António Dacosta

António Dacosta Angra do Heroísmo ¶ 1914 -1990 Paris

  

  António Dacosta
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DR/ Cortesia Galeria III

Depois de completar o curso de pintura da ESBAL, apresentou-se ao meio artístico português em 1940, em conjunto com António Pedro e Pamela Boden, numa pequena exposição em Lisboa, onde já revelava a forte tendência surrealizante da sua primeira fase, numa opção estética claramente oposta ao nacionalismo comemorativo da Exposição do Mundo Português. ¶ António Dacosta introduzia, então, na pintura portuguesa, a conciliação possível entre um onirismo de raiz surrealista e uma particular interpretação dos mitos insulares da sua origem açoriana, traduzida em obras como Diálogo (1939), Antítese da calma (1940), Serenata Açoriana (1940) ou A Festa (1942). Os valores da incomunicabilidade e do absurdo imagético entre estranhos seres resultavam na extraordinária reordenação poética, em surpreendentes registos figurativos, como em Amor jacente (1941) ou no enigmático Episódio Com um Cão (1941), onde a explosão insólita do imaginário atinge uma sólida atmosfera surrealista. O pintor, que em 1947 partiria para Paris, superara em qualidade formal e ousadia "convulsiva" as poucas incursões surrealistas realizadas entre nós tornando-se, na segunda metade dos anos 40, uma referência essencial para os jovens artistas do Grupo Surrealista de Lisboa. Já instalado em Paris, assumindo funções de crítico de arte e correspondente de jornais como O Estado de São Paulo ou os portugueses Acção e Diário Popular, o artista realizaria, entre 1947 e 1949, altura em que abandona toda a actividade artística, uma pintura de experiência abstracta que, para além de não esquecer o valor do acaso herdado da tradição surrealista, mantém com esta uma estreita ligação ao nível da significação dos títulos, como em Cuidado com os Filhos (1948). Após um interregno de mais de 25 anos, Dacosta volta a pintar em 1975, abrindo a sua obra a um universo lírico de matriz matissiana, moldado por suaves valores de composição cromática que assumem uma intensa expressão poética, marcando-a definitivamente até ao final da sua vida. Nos últimos anos, sobretudo a partir de 1980, a sua prática pictórica procura assumir uma condição mais próxima do seu trabalho poético. Este seria publicado em 1993, a título póstumo, sob o título A Cal dos Muros.


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