titletitleAtividades didáticas <subtitle type="text"></subtitle> <link rel="alternate" type="text/html" href="http://cvc.instituto-camoes.pt"/> <id>http://cvc.instituto-camoes.pt/</id> <updated>2025-08-10T05:10:22+00:00</updated> <author> <name>Centro Virtual Camões</name> <email>naoresponder.plataforma.cvc@fbapps.pt</email> </author> <generator uri="http://joomla.org" version="1.6">Joomla! - Open Source Content Management</generator> <link rel="self" type="application/atom+xml" href="http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica-dp6.html?format=feed&type=atom"/> <entry> <title>Lirismo <link rel="alternate" type="text/html" href="http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/lirismo-dp7.html"/> <published>2011-02-14T08:19:20+00:00</published> <updated>2011-02-14T08:19:20+00:00</updated> <id>http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/lirismo-dp7.html</id> <author> <name>Luís Morgado</name> <email>luis.morgado@instituto-camoes.pt</email> </author> <summary type="html"><div style="text-align: right;" align="center"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong><span style="font-size: 12pt; color: #cd853f;">Lirismo</span><br /> <br /><br /></strong></span></div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="136"><img style="float: left; margin: 0px;" title="&quot;O Castelo&quot; ou &quot;Auto-Retrato Profético&quot; (1952) de Eurico Gonçalves" src="literatura/egito.jpg" alt="&quot;O Castelo&quot; ou &quot;Auto-Retrato Profético&quot; (1952) de Eurico Gonçalves" width="136" height="183" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="136"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">"O Castelo" ou "Auto-Retrato Profético" (1952) de Eurico Gonçalves [n. 1932]</span></div> </td> </tr> <tr> <td width="10" height="10"></td> <td width="136" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">O lirismo tem a sua primeira afirmação nacional na <em>poesia trovadoresca</em>, cujos géneros principais são: as <em>cantigas de amor</em> (assimiláveis à poética provençal, na qual o poeta exprime uma forte admiração e submissão em relação à mulher amada), as <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1323:cantigas-de-amigo&amp;catid=954:geral"><em>cantigas de amigo</em></a> (caracterizadas por veicularem a expressão feminina), as <em>cantigas de escárnio e maldizer</em> (sátiras e motejos), as <em>albas</em> (que remetem para situações de alvorada), as <em>bailias</em> (que remetem para as danças) e as <em>barcarolas</em> (que versam temas marinhos ou relativos às águas dos rios).</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">O lirismo medieval tem uma poética muito própria, fortemente codificada na metrificação e nos agrupamentos estróficos, e muito distinta da evolução que a poesia vai seguir, sobretudo devido ao renascimento e à imitação dos antigos, que mantém os rigores da modificação poética mas a altera substancialmente.</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <pre style="text-align: justify; margin-left: 60px;"><span style="color: #555555; font-size: 10pt; font-family: arial;">Senhora, partem tão tristes<br />meus olhos por vós, meu bem,<br />que nunca tão tristes vistes<br />outros nenhuns por ninguém.<br />&nbsp;<br />Tão tristes, tão saudosos,<br />tão doentes da partida,<br />tão cansados, tão chorosos,<br />da morte mais desejosos<br />cem mil vezes que da vida.<br />Partem tão tristes, os tristes,<br />tão fora de esperar bem<br />que nunca tão tristes vistes<br />outros nenhuns por ninguém.</span><span style="color: #808080; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /><span style="color: #cd853f; font-size: 8pt;">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; João Roiz de Castelo-Branco, </span><em><span style="color: #cd853f; font-size: 8pt;">Cancioneiro Geral</span><br /></em></span></pre> <p>&nbsp;</p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="left"> <tbody> <tr> <td width="151"><img style="float: left; margin: 0px;" title="&quot;Erotismo e Morte&quot; (1985) de Graça Morais" src="literatura/gmorais.jpg" alt="&quot;Erotismo e Morte&quot; (1985) de Graça Morais" width="151" height="207" /></td> <td width="10"></td> </tr> <tr> <td bgcolor="#ebebeb" width="151" height="10"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">"Erotismo e Morte" (1985) de Graça Morais [n. 1948]</span></div> </td> <td width="10" height="10"></td> </tr> <tr> <td width="151" height="10"></td> <td width="10" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Por isso é comum apontar o <em>Cancioneiro Geral</em> (1516), de <strong>Garcia de Resende</strong>, como uma coletânea de transição, onde autores renascentistas como <strong><a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1350:bernardim-ribeiro-e-a-menina-e-moca&amp;catid=956:autores-e-antologia">Bernardim Ribeiro</a> </strong>(cultor de metros tradicionais, exprimindo uma visão moderna da experiência amorosa e do desengano) e <strong>Sá de Miranda</strong> (ligado a uma visão do mundo mais convencional, mas programaticamente, e formalmente, adepto da escola classicista) aparecem a par. Mas o sistema dos géneros modifica-se: cultivam-se as elegias, as odes, as sátiras, as epístolas, os epigramas, assim como as canções (que em muito se aparentam às elegias) e os sonetos, forma recente mas comummente adotada na literatura europeia ocidental. A obra de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1368:camoes&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Camões</strong></a> constituirá a prova da fecundidade deste sistema.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Mas o <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1334:romantismo&amp;catid=955:periodos-e-tendencias">Romantismo</a> irá desprender a expressividade poética da contenção formal até então em uso, especialmente com <strong>José Anastácio da Cunha</strong> e com <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1343:almeida-garrett&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Garrett</strong></a>, e o <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1336:simbolismo&amp;catid=955:periodos-e-tendencias">Simbolismo</a>, juntamente com o <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1331:modernismo&amp;catid=955:periodos-e-tendencias">Modernismo</a>, abrirão as portas a uma libertação da linguagem da poesia, apta, a partir daí, a variáveis discursivas que, de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1354:cesario-verde&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Cesário Verde</strong></a> a <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1352:camilo-pessanha&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Camilo Pessanha</strong></a>, <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1358:fernando-pessoa&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Fernando Pessoa</strong></a> e, mais recentemente, <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1361:herberto-helder&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Herberto Helder</strong></a>, a habilitam a um diálogo com o mundo em termos de criação simultaneamente implicada e autónoma.</span></p> <p>&nbsp;</p> <p><br /> <br /> <span style="color: #c0c0c0;">© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011</span></p></summary> <content type="html"><div style="text-align: right;" align="center"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong><span style="font-size: 12pt; color: #cd853f;">Lirismo</span><br /> <br /><br /></strong></span></div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="136"><img style="float: left; margin: 0px;" title="&quot;O Castelo&quot; ou &quot;Auto-Retrato Profético&quot; (1952) de Eurico Gonçalves" src="literatura/egito.jpg" alt="&quot;O Castelo&quot; ou &quot;Auto-Retrato Profético&quot; (1952) de Eurico Gonçalves" width="136" height="183" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="136"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">"O Castelo" ou "Auto-Retrato Profético" (1952) de Eurico Gonçalves [n. 1932]</span></div> </td> </tr> <tr> <td width="10" height="10"></td> <td width="136" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">O lirismo tem a sua primeira afirmação nacional na <em>poesia trovadoresca</em>, cujos géneros principais são: as <em>cantigas de amor</em> (assimiláveis à poética provençal, na qual o poeta exprime uma forte admiração e submissão em relação à mulher amada), as <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1323:cantigas-de-amigo&amp;catid=954:geral"><em>cantigas de amigo</em></a> (caracterizadas por veicularem a expressão feminina), as <em>cantigas de escárnio e maldizer</em> (sátiras e motejos), as <em>albas</em> (que remetem para situações de alvorada), as <em>bailias</em> (que remetem para as danças) e as <em>barcarolas</em> (que versam temas marinhos ou relativos às águas dos rios).</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">O lirismo medieval tem uma poética muito própria, fortemente codificada na metrificação e nos agrupamentos estróficos, e muito distinta da evolução que a poesia vai seguir, sobretudo devido ao renascimento e à imitação dos antigos, que mantém os rigores da modificação poética mas a altera substancialmente.</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <pre style="text-align: justify; margin-left: 60px;"><span style="color: #555555; font-size: 10pt; font-family: arial;">Senhora, partem tão tristes<br />meus olhos por vós, meu bem,<br />que nunca tão tristes vistes<br />outros nenhuns por ninguém.<br />&nbsp;<br />Tão tristes, tão saudosos,<br />tão doentes da partida,<br />tão cansados, tão chorosos,<br />da morte mais desejosos<br />cem mil vezes que da vida.<br />Partem tão tristes, os tristes,<br />tão fora de esperar bem<br />que nunca tão tristes vistes<br />outros nenhuns por ninguém.</span><span style="color: #808080; font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /><span style="color: #cd853f; font-size: 8pt;">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; João Roiz de Castelo-Branco, </span><em><span style="color: #cd853f; font-size: 8pt;">Cancioneiro Geral</span><br /></em></span></pre> <p>&nbsp;</p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="left"> <tbody> <tr> <td width="151"><img style="float: left; margin: 0px;" title="&quot;Erotismo e Morte&quot; (1985) de Graça Morais" src="literatura/gmorais.jpg" alt="&quot;Erotismo e Morte&quot; (1985) de Graça Morais" width="151" height="207" /></td> <td width="10"></td> </tr> <tr> <td bgcolor="#ebebeb" width="151" height="10"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">"Erotismo e Morte" (1985) de Graça Morais [n. 1948]</span></div> </td> <td width="10" height="10"></td> </tr> <tr> <td width="151" height="10"></td> <td width="10" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Por isso é comum apontar o <em>Cancioneiro Geral</em> (1516), de <strong>Garcia de Resende</strong>, como uma coletânea de transição, onde autores renascentistas como <strong><a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1350:bernardim-ribeiro-e-a-menina-e-moca&amp;catid=956:autores-e-antologia">Bernardim Ribeiro</a> </strong>(cultor de metros tradicionais, exprimindo uma visão moderna da experiência amorosa e do desengano) e <strong>Sá de Miranda</strong> (ligado a uma visão do mundo mais convencional, mas programaticamente, e formalmente, adepto da escola classicista) aparecem a par. Mas o sistema dos géneros modifica-se: cultivam-se as elegias, as odes, as sátiras, as epístolas, os epigramas, assim como as canções (que em muito se aparentam às elegias) e os sonetos, forma recente mas comummente adotada na literatura europeia ocidental. A obra de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1368:camoes&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Camões</strong></a> constituirá a prova da fecundidade deste sistema.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Mas o <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1334:romantismo&amp;catid=955:periodos-e-tendencias">Romantismo</a> irá desprender a expressividade poética da contenção formal até então em uso, especialmente com <strong>José Anastácio da Cunha</strong> e com <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1343:almeida-garrett&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Garrett</strong></a>, e o <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1336:simbolismo&amp;catid=955:periodos-e-tendencias">Simbolismo</a>, juntamente com o <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1331:modernismo&amp;catid=955:periodos-e-tendencias">Modernismo</a>, abrirão as portas a uma libertação da linguagem da poesia, apta, a partir daí, a variáveis discursivas que, de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1354:cesario-verde&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Cesário Verde</strong></a> a <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1352:camilo-pessanha&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Camilo Pessanha</strong></a>, <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1358:fernando-pessoa&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Fernando Pessoa</strong></a> e, mais recentemente, <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1361:herberto-helder&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Herberto Helder</strong></a>, a habilitam a um diálogo com o mundo em termos de criação simultaneamente implicada e autónoma.</span></p> <p>&nbsp;</p> <p><br /> <br /> <span style="color: #c0c0c0;">© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011</span></p></content> <category term="Visão Genérica" /> </entry> <entry> <title>Ficção 2011-02-14T08:09:11+00:00 2011-02-14T08:09:11+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/ficcao-dp7.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <div style="text-align: right;" align="center"><span style="color: #000080; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong><span style="font-size: 12pt; color: #cd853f;">Ficção</span><br /></strong></span></div> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <table id="_mc_tmp" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="179"><img style="float: left; margin: 0px;" title="&quot;Os óculos do poeta Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa&quot;" src="literatura/cpinheiro.jpg" alt="&quot;Os óculos do poeta Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa&quot;" width="179" height="139" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="179"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: 8pt;">"Os óculos do poeta Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa" (1980) de Costa Pinheiro [n.1932]</span></div> </td> </tr> <tr> <td style="width: 10px; height: 10px;"></td> <td></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial; color: #333333;">Na sequência do <em>Amadis de Gaula</em> (séc. XIV), as novelas de cavalaria proliferam ainda durante o século XVI (<em>Crónica do Imperador Clarimundo</em>, 1522, do futuro historiador <strong>João de Barros</strong>, <em>Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda</em>, 1567, de <strong>Jorge Ferreira de Vasconcelos</strong>, <em>Palmeirim de Inglaterra</em>, 1567, de <strong>Francisco de Morais</strong>); um outro tipo de ficção se desenvolve paralelamente, o da novela pastoril, cujo modelo peninsular, que rapidamente adquire ressonância europeia, a partir da <em>Diana</em>, 1559, escrita em espanhol, de <strong>Jorge de Montemor</strong>, que no séc. XVII ainda ecoa nas obras de <strong>Rodrigues Lobo</strong>, lírico de primeira água e autor das novelas <em>Primavera</em>, <em>Pastor Peregrino</em> e <em>Desenganado</em> assim como na <em>Lusitânia Transformada</em> de <strong>Fernão Álvares do Oriente</strong>, e nas <em>Ribeiras do Mondego</em>, de <strong>Elói de Souto Maior</strong>.