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"O Castelo" ou "Auto-Retrato Profético" (1952) de Eurico Gonçalves
"O Castelo" ou "Auto-Retrato Profético" (1952) de Eurico Gonçalves [n. 1932]

O lirismo tem a sua primeira afirmação nacional na poesia trovadoresca, cujos géneros principais são: as cantigas de amor (assimiláveis à poética provençal, na qual o poeta exprime uma forte admiração e submissão em relação à mulher amada), as cantigas de amigo (caracterizadas por veicularem a expressão feminina), as cantigas de escárnio e maldizer (sátiras e motejos), as albas (que remetem para situações de alvorada), as bailias (que remetem para as danças) e as barcarolas (que versam temas marinhos ou relativos às águas dos rios).

O lirismo medieval tem uma poética muito própria, fortemente codificada na metrificação e nos agrupamentos estróficos, e muito distinta da evolução que a poesia vai seguir, sobretudo devido ao renascimento e à imitação dos antigos, que mantém os rigores da modificação poética mas a altera substancialmente.

 
 
Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
 
Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes, os tristes,
tão fora de esperar bem
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

               João Roiz de Castelo-Branco, Cancioneiro Geral

 

 
"Erotismo e Morte" (1985) de Graça Morais
"Erotismo e Morte" (1985) de Graça Morais [n. 1948]

Por isso é comum apontar o Cancioneiro Geral (1516), de Garcia de Resende, como uma coletânea de transição, onde autores renascentistas como Bernardim Ribeiro (cultor de metros tradicionais, exprimindo uma visão moderna da experiência amorosa e do desengano) e Sá de Miranda (ligado a uma visão do mundo mais convencional, mas programaticamente, e formalmente, adepto da escola classicista) aparecem a par. Mas o sistema dos géneros modifica-se: cultivam-se as elegias, as odes, as sátiras, as epístolas, os epigramas, assim como as canções (que em muito se aparentam às elegias) e os sonetos, forma recente mas comummente adotada na literatura europeia ocidental. A obra de Camões constituirá a prova da fecundidade deste sistema.

Mas o Romantismo irá desprender a expressividade poética da contenção formal até então em uso, especialmente com José Anastácio da Cunha e com Garrett, e o Simbolismo, juntamente com o Modernismo, abrirão as portas a uma libertação da linguagem da poesia, apta, a partir daí, a variáveis discursivas que, de Cesário Verde a Camilo Pessanha, Fernando Pessoa e, mais recentemente, Herberto Helder, a habilitam a um diálogo com o mundo em termos de criação simultaneamente implicada e autónoma.

 



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luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) Visão Genérica Mon, 14 Feb 2011 08:19:20 +0000
Ficção http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/ficcao-dp7.html http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/ficcao-dp7.html Ficção

 

"Os óculos do poeta Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa"
"Os óculos do poeta Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa" (1980) de Costa Pinheiro [n.1932]

Na sequência do Amadis de Gaula (séc. XIV), as novelas de cavalaria proliferam ainda durante o século XVI (Crónica do Imperador Clarimundo, 1522, do futuro historiador João de Barros, Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda, 1567, de Jorge Ferreira de Vasconcelos, Palmeirim de Inglaterra, 1567, de Francisco de Morais); um outro tipo de ficção se desenvolve paralelamente, o da novela pastoril, cujo modelo peninsular, que rapidamente adquire ressonância europeia, a partir da Diana, 1559, escrita em espanhol, de Jorge de Montemor, que no séc. XVII ainda ecoa nas obras de Rodrigues Lobo, lírico de primeira água e autor das novelas Primavera, Pastor Peregrino e Desenganado assim como na Lusitânia Transformada de Fernão Álvares do Oriente, e nas Ribeiras do Mondego, de Elói de Souto Maior.

