Lisboa </em>(1933), de José Cottinelli Telmo,<em> </em>foram aqui apresentados ao público em 1934, assim como muitos outros clássicos do cinema que juntavam multidões no Parque Mayer. Também os bailes de Carnaval eram uma das atrações do Teatro Capitólio, “considerado o melhor, mais categorizado e acessível Carnaval de Lisboa!” (TRIGO/REIS 2005: 103) Emissões radiofónicas, <span style="letter-spacing: 0px;">do programa <em>O comboio das seis e meia</em>, fizeram igualmente parte da atividade deste espaço. Do mesmo modo, e com as produções da companhia brasileira Teatro Popular de Arte, de Maria Della Costa, este teatro apresentou ao público português espetáculos teatrais como <em>A alma boa de Setsuan</em>, de Bertolt Brecht, em 1960. Sendo a única peça de Brecht que pôde ser representada em Portugal na época do fascismo (por questões diplomáticas – de uma desejada boa relação política - entre Portugal e Brasil), este espetáculo marcou a história do Capitólio pelo tumulto que gerou entre a plateia logo no dia de estreia. Alguns elementos do público – de simpatia pelo regime de Salazar – contestaram, manifestando-se contra a peça do autor alemão arremessando objetos para o palco. Valeu à companhia a intervenção policial e a expulsão dos desordeiros. As representações foram, no entanto, canceladas poucos dias depois.</span></span></p> <p><span style="color: #333333;">Após as apresentações da companhia brasileira, Raul Solnado, Carlos Coelho, Humberto Madeira e Vasco Morgado exploraram a sala do Capitólio na temporada de 1960/1961. A composição musical de todos os seus espetáculos (não só revistas) estava assegurada pelo maestro Frederico Valério. O primeiro espetáculo de revista apresentado por esta nova “sociedade” foi <em>A vida é bela </em>(1960), de Fernando Santos e Nelson de Barros.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Depois do incêndio que deflagrou no Teatro Nacional em 1964, a companhia de Amélia Rey Colaço deslocou-se para o Teatro Avenida. No entanto, também esse espaço foi consumido por um fogo em 1967, interrompendo a representação do espetáculo <em>Equilíbrio instável</em>, de Edward Albee. Amélia Rey Colaço mudou-se, assim, com a sua companhia no ano seguinte para o palco do Teatro Capitólio para continuar com a apresentação do espetáculo. Aqui permaneceram até 1970.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Foi também neste espaço que aconteceu o primeiro Festival Internacional de Magia, em novembro de 1972, um ano antes de Laura Alves assumir a direção da companhia teatral do Capitólio. Com a abolição da censura, em 1974, este foi o cinema que apresentou, pela primeira vez em Portugal, o filme pornográfico <em>Garganta funda</em>, acabando por se especializar neste tipo de reportório cinematográfico. Em 1990, o teatro acolheu Camilo de Oliveira e o seu espetáculo<em> Ai, cavaquinho</em>, devido a um incêndio que consumiu o ABC, onde se representava a revista.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Sendo o único edifício com valor arquitetónico do Parque, o Capitólio não escapou, contudo, à passagem dos anos, à falta de manutenção e ao afastamento do público, pelo que entrou num visível estado de degradação. Foi considerado Imóvel de Interesse Público, a 24 de janeiro de 1983, pelos seus traços modernistas, sucedendo-se, desde então, várias tentativas para o resgatarem ao abandono. Em agosto de 2009, a Sociedade Portuguesa de Autores propôs a atribuição do nome do ator Raul Solnado ao Teatro, mas para que isso se efetivasse “o Capitólio dever[ia] ser remodelado de forma a acolher com a dignidade devida esse novo nome". No primeiro trimestre de 2010 deu-se início ao processo de reabilitação deste espaço.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span></p> <p><span style="color: #333333;">FRANCISCO, Rui / RAMOS, José (1992). “Mayer, o Parque Triste”, in AA.VV, <em>Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais: compilação das comunicações apresentadas no colóquio</em>. Lisboa: ACARTE/ Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 277- 288.</span></p> <p><span style="color: #333333;">NEGRÃO, Albano Zink (1965). <em>O Parque Mayer: cinquenta anos de vida. </em>Lisboa: Editorial Notícias.</span></p> <p><span style="color: #333333;">REBELLO, Luiz Francisco (1984). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.I. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (1985). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.II. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">SANTOS, Vítor Pavão (1978). <em>A revista à portuguesa: uma história breve do teatro de revista</em>. Lisboa: O jornal.</span></p> <p><span style="color: #333333;">TRIGO, Jorge / REIS, Luciano (2004). <em>Parque Mayer, (1922/1952)</em> vol.I. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2005). <em>Parque Mayer, (1953/1973)</em>, vol II. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2006). <em>Parque Mayer, (1974/1994)</em>, vol III. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;">Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:</span></p> <p><a title="CETbase" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=339" target="_blank"><span style="text-decoration: underline; letter-spacing: 0px;">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=339</span></a> </p> <p><span style="color: #333333;">Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:</span></p> <p><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank">http://opsis.fl.ul.pt/</a></p> <p><span style="color: #333333;"><strong> </strong></span></p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Andreia Brito Silva/Centro de Estudos de Teatro</strong></span></p> <p>(Parque Mayer – 1250 Lisboa, Portugal)</p> <p>Inaugurado a 31 de julho de 1931, o cine-teatro Capitólio foi projetado pelo arquiteto Luís Cristino da Silva e contou com José Belard da Fonseca para a edificação da estrutura de betão armado.</p> <table style="width: 200px;" border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro Capitólio (fachada), 1961, fot. C. Madeira [cortesia do Museu Nacional do Teatro, cota: 57624]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_capitolio.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_capitolio.png" alt="Teatro Capitólio" width="200" height="207" /></a></td> </tr> <tr> <td> </td> <td style="text-align: center; background-color: #d7e5f4; width: 200px;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Teatro Capitólio (fachada), 1961, fot. C. Madeira [cortesia do Museu Nacional do Teatro, cota: 57624].</span></td> </tr> </tbody> </table> <p><span style="color: #333333;">Situado no Parque Mayer, em Lisboa, este edifício é um marco histórico do modernismo nacional, tendo sido considerado Imóvel de Interesse Público em 1983 pelas suas características inovadoras. Ocupou o lugar onde antes se encontrava a “Esplanada Egípcia“ e foi o recinto do Parque que ofereceu uma maior variedade de espetáculos ao público: desde filmes portugueses, filmes pornográficos, teatro de revista, circo e operetas. Pioneiro em muitas das inovações do país (como uma pista de patinagem no gelo e cinema ao ar livre), tem também a particularidade de ser apontado como o edifício que abrigou as primeiras escadas rolantes do país para acesso ao seu terraço. Assim como o Teatro Variedades e o Teatro ABC, igualmente situados no Parque Mayer, também o Capitólio não escapou à usura do tempo.