</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial; color: #333333;">O séc. XVII vê também desenvolver-se a novela parenética, com Os <em>Infortúnios Trágicos da Constante Florinda</em>, 1633, de <strong>Gaspar Pires de Rebelo</strong>, de esquema mais tarde convertido em alegoria progressista, de acordo com os ideais do <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1329:iluminismo&amp;catid=955:periodos-e-tendencias"><span style="color: #333333;">Iluminismo</span></a> mas ficcionalmente similar, em obras como <em>O Feliz Independente do Tempo e da Fortuna</em>, 1779, do <strong>Pe. Teodoro de Almeida</strong>, de que <em>As Aventuras de Diófanes</em>, 1752, de <strong>Teresa Margarida da Silva e Horta</strong> prenunciavam o teor político, na senda pedagógica de Fénelon.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Mas a ficção clássica, em Portugal, emerge sobretudo, para os três séculos, com a <em>Menina e Moça</em>, de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1350:bernardim-ribeiro-e-a-menina-e-moca&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Bernardim Ribeiro</strong> </span></a>(séc. XVI), a <em>Peregrinação</em>, de <strong>Fernão Mendes Pinto</strong> (séc. XVII) e as <em>Obras do Diabinho da Mão Furada</em>, obra anónima do séc. XVIII, por vezes atribuída a <strong>António José da Silva, o Judeu</strong>.</span><br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table id="_mc_tmp" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="left"> <tbody> <tr> <td width="229"><img style="float: left; margin: 0px;" title="&quot;Passarola&quot; (1709) de Bartolomeu de Gusmão" src="literatura/passarola.jpg" alt="&quot;Passarola&quot; (1709) de Bartolomeu de Gusmão" width="229" height="165" /></td> <td width="10"></td> </tr> <tr> <td bgcolor="#ebebeb" width="229" height="10"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: 8pt; color: #555555;">"Passarola" (1709) de Bartolomeu de Gusmão. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> <td width="10" height="10"></td> </tr> <tr> <td style="width: 229px; height: 10px;"></td> <td width="10" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial; color: #333333;">Nostalgia moderna de um mundo ideal perdido, em lamento amoroso (a primeira), sentido épico mas desconstruído da aventura da descoberta e da exploração do mundo físico (a segunda), deambulação picaresca pelos meandros urbanos e campesinos, de Évora a Lisboa, e sua apologia social (a última), ilustram bem a complexidade e riqueza do romance que o séc. XIX desenvolve (com a implicação subjetiva de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1343:almeida-garrett&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Garrett</strong></span></a>, a urdidura passional de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1351:camilo-castelo-branco&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Camilo Castelo Branco</strong></span></a> e a panorâmica social de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1356:eca-de-queiros&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Eça de Queirós</strong></span></a>), e o séc. XX consagra (nomeadamente na repetitividade decetiva de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1377:raul-brandao&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Raul Brandão</strong></span></a>, na premência do quotidiano em <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1348:aquilino-ribeiro&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Aquilino Ribeiro</strong></span></a>, <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1381:vitorino-nemesio&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Vitorino Nemésio</strong></span></a> e <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1364:jose-cardoso-pires&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>José Cardoso Pires</strong></span></a>, ou nas deambulações do discurso da memória de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1345:antonio-lobo-antunes&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>António Lobo Antunes</strong></span></a> e da indagação do sentido através da articulação do homem com a ideia em <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1367:jose-saramago&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>José Saramago</strong></span></a>).</span></p> <p>&nbsp;</p> <p style="text-align: center;">&nbsp;</p> <div style="background-color: #ffffff;" align="left"><span style="color: #c0c0c0; font-size: 8pt;"><br /><br />© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011</span></div> <div style="text-align: right;" align="center"><span style="color: #000080; font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong><span style="font-size: 12pt; color: #cd853f;">Ficção</span><br /></strong></span></div> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <table id="_mc_tmp" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="179"><img style="float: left; margin: 0px;" title="&quot;Os óculos do poeta Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa&quot;" src="literatura/cpinheiro.jpg" alt="&quot;Os óculos do poeta Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa&quot;" width="179" height="139" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="179"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: 8pt;">"Os óculos do poeta Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa" (1980) de Costa Pinheiro [n.1932]</span></div> </td> </tr> <tr> <td style="width: 10px; height: 10px;"></td> <td></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial; color: #333333;">Na sequência do <em>Amadis de Gaula</em> (séc. XIV), as novelas de cavalaria proliferam ainda durante o século XVI (<em>Crónica do Imperador Clarimundo</em>, 1522, do futuro historiador <strong>João de Barros</strong>, <em>Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda</em>, 1567, de <strong>Jorge Ferreira de Vasconcelos</strong>, <em>Palmeirim de Inglaterra</em>, 1567, de <strong>Francisco de Morais</strong>); um outro tipo de ficção se desenvolve paralelamente, o da novela pastoril, cujo modelo peninsular, que rapidamente adquire ressonância europeia, a partir da <em>Diana</em>, 1559, escrita em espanhol, de <strong>Jorge de Montemor</strong>, que no séc. XVII ainda ecoa nas obras de <strong>Rodrigues Lobo</strong>, lírico de primeira água e autor das novelas <em>Primavera</em>, <em>Pastor Peregrino</em> e <em>Desenganado</em> assim como na <em>Lusitânia Transformada</em> de <strong>Fernão Álvares do Oriente</strong>, e nas <em>Ribeiras do Mondego</em>, de <strong>Elói de Souto Maior</strong>.</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial; color: #333333;">O séc. XVII vê também desenvolver-se a novela parenética, com Os <em>Infortúnios Trágicos da Constante Florinda</em>, 1633, de <strong>Gaspar Pires de Rebelo</strong>, de esquema mais tarde convertido em alegoria progressista, de acordo com os ideais do <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1329:iluminismo&amp;catid=955:periodos-e-tendencias"><span style="color: #333333;">Iluminismo</span></a> mas ficcionalmente similar, em obras como <em>O Feliz Independente do Tempo e da Fortuna</em>, 1779, do <strong>Pe. Teodoro de Almeida</strong>, de que <em>As Aventuras de Diófanes</em>, 1752, de <strong>Teresa Margarida da Silva e Horta</strong> prenunciavam o teor político, na senda pedagógica de Fénelon.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Mas a ficção clássica, em Portugal, emerge sobretudo, para os três séculos, com a <em>Menina e Moça</em>, de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1350:bernardim-ribeiro-e-a-menina-e-moca&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Bernardim Ribeiro</strong> </span></a>(séc. XVI), a <em>Peregrinação</em>, de <strong>Fernão Mendes Pinto</strong> (séc. XVII) e as <em>Obras do Diabinho da Mão Furada</em>, obra anónima do séc. XVIII, por vezes atribuída a <strong>António José da Silva, o Judeu</strong>.</span><br /><br /></span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table id="_mc_tmp" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="left"> <tbody> <tr> <td width="229"><img style="float: left; margin: 0px;" title="&quot;Passarola&quot; (1709) de Bartolomeu de Gusmão" src="literatura/passarola.jpg" alt="&quot;Passarola&quot; (1709) de Bartolomeu de Gusmão" width="229" height="165" /></td> <td width="10"></td> </tr> <tr> <td bgcolor="#ebebeb" width="229" height="10"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: 8pt; color: #555555;">"Passarola" (1709) de Bartolomeu de Gusmão. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> <td width="10" height="10"></td> </tr> <tr> <td style="width: 229px; height: 10px;"></td> <td width="10" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial; color: #333333;">Nostalgia moderna de um mundo ideal perdido, em lamento amoroso (a primeira), sentido épico mas desconstruído da aventura da descoberta e da exploração do mundo físico (a segunda), deambulação picaresca pelos meandros urbanos e campesinos, de Évora a Lisboa, e sua apologia social (a última), ilustram bem a complexidade e riqueza do romance que o séc. XIX desenvolve (com a implicação subjetiva de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1343:almeida-garrett&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Garrett</strong></span></a>, a urdidura passional de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1351:camilo-castelo-branco&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Camilo Castelo Branco</strong></span></a> e a panorâmica social de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1356:eca-de-queiros&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Eça de Queirós</strong></span></a>), e o séc. XX consagra (nomeadamente na repetitividade decetiva de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1377:raul-brandao&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Raul Brandão</strong></span></a>, na premência do quotidiano em <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1348:aquilino-ribeiro&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Aquilino Ribeiro</strong></span></a>, <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1381:vitorino-nemesio&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Vitorino Nemésio</strong></span></a> e <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1364:jose-cardoso-pires&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>José Cardoso Pires</strong></span></a>, ou nas deambulações do discurso da memória de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1345:antonio-lobo-antunes&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>António Lobo Antunes</strong></span></a> e da indagação do sentido através da articulação do homem com a ideia em <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1367:jose-saramago&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>José Saramago</strong></span></a>).</span></p> <p>&nbsp;</p> <p style="text-align: center;">&nbsp;</p> <div style="background-color: #ffffff;" align="left"><span style="color: #c0c0c0; font-size: 8pt;"><br /><br />© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011</span></div> Teatro 2011-02-10T17:27:26+00:00 2011-02-10T17:27:26+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/teatro-dp10.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <div style="text-align: right;" align="center"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong><span style="color: #000080;"><span style="font-size: 12pt; color: #cd853f;">Teatro</span><br /></span><br /> </strong></span></div> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <table id="_mc_tmp" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="137"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Capa da edição da obra Frei Luiz de Sousa" src="literatura/freilsousa.gif" alt="Capa da edição da obra Frei Luiz de Sousa" width="137" height="213" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="137"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Capa da edição da obra <em>Frei Luiz de Sousa</em>, de Almeida Garrett, fac-símile da edição da Quinta do Pinheiro</span></div> </td> </tr> <tr> <td width="10" height="20"></td> <td width="137" height="20"></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td width="137"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;"><img style="float: right; margin: 0px;" title="Capa de Primeiro Volume de Teatro de José Régio" src="literatura/jregiotetr.jpg" alt="Capa de Primeiro Volume de Teatro de José Régio" width="136" height="199" /></span></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="137"> <div align="center"><span style="color: #555555; font-family: arial; font-size: xx-small;">Capa de <em>Primeiro Volume de Teatro</em> de José Régio, 1940, desenho de Júlio</span></div> </td> </tr> <tr> <td style="height: 10px;"></td> <td style="height: 10px;"></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Considerar o teatro português implica examinar duas questões prévias:<br /><br />1. refletir quanto à relação entre teatro e literatura (porque tradicionalmente os estudos de teatro fazem parte da literatura, dada a insistência do texto enquanto matéria dramatúrgica preexistente ao espetáculo ou, nos muitos casos em que a representação precede a publicação, dada a sua perenidade material na sequência das várias representações que suporta);<br /><br />2. ter em conta que muitos historiadores entendem que a atividade teatral não é um vetor proeminente na cultura portuguesa (nem no plano do texto, nem no plano do espetáculo).<br /><br />Talvez por isso, as grandes figuras do teatro português são inaugurais ou programáticas: <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1360:gil-vicente&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Gil Vicente</strong></a>, seu criador no séc. XVI, após o surto de dramatizações litúrgicas que se verifica na literatura medieval, e <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1343:almeida-garrett&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Garrett</strong></a>, seu reformador na proposta romântica, fundando o Teatro Nacional, quer no plano do espaço apto a acolher as representações e a difundi-las ao grande público, quer no plano da produção de um «corpus», com <em>Um Auto de Vicente</em>, <em>O Alfageme de Santarém</em> e, sobretudo, o drama romântico <em>Frei Luís de Sousa</em> (1843) - peças de caráter histórico, arrancadas à sensibilidade popular e ao sentimento patriótico, veiculando conflitos emocionais em situação no quotidiano sócio-histórico português.<br /><br />Em torno da personalidade de Gil Vicente, outros dramaturgos de veia popular se notabilizaram no séc. XVI (ex. <strong>Chiado</strong> e <strong>Baltasar Dias</strong>), mas contemporaneamente esboça-se um movimento de retorno ao teatro antigo, de acordo com a doutrinação renascentista, que faz emergir um outro grupo em torno do poeta <strong>Sá de Miranda</strong>, figura fundamental do classicismo português enquanto introdutor da «medida nova» (metrificação clássica em decassílabo e géneros cultivados pelos autores da antiguidade) e cultor das primeiras comédias clássicas, <em>Estrangeiros e Villhalpandos</em>.