 

O séc. XVII vê também desenvolver-se a novela parenética, com Os Infortúnios Trágicos da Constante Florinda, 1633, de Gaspar Pires de Rebelo, de esquema mais tarde convertido em alegoria progressista, de acordo com os ideais do Iluminismo mas ficcionalmente similar, em obras como O Feliz Independente do Tempo e da Fortuna, 1779, do Pe. Teodoro de Almeida, de que As Aventuras de Diófanes, 1752, de Teresa Margarida da Silva e Horta prenunciavam o teor político, na senda pedagógica de Fénelon.

Mas a ficção clássica, em Portugal, emerge sobretudo, para os três séculos, com a Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro (séc. XVI), a Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto (séc. XVII) e as Obras do Diabinho da Mão Furada, obra anónima do séc. XVIII, por vezes atribuída a António José da Silva, o Judeu.

 
"Passarola" (1709) de Bartolomeu de Gusmão
"Passarola" (1709) de Bartolomeu de Gusmão. IAN/Torre do Tombo

Nostalgia moderna de um mundo ideal perdido, em lamento amoroso (a primeira), sentido épico mas desconstruído da aventura da descoberta e da exploração do mundo físico (a segunda), deambulação picaresca pelos meandros urbanos e campesinos, de Évora a Lisboa, e sua apologia social (a última), ilustram bem a complexidade e riqueza do romance que o séc. XIX desenvolve (com a implicação subjetiva de Garrett, a urdidura passional de Camilo Castelo Branco e a panorâmica social de Eça de Queirós), e o séc. XX consagra (nomeadamente na repetitividade decetiva de Raul Brandão, na premência do quotidiano em Aquilino Ribeiro, Vitorino Nemésio e José Cardoso Pires, ou nas deambulações do discurso da memória de António Lobo Antunes e da indagação do sentido através da articulação do homem com a ideia em José Saramago).

 

 



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luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) Visão Genérica Mon, 14 Feb 2011 08:09:11 +0000
Teatro http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/teatro-dp10.html http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/teatro-dp10.html Teatro

 

Capa da edição da obra Frei Luiz de Sousa
Capa da edição da obra Frei Luiz de Sousa, de Almeida Garrett, fac-símile da edição da Quinta do Pinheiro
Capa de Primeiro Volume de Teatro de José Régio
Capa de Primeiro Volume de Teatro de José Régio, 1940, desenho de Júlio

Considerar o teatro português implica examinar duas questões prévias:

1. refletir quanto à relação entre teatro e literatura (porque tradicionalmente os estudos de teatro fazem parte da literatura, dada a insistência do texto enquanto matéria dramatúrgica preexistente ao espetáculo ou, nos muitos casos em que a representação precede a publicação, dada a sua perenidade material na sequência das várias representações que suporta);

2. ter em conta que muitos historiadores entendem que a atividade teatral não é um vetor proeminente na cultura portuguesa (nem no plano do texto, nem no plano do espetáculo).

Talvez por isso, as grandes figuras do teatro português são inaugurais ou programáticas: Gil Vicente, seu criador no séc. XVI, após o surto de dramatizações litúrgicas que se verifica na literatura medieval, e Garrett, seu reformador na proposta romântica, fundando o Teatro Nacional, quer no plano do espaço apto a acolher as representações e a difundi-las ao grande público, quer no plano da produção de um «corpus», com Um Auto de Vicente, O Alfageme de Santarém e, sobretudo, o drama romântico Frei Luís de Sousa (1843) - peças de caráter histórico, arrancadas à sensibilidade popular e ao sentimento patriótico, veiculando conflitos emocionais em situação no quotidiano sócio-histórico português.

Em torno da personalidade de Gil Vicente, outros dramaturgos de veia popular se notabilizaram no séc. XVI (ex. Chiado e Baltasar Dias), mas contemporaneamente esboça-se um movimento de retorno ao teatro antigo, de acordo com a doutrinação renascentista, que faz emergir um outro grupo em torno do poeta Sá de Miranda, figura fundamental do classicismo português enquanto introdutor da «medida nova» (metrificação clássica em decassílabo e géneros cultivados pelos autores da antiguidade) e cultor das primeiras comédias clássicas, Estrangeiros e Villhalpandos.

