Filipa César
Filipa CésarPorto ¶ 1975
Créditos fotográficos / Photographic credits: Abílio Leitão |
Estudou na FBAUP e FBAUL, vive e trabalha em Berlim onde frequenta o Mestrado em Artes Visuais da Hochshule der Kunst, HDK. ¶ Tendo desde muito cedo escolhido o vídeo como medium principal abordou, numa primeira fase do seu trabalho, a relação entre espaço interior e espaço exterior transformando estratégias de comunicação em estratégias de introversão e vice-versa. ¶ A temática relacional que rodeia a sua obra irá criar uma sequência de obras nas quais o devaneio do flâneur será transformado num "encontro". O "encontro" é o encontro com o olhar do Outro, e esse Outro é sempre, em ultima análise, o olhar da câmara, que Filipa César simula pertencer a alguém, encenando um persistente fantasma romântico, o do encontro fortuito, numa expressão de nostalgia pela noção de comunidade e comunicação. ¶ A presença mais recorrente na sua obra é a dos "terrenos vazios" do afecto, lugares da impossibilidade comunicacional como são os grandes passeios urbanos, os centros comerciais ou as salas de espera. Nesses lugares as personagens deambulam exercitando um alienante cruzamento entre alheamento e expectativa, entre o vazio e a promessa. Em Romance (2003) a artista articula duas metades de um guiché de atendimento, produzindo a ilusão de que os intervenientes dialogam, gerando um efeito de "suspensão da descrença" que imediatamente emociona o espectador. ¶ Embora na generalidade a artista adopte uma posição de voyeur, usando os olhares alheios e simulando uma relação entre os intervenientes, existe também no seu trabalho uma tendência para a direcção de cena. Em Lull (2002) encena uma sala de espera e respectivos personagens. Estamos aqui perante um efeito de inversão: em vez da simulação de uma ficção a partir de um documento temos uma simulação de um documento através de uma ficção. ¶ Numa viragem recente a autora ensaiou uma síntese das duas tendências. Visando produzir obras de maior complexidade narrativa, a artista procura utilizar o dispositivo documental como um meta-nível ficcional. Em F for Fake (2005) inclui uma nova camada imaginária num filme que é, já de si, o ficcionar de um documentário. A autora demonstra que, na era da electrónica, não existe dentro ou fora do dispositivo, questionando se uma ficção de um documentário de uma ficção é, afinal, um documentário ou uma outra ficção.
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