<br /><br />A comédia, também praticada por <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1368:camoes&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Camões</strong> </a>( ex. <em>Anfitriões</em>, <em>El-rei Seleuco</em>), encontrará no séc. XVIII um autor de eleição, <strong>António José da Silva, o Judeu </strong>(ex. <em>Guerras do Alecrim e Manjerona</em>), além de alguns escritores da «Arcádia Lusitana», como <strong>Correia Garção</strong> (<em>Assembleia ou Partida</em>).</span><br /> <br /> </span></p> <table id="_mc_tmp" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="left"> <tbody> <tr> <td width="137"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Cartaz de João Vieira para a peça Auto da Índia de Gil Vicente" src="literatura/autindia.jpg" alt="Cartaz de João Vieira para a peça Auto da Índia de Gil Vicente" width="150" height="211" /></span></td> <td width="10"></td> </tr> <tr> <td bgcolor="#ebebeb" width="137"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Cartaz de João Vieira para a peça <em>Auto da Índia </em>de Gil Vicente, pelo Centro Cultural de Évora, 1982/84</span></div> </td> <td width="10"></td> </tr> <tr> <td width="137" height="20"></td> <td width="10" height="20"></td> </tr> <tr> <td width="137"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Facial da cabeceira do túmulo de D. Pedro I" src="literatura/tumulines.jpg" alt="Facial da cabeceira do túmulo de D. Pedro I" width="150" height="145" /></span></td> <td width="10"></td> </tr> <tr> <td bgcolor="#ebebeb" width="137"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Facial da cabeceira do túmulo de D. Pedro I. Mosteiro de Alcobaça</span></div> </td> <td width="10"></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">É a <em>António Ferreira</em> que se deve a obra-prima da tragédia clássica em Portugal, a <em>Castro </em>(c. 1558), baseada nos amores de D. Inês de Castro com D. Pedro I, contrariados pela razão política. <em>Castro</em> e <em>Frei Luís de Sousa</em> são os dois textos trágicos mais importantes do teatro português, pela perfeição de composição e pelo engendramento sóbrio dos conflitos, partilhados entre a liberdade do sentimento, as exigências da justiça (política, cívica ou familiar) e a intensidade do destino que se abate sobre as personagens.<br /> <br /> Só no séc. XX encontramos ambientes dramáticos de idêntica contenção e agudeza em peças de <strong>José Régio</strong> (<em>Benilde </em>ou a <em>Virgem-Mãe</em>, 1947) ou, um pouco antes, no teatro de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1377:raul-brandao&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Raul Brandão</strong> </a>(<em>O Gebo e a Sombra</em>, 1923), que se filia na passividade e estatismo da problemática simbolista, centrada na ressonância da palavra lírica e na sua indagação de absoluto (<strong>António Patrício</strong>, <em>D. João e a Máscara</em>, 1924), diferentemente entendido pelo convencionalismo de situações e costumes que vinha sendo arrastado pela numerosa produção de <strong>Marcelino Mesquita</strong> (<em>Peraltas e Sécias</em>, 1899) e <strong>Júlio Dantas</strong> (<em>A Ceia dos Cardeais</em>, 1902), ou pelas inovações irregulares e ambíguas, de tipo social e textual, de <strong>Alfredo Cortês</strong> (<em>Tá-Mar</em>, 1936).<br /> <br /> Os assomos de literatura de intervenção que os anos cinquenta conheceram deram novo vigor ao teatro, sobretudo com <strong>Bernardo Santareno</strong> (<em>A Promessa</em>, 1957, e <em>O Crime de Aldeia Velha</em>, 1959), <strong>Luiz Francisco Rebello</strong> (<em>Os Pássaros de Asas Cortadas</em>, 1959, tendo este escritor tido também uma importante atividade como crítico e historiador de teatro) e <strong><a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1364:jose-cardoso-pires&amp;catid=956:autores-e-antologia">José Cardoso Pires</a> </strong>que, com <em>O Render dos Heróis</em> (1960), representado em época próxima de outra peça de grande impacto público, <em>Felizmente, Há Luar</em> (1961), de <strong>Luís de Sttau Monteiro</strong>, proporcionaram em meados do século uma intensidade de vibração no teatro português, em termos de conjunção de texto, espetáculo, público e crítica, que não voltou a verificar-se posteriormente.</span></p> <p style="text-align: justify;"><br /> <br /> <span style="color: #c0c0c0;"><br /><br /><span style="font-size: 8pt;">© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011</span></span></p> <div style="text-align: right;" align="center"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong><span style="color: #000080;"><span style="font-size: 12pt; color: #cd853f;">Teatro</span><br /></span><br /> </strong></span></div> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <table id="_mc_tmp" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="137"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Capa da edição da obra Frei Luiz de Sousa" src="literatura/freilsousa.gif" alt="Capa da edição da obra Frei Luiz de Sousa" width="137" height="213" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="137"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Capa da edição da obra <em>Frei Luiz de Sousa</em>, de Almeida Garrett, fac-símile da edição da Quinta do Pinheiro</span></div> </td> </tr> <tr> <td width="10" height="20"></td> <td width="137" height="20"></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td width="137"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;"><img style="float: right; margin: 0px;" title="Capa de Primeiro Volume de Teatro de José Régio" src="literatura/jregiotetr.jpg" alt="Capa de Primeiro Volume de Teatro de José Régio" width="136" height="199" /></span></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="137"> <div align="center"><span style="color: #555555; font-family: arial; font-size: xx-small;">Capa de <em>Primeiro Volume de Teatro</em> de José Régio, 1940, desenho de Júlio</span></div> </td> </tr> <tr> <td style="height: 10px;"></td> <td style="height: 10px;"></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Considerar o teatro português implica examinar duas questões prévias:<br /><br />1. refletir quanto à relação entre teatro e literatura (porque tradicionalmente os estudos de teatro fazem parte da literatura, dada a insistência do texto enquanto matéria dramatúrgica preexistente ao espetáculo ou, nos muitos casos em que a representação precede a publicação, dada a sua perenidade material na sequência das várias representações que suporta);<br /><br />2. ter em conta que muitos historiadores entendem que a atividade teatral não é um vetor proeminente na cultura portuguesa (nem no plano do texto, nem no plano do espetáculo).<br /><br />Talvez por isso, as grandes figuras do teatro português são inaugurais ou programáticas: <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1360:gil-vicente&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Gil Vicente</strong></a>, seu criador no séc. XVI, após o surto de dramatizações litúrgicas que se verifica na literatura medieval, e <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1343:almeida-garrett&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Garrett</strong></a>, seu reformador na proposta romântica, fundando o Teatro Nacional, quer no plano do espaço apto a acolher as representações e a difundi-las ao grande público, quer no plano da produção de um «corpus», com <em>Um Auto de Vicente</em>, <em>O Alfageme de Santarém</em> e, sobretudo, o drama romântico <em>Frei Luís de Sousa</em> (1843) - peças de caráter histórico, arrancadas à sensibilidade popular e ao sentimento patriótico, veiculando conflitos emocionais em situação no quotidiano sócio-histórico português.<br /><br />Em torno da personalidade de Gil Vicente, outros dramaturgos de veia popular se notabilizaram no séc. XVI (ex. <strong>Chiado</strong> e <strong>Baltasar Dias</strong>), mas contemporaneamente esboça-se um movimento de retorno ao teatro antigo, de acordo com a doutrinação renascentista, que faz emergir um outro grupo em torno do poeta <strong>Sá de Miranda</strong>, figura fundamental do classicismo português enquanto introdutor da «medida nova» (metrificação clássica em decassílabo e géneros cultivados pelos autores da antiguidade) e cultor das primeiras comédias clássicas, <em>Estrangeiros e Villhalpandos</em>.<br /><br />A comédia, também praticada por <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1368:camoes&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Camões</strong> </a>( ex. <em>Anfitriões</em>, <em>El-rei Seleuco</em>), encontrará no séc. XVIII um autor de eleição, <strong>António José da Silva, o Judeu </strong>(ex. <em>Guerras do Alecrim e Manjerona</em>), além de alguns escritores da «Arcádia Lusitana», como <strong>Correia Garção</strong> (<em>Assembleia ou Partida</em>).</span><br /> <br /> </span></p> <table id="_mc_tmp" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="left"> <tbody> <tr> <td width="137"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Cartaz de João Vieira para a peça Auto da Índia de Gil Vicente" src="literatura/autindia.jpg" alt="Cartaz de João Vieira para a peça Auto da Índia de Gil Vicente" width="150" height="211" /></span></td> <td width="10"></td> </tr> <tr> <td bgcolor="#ebebeb" width="137"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Cartaz de João Vieira para a peça <em>Auto da Índia </em>de Gil Vicente, pelo Centro Cultural de Évora, 1982/84</span></div> </td> <td width="10"></td> </tr> <tr> <td width="137" height="20"></td> <td width="10" height="20"></td> </tr> <tr> <td width="137"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Facial da cabeceira do túmulo de D. Pedro I" src="literatura/tumulines.jpg" alt="Facial da cabeceira do túmulo de D. Pedro I" width="150" height="145" /></span></td> <td width="10"></td> </tr> <tr> <td bgcolor="#ebebeb" width="137"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Facial da cabeceira do túmulo de D. Pedro I. Mosteiro de Alcobaça</span></div> </td> <td width="10"></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">É a <em>António Ferreira</em> que se deve a obra-prima da tragédia clássica em Portugal, a <em>Castro </em>(c. 1558), baseada nos amores de D. Inês de Castro com D. Pedro I, contrariados pela razão política. <em>Castro</em> e <em>Frei Luís de Sousa</em> são os dois textos trágicos mais importantes do teatro português, pela perfeição de composição e pelo engendramento sóbrio dos conflitos, partilhados entre a liberdade do sentimento, as exigências da justiça (política, cívica ou familiar) e a intensidade do destino que se abate sobre as personagens.<br /> <br /> Só no séc. XX encontramos ambientes dramáticos de idêntica contenção e agudeza em peças de <strong>José Régio</strong> (<em>Benilde </em>ou a <em>Virgem-Mãe</em>, 1947) ou, um pouco antes, no teatro de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1377:raul-brandao&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Raul Brandão</strong> </a>(<em>O Gebo e a Sombra</em>, 1923), que se filia na passividade e estatismo da problemática simbolista, centrada na ressonância da palavra lírica e na sua indagação de absoluto (<strong>António Patrício</strong>, <em>D. João e a Máscara</em>, 1924), diferentemente entendido pelo convencionalismo de situações e costumes que vinha sendo arrastado pela numerosa produção de <strong>Marcelino Mesquita</strong> (<em>Peraltas e Sécias</em>, 1899) e <strong>Júlio Dantas</strong> (<em>A Ceia dos Cardeais</em>, 1902), ou pelas inovações irregulares e ambíguas, de tipo social e textual, de <strong>Alfredo Cortês</strong> (<em>Tá-Mar</em>, 1936).<br /> <br /> Os assomos de literatura de intervenção que os anos cinquenta conheceram deram novo vigor ao teatro, sobretudo com <strong>Bernardo Santareno</strong> (<em>A Promessa</em>, 1957, e <em>O Crime de Aldeia Velha</em>, 1959), <strong>Luiz Francisco Rebello</strong> (<em>Os Pássaros de Asas Cortadas</em>, 1959, tendo este escritor tido também uma importante atividade como crítico e historiador de teatro) e <strong><a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1364:jose-cardoso-pires&amp;catid=956:autores-e-antologia">José Cardoso Pires</a> </strong>que, com <em>O Render dos Heróis</em> (1960), representado em época próxima de outra peça de grande impacto público, <em>Felizmente, Há Luar</em> (1961), de <strong>Luís de Sttau Monteiro</strong>, proporcionaram em meados do século uma intensidade de vibração no teatro português, em termos de conjunção de texto, espetáculo, público e crítica, que não voltou a verificar-se posteriormente.</span></p> <p style="text-align: justify;"><br /> <br /> <span style="color: #c0c0c0;"><br /><br /><span style="font-size: 8pt;">© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011</span></span></p> Os Lusíadas 2011-02-10T17:23:08+00:00 2011-02-10T17:23:08+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/os-lusiadas-dp11.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p style="text-align: right;"><span style="color: #cd853f;"><strong><span style="font-family: arial; font-size: 12pt;">Os Lusíadas<br /><br /></span></strong></span></p> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify; width: 216px; height: 309px;" border="0" align="left"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Luís de Camões, Os Lusíadas, 1.ª edição" src="literatura/lusiadased1.jpg" alt="Luís de Camões, Os Lusíadas, 1.ª edição" /></span></td> <td style="text-align: left;"></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: center; background-color: #ebebeb;"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small; color: #555555;">Luís de Camões, <em>Os Lusíadas</em>, 1.ª edição, 1572</span></td> <td style="text-align: left;"></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 10pt; color: #333333;">Poema épico (1572) de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1368:camoes&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Luís de Camões</strong></span></a>, de inspiração clássica (segundo a <em>Eneida</em>, de Virgílio) mas de manifesto saber contemporâneo, colhido na observação, é constituído por dez cantos compostos de décimas em decassílabos heroicos, e vive de uma contradição esteticamente harmonizada entre a ação das divindades pagãs (que ajudam ou prejudicam o progresso dos Portugueses na viagem marítima para a Índia, tema do livro) e a tutela do sentimento cristão e da expansão da fé, que anima um ardor de conquista e de possessão do mundo.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 10pt; color: #333333;">Vasco da Gama é o herói, Vénus a sua deusa protetora e Baco o adversário temido - mas a «lusa gente» chega à Índia, dá «novos mundos ao mundo», e o Poeta narra este empreendimento insigne alternando a fogosidade do entusiasmo e da crença com o desengano do reconhecimento da mesquinhez humana, «mísera sorte, estranha condição».</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 10pt;"><span style="color: #333333;">Escrito com mestria narrativa exemplar, o poema representa o exercício em perfeição da língua portuguesa, moderna, dúctil e rica em complexidade expressiva e em matizes líricos de exceção</span>.