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Com a edificação do cine-teatro Capitólio,<strong> </strong>em julho de 1931, pelo traço de Luís Cristino Silva – o mesmo que projetou o pórtico da entrada do Parque Mayer – inaugurou-se a terceira sala de espetáculos deste recinto. Construído pela Sociedade Avenida Parque, Lda., detentora do espaço do Parque Mayer, o Capitólio foi inaugurado já por Campos Figueira uma vez que Luís Galhardo, a figura de maior destaque da Sociedade, havia falecido. Para a sua construção perdeu-se a “Esplanada Egípcia”, um dos recintos de convívio do Parque, onde se estreara Hermínia Silva. No terraço eram apresentadas projeções ao ar livre que se revelaram bastante populares no verão.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Os filmes portugueses <em>A Severa </em>(1931), de Leitão de Barros, e <em>A canção de Lisboa </em>(1933), de José Cottinelli Telmo,<em> </em>foram aqui apresentados ao público em 1934, assim como muitos outros clássicos do cinema que juntavam multidões no Parque Mayer. Também os bailes de Carnaval eram uma das atrações do Teatro Capitólio, “considerado o melhor, mais categorizado e acessível Carnaval de Lisboa!” (TRIGO/REIS 2005: 103) Emissões radiofónicas, <span style="letter-spacing: 0px;">do programa <em>O comboio das seis e meia</em>, fizeram igualmente parte da atividade deste espaço. Do mesmo modo, e com as produções da companhia brasileira Teatro Popular de Arte, de Maria Della Costa, este teatro apresentou ao público português espetáculos teatrais como <em>A alma boa de Setsuan</em>, de Bertolt Brecht, em 1960. Sendo a única peça de Brecht que pôde ser representada em Portugal na época do fascismo (por questões diplomáticas – de uma desejada boa relação política - entre Portugal e Brasil), este espetáculo marcou a história do Capitólio pelo tumulto que gerou entre a plateia logo no dia de estreia. Alguns elementos do público – de simpatia pelo regime de Salazar – contestaram, manifestando-se contra a peça do autor alemão arremessando objetos para o palco. Valeu à companhia a intervenção policial e a expulsão dos desordeiros. As representações foram, no entanto, canceladas poucos dias depois.</span></span></p> <p><span style="color: #333333;">Após as apresentações da companhia brasileira, Raul Solnado, Carlos Coelho, Humberto Madeira e Vasco Morgado exploraram a sala do Capitólio na temporada de 1960/1961. A composição musical de todos os seus espetáculos (não só revistas) estava assegurada pelo maestro Frederico Valério. O primeiro espetáculo de revista apresentado por esta nova “sociedade” foi <em>A vida é bela </em>(1960), de Fernando Santos e Nelson de Barros.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Depois do incêndio que deflagrou no Teatro Nacional em 1964, a companhia de Amélia Rey Colaço deslocou-se para o Teatro Avenida. No entanto, também esse espaço foi consumido por um fogo em 1967, interrompendo a representação do espetáculo <em>Equilíbrio instável</em>, de Edward Albee. Amélia Rey Colaço mudou-se, assim, com a sua companhia no ano seguinte para o palco do Teatro Capitólio para continuar com a apresentação do espetáculo. Aqui permaneceram até 1970.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Foi também neste espaço que aconteceu o primeiro Festival Internacional de Magia, em novembro de 1972, um ano antes de Laura Alves assumir a direção da companhia teatral do Capitólio. Com a abolição da censura, em 1974, este foi o cinema que apresentou, pela primeira vez em Portugal, o filme pornográfico <em>Garganta funda</em>, acabando por se especializar neste tipo de reportório cinematográfico. Em 1990, o teatro acolheu Camilo de Oliveira e o seu espetáculo<em> Ai, cavaquinho</em>, devido a um incêndio que consumiu o ABC, onde se representava a revista.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Sendo o único edifício com valor arquitetónico do Parque, o Capitólio não escapou, contudo, à passagem dos anos, à falta de manutenção e ao afastamento do público, pelo que entrou num visível estado de degradação. Foi considerado Imóvel de Interesse Público, a 24 de janeiro de 1983, pelos seus traços modernistas, sucedendo-se, desde então, várias tentativas para o resgatarem ao abandono. Em agosto de 2009, a Sociedade Portuguesa de Autores propôs a atribuição do nome do ator Raul Solnado ao Teatro, mas para que isso se efetivasse “o Capitólio dever[ia] ser remodelado de forma a acolher com a dignidade devida esse novo nome". No primeiro trimestre de 2010 deu-se início ao processo de reabilitação deste espaço.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span></p> <p><span style="color: #333333;">FRANCISCO, Rui / RAMOS, José (1992). “Mayer, o Parque Triste”, in AA.VV, <em>Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais: compilação das comunicações apresentadas no colóquio</em>. Lisboa: ACARTE/ Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 277- 288.</span></p> <p><span style="color: #333333;">NEGRÃO, Albano Zink (1965). <em>O Parque Mayer: cinquenta anos de vida. </em>Lisboa: Editorial Notícias.</span></p> <p><span style="color: #333333;">REBELLO, Luiz Francisco (1984). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.I. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (1985). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.II. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">SANTOS, Vítor Pavão (1978). <em>A revista à portuguesa: uma história breve do teatro de revista</em>. Lisboa: O jornal.</span></p> <p><span style="color: #333333;">TRIGO, Jorge / REIS, Luciano (2004). <em>Parque Mayer, (1922/1952)</em> vol.I. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2005). <em>Parque Mayer, (1953/1973)</em>, vol II. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2006). <em>Parque Mayer, (1974/1994)</em>, vol III. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;">Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:</span></p> <p><a title="CETbase" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=339" target="_blank"><span style="text-decoration: underline; letter-spacing: 0px;">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=339</span></a> </p> <p><span style="color: #333333;">Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:</span></p> <p><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank">http://opsis.fl.ul.pt/</a></p> <p><span style="color: #333333;"><strong> </strong></span></p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Andreia Brito Silva/Centro de Estudos de Teatro</strong></span></p> Teatro ABC 2012-08-14T14:18:42+00:00 2012-08-14T14:18:42+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos/teatro-abc-dp18.