A comédia, também praticada por Camões ( ex. Anfitriões, El-rei Seleuco), encontrará no séc. XVIII um autor de eleição, António José da Silva, o Judeu (ex. Guerras do Alecrim e Manjerona), além de alguns escritores da «Arcádia Lusitana», como Correia Garção (Assembleia ou Partida).


Cartaz de João Vieira para a peça Auto da Índia de Gil Vicente
Cartaz de João Vieira para a peça Auto da Índia de Gil Vicente, pelo Centro Cultural de Évora, 1982/84
Facial da cabeceira do túmulo de D. Pedro I
Facial da cabeceira do túmulo de D. Pedro I. Mosteiro de Alcobaça

É a António Ferreira que se deve a obra-prima da tragédia clássica em Portugal, a Castro (c. 1558), baseada nos amores de D. Inês de Castro com D. Pedro I, contrariados pela razão política. Castro e Frei Luís de Sousa são os dois textos trágicos mais importantes do teatro português, pela perfeição de composição e pelo engendramento sóbrio dos conflitos, partilhados entre a liberdade do sentimento, as exigências da justiça (política, cívica ou familiar) e a intensidade do destino que se abate sobre as personagens.

Só no séc. XX encontramos ambientes dramáticos de idêntica contenção e agudeza em peças de José Régio (Benilde ou a Virgem-Mãe, 1947) ou, um pouco antes, no teatro de Raul Brandão (O Gebo e a Sombra, 1923), que se filia na passividade e estatismo da problemática simbolista, centrada na ressonância da palavra lírica e na sua indagação de absoluto (António Patrício, D. João e a Máscara, 1924), diferentemente entendido pelo convencionalismo de situações e costumes que vinha sendo arrastado pela numerosa produção de Marcelino Mesquita (Peraltas e Sécias, 1899) e Júlio Dantas (A Ceia dos Cardeais, 1902), ou pelas inovações irregulares e ambíguas, de tipo social e textual, de Alfredo Cortês (Tá-Mar, 1936).

Os assomos de literatura de intervenção que os anos cinquenta conheceram deram novo vigor ao teatro, sobretudo com Bernardo Santareno (A Promessa, 1957, e O Crime de Aldeia Velha, 1959), Luiz Francisco Rebello (Os Pássaros de Asas Cortadas, 1959, tendo este escritor tido também uma importante atividade como crítico e historiador de teatro) e José Cardoso Pires que, com O Render dos Heróis (1960), representado em época próxima de outra peça de grande impacto público, Felizmente, Há Luar (1961), de Luís de Sttau Monteiro, proporcionaram em meados do século uma intensidade de vibração no teatro português, em termos de conjunção de texto, espetáculo, público e crítica, que não voltou a verificar-se posteriormente.





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luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) Visão Genérica Thu, 10 Feb 2011 17:27:26 +0000
Os Lusíadas http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/os-lusiadas-dp11.html http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/os-lusiadas-dp11.html Os Lusíadas

Luís de Camões, Os Lusíadas, 1.ª edição
Luís de Camões, Os Lusíadas, 1.ª edição, 1572

Poema épico (1572) de Luís de Camões, de inspiração clássica (segundo a Eneida, de Virgílio) mas de manifesto saber contemporâneo, colhido na observação, é constituído por dez cantos compostos de décimas em decassílabos heroicos, e vive de uma contradição esteticamente harmonizada entre a ação das divindades pagãs (que ajudam ou prejudicam o progresso dos Portugueses na viagem marítima para a Índia, tema do livro) e a tutela do sentimento cristão e da expansão da fé, que anima um ardor de conquista e de possessão do mundo.

Vasco da Gama é o herói, Vénus a sua deusa protetora e Baco o adversário temido - mas a «lusa gente» chega à Índia, dá «novos mundos ao mundo», e o Poeta narra este empreendimento insigne alternando a fogosidade do entusiasmo e da crença com o desengano do reconhecimento da mesquinhez humana, «mísera sorte, estranha condição».

