Álvaro Lapa
Álvaro Lapa Évora ¶ 1939-2006 ¶ Porto
Créditos fotográficos / Photographic credits: Abílio Leitão |
Estudou filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e assumiu desde sempre, no campo das artes plásticas, uma atitude isolada e autodidacta. ¶ Desde a primeira exposição individual na Galeria 111 em Lisboa, em 1964, a obra de Lapa tem vindo a realizar uma espécie de gestão enigmática das formas, a partir de um oblíquo sistemas de signos, recusando qualquer equilíbrio ou habilidade estética. Este sistema funciona sobretudo como um personalizado e polémico código de escrita, obrigando-nos a ponderar o fascínio das formas dissemelhantes e contíguas, onde o informe, à maneira de Artaud e Bataille, alude a eventuais filiações na pintura abstracto-expressionista tanto europeia como norte-americana – sobretudo Robert Motherwell – e no surrealismo europeu, nomeadamente na tensão narrativa que a desconstrução formal deixa em aberto. ¶ A autonomia dos valores plásticos desta pintura é contrabalançada com a marca indelével da referência autobiográfica a leituras e influências literárias que conduziram, por exemplo, à notável série dos "cadernos", reportados a um conjunto de escritores que constituem, por assim dizer, a biblioteca subversiva de Álvaro Lapa: Rimbaud, Kafka, Henry Miller, James Joyce, William Burroughs, Sade, Michaux, entre outros. Aliás, a técnica do "cut-up" cara aos escritores da "Beat Generation" terá nesta pintura uma influência fecunda no modo como fragmenta ou inviabiliza qualquer possibilidade de leitura semiótica definitiva ou mesmo estabilizada. ¶ A recusa das evidências e das convenções de legibilidade não é um exercício teórico de análise conceptual, mas antes a demanda de uma espécie de autenticidade interior que pudesse formar um idioma próprio, marcado pelo ritmo íntimo. ¶ Neste sentido, a pintura de Álvaro Lapa pode ser situada, exteriormente, no quadro histórico de uma avaliação subversiva da tradição da pintura, cúmplice das escritas clandestinas, ou intimamente, como diário de um universo preso à verdadeira idiossincrasia de um universo pessoal.
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