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p>(Parque Mayer – 1250 Lisboa, Portugal)</p> <p>Inaugurado em Janeiro de 1956, com o espetáculo Haja saúde de Carlos Lopes, Frederico Brito, João de Vasconcelos e Ferrer Trindade, o Teatro ABC foi o quarto e último teatro a ser edificado no Parque Mayer, em Lisboa.</p> <table border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro ABC (entrada), s.d. [TRIGO / LUCIANO Parque Mayer, vol. II. Lisboa: Sete Caminhos, 2005, p.125]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_abc.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_abc.png" alt="Teatro ABC" width="200" height="265" /></a></td> </tr> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Teatro ABC (entrada), s.d. [TRIGO / LUCIANO Parque Mayer, vol. II. Lisboa: Sete Caminhos, 2005, p.125].</span></td> </tr> </tbody> </table> <p><span style="color: #333333;">Situado no terreno adjacente ao Teatro Maria Vitoria, foi construído por iniciativa do empresário José Miguel, que o dirigiu até 1971, ano da sua morte. Este espaço acolheu espetáculos infantis, teatro declamado, teatro de revista e foi a partir deste palco que se operaram mudanças estruturais na revista, nos tempos que antecederam o 25 de abril. Com a particularidade de ter sido a única sala aquecida do Parque Mayer, este recinto foi seriamente danificado por um incêndio em 1990 e reconstruído em 1993. Não obstante os esforços levados a cabo pelos seus empresários, este espaço encerrou definitivamente em 1997.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Já o Parque Mayer se tinha afirmado como espaço de lazer e recreio de grande popularidade na sociedade lisboeta quando o Teatro ABC foi edificado em 1956. Este recinto começou por funcionar como ringue de patinagem que, por sua vez, deu lugar ao <em>cabaret</em> Alhambra, seguindo-se o restaurante Galo de Ouro e o Pavilhão Português que tinha a particularidade de oferecer cinema ao ar livre a preços populares. À noite, este recinto transformava-se no <em>cabaret</em> Sevilha para deleite dos notívagos boémios. Foi com o espetáculo <em>Haja saúde! </em>de José Galhardo, Carlos Lopes e Frederico de Brito, e com Curado Ribeiro no papel de <em>compère</em>, que se inaugurou o Teatro ABC. Neste espaço fizeram a sua estreia, no teatro de revista, artistas como Vítor Mendes no espetáculo <em>O gesto é tudo</em>, de 1962, Mariema na revista <em>É regar e pôr ao luar</em> (1964) – da parceria Paulo da Fonseca, César de Oliveira e Rogério Bracinha – e Henriqueta Maia em <em>Gente nova em bikini</em> (1963),<em> </em>de César de Oliveira, Francisco Nicholson e Rogério Bracinha.<em> </em>Estes autores, entre outros, e as suas parcerias asseguraram o sucesso de muitas das revistas no Teatro ABC. Este recinto começou por ser explorado por José Miguel tendo passado para a gerência de Sérgio de Azevedo na década de 70 do século XX.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Foi a partir desta casa e com o empresário Sérgio de Azevedo que se empreenderam mudanças radicais na estrutura tradicional da revista à portuguesa, no início dos anos 70. O espetáculo <em>É o fim da macacada</em> (1972) – dos autores Francisco Nicholson, Nicolau Breyner, Gonçalves Preto, Rolo Duarte e Mário Alberto – marcou o início desta tentativa de restituição crítica à revista, tendo sido distinguido com o Prémio de Imprensa. Inovando nos textos, cenografia e música, o teatro de revista surgia com outra força, como sublinhava Luiz Francisco Rebello: “[…] bastou que a censura se tornasse menos rigorosa [com a subida de Marcelo Caetano ao poder] para que a imaginação dos autores se desprendesse e a revista voltasse a encontrar a sua veia natural<em>”</em> (REBELLO 1985: 144-145). Em 1974 estava em cena no ABC a revista <em>Tudo a nu</em> que, após o 25 de Abril, passou a denominar-se <em>Tudo a nu com parra nova</em>. Neste espetáculo os autores criticavam também o projeto de urbanização elaborado nesta década e que visava a demolição do Parque Mayer. Este espetáculo contou também com a particularidade de ter alguns dos seus excertos transmitidos pelo Rádio Clube Português.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Naturalmente, os autores apressaram-se a pôr em cena os quadros antes proibidos pela censura. No entanto, a liberdade conquistada não trouxe resultados e ideias consensuais entre os atores e o empresário. Parte da companhia do ABC abandonou o teatro do Parque e fundou, em 1974, o Teatro Adoque para o qual se transferiram alguns dos artistas com ideias mais progressistas. No Parque Mayer permaneceram Sérgio de Azevedo e Nicolau Breyner, mas outros artistas importantes vieram reforçar a equipa como Ary dos Santos, Aida Baptista, Ivone Silva, Octávio Matos e Herman José, o que permitiu ao ABC manter o nível de qualidade a que o público já se havia habituado. Azevedo manteve-se como responsável das produções desta casa até 1978, sucedendo-lhe Carlos Santos com quem Marina Mota, como fadista, e Carlos Paião, como compositor, se estrearam no teatro. Neste mesmo ano, na revista <em>Põe-te na bicha</em>, António Calvário interpretou a canção “Mocidade, mocidade”, tema que perdura ainda na memória do grande público.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Em 1990 o ABC foi destruído por um incêndio quando estava em cena a revista <em>Ai Cavaquinho</em>, de Eduardo Damas, Camilo de Oliveira, Miguel Simões e Paulo César, pelo que teve de ser transferida para o Teatro Capitólio. Carlos Santos foi o empresário que recuperou este recinto com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura. Três anos depois voltaria a abrir com o espetáculo <em>Lisboa meu amor</em>. O ano de 1997 ditou o seu encerramento definitivo.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span></p> <p><span style="color: #333333;">FRANCISCO, Rui / RAMOS, José (1992). “Mayer, o Parque Triste”, in AA.VV, <em>Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais: compilação das comunicações apresentadas no colóquio</em>. Lisboa: ACARTE/ Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 277-288.</span></p> <p><span style="color: #333333;">AZEVEDO, Sérgio (2003). <em>Histórias de teatro e outras paralelas</em>. Porto: Multisaber.</span></p> <p><span style="color: #333333;">NEGRÃO, Albano Zink (1965). <em>O Parque Mayer: cinquenta anos de vida. </em>Lisboa: Editorial Notícias.</span></p> <p><span style="color: #333333;">REBELLO, Luiz Francisco (1984). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.I. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (1985). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.II. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">SANTOS, Vítor Pavão (1978). <em>A revista à portuguesa: uma história breve do teatro de revista</em>. Lisboa: O Jornal.</span></p> <p><span style="color: #333333;">TRIGO, Jorge / REIS, Luciano (2004). <em>Parque Mayer, (1922/1952)</em> vol.I. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2005). <em>Parque Mayer, (1953/1973)</em>, vol II. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2006). <em>Parque Mayer, (1974/1994)</em>, vol III. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;">Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:</span></p> <p><a title="Teatro ABC" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=128" target="_blank">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=128</a></p> <p><span style="color: #333333;">Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:</span></p> <p><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank"><span style="text-decoration: underline; letter-spacing: 0px; color: #333333;"><span style="color: #333333; text-decoration: underline;">http://opsis.fl.ul.pt/</span> </span></a></p> <p><span style="color: #333333;"><strong> </strong></span></p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Andreia Brito Silva/Centro de Estudos de Teatro</strong></span></p> <p>(Parque Mayer – 1250 Lisboa, Portugal)</p> <p>Inaugurado em Janeiro de 1956, com o espetáculo Haja saúde de Carlos Lopes, Frederico Brito, João de Vasconcelos e Ferrer Trindade, o Teatro ABC foi o quarto e último teatro a ser edificado no Parque Mayer, em Lisboa.</p> <table border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Teatro ABC (entrada), s.d. [TRIGO / LUCIANO Parque Mayer, vol. II. Lisboa: Sete Caminhos, 2005, p.125]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_abc.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/teatro_abc.png" alt="Teatro ABC" width="200" height="265" /></a></td> </tr> <tr> <td style="width: 10px;"> </td> <td style="text-align: center; width: 200px; background-color: #d7e5f4;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Teatro ABC (entrada), s.d. [TRIGO / LUCIANO Parque Mayer, vol. II. Lisboa: Sete Caminhos, 2005, p.125].</span></td> </tr> </tbody> </table> <p><span style="color: #333333;">Situado no terreno adjacente ao Teatro Maria Vitoria, foi construído por iniciativa do empresário José Miguel, que o dirigiu até 1971, ano da sua morte. Este espaço acolheu espetáculos infantis, teatro declamado, teatro de revista e foi a partir deste palco que se operaram mudanças estruturais na revista, nos tempos que antecederam o 25 de abril. Com a particularidade de ter sido a única sala aquecida do Parque Mayer, este recinto foi seriamente danificado por um incêndio em 1990 e reconstruído em 1993. Não obstante os esforços levados a cabo pelos seus empresários, este espaço encerrou definitivamente em 1997.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Já o Parque Mayer se tinha afirmado como espaço de lazer e recreio de grande popularidade na sociedade lisboeta quando o Teatro ABC foi edificado em 1956. Este recinto começou por funcionar como ringue de patinagem que, por sua vez, deu lugar ao <em>cabaret</em> Alhambra, seguindo-se o restaurante Galo de Ouro e o Pavilhão Português que tinha a particularidade de oferecer cinema ao ar livre a preços populares. À noite, este recinto transformava-se no <em>cabaret</em> Sevilha para deleite dos notívagos boémios. Foi com o espetáculo <em>Haja saúde! </em>de José Galhardo, Carlos Lopes e Frederico de Brito, e com Curado Ribeiro no papel de <em>compère</em>, que se inaugurou o Teatro ABC. Neste espaço fizeram a sua estreia, no teatro de revista, artistas como Vítor Mendes no espetáculo <em>O gesto é tudo</em>, de 1962, Mariema na revista <em>É regar e pôr ao luar</em> (1964) – da parceria Paulo da Fonseca, César de Oliveira e Rogério Bracinha – e Henriqueta Maia em <em>Gente nova em bikini</em> (1963),<em> </em>de César de Oliveira, Francisco Nicholson e Rogério Bracinha.<em> </em>Estes autores, entre outros, e as suas parcerias asseguraram o sucesso de muitas das revistas no Teatro ABC. Este recinto começou por ser explorado por José Miguel tendo passado para a gerência de Sérgio de Azevedo na década de 70 do século XX.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Foi a partir desta casa e com o empresário Sérgio de Azevedo que se empreenderam mudanças radicais na estrutura tradicional da revista à portuguesa, no início dos anos 70. O espetáculo <em>É o fim da macacada</em> (1972) – dos autores Francisco Nicholson, Nicolau Breyner, Gonçalves Preto, Rolo Duarte e Mário Alberto – marcou o início desta tentativa de restituição crítica à revista, tendo sido distinguido com o Prémio de Imprensa. Inovando nos textos, cenografia e música, o teatro de revista surgia com outra força, como sublinhava Luiz Francisco Rebello: “[…] bastou que a censura se tornasse menos rigorosa [com a subida de Marcelo Caetano ao poder] para que a imaginação dos autores se desprendesse e a revista voltasse a encontrar a sua veia natural<em>”</em> (REBELLO 1985: 144-145). Em 1974 estava em cena no ABC a revista <em>Tudo a nu</em> que, após o 25 de Abril, passou a denominar-se <em>Tudo a nu com parra nova</em>. Neste espetáculo os autores criticavam também o projeto de urbanização elaborado nesta década e que visava a demolição do Parque Mayer. Este espetáculo contou também com a particularidade de ter alguns dos seus excertos transmitidos pelo Rádio Clube Português.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Naturalmente, os autores apressaram-se a pôr em cena os quadros antes proibidos pela censura. No entanto, a liberdade conquistada não trouxe resultados e ideias consensuais entre os atores e o empresário. Parte da companhia do ABC abandonou o teatro do Parque e fundou, em 1974, o Teatro Adoque para o qual se transferiram alguns dos artistas com ideias mais progressistas. No Parque Mayer permaneceram Sérgio de Azevedo e Nicolau Breyner, mas outros artistas importantes vieram reforçar a equipa como Ary dos Santos, Aida Baptista, Ivone Silva, Octávio Matos e Herman José, o que permitiu ao ABC manter o nível de qualidade a que o público já se havia habituado. Azevedo manteve-se como responsável das produções desta casa até 1978, sucedendo-lhe Carlos Santos com quem Marina Mota, como fadista, e Carlos Paião, como compositor, se estrearam no teatro. Neste mesmo ano, na revista <em>Põe-te na bicha</em>, António Calvário interpretou a canção “Mocidade, mocidade”, tema que perdura ainda na memória do grande público.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Em 1990 o ABC foi destruído por um incêndio quando estava em cena a revista <em>Ai Cavaquinho</em>, de Eduardo Damas, Camilo de Oliveira, Miguel Simões e Paulo César, pelo que teve de ser transferida para o Teatro Capitólio. Carlos Santos foi o empresário que recuperou este recinto com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura. Três anos depois voltaria a abrir com o espetáculo <em>Lisboa meu amor</em>. O ano de 1997 ditou o seu encerramento definitivo.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span></p> <p><span style="color: #333333;">FRANCISCO, Rui / RAMOS, José (1992). “Mayer, o Parque Triste”, in AA.VV, <em>Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais: compilação das comunicações apresentadas no colóquio</em>. Lisboa: ACARTE/ Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 277-288.