João Onofre
João OnofreLisboa ¶ 1976
Créditos fotográficos / Photographic credits: Abílio Leitão |
Estudou pintura na FBAUL completando os seus estudos com um MFA no Goldsmith College em Londres. ¶ Um dos mais bem sucedidos artistas da sua geração, Onofre teve uma precoce exposição internacional com o convite que lhe foi dirigido por Harald Szeemann para integrar a Bienal de Veneza de 2001. ¶ Trabalhando quase exclusivamente em vídeo o artista tem vindo a explorar o potencial performativo desse medium. Utilizando uma disposição clássica que assenta na unidade de tempo e lugar, encena situações de extrema habilidade comunicacional cuja eficácia em termos de "mensagem" é garantida pelo recurso à citação. A citação não deve ser aqui entendida em sentido restrito mas em termos culturais mais vastos incluindo a referência emocional e a destreza na manipulação da mesma. ¶ Apresentando uma imensa nostalgia pelo universo referencial da modernidade Onofre vai revisitando os seus mitos com um olhar tão clínico quanto sentimental. Assim, o voluntarismo neo-realista é evocado pela re-encenação da última frase de Stromboli de Roberto Rosselini num casting povoado por jovens aspirantes a modelo cuja inefável superficialidade dolorosamente contrasta com a densidade dramática de "Che io abbia la forza, la convinzione e il coraggio". ¶ Tal como João Onofre alinha os seus figurantes ou situações frente à câmara, nós podemos aqui alinhar outros temas por ele revisitados: a mecanização do humano em Instrumental Version (2001), vídeo que representa um coro universitário a cantar a transcrição de uma música electrónica dos Kraftwerk (The Robots); a impossibilidade de comunicação no contexto de uma relação amorosa, no vídeo que eterniza uma sequência de Martha de Fassbinder; a força selvagem do inconsciente enquanto paradigma romântico de produção artística e a tensão resultante do esforço de contenção civilizacional em Untitled (Vulture in the Studio) de 2002, que mostra um abutre no estúdio do artista. ¶ Expondo a história das expectativas da modernidade Onofre utiliza o vídeo como evocação de um palco teatral. Acrescenta um meta-nível de filiação à sua produção, reafirmando, ao nível formal, o que lhe é mais próprio em termos de conteúdo: a nostalgia por uma era irremediavelmente perdida na/pela electrónica.
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