</span></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify; width: 184px;" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: right;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="&quot;Vasco da Gama na Ilha dos Amores&quot; de Vieira Portuense " src="literatura/ilhamores.jpg" alt="&quot;Vasco da Gama na Ilha dos Amores&quot; de Vieira Portuense " /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: center; background-color: #ebebeb; width: 184px;"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small; color: #555555;">"Vasco da Gama na Ilha dos Amores" de Vieira Portuense [1765-1805]</span></td> </tr> </tbody> </table> <pre style="text-align: justify; margin-left: 120px;"><span style="color: #888888; font-family: arial; font-size: 10pt;"><span style="color: #555555;">Já se viam chegados junto à terra</span><br /><span style="color: #555555;">que desejada já de tantos fora,</span><br /><span style="color: #555555;">que entre as correntes Índicas se encerra</span><br /><span style="color: #555555;">e o Ganges, que no céu terreno mora.</span><br /><span style="color: #555555;">Ora sus, gente forte, que na guerra</span><br /><span style="color: #555555;">quereis levar a palma vencedora:</span><br /><span style="color: #555555;">Já sois chegados, já tendes diante</span><br /><span style="color: #555555;">a terra de riquezas abundante!</span><span style="color: #555555;"><br />&nbsp;<br />(...)</span><span style="color: #555555;"><br />&nbsp;<br />Um ramo na mão tinha... Mas oh, cego</span><br /><span style="color: #555555;">eu, que cometo, insano e temerário,</span><br /><span style="color: #555555;">sem vós, ninfas do Tejo e do Mondego,</span><br /><span style="color: #555555;">por caminho tão árduo, longo e vário!</span><br /><span style="color: #555555;">Vosso favor invoco, que navego</span><br /><span style="color: #555555;">por alto mar, com vento tão contrário</span><br /><span style="color: #555555;">que, se não me ajudais, hei grande medo</span><br /><span style="color: #555555;">que o meu fraco batel se alague cedo.</span><span style="color: #cd853f; font-size: 8pt;"><em><br />&nbsp;<br />&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Os Lusíadas, </em>Canto VII</span></span></pre> <p style="text-align: right;"><span style="color: #cd853f;"><strong><span style="font-family: arial; font-size: 12pt;">Os Lusíadas<br /><br /></span></strong></span></p> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify; width: 216px; height: 309px;" border="0" align="left"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Luís de Camões, Os Lusíadas, 1.ª edição" src="literatura/lusiadased1.jpg" alt="Luís de Camões, Os Lusíadas, 1.ª edição" /></span></td> <td style="text-align: left;"></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: center; background-color: #ebebeb;"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small; color: #555555;">Luís de Camões, <em>Os Lusíadas</em>, 1.ª edição, 1572</span></td> <td style="text-align: left;"></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 10pt; color: #333333;">Poema épico (1572) de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1368:camoes&amp;catid=956:autores-e-antologia"><span style="color: #333333;"><strong>Luís de Camões</strong></span></a>, de inspiração clássica (segundo a <em>Eneida</em>, de Virgílio) mas de manifesto saber contemporâneo, colhido na observação, é constituído por dez cantos compostos de décimas em decassílabos heroicos, e vive de uma contradição esteticamente harmonizada entre a ação das divindades pagãs (que ajudam ou prejudicam o progresso dos Portugueses na viagem marítima para a Índia, tema do livro) e a tutela do sentimento cristão e da expansão da fé, que anima um ardor de conquista e de possessão do mundo.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 10pt; color: #333333;">Vasco da Gama é o herói, Vénus a sua deusa protetora e Baco o adversário temido - mas a «lusa gente» chega à Índia, dá «novos mundos ao mundo», e o Poeta narra este empreendimento insigne alternando a fogosidade do entusiasmo e da crença com o desengano do reconhecimento da mesquinhez humana, «mísera sorte, estranha condição».</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 10pt;"><span style="color: #333333;">Escrito com mestria narrativa exemplar, o poema representa o exercício em perfeição da língua portuguesa, moderna, dúctil e rica em complexidade expressiva e em matizes líricos de exceção</span>.</span></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <table id="_mc_tmp" style="text-align: justify; width: 184px;" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: right;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><img style="float: left; margin: 5px;" title="&quot;Vasco da Gama na Ilha dos Amores&quot; de Vieira Portuense " src="literatura/ilhamores.jpg" alt="&quot;Vasco da Gama na Ilha dos Amores&quot; de Vieira Portuense " /></span></td> </tr> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: center; background-color: #ebebeb; width: 184px;"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small; color: #555555;">"Vasco da Gama na Ilha dos Amores" de Vieira Portuense [1765-1805]</span></td> </tr> </tbody> </table> <pre style="text-align: justify; margin-left: 120px;"><span style="color: #888888; font-family: arial; font-size: 10pt;"><span style="color: #555555;">Já se viam chegados junto à terra</span><br /><span style="color: #555555;">que desejada já de tantos fora,</span><br /><span style="color: #555555;">que entre as correntes Índicas se encerra</span><br /><span style="color: #555555;">e o Ganges, que no céu terreno mora.</span><br /><span style="color: #555555;">Ora sus, gente forte, que na guerra</span><br /><span style="color: #555555;">quereis levar a palma vencedora:</span><br /><span style="color: #555555;">Já sois chegados, já tendes diante</span><br /><span style="color: #555555;">a terra de riquezas abundante!</span><span style="color: #555555;"><br />&nbsp;<br />(...)</span><span style="color: #555555;"><br />&nbsp;<br />Um ramo na mão tinha... Mas oh, cego</span><br /><span style="color: #555555;">eu, que cometo, insano e temerário,</span><br /><span style="color: #555555;">sem vós, ninfas do Tejo e do Mondego,</span><br /><span style="color: #555555;">por caminho tão árduo, longo e vário!</span><br /><span style="color: #555555;">Vosso favor invoco, que navego</span><br /><span style="color: #555555;">por alto mar, com vento tão contrário</span><br /><span style="color: #555555;">que, se não me ajudais, hei grande medo</span><br /><span style="color: #555555;">que o meu fraco batel se alague cedo.</span><span style="color: #cd853f; font-size: 8pt;"><em><br />&nbsp;<br />&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Os Lusíadas, </em>Canto VII</span></span></pre> A Língua Portuguesa 2011-02-10T17:16:29+00:00 2011-02-10T17:16:29+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/a-lingua-portuguesa-21851-dp11.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <div style="text-align: right;" align="center"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong><span style="color: #cd853f; font-size: 12pt;">Língua Portuguesa</span><br /><br /></strong></span></div> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="115"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Rosto da Gramática de Fernão de Oliveira" src="literatura/prmgramatc.jpg" alt="Rosto da Gramática de Fernão de Oliveira" width="115" height="160" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="115"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Rosto da <em>Gramática</em> de Fernão de Oliveira, impressa por Germam Galharde em 1536</span></div> </td> </tr> <tr> <td width="10" height="10"></td> <td width="115" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">A língua portuguesa deriva do <strong>latim</strong>, língua falada na região onde ficava a Roma antiga, designada por Lácio, e que, na sua expansão, os Romanos trouxeram para outras regiões, onde, em conjunto com fatores locais, evoluiu originando as <strong>línguas românicas</strong>.</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">O <strong>latim clássico</strong>, consagrado pelas classes cultas e pela literatura, tornou-se, com o tempo, distante da expressão falada, que aglutinava influências de ordem vária nos diversos territórios do Império Romano, assim como variedades sócio-culturais, a cujo conjunto chamou latim vulgar, que deu origem às línguas românicas e nomeadamente ao português.</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="left"> <tbody> <tr> <td style="width: 135px; height: 10px;"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Árvore da Gramática in Grammatices Rudimenta" src="literatura/arvgramjbarrs.jpg" alt="Árvore da Gramática in Grammatices Rudimenta" width="135" height="184" /></td> <td width="10"></td> </tr> <tr> <td style="width: 135px; height: 10px; background-color: #ebebeb;"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Árvore da Gramática in <em>Grammatices Rudimenta</em> (c. 1540) de João de Barros</span></div> </td> <td width="10" height="10"></td> </tr> <tr> <td style="width: 135px; height: 10px;"></td> <td width="10" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Gradualmente, a comunicação linguística foi-se alterando, e, em vez de se falar de facto latim, as modificações da expressão impuseram a consciência de que se tinha passado de facto a falar à "maneira românica", isto é, <strong>romanice</strong> ou <strong>romance</strong> (falar vulgar e misto, também designado <strong>romanço</strong>). Nos escritos administrativos e notariais impôs-se um conjunto de fórmulas que identificamos como <strong>latim bárbaro</strong>. A base latina recolhe também, na constituição da nossa língua, elementos celtas, gregos e hebreus, aos quais se juntaram, mais tarde, os germânicos e os árabes.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;"><br />Podemos considerar três fases na evolução da língua portuguesa: <strong>proto-histórica</strong>, até ao séc. XIII (ainda muito ligada, na escrita, ao latim bárbaro), <strong>arcaica</strong>, até ao séc. XVI (onde se destaca, nos séculos XIV e XV, o galaico-português, autonomizando-se posteriormente o português em relação ao galego) e <strong>moderna</strong>, com a publicação das primeiras gramáticas, de <strong>Fernão de Oliveira</strong>, 1536, e <strong>João de Barros</strong>, 1540, e com a proliferação das obras literárias que a consagraram, e entre as quais se contam <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1383:os-lusiadas&amp;catid=954:geral"><strong>Os Lusíadas</strong></a>.</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table id="_mc_tmp" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="120"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Gramática atribuída a João de Barros" src="literatura/gramatic.jpg" alt="Gramática atribuída a João de Barros" width="120" height="175" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="120"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Gramática atribuída a João de Barros, publicada em 1539</span></div> </td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Consideram-se características formais da língua portuguesa, na sua fonação, os fenómenos de nasalação (queda de consoantes latinas que dão origem aos ditongos nasais, ex. -ão e -ãe, e a vogais do mesmo timbre, ex. panes&gt;pães), vocalização (queda de consoantes latinas que dão origem a vogais, ex. regnu&gt;reino) e palatalização (grupos de consoantes latinas que resultam nos grupos ch- e -lh, ex. pluvia&gt;chuva).</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;"><strong>Rodrigues Lapa</strong>, em 1945, estudou, na sua <em>Estilística da Língua Portuguesa</em>, algumas potencialidades expressivas do português na comunicação e na literatura.</span></p> <p><br /> <br /> <span style="color: #c0c0c0;"><br /><br /><br /><span style="font-size: 8pt;">© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011</span></span></p> <div style="text-align: right;" align="center"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong><span style="color: #cd853f; font-size: 12pt;">Língua Portuguesa</span><br /><br /></strong></span></div> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="115"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Rosto da Gramática de Fernão de Oliveira" src="literatura/prmgramatc.jpg" alt="Rosto da Gramática de Fernão de Oliveira" width="115" height="160" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="115"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Rosto da <em>Gramática</em> de Fernão de Oliveira, impressa por Germam Galharde em 1536</span></div> </td> </tr> <tr> <td width="10" height="10"></td> <td width="115" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">A língua portuguesa deriva do <strong>latim</strong>, língua falada na região onde ficava a Roma antiga, designada por Lácio, e que, na sua expansão, os Romanos trouxeram para outras regiões, onde, em conjunto com fatores locais, evoluiu originando as <strong>línguas românicas</strong>.</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">O <strong>latim clássico</strong>, consagrado pelas classes cultas e pela literatura, tornou-se, com o tempo, distante da expressão falada, que aglutinava influências de ordem vária nos diversos territórios do Império Romano, assim como variedades sócio-culturais, a cujo conjunto chamou latim vulgar, que deu origem às línguas românicas e nomeadamente ao português.</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="left"> <tbody> <tr> <td style="width: 135px; height: 10px;"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Árvore da Gramática in Grammatices Rudimenta" src="literatura/arvgramjbarrs.jpg" alt="Árvore da Gramática in Grammatices Rudimenta" width="135" height="184" /></td> <td width="10"></td> </tr> <tr> <td style="width: 135px; height: 10px; background-color: #ebebeb;"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Árvore da Gramática in <em>Grammatices Rudimenta</em> (c. 1540) de João de Barros</span></div> </td> <td width="10" height="10"></td> </tr> <tr> <td style="width: 135px; height: 10px;"></td> <td width="10" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Gradualmente, a comunicação linguística foi-se alterando, e, em vez de se falar de facto latim, as modificações da expressão impuseram a consciência de que se tinha passado de facto a falar à "maneira românica", isto é, <strong>romanice</strong> ou <strong>romance</strong> (falar vulgar e misto, também designado <strong>romanço</strong>). Nos escritos administrativos e notariais impôs-se um conjunto de fórmulas que identificamos como <strong>latim bárbaro</strong>. A base latina recolhe também, na constituição da nossa língua, elementos celtas, gregos e hebreus, aos quais se juntaram, mais tarde, os germânicos e os árabes.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;"><br />Podemos considerar três fases na evolução da língua portuguesa: <strong>proto-histórica</strong>, até ao séc. XIII (ainda muito ligada, na escrita, ao latim bárbaro), <strong>arcaica</strong>, até ao séc. XVI (onde se destaca, nos séculos XIV e XV, o galaico-português, autonomizando-se posteriormente o português em relação ao galego) e <strong>moderna</strong>, com a publicação das primeiras gramáticas, de <strong>Fernão de Oliveira</strong>, 1536, e <strong>João de Barros</strong>, 1540, e com a proliferação das obras literárias que a consagraram, e entre as quais se contam <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1383:os-lusiadas&amp;catid=954:geral"><strong>Os Lusíadas</strong></a>.