</span></p> <p><span style="color: #333333;">AZEVEDO, Sérgio (2003). <em>Histórias de teatro e outras paralelas</em>. Porto: Multisaber.</span></p> <p><span style="color: #333333;">NEGRÃO, Albano Zink (1965). <em>O Parque Mayer: cinquenta anos de vida. </em>Lisboa: Editorial Notícias.</span></p> <p><span style="color: #333333;">REBELLO, Luiz Francisco (1984). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.I. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (1985). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.II. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">SANTOS, Vítor Pavão (1978). <em>A revista à portuguesa: uma história breve do teatro de revista</em>. Lisboa: O Jornal.</span></p> <p><span style="color: #333333;">TRIGO, Jorge / REIS, Luciano (2004). <em>Parque Mayer, (1922/1952)</em> vol.I. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2005). <em>Parque Mayer, (1953/1973)</em>, vol II. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2006). <em>Parque Mayer, (1974/1994)</em>, vol III. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;">Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:</span></p> <p><a title="Teatro ABC" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=128" target="_blank">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=128</a></p> <p><span style="color: #333333;">Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:</span></p> <p><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank"><span style="text-decoration: underline; letter-spacing: 0px; color: #333333;"><span style="color: #333333; text-decoration: underline;">http://opsis.fl.ul.pt/</span> </span></a></p> <p><span style="color: #333333;"><strong> </strong></span></p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Andreia Brito Silva/Centro de Estudos de Teatro</strong></span></p> Parque Mayer 2012-08-14T13:07:44+00:00 2012-08-14T13:07:44+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos/parque-mayer-dp14.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p>(Travessa do Salitre, 1250 Lisboa, Portugal)</p> <p>Inaugurado a 15 de junho de 1922, o Parque Mayer resultou de uma partilha familiar do palacete Mayer e dos seus jardins.</p> <table style="width: 200px;" border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Parque Mayer (pórtico), 2012, fot. Andreia Brito Silva [CET]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/parque_mayer.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/parque_mayer.png" alt="Parque Mayer" width="200" height="267" /></a></td> </tr> <tr> <td> </td> <td style="text-align: center; background-color: #d7e5f4; width: 200px;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Parque Mayer (pórtico), 2012, fot. Andreia Brito Silva [CET].</span></td> </tr> </tbody> </table> <p><span style="color: #333333;">Este espaço exterior foi adquirido, em 1920, por Artur Brandão, “primeiro promotor do Parque Mayer” (FRANCISCO/RAMOS 1992: 280), tendo sido comprado no ano seguinte por Luís Galhardo, jornalista, escritor e empresário que, com outros dez sócios, constituiu a Sociedade Avenida Parque, Lda. Aqui se construíram casas de espetáculo que acabaram por se especializar no teatro de revista, sucedendo – ou associando-se – a outras atrações de caráter lúdico, como carrosséis e carrinhos de choque, que juntavam muito público. Situado junto à Avenida da Liberdade, do lado ocidental, entre a Rua do Salitre e a Praça da Alegria, este recinto viveu o seu apogeu entre as décadas de 30 e de 70 do séc. XX, tendo, desde aí, entrado em declínio. Neste espaço estrearam-se e ganharam fama artistas do teatro e da canção, que souberam fidelizar um público entusiasta. No início do séc. XXI apenas o Teatro Maria Vitória apresenta alguma (esporádica) atividade com espetáculos de teatro de revista, por iniciativa do empresário Hélder Freire Costa.</span></p> <p><span style="color: #333333;">No recinto onde se situava o Palácio Mayer começou por funcionar, entre 1918 e 1920, o Club Mayer. Este clube noturno de recreio e jogo foi vendido em 1930, por Luís Galhardo, um dos dez societários do então Avenida Parque, Lda., vindo a instalar-se aí o Consulado Geral de Espanha em Lisboa. Entretanto, nos espaços adjacentes a este edifício – jardins e lagos – nasceu o que há muito este empresário havia idealizado: um espaço de diversão noturna e um polo de atração teatral. Foi também nesse ano que se efetuaram alguns melhoramentos no recinto, nomeadamente a construção do pórtico de entrada, com desenho do arquiteto Cristino Silva, impondo-se desde então o nome Parque Mayer como designação genérica.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Com instalações precárias, o Parque Mayer foi-se tornando, aos poucos, um sítio carismático de diversão e boémia na cidade de Lisboa. Nos anos 30, começou por funcionar com divertimentos como barracas “dos tirinhos”, carrinhos de choque, carrosséis de feira, “roleta diabólica”, atrações várias, como o circo do El Dorado, e combates de boxe e luta-livre. Deste modo, o Parque Mayer rapidamente se tornou um recinto de convívio e de feira ao ar livre, onde não faltavam restaurantes, bares, <em>cabarets</em>, retiros e tascas, atraindo um público aficionado. Em 1932, por sugestão de Leitão de Barros, realizou-se aí o primeiro desfile de grupos representantes dos bairros lisboetas que, posteriormente, dará origem às Marchas Populares.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Neste espaço, a que acorria um público ávido de diversão, foram sendo construídos vários teatros: o Teatro Maria Vitória (1922), o Teatro Variedades (1926), e o Teatro Capitólio (1931), sendo este – pelo traço de Luís Cristino Silva – um importante marco da arquitetura modernista em Portugal. Em 1956 edificou-se o último dos recintos – o Teatro ABC – que encerrou definitivamente em 1997. Outras casas de espetáculo tiveram vida mais efémera, como foi o caso do Teatro Recreio em 1937, que foi edificado por iniciativa do empresário Giuseppe Bastos e esteve apenas três anos em funcionamento.</span></p> <p><span style="color: #333333;">A história do Parque Mayer é indissociável do percurso político, social e cultural do país. No início dos anos 70 assistiu-se, neste espaço, a uma completa renovação de autores, artistas e da própria estrutura da revista à portuguesa, como foi o caso, em 1972, de <em>É o fim da macacada</em>, de Francisco Nicholson, Gonçalves Preto e Nicolau Breyner, no teatro ABC. Numa avaliação do que então se iniciava, o crítico de teatro Carlos Porto escreveu: “Estas revistas […] propunham a renovação do espectáculo nos seus aspectos mais caducos: música, coreografia, encenação e o próprio texto […] na vontade de trabalhar o material como um todo orgânico” (PORTO/MENEZES 1985: 31). Tudo o que era intocável na fórmula da revista foi contestado. A esta mudança estão ligados autores como José Viana, Aníbal Nazaré, Francisco Nicholson e Gonçalves Preto que ousaram abordar assuntos até aí interditos. “A revista colocava-se ao lado das forças progressistas e, à sua maneira, contornando astuciosamente os obstáculos levantados pela censura, ajudava a abalar os alicerces carcomidos do regime” (REBELLO 1985: 146).