Escrito com mestria narrativa exemplar, o poema representa o exercício em perfeição da língua portuguesa, moderna, dúctil e rica em complexidade expressiva e em matizes líricos de exceção.

 

"Vasco da Gama na Ilha dos Amores" de Vieira Portuense
"Vasco da Gama na Ilha dos Amores" de Vieira Portuense [1765-1805]
Já se viam chegados junto à terra
que desejada já de tantos fora,
que entre as correntes Índicas se encerra
e o Ganges, que no céu terreno mora.
Ora sus, gente forte, que na guerra
quereis levar a palma vencedora:
Já sois chegados, já tendes diante
a terra de riquezas abundante!
 
(...)

 
Um ramo na mão tinha... Mas oh, cego

eu, que cometo, insano e temerário,
sem vós, ninfas do Tejo e do Mondego,
por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
por alto mar, com vento tão contrário
que, se não me ajudais, hei grande medo
que o meu fraco batel se alague cedo.
 
                                      Os Lusíadas,
Canto VII
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luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) Visão Genérica Thu, 10 Feb 2011 17:23:08 +0000
A Língua Portuguesa http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/a-lingua-portuguesa-21851-dp11.html http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/a-lingua-portuguesa-21851-dp11.html Língua Portuguesa

 
Rosto da Gramática de Fernão de Oliveira
Rosto da Gramática de Fernão de Oliveira, impressa por Germam Galharde em 1536
 

A língua portuguesa deriva do latim, língua falada na região onde ficava a Roma antiga, designada por Lácio, e que, na sua expansão, os Romanos trouxeram para outras regiões, onde, em conjunto com fatores locais, evoluiu originando as línguas românicas.

 

O latim clássico, consagrado pelas classes cultas e pela literatura, tornou-se, com o tempo, distante da expressão falada, que aglutinava influências de ordem vária nos diversos territórios do Império Romano, assim como variedades sócio-culturais, a cujo conjunto chamou latim vulgar, que deu origem às línguas românicas e nomeadamente ao português.

 
Árvore da Gramática in Grammatices Rudimenta
Árvore da Gramática in Grammatices Rudimenta (c. 1540) de João de Barros
 

Gradualmente, a comunicação linguística foi-se alterando, e, em vez de se falar de facto latim, as modificações da expressão impuseram a consciência de que se tinha passado de facto a falar à "maneira românica", isto é, romanice ou romance (falar vulgar e misto, também designado romanço). Nos escritos administrativos e notariais impôs-se um conjunto de fórmulas que identificamos como latim bárbaro. A base latina recolhe também, na constituição da nossa língua, elementos celtas, gregos e hebreus, aos quais se juntaram, mais tarde, os germânicos e os árabes.


Podemos considerar três fases na evolução da língua portuguesa: proto-histórica, até ao séc. XIII (ainda muito ligada, na escrita, ao latim bárbaro), arcaica, até ao séc. XVI (onde se destaca, nos séculos XIV e XV, o galaico-português, autonomizando-se posteriormente o português em relação ao galego) e moderna, com a publicação das primeiras gramáticas, de Fernão de Oliveira, 1536, e João de Barros, 1540, e com a proliferação das obras literárias que a consagraram, e entre as quais se contam Os Lusíadas.

 
Gramática atribuída a João de Barros
Gramática atribuída a João de Barros, publicada em 1539
 

Consideram-se características formais da língua portuguesa, na sua fonação, os fenómenos de nasalação (queda de consoantes latinas que dão origem aos ditongos nasais, ex. -ão e -ãe, e a vogais do mesmo timbre, ex. panes>pães), vocalização (queda de consoantes latinas que dão origem a vogais, ex. regnu>reino) e palatalização (grupos de consoantes latinas que resultam nos grupos ch- e -lh, ex. pluvia>chuva).

 

Rodrigues Lapa, em 1945, estudou, na sua Estilística da Língua Portuguesa, algumas potencialidades expressivas do português na comunicação e na literatura.