</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table id="_mc_tmp" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="120"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Gramática atribuída a João de Barros" src="literatura/gramatic.jpg" alt="Gramática atribuída a João de Barros" width="120" height="175" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="120"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Gramática atribuída a João de Barros, publicada em 1539</span></div> </td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Consideram-se características formais da língua portuguesa, na sua fonação, os fenómenos de nasalação (queda de consoantes latinas que dão origem aos ditongos nasais, ex. -ão e -ãe, e a vogais do mesmo timbre, ex. panes&gt;pães), vocalização (queda de consoantes latinas que dão origem a vogais, ex. regnu&gt;reino) e palatalização (grupos de consoantes latinas que resultam nos grupos ch- e -lh, ex. pluvia&gt;chuva).</span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;"><strong>Rodrigues Lapa</strong>, em 1945, estudou, na sua <em>Estilística da Língua Portuguesa</em>, algumas potencialidades expressivas do português na comunicação e na literatura.</span></p> <p><br /> <br /> <span style="color: #c0c0c0;"><br /><br /><br /><span style="font-size: 8pt;">© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011</span></span></p> Prosa Doutrinal 2011-02-08T12:41:00+00:00 2011-02-08T12:41:00+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/prosa-doutrinal-dp7.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <div align="center"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><b><span style="color: #000080;">Prosa Doutrinal</span><br /><br /> <br /> </b></span></div> <div style="text-align: justify;"> <table align="right" border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr> <td width="10"><br type="_moz" /></td> <td width="145"> <div align="center"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Adoração dos Reis Magos" alt="Adoração dos Reis Magos" src="literatura/graovasco.jpg" width="150" height="235" /></div> </td> </tr> <tr height="10"> <td width="10" height="10"><br type="_moz" /></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="145" height="10"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">"Adoração dos Reis Magos" (1501-1506), retábulo da Sé de Viseu. Oficina de Vasco Fernandes/Grão Vasco</span></div> </td> </tr> <tr height="20"> <td width="10" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="145" height="20"> <div align="center"></div> <br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td width="10"><br type="_moz" /></td> <td width="145"> <div align="center"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Mãe e Filha" alt="Mãe e Filha" src="literatura/vespeira.jpg" width="150" height="115" /></div> </td> </tr> <tr> <td width="10"><br type="_moz" /></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="145"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">"Mãe e Filha" (1947) de Vespeira [n. 1925]</span></div> </td> </tr> <tr height="10"> <td width="10" height="10"><br type="_moz" /></td> <td width="145" height="10"><br type="_moz" /></td> </tr> </tbody> </table> </div> <div style="text-align: justify;"></div> <div style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">A literatura incorpora habitualmente muitos escritos de ideias cuja finalidade primeira não é exatamente literária, mas que, pelo teor linguístico ou textual da sua composição, ou segundo os cânones de apreciação estética de cada época, são considerados mais ou menos próximos da elaboração especificamente literária.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Esta condição é inerente aos textos de caráter documental (entre os quais se incluem, por exemplo, os que constituem o acervo da <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1322:literatura-de-viagens&amp;catid=954:geral">Literatura de Viagens</a>), mas verifica-se com agudeza nos escritos de doutrinação vária que se manifestam de maneira adventícia ao texto literário. Mesmo o ensaio e a crítica tendem a confundir-se muitas vezes com ele, e preenchem certas casas, por vezes importantes, da organização sistemática da literatura.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">O conjunto de escritos legados pelos prosadores da Casa de Avis, no séc. XIV, que integramos nas <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1320:origens-da-literatura-portuguesa&amp;catid=954:geral">Origens da Literatura Portuguesa</a>, só encontra, neste capítulo, manifestações similares a partir da época <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1387:barroco-e-maneirismo&amp;catid=955:periodos-e-tendencias">barroca</a> (embora os clássicos renascentistas tenham uma produção interessante nesta vertente, ex. <em>Ropica Pnefma</em>, 1532, de <strong>João de Barros</strong>), muito interessada em articular as cláusulas religiosas com os seus efeitos na vida profana, e no quotidiano de uma maneira geral (<strong>Frei Heitor Pinto</strong> e <strong>Frei Amador Arrais</strong>); também durante o <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1329:iluminismo&amp;catid=955:periodos-e-tendencias">Iluminismo</a>, as ideias de filosofia política e moral inspiram <strong>D. Luís da Cunha</strong>, <strong>Alexandre de Gusmão</strong>, <strong>Cavaleiro de Oliveira</strong> e <strong>Matias Aires</strong>, mas é no <em>Verdadeiro Método de Estudar</em> (1746), de <strong>Luís António Verney</strong>, que encontramos a obra mais importante de reflexão cultural conjunta do século XVIII.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Este tipo de escritos vai proliferar durante o <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1334:romantismo&amp;catid=955:periodos-e-tendencias">Romantismo</a>, e não só com <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1343:almeida-garrett&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Garrett</strong></a> e <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1339:alexandre-herculano&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Herculano</strong></a>, e muito em especial na chamada «Geração de 70», que é justamente constituída por um grupo de escritores que na sua maioria aliam a produção literária estrita com os escritos de índole doutrinária (<a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1356:eca-de-queiros&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Eça de Queirós</strong></a>, <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1344:antero-de-quental&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Antero de Quental</strong></a>, <strong>Teófilo Braga</strong>, <strong>Ramalho Ortigão</strong> e <strong>Oliveira Martins</strong>), e aliás se caracterizam pela sua imbricação, desenvolvendo a poesia de ideias e o romance de tese, quando não se notabilizam justamente neste género de reflexão, que hoje se tende a considerar marginal em relação à centralidade da estesia literária.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Posteriormente, o grupo do «Integralismo Lusitano» (com <strong>António Sardinha</strong>, com as revistas <em>Alma Portuguesa</em> e <em>Nação Portuguesa</em>, 1913-1938) e o da <em>Seara Nova </em>(com <strong>António Sérgio</strong> e <strong>Raul Proença</strong>) produziu, com menor vigor e regular qualidade, este tipo de escritos, e, mais perto de nós, <strong>Manuel Antunes</strong>, <strong>Agostinho da Silva</strong> e <strong>Eduardo Lourenço</strong> são personalidades de influência determinante nas correntes de pensamento da cultura portuguesa.</span></div> <p><span style="color: #c0c0c0;"><br /><br /> © Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011 </span></p> <p></p> <div align="center"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><b><span style="color: #000080;">Prosa Doutrinal</span><br /><br /> <br /> </b></span></div> <div style="text-align: justify;"> <table align="right" border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr> <td width="10"><br type="_moz" /></td> <td width="145"> <div align="center"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Adoração dos Reis Magos" alt="Adoração dos Reis Magos" src="literatura/graovasco.jpg" width="150" height="235" /></div> </td> </tr> <tr height="10"> <td width="10" height="10"><br type="_moz" /></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="145" height="10"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">"Adoração dos Reis Magos" (1501-1506), retábulo da Sé de Viseu. Oficina de Vasco Fernandes/Grão Vasco</span></div> </td> </tr> <tr height="20"> <td width="10" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="145" height="20"> <div align="center"></div> <br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td width="10"><br type="_moz" /></td> <td width="145"> <div align="center"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Mãe e Filha" alt="Mãe e Filha" src="literatura/vespeira.jpg" width="150" height="115" /></div> </td> </tr> <tr> <td width="10"><br type="_moz" /></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="145"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">"Mãe e Filha" (1947) de Vespeira [n. 1925]</span></div> </td> </tr> <tr height="10"> <td width="10" height="10"><br type="_moz" /></td> <td width="145" height="10"><br type="_moz" /></td> </tr> </tbody> </table> </div> <div style="text-align: justify;"></div> <div style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">A literatura incorpora habitualmente muitos escritos de ideias cuja finalidade primeira não é exatamente literária, mas que, pelo teor linguístico ou textual da sua composição, ou segundo os cânones de apreciação estética de cada época, são considerados mais ou menos próximos da elaboração especificamente literária.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Esta condição é inerente aos textos de caráter documental (entre os quais se incluem, por exemplo, os que constituem o acervo da <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1322:literatura-de-viagens&amp;catid=954:geral">Literatura de Viagens</a>), mas verifica-se com agudeza nos escritos de doutrinação vária que se manifestam de maneira adventícia ao texto literário. Mesmo o ensaio e a crítica tendem a confundir-se muitas vezes com ele, e preenchem certas casas, por vezes importantes, da organização sistemática da literatura.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">O conjunto de escritos legados pelos prosadores da Casa de Avis, no séc. XIV, que integramos nas <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1320:origens-da-literatura-portuguesa&amp;catid=954:geral">Origens da Literatura Portuguesa</a>, só encontra, neste capítulo, manifestações similares a partir da época <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1387:barroco-e-maneirismo&amp;catid=955:periodos-e-tendencias">barroca</a> (embora os clássicos renascentistas tenham uma produção interessante nesta vertente, ex. <em>Ropica Pnefma</em>, 1532, de <strong>João de Barros</strong>), muito interessada em articular as cláusulas religiosas com os seus efeitos na vida profana, e no quotidiano de uma maneira geral (<strong>Frei Heitor Pinto</strong> e <strong>Frei Amador Arrais</strong>); também durante o <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1329:iluminismo&amp;catid=955:periodos-e-tendencias">Iluminismo</a>, as ideias de filosofia política e moral inspiram <strong>D. Luís da Cunha</strong>, <strong>Alexandre de Gusmão</strong>, <strong>Cavaleiro de Oliveira</strong> e <strong>Matias Aires</strong>, mas é no <em>Verdadeiro Método de Estudar</em> (1746), de <strong>Luís António Verney</strong>, que encontramos a obra mais importante de reflexão cultural conjunta do século XVIII.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Este tipo de escritos vai proliferar durante o <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1334:romantismo&amp;catid=955:periodos-e-tendencias">Romantismo</a>, e não só com <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1343:almeida-garrett&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Garrett</strong></a> e <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1339:alexandre-herculano&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Herculano</strong></a>, e muito em especial na chamada «Geração de 70», que é justamente constituída por um grupo de escritores que na sua maioria aliam a produção literária estrita com os escritos de índole doutrinária (<a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1356:eca-de-queiros&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Eça de Queirós</strong></a>, <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1344:antero-de-quental&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Antero de Quental</strong></a>, <strong>Teófilo Braga</strong>, <strong>Ramalho Ortigão</strong> e <strong>Oliveira Martins</strong>), e aliás se caracterizam pela sua imbricação, desenvolvendo a poesia de ideias e o romance de tese, quando não se notabilizam justamente neste género de reflexão, que hoje se tende a considerar marginal em relação à centralidade da estesia literária.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: arial;">Posteriormente, o grupo do «Integralismo Lusitano» (com <strong>António Sardinha</strong>, com as revistas <em>Alma Portuguesa</em> e <em>Nação Portuguesa</em>, 1913-1938) e o da <em>Seara Nova </em>(com <strong>António Sérgio</strong> e <strong>Raul Proença</strong>) produziu, com menor vigor e regular qualidade, este tipo de escritos, e, mais perto de nós, <strong>Manuel Antunes</strong>, <strong>Agostinho da Silva</strong> e <strong>Eduardo Lourenço</strong> são personalidades de influência determinante nas correntes de pensamento da cultura portuguesa.</span></div> <p><span style="color: #c0c0c0;"><br /><br /> © Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011 </span></p> <p></p> Historiografia 2011-02-08T12:28:47+00:00 2011-02-08T12:28:47+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/historiografia-dp6.