</span></p> <p><span style="color: #333333;">Após o 25 de Abril, compreensivelmente, os autores apressaram-se a colocar em cena os quadros que tinham sido interditados pela censura. O uso do palavrão passou a ser recorrente em muitos dos textos levados à cena, em muitos casos com alguns excessos despropositados, redundando mesmo em pura obscenidade. Luiz Francisco Rebello conta que as revistas no Parque Mayer oscilavam, neste período, “entre uma difícil e duvidosa neutralidade e uma viragem radical à direita” (REBELLO 1985: 175). Assim, alguns trabalhadores do teatro ABC decidiram sair do Parque para formar, em 1974, uma cooperativa de teatro: o Adoque. Propunham-se fazer um teatro de revista de tendências progressistas, e fixaram-se no Martim Moniz, num teatro desmontável que fora pertença da Companhia Rafael de Oliveira. No Parque Mayer mantiveram-se os artistas com uma ideologia mais conservadora e o repertório ressentiu-se, por vezes, desse excessivo zelo.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Mas nem só de teatro de revista viveu o Parque Mayer: espetáculos de jazz, de fado, operetas, comédias e circo atraíram um vasto público: burguês e popular, lisboeta e de fora. Acima de tudo, porém, o Parque Mayer foi a “capital da revista”, a “Broadway lisboeta”, com uma trepidante vida noturna, consagrando artistas como Raul Solnado, José Viana, Beatriz Costa, Ivone Silva, Henriqueta Maia, Herman José, entre tantos outros. Também Francis Graça abrilhantou os espetáculos do Parque com coreografias inovadoras e técnicas importadas de ballets mundiais, devendo-se a compositores como Frederico Valério e Raul Ferrão êxitos musicais como os fados protagonizados por Amália Rodrigues. Entre os empresários que marcaram <span style="letter-spacing: 0px;">alguns dos êxitos do teatro de revista estão Giuseppe Bastos, Vasco Morgado, Eugénio Salvador e, mais recentemente, Hélder Freire Costa.</span></span></p> <p><span style="color: #333333;">Nos anos áureos do Parque Mayer, os espetáculos tinham duas sessões durante a semana (incluindo o sábado) e três aos domingos e feriados, empregando centenas de pessoas entre artistas, costureiras, carpinteiros, técnicos de iluminação, e vários outros profissionais envolvidos na produção de espetáculos de revista. Mesmo com os quatro teatros a apresentarem espetáculos em simultâneo, as lotações esgotavam muitas vezes.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Ao longo da sua história, “O Parque Mayer foi o espelho de muitas das mudanças na sociedade lisboeta, nos seus avanços e recuos” (TRIGO/REIS 2006: 8). Testemunha destas mudanças foi o pintor, maquetista, cenógrafo e figurinista Mário Alberto, conhecido como o último “resistente” do Parque Mayer. Ali o artista tinha o seu <em>atelier</em> num primeiro andar, onde passou a morar desde 1973. Conviveu e colaborou com artistas e profissionais do teatro tendo assinado a cenografia e os figurinos de inúmeras revistas que aí subiram à cena.</span></p> <p><span style="color: #333333;">A madrugada era a altura do dia em que o Parque Mayer parecia mais apetecível para os boémios que conviviam com prostitutas, bêbados, coristas e artistas da revista ou de outras <span style="letter-spacing: 0px;">artes de palco, pessoas que “possuem a consciência da noite, porque a noite é um outro mundo.” (AA.VV. 2002: 54) E foi nesse mundo que Mário Alberto viveu até perto do fim da sua vida, tendo no Parque Mayer o seu microcosmo particular. </span></span></p> <p><span style="color: #333333;">Ainda que, esporadicamente, o espaço do Parque Mayer tenha servido nos últimos anos como recinto de apresentação de espetáculos ao ar livre, concertos no âmbito dos festivais de verão ou gravações de programas de televisão numa tentativa de restituir a este espaço a vida de outrora, é visível o abandono e a falta de manutenção.</span></p> <p><span style="color: #333333;">As primeiras ideias de remodelação para o Parque Mayer começaram por surgir no início da década de 70. No ano de 1994, no âmbito de “Lisboa – Capital da Cultura” também se falou numa “renovação dos espaços teatrais” que incluiria o Parque Mayer, o que acabou por não se verificar. Em 1999 este espaço foi adquirido pela empresa Bragaparques e encontra-se no meio de um conflito de interesses que impede a reestruturação deste espaço, embora seja invocada há décadas como compromisso de campanha de quase todos os candidatos à Câmara Municipal de Lisboa.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span></p> <p><span style="color: #333333;">AA.VV. (2002). <em>IVAngelho II Mário Alberto – vidas laicas</em>. Amadora: ed. Sojorama.</span></p> <p><span style="color: #333333;">ARAÚJO, Norberto (1993). <em>Peregrinações em Lisboa</em>. vol. XIV, Lisboa: Ed. Vega.</span></p> <p><span style="color: #333333;">CABRERA, Ana (2009). “Censura ao teatro nos anos cinquenta” in: <em>Sinais de Cena</em>, nº12. Lisboa: APCT/CET, pp. 27-29.</span></p> <p><span style="color: #333333;">DIONÍSIO, Eduarda (1993). <em>Títulos, acções, obrigações: A cultura em Portugal, 1974-1994</em>. Lisboa: Edições Salamandra.</span></p> <p><span style="color: #333333;">FRANCISCO, Rui / RAMOS, José (1992). “Mayer, o Parque Triste”, in AA.VV, <em>Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais: compilação das comunicações apresentadas no colóquio</em>. Lisboa: ACARTE/ Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 277- 288.</span></p> <p><span style="color: #333333;">NEGRÃO, Albano Zink (1965). <em>O Parque Mayer: cinquenta anos de vida</em>. Lisboa: Editorial Notícias.</span></p> <p><span style="color: #333333;">PORTO, Carlos / MENEZES, Salvato Teles (1985). <em>10 anos de teatro e cinema em Portugal : 1974-1984</em>. Lisboa: col. Nosso Mundo, ed. Caminho.</span></p> <p><span style="color: #333333;">REBELLO, Luiz Francisco (1984). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.I. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (1985). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.II. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">SANTOS, Vítor Pavão (1978). <em>A revista à portuguesa: uma história breve do teatro de revista</em>. Lisboa: O jornal.</span></p> <p><span style="color: #333333;">SEQUEIRA, Gustavo Matos (1947). “O teatro de revista” in <em>A evolução e o espírito do teatro em Portugal: 2º ciclo de conferências promovidas pelo “Século”</em>. vol. II. Lisboa: Sociedade Nacional de Tipografias.</span></p> <p><span style="color: #333333;">SILVA, Varela (1992). <em>Camarim com janela para a rua: histórias de teatro</em>. Lisboa: Estampa.</span></p> <p><span style="color: #333333;">TRIGO, Jorge / REIS, Luciano (2004). <em>Parque Mayer, (1922/1952)</em> vol.I. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2005). <em>Parque Mayer, (1953/1973)</em>, vol II. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2006). <em>Parque Mayer, (1974/1994)</em>, vol III. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">VIDAL, Isabel (2009). “Duplo sentido” in: <em>Sinais de Cena</em>, nº12. Lisboa: APCT/CET, pp. 30-32.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;">Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:</span></p> <p><a title="CETbase" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=3132" target="_blank">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=3132</a></p> <p><span style="color: #333333;">Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:</span></p> <p><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank">http://opsis.fl.ul.pt/</a></p> <p><span style="color: #333333;"><strong> </strong></span></p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Andreia Brito Silva/Centro de Estudos de Teatro</strong></span></p> <p>(Travessa do Salitre, 1250 Lisboa, Portugal)</p> <p>Inaugurado a 15 de junho de 1922, o Parque Mayer resultou de uma partilha familiar do palacete Mayer e dos seus jardins.</p> <table style="width: 200px;" border="0" align="right"> <tbody> <tr> <td> </td> <td style="width: 200px;"><a class="lightbox" title="Parque Mayer (pórtico), 2012, fot. Andreia Brito Silva [CET]." href="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/parque_mayer.png" target="_blank"><img src="images/stories/teatro_em_portugal/espacos/parque_mayer.png" alt="Parque Mayer" width="200" height="267" /></a></td> </tr> <tr> <td> </td> <td style="text-align: center; background-color: #d7e5f4; width: 200px;"><span style="font-size: 8pt; color: #008000;">Parque Mayer (pórtico), 2012, fot. Andreia Brito Silva [CET].</span></td> </tr> </tbody> </table> <p><span style="color: #333333;">Este espaço exterior foi adquirido, em 1920, por Artur Brandão, “primeiro promotor do Parque Mayer” (FRANCISCO/RAMOS 1992: 280), tendo sido comprado no ano seguinte por Luís Galhardo, jornalista, escritor e empresário que, com outros dez sócios, constituiu a Sociedade Avenida Parque, Lda. Aqui se construíram casas de espetáculo que acabaram por se especializar no teatro de revista, sucedendo – ou associando-se – a outras atrações de caráter lúdico, como carrosséis e carrinhos de choque, que juntavam muito público. Situado junto à Avenida da Liberdade, do lado ocidental, entre a Rua do Salitre e a Praça da Alegria, este recinto viveu o seu apogeu entre as décadas de 30 e de 70 do séc. XX, tendo, desde aí, entrado em declínio. Neste espaço estrearam-se e ganharam fama artistas do teatro e da canção, que souberam fidelizar um público entusiasta. No início do séc. XXI apenas o Teatro Maria Vitória apresenta alguma (esporádica) atividade com espetáculos de teatro de revista, por iniciativa do empresário Hélder Freire Costa.</span></p> <p><span style="color: #333333;">No recinto onde se situava o Palácio Mayer começou por funcionar, entre 1918 e 1920, o Club Mayer. Este clube noturno de recreio e jogo foi vendido em 1930, por Luís Galhardo, um dos dez societários do então Avenida Parque, Lda., vindo a instalar-se aí o Consulado Geral de Espanha em Lisboa. Entretanto, nos espaços adjacentes a este edifício – jardins e lagos – nasceu o que há muito este empresário havia idealizado: um espaço de diversão noturna e um polo de atração teatral. Foi também nesse ano que se efetuaram alguns melhoramentos no recinto, nomeadamente a construção do pórtico de entrada, com desenho do arquiteto Cristino Silva, impondo-se desde então o nome Parque Mayer como designação genérica.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Com instalações precárias, o Parque Mayer foi-se tornando, aos poucos, um sítio carismático de diversão e boémia na cidade de Lisboa. Nos anos 30, começou por funcionar com divertimentos como barracas “dos tirinhos”, carrinhos de choque, carrosséis de feira, “roleta diabólica”, atrações várias, como o circo do El Dorado, e combates de boxe e luta-livre. Deste modo, o Parque Mayer rapidamente se tornou um recinto de convívio e de feira ao ar livre, onde não faltavam restaurantes, bares, <em>cabarets</em>, retiros e tascas, atraindo um público aficionado. Em 1932, por sugestão de Leitão de Barros, realizou-se aí o primeiro desfile de grupos representantes dos bairros lisboetas que, posteriormente, dará origem às Marchas Populares.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Neste espaço, a que acorria um público ávido de diversão, foram sendo construídos vários teatros: o Teatro Maria Vitória (1922), o Teatro Variedades (1926), e o Teatro Capitólio (1931), sendo este – pelo traço de Luís Cristino Silva – um importante marco da arquitetura modernista em Portugal. Em 1956 edificou-se o último dos recintos – o Teatro ABC – que encerrou definitivamente em 1997. Outras casas de espetáculo tiveram vida mais efémera, como foi o caso do Teatro Recreio em 1937, que foi edificado por iniciativa do empresário Giuseppe Bastos e esteve apenas três anos em funcionamento.</span></p> <p><span style="color: #333333;">A história do Parque Mayer é indissociável do percurso político, social e cultural do país. No início dos anos 70 assistiu-se, neste espaço, a uma completa renovação de autores, artistas e da própria estrutura da revista à portuguesa, como foi o caso, em 1972, de <em>É o fim da macacada</em>, de Francisco Nicholson, Gonçalves Preto e Nicolau Breyner, no teatro ABC. Numa avaliação do que então se iniciava, o crítico de teatro Carlos Porto escreveu: “Estas revistas […] propunham a renovação do espectáculo nos seus aspectos mais caducos: música, coreografia, encenação e o próprio texto […] na vontade de trabalhar o material como um todo orgânico” (PORTO/MENEZES 1985: 31). Tudo o que era intocável na fórmula da revista foi contestado. A esta mudança estão ligados autores como José Viana, Aníbal Nazaré, Francisco Nicholson e Gonçalves Preto que ousaram abordar assuntos até aí interditos. “A revista colocava-se ao lado das forças progressistas e, à sua maneira, contornando astuciosamente os obstáculos levantados pela censura, ajudava a abalar os alicerces carcomidos do regime” (REBELLO 1985: 146).</span></p> <p><span style="color: #333333;">Após o 25 de Abril, compreensivelmente, os autores apressaram-se a colocar em cena os quadros que tinham sido interditados pela censura. O uso do palavrão passou a ser recorrente em muitos dos textos levados à cena, em muitos casos com alguns excessos despropositados, redundando mesmo em pura obscenidade. Luiz Francisco Rebello conta que as revistas no Parque Mayer oscilavam, neste período, “entre uma difícil e duvidosa neutralidade e uma viragem radical à direita” (REBELLO 1985: 175). Assim, alguns trabalhadores do teatro ABC decidiram sair do Parque para formar, em 1974, uma cooperativa de teatro: o Adoque. Propunham-se fazer um teatro de revista de tendências progressistas, e fixaram-se no Martim Moniz, num teatro desmontável que fora pertença da Companhia Rafael de Oliveira. No Parque Mayer mantiveram-se os artistas com uma ideologia mais conservadora e o repertório ressentiu-se, por vezes, desse excessivo zelo.