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luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) Visão Genérica Thu, 10 Feb 2011 17:16:29 +0000
Prosa Doutrinal http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/prosa-doutrinal-dp7.html http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/prosa-doutrinal-dp7.html Prosa Doutrinal



Adoração dos Reis Magos

"Adoração dos Reis Magos" (1501-1506), retábulo da Sé de Viseu. Oficina de Vasco Fernandes/Grão Vasco



Mãe e Filha

"Mãe e Filha" (1947) de Vespeira [n. 1925]


A literatura incorpora habitualmente muitos escritos de ideias cuja finalidade primeira não é exatamente literária, mas que, pelo teor linguístico ou textual da sua composição, ou segundo os cânones de apreciação estética de cada época, são considerados mais ou menos próximos da elaboração especificamente literária.

Esta condição é inerente aos textos de caráter documental (entre os quais se incluem, por exemplo, os que constituem o acervo da Literatura de Viagens), mas verifica-se com agudeza nos escritos de doutrinação vária que se manifestam de maneira adventícia ao texto literário. Mesmo o ensaio e a crítica tendem a confundir-se muitas vezes com ele, e preenchem certas casas, por vezes importantes, da organização sistemática da literatura.

O conjunto de escritos legados pelos prosadores da Casa de Avis, no séc. XIV, que integramos nas Origens da Literatura Portuguesa, só encontra, neste capítulo, manifestações similares a partir da época barroca (embora os clássicos renascentistas tenham uma produção interessante nesta vertente, ex. Ropica Pnefma, 1532, de João de Barros), muito interessada em articular as cláusulas religiosas com os seus efeitos na vida profana, e no quotidiano de uma maneira geral (Frei Heitor Pinto e Frei Amador Arrais); também durante o Iluminismo, as ideias de filosofia política e moral inspiram D. Luís da Cunha, Alexandre de Gusmão, Cavaleiro de Oliveira e Matias Aires, mas é no Verdadeiro Método de Estudar (1746), de Luís António Verney, que encontramos a obra mais importante de reflexão cultural conjunta do século XVIII.

Este tipo de escritos vai proliferar durante o Romantismo, e não só com Garrett e Herculano, e muito em especial na chamada «Geração de 70», que é justamente constituída por um grupo de escritores que na sua maioria aliam a produção literária estrita com os escritos de índole doutrinária (Eça de Queirós, Antero de Quental, Teófilo Braga, Ramalho Ortigão e Oliveira Martins), e aliás se caracterizam pela sua imbricação, desenvolvendo a poesia de ideias e o romance de tese, quando não se notabilizam justamente neste género de reflexão, que hoje se tende a considerar marginal em relação à centralidade da estesia literária.

Posteriormente, o grupo do «Integralismo Lusitano» (com António Sardinha, com as revistas Alma Portuguesa e Nação Portuguesa, 1913-1938) e o da Seara Nova (com António Sérgio e Raul Proença) produziu, com menor vigor e regular qualidade, este tipo de escritos, e, mais perto de nós, Manuel Antunes, Agostinho da Silva e Eduardo Lourenço são personalidades de influência determinante nas correntes de pensamento da cultura portuguesa.



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luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) Visão Genérica Tue, 08 Feb 2011 12:41:00 +0000
Historiografia http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/historiografia-dp6.html http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/historiografia-dp6.html Historiografia

 
Crónica Geral de Espanha (1344), atribuída ao Conde de Barcelos
Crónica Geral de Espanha (1344), atribuída ao Conde de Barcelos
 