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <div style="text-align: right;" align="center"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong><span style="color: #cd853f; font-size: 12pt;">Historiografia</span><br /><br /></strong></span></div> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="171"><img title="Crónica Geral de Espanha (1344), atribuída ao Conde de Barcelos" src="literatura/cronicgesp.jpg" alt="Crónica Geral de Espanha (1344), atribuída ao Conde de Barcelos" width="171" height="246" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="171"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;"><em>Crónica Geral de Espanha</em> (1344), atribuída ao Conde de Barcelos</span></div> </td> </tr> <tr> <td width="10" height="10"></td> <td width="171" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Poderemos distinguir, na historiografia nacional, três tipos de produção literária, que correspondem a períodos históricos sucessivos, e com eles entram em conformidade:</span></p> <p style="text-align: justify; padding-left: 30px;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">os <strong>Livros de Linhagens</strong> (séc. XII-XVI, registos genealógicos das famílias nobres em que a literatura portuguesa tem a primazia, e que alternam a história com a lenda, dos quais se conservam três: o primeiro incluindo a «Lenda de Gaia», e o terceiro, da autoria de <strong>D. Pedro, Conde de Barcelos</strong>, filho bastardo de D. Dinis, incluindo uma descrição da batalha do Salado, que ficou célebre; foram publicados nos <em>Portugaliae Monumenta Historica</em> de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1339:alexandre-herculano&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Alexandre Herculano</strong></a>);</span></p> <p style="text-align: justify; padding-left: 30px;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">a produção dos <strong>cronistas </strong>(com a <em>Crónica Geral de Espanha</em>, de 1344, do <strong>Conde D. Pedro de Barcelos</strong>, e com os escritores <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1359:fernao-lopes&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Fernão Lopes</strong></a>, <strong>Gomes Eanes de Zurara</strong>, com a <em>Crónica da Guiné</em>, 1453, <strong>Rui de Pina</strong>, com a <em>Crónica de D. João II</em>, 1545, <strong>João de Barros</strong>, com as <em>Décadas da Ásia</em>, a partir de 1552, <strong>Fernão Lopes de Castanheda</strong>, com a <em>História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses</em>, a partir de 1551, <strong>Damião de Góis</strong>, com a <em>Crónica do Rei D. Manuel</em>, a partir de 1566, e outros. É com os cronistas que ganha corpo a organização sistematizada, por escrito, de um discurso que assume a evolução do acontecer humano e a consciência da relevância de factos e personalidades que possam determinar a especificidade da civilização e a necessidade do seu registo objetivo);<br /></span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify; padding-left: 30px;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">e a constituição escrita da <strong>história moderna</strong> (que se inicia durante o Romantismo, com a figura polígrafa de <strong>Alexandre Herculano</strong>, autor da <em>História de Portugal </em>até D. Afonso III, na qual o autor põe em prática uma conceção do escrito histórico obedecendo a preocupações científicas de rigor e a uma perspetiva da evolução dos sucessos fundada na observação das transformações sociais e não na sucessão das personalidades e dos acontecimentos).</span><br /></span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="center"> <tbody> <tr> <td align="center" valign="bottom" width="184"> <div align="center"><img title="Assinatura autógrafa de Fernão Lopes" src="literatura/autflopes2.jpg" alt="Assinatura autógrafa de Fernão Lopes" width="184" height="81" /></div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="243"> <div align="center"><img title="Assinatura autógrafa de Gomes Eanes de Zurara" src="literatura/autzurara.jpg" alt="Assinatura autógrafa de Gomes Eanes de Zurara" width="243" height="57" /></div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="147"> <div align="center"><img title="Assinatura autógrafa de Rui de Pina" src="literatura/autrpina.jpg" alt="Assinatura autógrafa de Rui de Pina" width="147" height="132" /></div> </td> </tr> <tr> <td align="center" valign="top" bgcolor="#ebebeb" width="184"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Assinatura autógrafa de Fernão Lopes. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> <td align="center" valign="top" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td align="center" valign="top" bgcolor="#ebebeb" width="243"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Assinatura autógrafa de Gomes Eanes de Zurara. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> <td align="center" valign="top" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td align="center" valign="top" bgcolor="#ebebeb" width="147"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Assinatura autógrafa de Rui de Pina. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> </tr> </tbody> </table> <p>&nbsp;</p> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="center"> <tbody> <tr> <td align="center" valign="bottom" width="184"> <div align="center"><img title="Assinatura autógrafa de Fernão Lopes" src="literatura/autflopes2.jpg" alt="Assinatura autógrafa de Fernão Lopes" width="184" height="81" /></div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="221"> <div align="center"><img title="Assinatura autógrafa de Fernão Lopes de Castanheda" src="literatura/autcastanhd.jpg" alt="Assinatura autógrafa de Fernão Lopes de Castanheda" width="221" height="85" /></div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="154"> <div align="center"><img title="Assinatura autógrafa de Damião de Góis" src="literatura/autdgois.jpg" alt="Assinatura autógrafa de Damião de Góis" width="154" height="46" /></div> </td> </tr> <tr> <td valign="top" bgcolor="#ebebeb" width="184"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Assinatura autógrafa de João de Barros. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> <td valign="top" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td valign="top" bgcolor="#ebebeb" width="221"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Assinatura autógrafa de Fernão Lopes de Castanheda. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> <td valign="top" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td valign="top" bgcolor="#ebebeb" width="154"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Assinatura autógrafa de Damião de Góis. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <div style="text-align: justify;"><br /><br /><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">De uma geração posterior, <strong>Oliveira Martins</strong> (1845-1894) representa, na literatura portuguesa, a conjunção da inspiração literária com os objetivos históricos, em obras como <em>Portugal Contemporâneo</em>, 1881, e <em>Os Filhos de D. João I</em>, 1891; e a diversificação progressiva, e decisiva, entre ciências históricas e criação literária fez com que os grandes vultos da historiografia contemporânea, de um modo geral, se afastem do que pode ser entendido, de um modo mais restrito, como obra de literatura.</span><span style="color: #333333;"><br /></span></div> <p><br /><br /> <span style="color: #c0c0c0;">© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011 </span></p> <div style="text-align: right;" align="center"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong><span style="color: #cd853f; font-size: 12pt;">Historiografia</span><br /><br /></strong></span></div> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="171"><img title="Crónica Geral de Espanha (1344), atribuída ao Conde de Barcelos" src="literatura/cronicgesp.jpg" alt="Crónica Geral de Espanha (1344), atribuída ao Conde de Barcelos" width="171" height="246" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="171"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;"><em>Crónica Geral de Espanha</em> (1344), atribuída ao Conde de Barcelos</span></div> </td> </tr> <tr> <td width="10" height="10"></td> <td width="171" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Poderemos distinguir, na historiografia nacional, três tipos de produção literária, que correspondem a períodos históricos sucessivos, e com eles entram em conformidade:</span></p> <p style="text-align: justify; padding-left: 30px;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">os <strong>Livros de Linhagens</strong> (séc. XII-XVI, registos genealógicos das famílias nobres em que a literatura portuguesa tem a primazia, e que alternam a história com a lenda, dos quais se conservam três: o primeiro incluindo a «Lenda de Gaia», e o terceiro, da autoria de <strong>D. Pedro, Conde de Barcelos</strong>, filho bastardo de D. Dinis, incluindo uma descrição da batalha do Salado, que ficou célebre; foram publicados nos <em>Portugaliae Monumenta Historica</em> de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1339:alexandre-herculano&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Alexandre Herculano</strong></a>);</span></p> <p style="text-align: justify; padding-left: 30px;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">a produção dos <strong>cronistas </strong>(com a <em>Crónica Geral de Espanha</em>, de 1344, do <strong>Conde D. Pedro de Barcelos</strong>, e com os escritores <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1359:fernao-lopes&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Fernão Lopes</strong></a>, <strong>Gomes Eanes de Zurara</strong>, com a <em>Crónica da Guiné</em>, 1453, <strong>Rui de Pina</strong>, com a <em>Crónica de D. João II</em>, 1545, <strong>João de Barros</strong>, com as <em>Décadas da Ásia</em>, a partir de 1552, <strong>Fernão Lopes de Castanheda</strong>, com a <em>História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses</em>, a partir de 1551, <strong>Damião de Góis</strong>, com a <em>Crónica do Rei D. Manuel</em>, a partir de 1566, e outros. É com os cronistas que ganha corpo a organização sistematizada, por escrito, de um discurso que assume a evolução do acontecer humano e a consciência da relevância de factos e personalidades que possam determinar a especificidade da civilização e a necessidade do seu registo objetivo);<br /></span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify; padding-left: 30px;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">e a constituição escrita da <strong>história moderna</strong> (que se inicia durante o Romantismo, com a figura polígrafa de <strong>Alexandre Herculano</strong>, autor da <em>História de Portugal </em>até D. Afonso III, na qual o autor põe em prática uma conceção do escrito histórico obedecendo a preocupações científicas de rigor e a uma perspetiva da evolução dos sucessos fundada na observação das transformações sociais e não na sucessão das personalidades e dos acontecimentos).</span><br /></span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="center"> <tbody> <tr> <td align="center" valign="bottom" width="184"> <div align="center"><img title="Assinatura autógrafa de Fernão Lopes" src="literatura/autflopes2.jpg" alt="Assinatura autógrafa de Fernão Lopes" width="184" height="81" /></div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="243"> <div align="center"><img title="Assinatura autógrafa de Gomes Eanes de Zurara" src="literatura/autzurara.jpg" alt="Assinatura autógrafa de Gomes Eanes de Zurara" width="243" height="57" /></div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="147"> <div align="center"><img title="Assinatura autógrafa de Rui de Pina" src="literatura/autrpina.jpg" alt="Assinatura autógrafa de Rui de Pina" width="147" height="132" /></div> </td> </tr> <tr> <td align="center" valign="top" bgcolor="#ebebeb" width="184"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Assinatura autógrafa de Fernão Lopes. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> <td align="center" valign="top" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td align="center" valign="top" bgcolor="#ebebeb" width="243"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Assinatura autógrafa de Gomes Eanes de Zurara. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> <td align="center" valign="top" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td align="center" valign="top" bgcolor="#ebebeb" width="147"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Assinatura autógrafa de Rui de Pina. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> </tr> </tbody> </table> <p>&nbsp;</p> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="center"> <tbody> <tr> <td align="center" valign="bottom" width="184"> <div align="center"><img title="Assinatura autógrafa de Fernão Lopes" src="literatura/autflopes2.jpg" alt="Assinatura autógrafa de Fernão Lopes" width="184" height="81" /></div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="221"> <div align="center"><img title="Assinatura autógrafa de Fernão Lopes de Castanheda" src="literatura/autcastanhd.jpg" alt="Assinatura autógrafa de Fernão Lopes de Castanheda" width="221" height="85" /></div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td align="center" valign="bottom" width="154"> <div align="center"><img title="Assinatura autógrafa de Damião de Góis" src="literatura/autdgois.jpg" alt="Assinatura autógrafa de Damião de Góis" width="154" height="46" /></div> </td> </tr> <tr> <td valign="top" bgcolor="#ebebeb" width="184"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Assinatura autógrafa de João de Barros. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> <td valign="top" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td valign="top" bgcolor="#ebebeb" width="221"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Assinatura autógrafa de Fernão Lopes de Castanheda. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> <td valign="top" width="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td valign="top" bgcolor="#ebebeb" width="154"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Assinatura autógrafa de Damião de Góis. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <div style="text-align: justify;"><br /><br /><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">De uma geração posterior, <strong>Oliveira Martins</strong> (1845-1894) representa, na literatura portuguesa, a conjunção da inspiração literária com os objetivos históricos, em obras como <em>Portugal Contemporâneo</em>, 1881, e <em>Os Filhos de D. João I</em>, 1891; e a diversificação progressiva, e decisiva, entre ciências históricas e criação literária fez com que os grandes vultos da historiografia contemporânea, de um modo geral, se afastem do que pode ser entendido, de um modo mais restrito, como obra de literatura.</span><span style="color: #333333;"><br /></span></div> <p><br /><br /> <span style="color: #c0c0c0;">© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011 </span></p> Cantigas de Amigo 2011-02-08T12:15:57+00:00 2011-02-08T12:15:57+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/cantigas-de-amigo-dp6.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <div style="text-align: right;" align="center"><span style="font-size: 12pt; font-family: arial;"><strong><span style="color: #cd853f;">Cantigas de Amigo</span><br /> <br /> </strong></span></div> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table id="_mc_tmp" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="182"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Fragmento de canções do rei D. Dinis" src="literatura/cancddinis.jpg" alt="Fragmento de canções do rei D. Dinis" width="182" height="136" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="182"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Fragmento de canções do rei D. Dinis, descoberto pelo Prof. Harvey L. Sharrer. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> </tr> <tr> <td style="width: 10px; height: 10px;"></td> <td></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;">Constituem a variedade mais importante e original da nossa produção lírica da Idade Média, estas composições que se enquadram na poesia trovadoresca, mas que incluem a particularidade de conferirem estatuto de enunciação à mulher, embora sejam sujeitos masculinos a compô-las.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;">Um tipo peculiar de cantigas de amigo é o das <em>paralelísticas</em>, que aliam uma simplicidade de motivos e recursos semânticos ao elaborado arranjo da sua expressão, através de um esquema de repetitividade que enriquece o sentido pelo tom de litania e sugestão encantatória, muitas vezes magoada, perplexa ou interrogativa, que cria. Típicas da poesia galaico-portuguesa, encontram-se também nas cantigas de amor e noutras variedades poéticas medievais, persistindo até muito tarde na literatura medieval. O rei <strong>D. Dinis</strong> é um dos seus mais famosos cultores.