A Gravura

Sabia que?

Sabia que?
A Revista «Presença»A revista «Presença» foi lançada em Coimbra em 1927. Dela saíram 54 números. José Régio foi um dos principais fundadores e permaneceu à frente do projeto até à sua extinção, em 1940. Este movimento, habitualmente designado por 2.º Modernismo, divulgou nas páginas da sua revista os autores do 1.º Modernismo: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros. Muitos nomes de diferentes quadrantes estético-literários colaboraram com a «Presença», nomeadamente Miguel Torga, Vitorino Nemésio, João Gaspar Simões (entre outros). Contudo, as ideias que prevaleceram na literatura (e na arte em geral) valorizaram a dimensão psicológica.É interessante saber que a poesia de alguns presencistas esteve na base dos textos e das composições do Fado de Coimbra e do Fado cantado por Amália Rodrigues.Consultarhttp://www.fadodecoimbra.com/ A Revista «Seara Nova»A «Seara Nova» surgiu em 1921 e foi uma revista de intenções claramente pedagógicas e políticas. O grupo fundador esteve representado por figuras da cultura portuguesa, designadamente: Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro, Raul Brandão, Raul Proença e Câmara Reis. Nesta época, os escritores mais novos desempenharam um papel relevante ao nível da intervenção social e crítica literária. Foi o caso de José Rodrigues Miguéis, Irene Lisboa e José Gomes Ferreira.A revista atravessou um dos mais conturbados períodos da História portuguesa e europeia do século XX – a ascensão de Salazar, a Guerra Civil de Espanha, a ascensão de Hitler, a eclosão da 2.ª Guerra Mundial e o 25 de Abril de 1974. Apesar de ter passado por momentos difíceis e muito irregulares, a revista manteve o seu ideário até aos finais do século XX.Consultar:http://www.citi.pt/cultura/temas/seara_nova.htmlhttp://www.25abril.org/

Quem escreveu

Quem escreveu
Irene Lisboa nasceu no concelho de Arruda dos Vinhos. Foi professora primária, especializada em psicologia e pedagogia. Escreveu uma obra abundante e publicou vários trabalhos com os pseudónimos de Manuel Soares (nas obras de cariz pedagógico) e João Falco (sobretudo nas obras publicadas de 1936 a 1940). Colaborou com a revista «Presença», órgão do Segundo Modernismo português e com a revista «Seara Nova» (entre outras).Iniciou a sua atividade literária com «13 Cantarelos». Seguiram-se-lhe: «Um Dia e Outro Dia», «Outono Havias de Vir», «Solidão I», «Começa Uma Vida», «Folhas Volantes», «Esta Cidade!», «Apontamentos», «Uma Mão Cheia de Nada Outra de Coisa Nenhuma», «O Pouco e o Muito», «Voltar Atrás Para Quê?», «Título Qualquer Serve», «Queres Ouvir? Eu Conto». A escritora morreu, em Lisboa, no dia 25 de novembro de 1958.Consultar:http://www.instituto-camoes.pt/bases/literatura/irene.htmhttp://www.ibl.pt/org/colecoes/reservados/acpc/lisboa.html [Encontrar Link Base Lit. Pt  e Fig. Cultura Pt]

Ler o texto

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E o sonho com uma gravura que havia, muito do meu gosto?Sonhei que aquilo tudo era real: vi-a animar-se, mexerem-se as figuras...Nisto abria-se o portão. Por uma *alameda abaixo vinham dois cavaleiros e uma amazona. Ela falava e ria-se e até voltava a cara para trás. Procurava com os olhos um belo cavaleiro, *desirmanado do grupo, que montava um cavalo bravio. Também havia mais cavaleiros e amazonas, que se não distinguiam lá muito bem.Mas tudo aquilo era bonito, era elegante.Saíram todos do portão, finalmente, e até uma das damas, com a ideia que teve de arrancar um *tronquinho de hera, ia caindo do cavalo abaixo.Deixei de ouvir o *trupe dos cavalos e as vozes e vi-me sozinha. Só, só de todo! No meio do campo. Fazia um luar divino. E todo o meu desgosto era de não ser fidalga, de não pertencer também à cavalgada.Pus-me a andar de um lado para o outro e a falar só. Porque não tinha eu ido com eles? Com eles é que eu devia ter ido! À noite vestiria um fato de baile...Olhei para o chão, que me pareceu todo *malhado. Eu não devia pisar nenhuma daquelas malhas. Eram de luar líquido. Devia saltar por cima delas, e era o que fazia. Dava cada salto! Cheguei a saltar de árvore para árvore. De cima de uma delas até descobri um salão onde as fidalgas andavam a dançar.Lá lá lá...lá lá lá...lá lá lá...Que valsa tão doce e tão agradável! Conhecia-a tão bem!Eles, de calção de seda e de meia alta, elas, *de cauda...Deixem-me dançar também, dizia eu, sem que ninguém me pudesse ouvir. Por fim agarrei-me a uma árvore e pus-me a andar à roda.Mas que vergonha, que vergonha! Descobriram-me!Nisto acordei. A Gravura faz parte das histórias sobre os Sonhos in «Uma Mão Cheia de Nada Outra de Cousa Nenhuma», Porto, Livraria Figueirinhas, s/d. Glossário:*alameda - passeio público.*desirmanado - pessoa que se separou (i)da outra pessoa com quem fazia par.(ii) do grupo.*tronquinho - ramo muito pequeno.*trupe - ruído ou barulho.*malhado – manchas.*de cauda - designa o vestido comprido do baile.