Poderemos distinguir, na historiografia nacional, três tipos de produção literária, que correspondem a períodos históricos sucessivos, e com eles entram em conformidade:

os Livros de Linhagens (séc. XII-XVI, registos genealógicos das famílias nobres em que a literatura portuguesa tem a primazia, e que alternam a história com a lenda, dos quais se conservam três: o primeiro incluindo a «Lenda de Gaia», e o terceiro, da autoria de D. Pedro, Conde de Barcelos, filho bastardo de D. Dinis, incluindo uma descrição da batalha do Salado, que ficou célebre; foram publicados nos Portugaliae Monumenta Historica de Alexandre Herculano);

a produção dos cronistas (com a Crónica Geral de Espanha, de 1344, do Conde D. Pedro de Barcelos, e com os escritores Fernão Lopes, Gomes Eanes de Zurara, com a Crónica da Guiné, 1453, Rui de Pina, com a Crónica de D. João II, 1545, João de Barros, com as Décadas da Ásia, a partir de 1552, Fernão Lopes de Castanheda, com a História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses, a partir de 1551, Damião de Góis, com a Crónica do Rei D. Manuel, a partir de 1566, e outros. É com os cronistas que ganha corpo a organização sistematizada, por escrito, de um discurso que assume a evolução do acontecer humano e a consciência da relevância de factos e personalidades que possam determinar a especificidade da civilização e a necessidade do seu registo objetivo);

 

e a constituição escrita da história moderna (que se inicia durante o Romantismo, com a figura polígrafa de Alexandre Herculano, autor da História de Portugal até D. Afonso III, na qual o autor põe em prática uma conceção do escrito histórico obedecendo a preocupações científicas de rigor e a uma perspetiva da evolução dos sucessos fundada na observação das transformações sociais e não na sucessão das personalidades e dos acontecimentos).

 
Assinatura autógrafa de Fernão Lopes
 
Assinatura autógrafa de Gomes Eanes de Zurara
 
Assinatura autógrafa de Rui de Pina
Assinatura autógrafa de Fernão Lopes. IAN/Torre do Tombo
 
Assinatura autógrafa de Gomes Eanes de Zurara. IAN/Torre do Tombo
 
Assinatura autógrafa de Rui de Pina. IAN/Torre do Tombo

 

Assinatura autógrafa de Fernão Lopes
 
Assinatura autógrafa de Fernão Lopes de Castanheda
 
Assinatura autógrafa de Damião de Góis
Assinatura autógrafa de João de Barros. IAN/Torre do Tombo
 
Assinatura autógrafa de Fernão Lopes de Castanheda. IAN/Torre do Tombo
 
Assinatura autógrafa de Damião de Góis. IAN/Torre do Tombo
 
 


De uma geração posterior, Oliveira Martins (1845-1894) representa, na literatura portuguesa, a conjunção da inspiração literária com os objetivos históricos, em obras como Portugal Contemporâneo, 1881, e Os Filhos de D. João I, 1891; e a diversificação progressiva, e decisiva, entre ciências históricas e criação literária fez com que os grandes vultos da historiografia contemporânea, de um modo geral, se afastem do que pode ser entendido, de um modo mais restrito, como obra de literatura.



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luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) Visão Genérica Tue, 08 Feb 2011 12:28:47 +0000
Cantigas de Amigo http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/cantigas-de-amigo-dp6.html http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/cantigas-de-amigo-dp6.html Cantigas de Amigo

 
Fragmento de canções do rei D. Dinis
Fragmento de canções do rei D. Dinis, descoberto pelo Prof. Harvey L. Sharrer. IAN/Torre do Tombo
 

Constituem a variedade mais importante e original da nossa produção lírica da Idade Média, estas composições que se enquadram na poesia trovadoresca, mas que incluem a particularidade de conferirem estatuto de enunciação à mulher, embora sejam sujeitos masculinos a compô-las.

Um tipo peculiar de cantigas de amigo é o das paralelísticas, que aliam uma simplicidade de motivos e recursos semânticos ao elaborado arranjo da sua expressão, através de um esquema de repetitividade que enriquece o sentido pelo tom de litania e sugestão encantatória, muitas vezes magoada, perplexa ou interrogativa, que cria. Típicas da poesia galaico-portuguesa, encontram-se também nas cantigas de amor e noutras variedades poéticas medievais, persistindo até muito tarde na literatura medieval. O rei D. Dinis é um dos seus mais famosos cultores.