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Mas nem só de teatro de revista viveu o Parque Mayer: espetáculos de jazz, de fado, operetas, comédias e circo atraíram um vasto público: burguês e popular, lisboeta e de fora. Acima de tudo, porém, o Parque Mayer foi a “capital da revista”, a “Broadway lisboeta”, com uma trepidante vida noturna, consagrando artistas como Raul Solnado, José Viana, Beatriz Costa, Ivone Silva, Henriqueta Maia, Herman José, entre tantos outros. Também Francis Graça abrilhantou os espetáculos do Parque com coreografias inovadoras e técnicas importadas de ballets mundiais, devendo-se a compositores como Frederico Valério e Raul Ferrão êxitos musicais como os fados protagonizados por Amália Rodrigues. Entre os empresários que marcaram <span style="letter-spacing: 0px;">alguns dos êxitos do teatro de revista estão Giuseppe Bastos, Vasco Morgado, Eugénio Salvador e, mais recentemente, Hélder Freire Costa.</span></span></p> <p><span style="color: #333333;">Nos anos áureos do Parque Mayer, os espetáculos tinham duas sessões durante a semana (incluindo o sábado) e três aos domingos e feriados, empregando centenas de pessoas entre artistas, costureiras, carpinteiros, técnicos de iluminação, e vários outros profissionais envolvidos na produção de espetáculos de revista. Mesmo com os quatro teatros a apresentarem espetáculos em simultâneo, as lotações esgotavam muitas vezes.</span></p> <p><span style="color: #333333;">Ao longo da sua história, “O Parque Mayer foi o espelho de muitas das mudanças na sociedade lisboeta, nos seus avanços e recuos” (TRIGO/REIS 2006: 8). Testemunha destas mudanças foi o pintor, maquetista, cenógrafo e figurinista Mário Alberto, conhecido como o último “resistente” do Parque Mayer. Ali o artista tinha o seu <em>atelier</em> num primeiro andar, onde passou a morar desde 1973. Conviveu e colaborou com artistas e profissionais do teatro tendo assinado a cenografia e os figurinos de inúmeras revistas que aí subiram à cena.</span></p> <p><span style="color: #333333;">A madrugada era a altura do dia em que o Parque Mayer parecia mais apetecível para os boémios que conviviam com prostitutas, bêbados, coristas e artistas da revista ou de outras <span style="letter-spacing: 0px;">artes de palco, pessoas que “possuem a consciência da noite, porque a noite é um outro mundo.” (AA.VV. 2002: 54) E foi nesse mundo que Mário Alberto viveu até perto do fim da sua vida, tendo no Parque Mayer o seu microcosmo particular. </span></span></p> <p><span style="color: #333333;">Ainda que, esporadicamente, o espaço do Parque Mayer tenha servido nos últimos anos como recinto de apresentação de espetáculos ao ar livre, concertos no âmbito dos festivais de verão ou gravações de programas de televisão numa tentativa de restituir a este espaço a vida de outrora, é visível o abandono e a falta de manutenção.</span></p> <p><span style="color: #333333;">As primeiras ideias de remodelação para o Parque Mayer começaram por surgir no início da década de 70. No ano de 1994, no âmbito de “Lisboa – Capital da Cultura” também se falou numa “renovação dos espaços teatrais” que incluiria o Parque Mayer, o que acabou por não se verificar. Em 1999 este espaço foi adquirido pela empresa Bragaparques e encontra-se no meio de um conflito de interesses que impede a reestruturação deste espaço, embora seja invocada há décadas como compromisso de campanha de quase todos os candidatos à Câmara Municipal de Lisboa.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Bibliografia</strong></span></p> <p><span style="color: #333333;">AA.VV. (2002). <em>IVAngelho II Mário Alberto – vidas laicas</em>. Amadora: ed. Sojorama.</span></p> <p><span style="color: #333333;">ARAÚJO, Norberto (1993). <em>Peregrinações em Lisboa</em>. vol. XIV, Lisboa: Ed. Vega.</span></p> <p><span style="color: #333333;">CABRERA, Ana (2009). “Censura ao teatro nos anos cinquenta” in: <em>Sinais de Cena</em>, nº12. Lisboa: APCT/CET, pp. 27-29.</span></p> <p><span style="color: #333333;">DIONÍSIO, Eduarda (1993). <em>Títulos, acções, obrigações: A cultura em Portugal, 1974-1994</em>. Lisboa: Edições Salamandra.</span></p> <p><span style="color: #333333;">FRANCISCO, Rui / RAMOS, José (1992). “Mayer, o Parque Triste”, in AA.VV, <em>Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais: compilação das comunicações apresentadas no colóquio</em>. Lisboa: ACARTE/ Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 277- 288.</span></p> <p><span style="color: #333333;">NEGRÃO, Albano Zink (1965). <em>O Parque Mayer: cinquenta anos de vida</em>. Lisboa: Editorial Notícias.</span></p> <p><span style="color: #333333;">PORTO, Carlos / MENEZES, Salvato Teles (1985). <em>10 anos de teatro e cinema em Portugal : 1974-1984</em>. Lisboa: col. Nosso Mundo, ed. Caminho.</span></p> <p><span style="color: #333333;">REBELLO, Luiz Francisco (1984). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.I. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (1985). <em>História do Teatro de Revista em Portugal</em>. Vol.II. Lisboa: Publicações Dom Quixote.</span></p> <p><span style="color: #333333;">SANTOS, Vítor Pavão (1978). <em>A revista à portuguesa: uma história breve do teatro de revista</em>. Lisboa: O jornal.</span></p> <p><span style="color: #333333;">SEQUEIRA, Gustavo Matos (1947). “O teatro de revista” in <em>A evolução e o espírito do teatro em Portugal: 2º ciclo de conferências promovidas pelo “Século”</em>. vol. II. Lisboa: Sociedade Nacional de Tipografias.</span></p> <p><span style="color: #333333;">SILVA, Varela (1992). <em>Camarim com janela para a rua: histórias de teatro</em>. Lisboa: Estampa.</span></p> <p><span style="color: #333333;">TRIGO, Jorge / REIS, Luciano (2004). <em>Parque Mayer, (1922/1952)</em> vol.I. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2005). <em>Parque Mayer, (1953/1973)</em>, vol II. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">___ (2006). <em>Parque Mayer, (1974/1994)</em>, vol III. Lisboa: Sete Caminhos.</span></p> <p><span style="color: #333333;">VIDAL, Isabel (2009). “Duplo sentido” in: <em>Sinais de Cena</em>, nº12. Lisboa: APCT/CET, pp. 30-32.</span></p> <p> </p> <p><span style="color: #333333;">Consultar a ficha de <em>espaço</em> na <strong>CETbase</strong>:</span></p> <p><a title="CETbase" href="http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=3132" target="_blank">http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&amp;ObjId=3132</a></p> <p><span style="color: #333333;">Consultar imagens no <strong>OPSIS</strong>:</span></p> <p><a title="OPSIS" href="http://opsis.fl.ul.pt/" target="_blank">http://opsis.fl.ul.pt/</a></p> <p><span style="color: #333333;"><strong> </strong></span></p> <p><span style="color: #333333;"><strong>Andreia Brito Silva/Centro de Estudos de Teatro</strong></span></p>