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;"><span style="font-size: 10pt;"><strong>João Zorro</strong>, poeta do mar como <strong>Martim Codax</strong>, é autor de uma barcarola célebre, em composição também paralelística:</span></span></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <table id="_mc_tmp" style="padding-left: 30px;" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"> <pre><span style="color: #555555;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;">Ai flores, ai flores do verde pinho<br /> se sabedes novas do meu amigo,<br /> ai deus, e u é?<br /> <br /> Ai flores, ai flores do verde ramo,<br /> se sabedes novas do meu amado,<br /> ai deus, e u é?<br /> <br /> Se sabedes novas do meu amigo,<br /> aquele que mentiu do que pôs comigo,<br /> ai deus, e u é?<br /> <br /> Se sabedes novas do meu amado,<br /> aquele que mentiu do que me há jurado<br /> ai deus, e u é?<br /> <br /> (...) <br /> <br /> <span style="color: #cd853f;">D. Dinis</span></span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /> </span></span></pre> </td> <td style="width: 35px;"></td> <td style="text-align: left;"> <pre><span style="color: #555555; font-size: 10pt; font-family: arial;">Em Lixboa sobre lo mar<br /> barcas novas mandei lavrar,<br /> ay mia senhor velida!<br /> <br /> Em Lisboa sobre lo lez<br /> barcas novas mandei fazer,<br /> ay mia senhor velida!<br /> <br /> Barcas novas mandei lavrar<br /> e no mar as mandei deitar,<br /> ay mia senhor velida!<br /> <br /> Barcas novas mandei fazer<br /> e no mar as mandei meter,<br /> ay mia senhor velida!<br /> <br /> <span style="color: #cd853f;">João Zorro</span></span></pre> <p><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /> </span></p> </td> </tr> </tbody> </table> <p><span style="color: #c0c0c0;"><br />© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011</span></p> <div style="text-align: right;" align="center"><span style="font-size: 12pt; font-family: arial;"><strong><span style="color: #cd853f;">Cantigas de Amigo</span><br /> <br /> </strong></span></div> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <table id="_mc_tmp" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="182"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Fragmento de canções do rei D. Dinis" src="literatura/cancddinis.jpg" alt="Fragmento de canções do rei D. Dinis" width="182" height="136" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="182"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Fragmento de canções do rei D. Dinis, descoberto pelo Prof. Harvey L. Sharrer. IAN/Torre do Tombo</span></div> </td> </tr> <tr> <td style="width: 10px; height: 10px;"></td> <td></td> </tr> </tbody> </table> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;">Constituem a variedade mais importante e original da nossa produção lírica da Idade Média, estas composições que se enquadram na poesia trovadoresca, mas que incluem a particularidade de conferirem estatuto de enunciação à mulher, embora sejam sujeitos masculinos a compô-las.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;">Um tipo peculiar de cantigas de amigo é o das <em>paralelísticas</em>, que aliam uma simplicidade de motivos e recursos semânticos ao elaborado arranjo da sua expressão, através de um esquema de repetitividade que enriquece o sentido pelo tom de litania e sugestão encantatória, muitas vezes magoada, perplexa ou interrogativa, que cria. Típicas da poesia galaico-portuguesa, encontram-se também nas cantigas de amor e noutras variedades poéticas medievais, persistindo até muito tarde na literatura medieval. O rei <strong>D. Dinis</strong> é um dos seus mais famosos cultores.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: x-small;"><span style="font-size: 10pt;"><strong>João Zorro</strong>, poeta do mar como <strong>Martim Codax</strong>, é autor de uma barcarola célebre, em composição também paralelística:</span></span></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <table id="_mc_tmp" style="padding-left: 30px;" border="0"> <tbody style="text-align: left;"> <tr style="text-align: left;"> <td style="text-align: left;"> <pre><span style="color: #555555;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;">Ai flores, ai flores do verde pinho<br /> se sabedes novas do meu amigo,<br /> ai deus, e u é?<br /> <br /> Ai flores, ai flores do verde ramo,<br /> se sabedes novas do meu amado,<br /> ai deus, e u é?<br /> <br /> Se sabedes novas do meu amigo,<br /> aquele que mentiu do que pôs comigo,<br /> ai deus, e u é?<br /> <br /> Se sabedes novas do meu amado,<br /> aquele que mentiu do que me há jurado<br /> ai deus, e u é?<br /> <br /> (...) <br /> <br /> <span style="color: #cd853f;">D. Dinis</span></span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /> </span></span></pre> </td> <td style="width: 35px;"></td> <td style="text-align: left;"> <pre><span style="color: #555555; font-size: 10pt; font-family: arial;">Em Lixboa sobre lo mar<br /> barcas novas mandei lavrar,<br /> ay mia senhor velida!<br /> <br /> Em Lisboa sobre lo lez<br /> barcas novas mandei fazer,<br /> ay mia senhor velida!<br /> <br /> Barcas novas mandei lavrar<br /> e no mar as mandei deitar,<br /> ay mia senhor velida!<br /> <br /> Barcas novas mandei fazer<br /> e no mar as mandei meter,<br /> ay mia senhor velida!<br /> <br /> <span style="color: #cd853f;">João Zorro</span></span></pre> <p><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /> </span></p> </td> </tr> </tbody> </table> <p><span style="color: #c0c0c0;"><br />© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011</span></p> Literatura de viagens 2011-02-08T11:52:56+00:00 2011-02-08T11:52:56+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/literatura-de-viagens-66017-dp7.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <div style="text-align: right;" align="center"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong><span style="color: #cd853f; font-size: 12pt;">Literatura de viagens<br /></span><br /><br /> </strong></span></div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="130"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Livro das Armadas: Nau da Carreira da Índia" src="literatura/naurecrtd.jpg" alt="Livro das Armadas: Nau da Carreira da Índia" width="130" height="100" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="130"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;"><em>Livro das Armadas</em>: Nau da Carreira da Índia</span></div> </td> </tr> <tr> <td width="10" height="20"></td> <td width="130" height="20"></td> </tr> <tr> <td width="10" height="30"></td> <td width="130" height="30"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Verdadeira Informação das Terras do Preste João" src="literatura/prestejoao.jpg" alt="Verdadeira Informação das Terras do Preste João" width="130" height="189" /></td> </tr> <tr> <td width="10" height="30"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="130" height="30"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;"><em>Verdadeira Informação das Terras do Preste João</em>, Impresso em 1540</span></div> </td> </tr> <tr> <td width="10" height="10"></td> <td width="130" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">A literatura portuguesa de viagens radica na atividade dos descobrimentos marítimos e na necessidade pragmática de registar rotas, condições atmosféricas, acidentes da costa e todos os elementos que pudessem facilitar a repetição e prosseguimento dos percursos entretanto efetuados.<br /><br /> Assim, os roteiros e os diários de bordo, documentos técnicos para orientação náutica, são os antecedentes desta literatura, que, no entanto, começa já nesses textos a emergir em comentários que alargam a pura notação descritiva, em apontamentos de pitoresco, em descrições surpreendidas ou em segmentos narrativos que dão conta de certo empenho na relação entre o sujeito percetivo e o mundo que lhe vai sendo revelado.</span> <br /> </span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /> <span style="color: #333333;">Estão neste caso, no séc. XVI, o <em>Esmeraldo de Situ Orbis</em>, de <strong>Duarte Pacheco Pereira</strong>, e o <em>Roteiro do Mar Roxo</em>, de <strong>D. João de Castro</strong>; mas a primeira obra de interesse decisivo, e importante, é, neste capítulo, o <em>Roteiro da Primeira Viagem de Vasco da Gama</em>, atribuído a <strong>Álvaro Velho</strong>, que permanece como um dos textos fundamentais de toda a literatura de viagens, seguido da <em>Carta a D. Manuel sobre o Descobrimento do Brasil</em>, de <strong>Pero Vaz de Caminha</strong>.<br /></span> </span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Na sequência destas obras, ou, talvez melhor, na sequência da regularidade e multiplicação das viagens (dado que a sua divulgação era restrita e, em muitos casos, como parece ter acontecido com o texto de <strong>Caminha</strong>, se tornava confidencial pela política de sigilo dos descobrimentos), aparecem autênticas relações de itinerários e percursos, por mar ou por terra, mas matricialmente desencadeados pelas viagens ultramarinas, que aliam por vezes o interesse documental a procedimentos narrativos que adquirem, sobretudo para o leitor de hoje, efeitos de ordem literária. São disso exemplo, numa produção que na cultura portuguesa é vastíssima, a <em>Verdadeira Informação do Preste João das Índias</em> (1540), do <strong>Pe. Francisco Álvares</strong>, o <em>Tratado das Cousas da China</em> (1570), de <strong>Frei Gaspar da Cruz</strong>, o <em>Itinerário da Terra Santa</em> (1593), de <strong>Frei Pantaleão de Aveiro</strong>, a <em>Etiópia Oriental</em> (1609), de <strong>Frei João dos Santos</strong>, ou o <em>Itinerário da Índia por Terra </em>(1611), de <strong>Frei Gaspar de São Bernardino</strong>.<br /><br />Por outro lado, os escritores «canónicos» (escrevendo com uma int</span><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">enção</span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"> determinadamente literária) centraram muitas das suas obras na problemática da viagem dos descobrimentos, como é o caso de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1360:gil-vicente&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Gil Vicente</strong> </a>nomeadamente no <em>Auto da Índia</em> e, sobretudo, de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1368:camoes&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Luís de Camões</strong></a> que dela faz a trama fundamental em <em>Os Lusíadas</em>. Também os cronistas não podem deixar de reelaborar essa matéria, por vezes em páginas que são das mais importantes, mesmo sob o ponto de vista estético, deste capítulo: <strong>Gomes Eanes de Zurara</strong> na <em>Crónica da Guiné</em>, <strong>João de Barros</strong> na <em>Ásia</em>.</span><br /></span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <div style="text-align: justify;"> <table id="_mc_tmp" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="left"> <tbody> <tr> <td width="130"> <div align="center"><img style="margin: 0px;" title="Fernão Mendes Pinto [1514-1583], Peregrinação" src="images/stories/literatura_portuguesa/peregrinacao.jpg" alt="Fernão Mendes Pinto [1514-1583], Peregrinação" width="130" height="194" /></div> </td> <td width="10"></td> </tr> <tr> <td bgcolor="#ebebeb" width="130" height="10"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Fernão Mendes Pinto [1514-1583], <em>Peregrinação</em></span></div> </td> <td width="10" height="10"></td> </tr> <tr> <td width="130" height="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td width="10" height="20"></td> </tr> <tr> <td width="130"> <div align="center"><img style="margin: 0px;" title="Álvaro Velho" src="images/stories/literatura_portuguesa/avelho.jpg" alt="Álvaro Velho" width="130" height="176" /></div> </td> <td width="10"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> <tr> <td bgcolor="#ebebeb" width="130"> <div align="center"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: xx-small;">Fólio de <em>Diário/Relação da Primeira Viagem de Vasco da Gama à Índia </em>de Álvaro Velho (atrib.), 1497-1499. Cópia de meados do séc. XVI</span></div> </td> <td width="10"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Caso particular desta literatura é a proliferação que, durante a segunda metade do séc. XVI, e até mais tarde, conhece um género específico das nossas letras, o do relato de naufrágios (constituído por uma narrativa específica e exclusiva de naus que naufragam, com descrição pormenorizada das reações humanas a que o naufrágio dá lugar, e do esforço trágico, por vezes baldado, pela sobrevivência); o mais antigo que se conhece, de 1554, é o do Galeão Grande São João, conhecido por <em>Naufrágio de Sepúlveda</em>, de autor anónimo; outros, porém, merecem beneficiar igualmente da atenção da análise literária, pela raríssima capacidade de escrita do patético, pela descrição paralela do movimento físico e psicológico, pela aliança de uma crença inabalável na missão militar e religiosa do espírito de conquista com um pendor pessimista e desenganado que neles figuram a contraepopeia lusíada: <em>Relação do Naufrágio da Nau Santiago</em>, de Manuel Godinho Cardoso, <em>Relação do Naufrágio da Nau São Bento</em>, de Manuel de Mesquita Perestrelo, <em>Relação do Naufrágio da Nau Conceição</em>, de Manuel Rangel. Publicados em folhetos avulsos, são reunidos no séc. XVIII por <strong>Bernardo Gomes de Brito</strong> na <em>História Trágico-Marítima</em>, em dois volumes (1735-36).</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Em toda esta literatura, porém, avulta uma obra excecional, a <em>Peregrinação </em>de <strong>Fernão Mendes Pinto</strong>, publicada em 1614, mas escrita antes de 1580.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">E será importante não esquecer a fecundidade com que esta literatura tocou a posterior produção portuguesa, quer na consagração de «topoi» diversos (como no caso do «romance marítimo», iniciado entre nós por <strong>Francisco Maria Bordalo</strong>, com <em>Eugénio</em>, de 1846, e bastante cultivado na segunda metade do século XIX), quer em desenvolvimentos temáticos que ocupam os vários géneros, quer ainda em particularizações que têm a ver com escolhas individuais de autores, mas também com períodos específicos da cultura, ou de homenagem ou de deploração da época dos descobrimentos, em viagens de exploradores oitocentistas ou de escritores de todas as épocas, em reescritas de consonância ideológica (<strong>Afonso Lopes Vieira</strong>, <em>Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa</em>, 1940), de evocação nostálgica (<a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1378:sophia-de-mello-breyner-andresen&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Sophia de Mello Breyner Andresen</strong></a>, <em>Navegações</em>, 1988) ou de intenção paródica (<a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1345:antonio-lobo-antunes&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>António Lobo Antunes</strong></a>, <em>As Naus</em>, 1988).