João Zorro, poeta do mar como Martim Codax, é autor de uma barcarola célebre, em composição também paralelística:

 

Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?

(...)

D. Dinis

Em Lixboa sobre lo mar
barcas novas mandei lavrar,
ay mia senhor velida!

Em Lisboa sobre lo lez
barcas novas mandei fazer,
ay mia senhor velida!

Barcas novas mandei lavrar
e no mar as mandei deitar,
ay mia senhor velida!

Barcas novas mandei fazer
e no mar as mandei meter,
ay mia senhor velida!

João Zorro



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luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) Visão Genérica Tue, 08 Feb 2011 12:15:57 +0000
Literatura de viagens http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/literatura-de-viagens-66017-dp7.html http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/literatura-de-viagens-66017-dp7.html Literatura de viagens


Livro das Armadas: Nau da Carreira da Índia
Livro das Armadas: Nau da Carreira da Índia
Verdadeira Informação das Terras do Preste João
Verdadeira Informação das Terras do Preste João, Impresso em 1540

A literatura portuguesa de viagens radica na atividade dos descobrimentos marítimos e na necessidade pragmática de registar rotas, condições atmosféricas, acidentes da costa e todos os elementos que pudessem facilitar a repetição e prosseguimento dos percursos entretanto efetuados.

Assim, os roteiros e os diários de bordo, documentos técnicos para orientação náutica, são os antecedentes desta literatura, que, no entanto, começa já nesses textos a emergir em comentários que alargam a pura notação descritiva, em apontamentos de pitoresco, em descrições surpreendidas ou em segmentos narrativos que dão conta de certo empenho na relação entre o sujeito percetivo e o mundo que lhe vai sendo revelado.


Estão neste caso, no séc. XVI, o Esmeraldo de Situ Orbis, de Duarte Pacheco Pereira, e o Roteiro do Mar Roxo, de D. João de Castro; mas a primeira obra de interesse decisivo, e importante, é, neste capítulo, o Roteiro da Primeira Viagem de Vasco da Gama, atribuído a Álvaro Velho, que permanece como um dos textos fundamentais de toda a literatura de viagens, seguido da Carta a D. Manuel sobre o Descobrimento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha.

Na sequência destas obras, ou, talvez melhor, na sequência da regularidade e multiplicação das viagens (dado que a sua divulgação era restrita e, em muitos casos, como parece ter acontecido com o texto de Caminha, se tornava confidencial pela política de sigilo dos descobrimentos), aparecem autênticas relações de itinerários e percursos, por mar ou por terra, mas matricialmente desencadeados pelas viagens ultramarinas, que aliam por vezes o interesse documental a procedimentos narrativos que adquirem, sobretudo para o leitor de hoje, efeitos de ordem literária. São disso exemplo, numa produção que na cultura portuguesa é vastíssima, a Verdadeira Informação do Preste João das Índias (1540), do Pe. Francisco Álvares, o Tratado das Cousas da China (1570), de Frei Gaspar da Cruz, o Itinerário da Terra Santa (1593), de Frei Pantaleão de Aveiro, a Etiópia Oriental (1609), de Frei João dos Santos, ou o Itinerário da Índia por Terra (1611), de Frei Gaspar de São Bernardino.

Por outro lado, os escritores «canónicos» (escrevendo com uma int
enção determinadamente literária) centraram muitas das suas obras na problemática da viagem dos descobrimentos, como é o caso de Gil Vicente nomeadamente no Auto da Índia e, sobretudo, de Luís de Camões que dela faz a trama fundamental em Os Lusíadas. Também os cronistas não podem deixar de reelaborar essa matéria, por vezes em páginas que são das mais importantes, mesmo sob o ponto de vista estético, deste capítulo: Gomes Eanes de Zurara na Crónica da Guiné, João de Barros na Ásia.

 
Fernão Mendes Pinto [1514-1583], Peregrinação
Fernão Mendes Pinto [1514-1583], Peregrinação
 
Álvaro Velho

Fólio de Diário/Relação da Primeira Viagem de Vasco da Gama à Índia de Álvaro Velho (atrib.), 1497-1499. Cópia de meados do séc. XVI

Caso particular desta literatura é a proliferação que, durante a segunda metade do séc. XVI, e até mais tarde, conhece um género específico das nossas letras, o do relato de naufrágios (constituído por uma narrativa específica e exclusiva de naus que naufragam, com descrição pormenorizada das reações humanas a que o naufrágio dá lugar, e do esforço trágico, por vezes baldado, pela sobrevivência); o mais antigo que se conhece, de 1554, é o do Galeão Grande São João, conhecido por Naufrágio de Sepúlveda, de autor anónimo; outros, porém, merecem beneficiar igualmente da atenção da análise literária, pela raríssima capacidade de escrita do patético, pela descrição paralela do movimento físico e psicológico, pela aliança de uma crença inabalável na missão militar e religiosa do espírito de conquista com um pendor pessimista e desenganado que neles figuram a contraepopeia lusíada: Relação do Naufrágio da Nau Santiago, de Manuel Godinho Cardoso, Relação do Naufrágio da Nau São Bento, de Manuel de Mesquita Perestrelo, Relação do Naufrágio da Nau Conceição, de Manuel Rangel. Publicados em folhetos avulsos, são reunidos no séc. XVIII por Bernardo Gomes de Brito na História Trágico-Marítima, em dois volumes (1735-36).

Em toda esta literatura, porém, avulta uma obra excecional, a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, publicada em 1614, mas escrita antes de 1580.

E será importante não esquecer a fecundidade com que esta literatura tocou a posterior produção portuguesa, quer na consagração de «topoi» diversos (como no caso do «romance marítimo», iniciado entre nós por Francisco Maria Bordalo, com Eugénio, de 1846, e bastante cultivado na segunda metade do século XIX), quer em desenvolvimentos temáticos que ocupam os vários géneros, quer ainda em particularizações que têm a ver com escolhas individuais de autores, mas também com períodos específicos da cultura, ou de homenagem ou de deploração da época dos descobrimentos, em viagens de exploradores oitocentistas ou de escritores de todas as épocas, em reescritas de consonância ideológica (Afonso Lopes Vieira, Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa, 1940), de evocação nostálgica (Sophia de Mello Breyner Andresen, Navegações, 1988) ou de intenção paródica (António Lobo Antunes, As Naus, 1988).

© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011

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luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) Visão Genérica Tue, 08 Feb 2011 11:52:56 +0000
Literatura Oral http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/literatura-oral-dp6.html http://cvc.instituto-camoes.pt/visao-generica/literatura-oral-dp6.html Literatura Oral

 
 
Parte esquerda do tríptico "Domingo em Lisboa"
Parte esquerda do tríptico "Domingo em Lisboa" da Gare da Rocha Conde de Óbidos, fresco de José de Almada Negreiros
É composta pelo Romanceiro (constituído por «romances populares», que são composições versificadas sobre aventuras guerreiras, sociais ou amorosas, ex. Romance da Nau Catrineta, Santa Iria, O Conde Alemão), pelos Contos Tradicionais (histórias breves de caráter quotidiano, muitas vezes com intervenção do sobrenatural, ex. História da Carochinha) e por Trovas Populares (que constituem o Cancioneiro, ex. Senhora do Almurtão), com peças na sua maioria transmitidas pelo canto.

Apresentam por vezes versões diferenciadas, já que a sua criação anónima, passando de boca em boca e sendo reproduzido de memória, conhece deturpações que acabam por enriquecê-la e por consagrar assim a sua base coletiva.

Garrett (em consonância com o ideal romântico de valorização das origens da nacionalidade e da tradição popular), Teófilo Braga, Leite de Vasconcelos e Consiglieri Pedroso procederam à recolha destas composições.

No século XX, Fernando Lopes Graça apresentou muitas das versões musicais dos textos do Cancioneiro e de alguns romances.





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