</span><br /><br /></div> <p><span style="color: #c0c0c0;">©<span style="font-size: 8pt;"> Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011 </span></span></p> <div style="text-align: right;" align="center"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong><span style="color: #cd853f; font-size: 12pt;">Literatura de viagens<br /></span><br /><br /> </strong></span></div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="130"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Livro das Armadas: Nau da Carreira da Índia" src="literatura/naurecrtd.jpg" alt="Livro das Armadas: Nau da Carreira da Índia" width="130" height="100" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="130"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;"><em>Livro das Armadas</em>: Nau da Carreira da Índia</span></div> </td> </tr> <tr> <td width="10" height="20"></td> <td width="130" height="20"></td> </tr> <tr> <td width="10" height="30"></td> <td width="130" height="30"><img style="float: left; margin: 0px;" title="Verdadeira Informação das Terras do Preste João" src="literatura/prestejoao.jpg" alt="Verdadeira Informação das Terras do Preste João" width="130" height="189" /></td> </tr> <tr> <td width="10" height="30"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="130" height="30"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;"><em>Verdadeira Informação das Terras do Preste João</em>, Impresso em 1540</span></div> </td> </tr> <tr> <td width="10" height="10"></td> <td width="130" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;">A literatura portuguesa de viagens radica na atividade dos descobrimentos marítimos e na necessidade pragmática de registar rotas, condições atmosféricas, acidentes da costa e todos os elementos que pudessem facilitar a repetição e prosseguimento dos percursos entretanto efetuados.<br /><br /> Assim, os roteiros e os diários de bordo, documentos técnicos para orientação náutica, são os antecedentes desta literatura, que, no entanto, começa já nesses textos a emergir em comentários que alargam a pura notação descritiva, em apontamentos de pitoresco, em descrições surpreendidas ou em segmentos narrativos que dão conta de certo empenho na relação entre o sujeito percetivo e o mundo que lhe vai sendo revelado.</span> <br /> </span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><br /> <span style="color: #333333;">Estão neste caso, no séc. XVI, o <em>Esmeraldo de Situ Orbis</em>, de <strong>Duarte Pacheco Pereira</strong>, e o <em>Roteiro do Mar Roxo</em>, de <strong>D. João de Castro</strong>; mas a primeira obra de interesse decisivo, e importante, é, neste capítulo, o <em>Roteiro da Primeira Viagem de Vasco da Gama</em>, atribuído a <strong>Álvaro Velho</strong>, que permanece como um dos textos fundamentais de toda a literatura de viagens, seguido da <em>Carta a D. Manuel sobre o Descobrimento do Brasil</em>, de <strong>Pero Vaz de Caminha</strong>.<br /></span> </span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Na sequência destas obras, ou, talvez melhor, na sequência da regularidade e multiplicação das viagens (dado que a sua divulgação era restrita e, em muitos casos, como parece ter acontecido com o texto de <strong>Caminha</strong>, se tornava confidencial pela política de sigilo dos descobrimentos), aparecem autênticas relações de itinerários e percursos, por mar ou por terra, mas matricialmente desencadeados pelas viagens ultramarinas, que aliam por vezes o interesse documental a procedimentos narrativos que adquirem, sobretudo para o leitor de hoje, efeitos de ordem literária. São disso exemplo, numa produção que na cultura portuguesa é vastíssima, a <em>Verdadeira Informação do Preste João das Índias</em> (1540), do <strong>Pe. Francisco Álvares</strong>, o <em>Tratado das Cousas da China</em> (1570), de <strong>Frei Gaspar da Cruz</strong>, o <em>Itinerário da Terra Santa</em> (1593), de <strong>Frei Pantaleão de Aveiro</strong>, a <em>Etiópia Oriental</em> (1609), de <strong>Frei João dos Santos</strong>, ou o <em>Itinerário da Índia por Terra </em>(1611), de <strong>Frei Gaspar de São Bernardino</strong>.<br /><br />Por outro lado, os escritores «canónicos» (escrevendo com uma int</span><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">enção</span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><span style="color: #333333;"> determinadamente literária) centraram muitas das suas obras na problemática da viagem dos descobrimentos, como é o caso de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1360:gil-vicente&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Gil Vicente</strong> </a>nomeadamente no <em>Auto da Índia</em> e, sobretudo, de <a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1368:camoes&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Luís de Camões</strong></a> que dela faz a trama fundamental em <em>Os Lusíadas</em>. Também os cronistas não podem deixar de reelaborar essa matéria, por vezes em páginas que são das mais importantes, mesmo sob o ponto de vista estético, deste capítulo: <strong>Gomes Eanes de Zurara</strong> na <em>Crónica da Guiné</em>, <strong>João de Barros</strong> na <em>Ásia</em>.</span><br /></span></p> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <div style="text-align: justify;"> <table id="_mc_tmp" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="left"> <tbody> <tr> <td width="130"> <div align="center"><img style="margin: 0px;" title="Fernão Mendes Pinto [1514-1583], Peregrinação" src="images/stories/literatura_portuguesa/peregrinacao.jpg" alt="Fernão Mendes Pinto [1514-1583], Peregrinação" width="130" height="194" /></div> </td> <td width="10"></td> </tr> <tr> <td bgcolor="#ebebeb" width="130" height="10"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Fernão Mendes Pinto [1514-1583], <em>Peregrinação</em></span></div> </td> <td width="10" height="10"></td> </tr> <tr> <td width="130" height="20"> <div align="center">&nbsp;</div> </td> <td width="10" height="20"></td> </tr> <tr> <td width="130"> <div align="center"><img style="margin: 0px;" title="Álvaro Velho" src="images/stories/literatura_portuguesa/avelho.jpg" alt="Álvaro Velho" width="130" height="176" /></div> </td> <td width="10"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> <tr> <td bgcolor="#ebebeb" width="130"> <div align="center"><span style="color: #333333; font-family: arial; font-size: xx-small;">Fólio de <em>Diário/Relação da Primeira Viagem de Vasco da Gama à Índia </em>de Álvaro Velho (atrib.), 1497-1499. Cópia de meados do séc. XVI</span></div> </td> <td width="10"><span style="color: #333333;"><br /></span></td> </tr> </tbody> </table> <span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Caso particular desta literatura é a proliferação que, durante a segunda metade do séc. XVI, e até mais tarde, conhece um género específico das nossas letras, o do relato de naufrágios (constituído por uma narrativa específica e exclusiva de naus que naufragam, com descrição pormenorizada das reações humanas a que o naufrágio dá lugar, e do esforço trágico, por vezes baldado, pela sobrevivência); o mais antigo que se conhece, de 1554, é o do Galeão Grande São João, conhecido por <em>Naufrágio de Sepúlveda</em>, de autor anónimo; outros, porém, merecem beneficiar igualmente da atenção da análise literária, pela raríssima capacidade de escrita do patético, pela descrição paralela do movimento físico e psicológico, pela aliança de uma crença inabalável na missão militar e religiosa do espírito de conquista com um pendor pessimista e desenganado que neles figuram a contraepopeia lusíada: <em>Relação do Naufrágio da Nau Santiago</em>, de Manuel Godinho Cardoso, <em>Relação do Naufrágio da Nau São Bento</em>, de Manuel de Mesquita Perestrelo, <em>Relação do Naufrágio da Nau Conceição</em>, de Manuel Rangel. Publicados em folhetos avulsos, são reunidos no séc. XVIII por <strong>Bernardo Gomes de Brito</strong> na <em>História Trágico-Marítima</em>, em dois volumes (1735-36).</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">Em toda esta literatura, porém, avulta uma obra excecional, a <em>Peregrinação </em>de <strong>Fernão Mendes Pinto</strong>, publicada em 1614, mas escrita antes de 1580.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="font-size: 10pt; color: #333333; font-family: arial;">E será importante não esquecer a fecundidade com que esta literatura tocou a posterior produção portuguesa, quer na consagração de «topoi» diversos (como no caso do «romance marítimo», iniciado entre nós por <strong>Francisco Maria Bordalo</strong>, com <em>Eugénio</em>, de 1846, e bastante cultivado na segunda metade do século XIX), quer em desenvolvimentos temáticos que ocupam os vários géneros, quer ainda em particularizações que têm a ver com escolhas individuais de autores, mas também com períodos específicos da cultura, ou de homenagem ou de deploração da época dos descobrimentos, em viagens de exploradores oitocentistas ou de escritores de todas as épocas, em reescritas de consonância ideológica (<strong>Afonso Lopes Vieira</strong>, <em>Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa</em>, 1940), de evocação nostálgica (<a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1378:sophia-de-mello-breyner-andresen&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Sophia de Mello Breyner Andresen</strong></a>, <em>Navegações</em>, 1988) ou de intenção paródica (<a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1345:antonio-lobo-antunes&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>António Lobo Antunes</strong></a>, <em>As Naus</em>, 1988).</span><br /><br /></div> <p><span style="color: #c0c0c0;">©<span style="font-size: 8pt;"> Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011 </span></span></p> Literatura Oral 2011-02-08T11:43:10+00:00 2011-02-08T11:43:10+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/literatura-oral-dp6.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <div style="text-align: right;" align="center"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong><span style="color: #cd853f; font-size: 12pt;">Literatura Oral</span><br /> <br /> </strong></span></div> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <div style="text-align: justify;"> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="142"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Parte esquerda do tríptico &quot;Domingo em Lisboa&quot;" src="literatura/paineisalmd.jpg" alt="Parte esquerda do tríptico &quot;Domingo em Lisboa&quot;" width="142" height="295" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="142"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Parte esquerda do tríptico "Domingo em Lisboa" da Gare da Rocha Conde de Óbidos, fresco de José de Almada Negreiros</span></div> </td> </tr> <tr> <td width="10" height="10"></td> <td width="142" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <span style="font-size: 10pt; font-family: arial; color: #333333;">É composta pelo <strong>Romanceiro </strong>(constituído por «romances populares», que são composições versificadas sobre aventuras guerreiras, sociais ou amorosas, ex. <em>Romance da Nau Catrineta</em>, <em>Santa Iria</em>, <em>O Conde Alemão</em>), pelos <strong>Contos</strong> <strong>Tradicionais </strong>(histórias breves de caráter quotidiano, muitas vezes com intervenção do sobrenatural, ex. <em>História da Carochinha</em>) e por <strong>Trovas Populares</strong> (que constituem o Cancioneiro, ex. <em>Senhora do Almurtão</em>), com peças na sua maioria transmitidas pelo canto.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial; color: #333333;">Apresentam por vezes versões diferenciadas, já que a sua criação anónima, passando de boca em boca e sendo reproduzido de memória, conhece deturpações que acabam por enriquecê-la e por consagrar assim a sua base coletiva.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial; color: #333333;"><a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1343:almeida-garrett&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Garrett</strong> </a>(em consonância com o ideal romântico de valorização das origens da nacionalidade e da tradição popular), <strong>Teófilo Braga</strong>, <strong>Leite de Vasconcelos</strong> e <strong>Consiglieri Pedroso</strong> procederam à recolha destas composições.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial; color: #333333;">No século XX, <strong>Fernando Lopes Graça</strong> apresentou muitas das versões musicais dos textos do Cancioneiro e de alguns romances.</span></div> <p><br /><br /></p> <p><br /><span style="color: #c0c0c0;"><br /><span style="font-size: 8pt;">© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011 </span></span></p> <div style="text-align: right;" align="center"><span style="font-size: 10pt; font-family: arial;"><strong><span style="color: #cd853f; font-size: 12pt;">Literatura Oral</span><br /> <br /> </strong></span></div> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <div style="text-align: justify;">&nbsp;</div> <div style="text-align: justify;"> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" align="right"> <tbody> <tr> <td width="10"></td> <td width="142"><img style="float: left; margin: 5px;" title="Parte esquerda do tríptico &quot;Domingo em Lisboa&quot;" src="literatura/paineisalmd.jpg" alt="Parte esquerda do tríptico &quot;Domingo em Lisboa&quot;" width="142" height="295" /></td> </tr> <tr> <td width="10"></td> <td bgcolor="#ebebeb" width="142"> <div align="center"><span style="font-family: arial; font-size: xx-small;">Parte esquerda do tríptico "Domingo em Lisboa" da Gare da Rocha Conde de Óbidos, fresco de José de Almada Negreiros</span></div> </td> </tr> <tr> <td width="10" height="10"></td> <td width="142" height="10"></td> </tr> </tbody> </table> <span style="font-size: 10pt; font-family: arial; color: #333333;">É composta pelo <strong>Romanceiro </strong>(constituído por «romances populares», que são composições versificadas sobre aventuras guerreiras, sociais ou amorosas, ex. <em>Romance da Nau Catrineta</em>, <em>Santa Iria</em>, <em>O Conde Alemão</em>), pelos <strong>Contos</strong> <strong>Tradicionais </strong>(histórias breves de caráter quotidiano, muitas vezes com intervenção do sobrenatural, ex. <em>História da Carochinha</em>) e por <strong>Trovas Populares</strong> (que constituem o Cancioneiro, ex. <em>Senhora do Almurtão</em>), com peças na sua maioria transmitidas pelo canto.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial; color: #333333;">Apresentam por vezes versões diferenciadas, já que a sua criação anónima, passando de boca em boca e sendo reproduzido de memória, conhece deturpações que acabam por enriquecê-la e por consagrar assim a sua base coletiva.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial; color: #333333;"><a href="index.php?option=com_content&amp;view=article&amp;id=1343:almeida-garrett&amp;catid=956:autores-e-antologia"><strong>Garrett</strong> </a>(em consonância com o ideal romântico de valorização das origens da nacionalidade e da tradição popular), <strong>Teófilo Braga</strong>, <strong>Leite de Vasconcelos</strong> e <strong>Consiglieri Pedroso</strong> procederam à recolha destas composições.</span><span style="color: #333333;"><br /><br /></span><span style="font-size: 10pt; font-family: arial; color: #333333;">No século XX, <strong>Fernando Lopes Graça</strong> apresentou muitas das versões musicais dos textos do Cancioneiro e de alguns romances.</span></div> <p><br /><br /></p> <p><br /><span style="color: #c0c0c0;"><br /><span style="font-size: 8pt;">© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011 </span></span></p>